Ellen G. White e o Plágio, por Phillipe Hottman

Quem não se deixa vencer pela verdade divina será vencido pelo engano. — Agostinho, Filósofo e Bispo da Igreja em Hipona (354-430)

Calar por amor ou falar por causa da verdade? — Dr John Charles Ryle, Bispo Anglicano de Liverpool (1816-1900)

Você pode enganar todo mundo durante um tempo.
Você pode enganar algumas pessoas durante todo o tempo.
Mas você nunca poderá enganar todo mundo durante todo o tempo.
— Winston Churchill (1874-1965)

O que é preferível: uma doce mentira ou uma amarga verdade? — Walter Rea, Pastor e Pesquisador Adventista (1982)

Ellen G. White e o Plágio

Estudo dividido em três partes

Introdução

Parte I

 

Havia suspeitas no século XIX (dezenove) de que Ellen G. White houvesse praticado Plágio?
Os escritos de Ellen G. White eram fruto de seus sonhos e visões?
Ellen G. White praticou Plágio?

Parte II


Os líderes da Igreja tinham conhecimento do Plágio em Ellen G. White?
O Grande Conflito é fruto de Plágio?
Ellen G. White também copiou para compor seus outros livros e artigos?
Há como defender Ellen G. White nessa questão do Plágio?

Parte III

Outros escreveram por ela ou a influenciaram diretamente?
Ellen G. White ou White Lie?
Histórico da questão do Plágio nos escritos de Ellen G. White

Introdução

Havia suspeitas no século XIX (dezenove) de que Ellen G. White houvesse praticado Plágio?

Pode parecer surpreendente para a maioria dos adventistas, mas desde os primeiros livros sobre saúde (década de 1860) e durante várias décadas do século passado (século XX), Ellen G. White foi acusada de haver escrito seus livros a partir de trechos, ideias e textos de outros autores, sem atribuir-lhes crédito (não mencionava as fontes utilizadas). Em resposta a essa suspeita, a própria Ellen G. White, os dirigentes da Igreja e os responsáveis diretos por cuidar dos escritos dela (Depositários do Patrimônio White – White State) entraram em defesa de Ellen G. White e negaram qualquer possibilidade de que ela houvesse agido dessa forma. Essas negativas oficiais duraram desde a época em que ela ainda vivia até o ano de 1980.

  1. Muito conhecido da administração geral da Igreja Adventista e um dos encarregados de cuidar dos escritos de Ellen G. White após a morte dela, Arthur White destacava em suas afirmações a originalidade da produção de sua avó: “A sra. White não foi influenciada pelos que estavam perto dela, nem seus escritos foram manipulados. Suas mensagens não se basearam nas idéias dos que estavam perto dela nem em informação que outros pudessem lhe haver proporcionado”. (Arthur L. White, “Who Told Sister White?” Review (21 de Maio de 1959, pt. 2, p. 8-9).
  2. Muitos anos mais tarde, mesmo quando as críticas de um possível plágio eram mais fortes e sabendo que havia uma investigação em curso desenvolvida pelo pr. adventista Walter Rea sobre o assunto, Robert Olson, secretário do Patrimônio White negou enfaticamente que Ellen G. White tivesse copiado de outros. (Robert W. Olson, “Ellen G. White and Her Sources”, Adventist Forum, com período de perguntas e respostas, na igreja da Universidade de Loma Linda, janeiro de 1979).

Parte I

As afirmações de Ellen G. White sobre a fonte de seus escritos e inspiração são corretas?

Ellen G. White escreveu muito e sobre quase todos os assuntos que poderiam interessar aos adventistas do sétimo dia. Para os adventistas ela é uma fonte autorizada de verdade porque seus escritos vêm diretamente da inspiração proporcionada pelos sonhos e visões que ela recebeu de Deus. Este é um assunto muito sério para os adventistas que têm preservado e divulgado os seus escritos. O que Ellen G. White falou sobre a autoria e a fonte de seus escritos?

I. Ellen G. White afirmou de seus escritos: “Tenho escrito muitos livros e eles têm tido ampla circulação. Eu sozinha não poderia haver revelado a verdade nestes livros, mas o Senhor tem me dado a ajuda do seu Santo Espírito. Estes livros, dando as instruções que o Senhor tem me dado durante os passados sessenta anos contém luz do céu e suportarão a prova da investigação.” (Mensagens Escolhidas, p. 35).

  1. Minhas visões foram escritas independentemente de livros e opiniões de outros.” (Manuscrito 27 de 1867). “Nestas cartas que escrevo, nos testemunhos que dou, estou vos apresentando aquilo que o Senhor me tem apresentado. Eu não escrevo nenhum artigo, expressando meramente minhas próprias idéias. Eles são o que Deus me tem exposto em visão – os preciosos raios de luz brilhando do trono.” “Isto é verdade quanto aos artigos de nossas revistas e aos muitos volumes de meus livros. Tenho sido instruída em harmonia com a Palavra nos preceitos da lei de Deus.” (Testimonies, vol. 5, pág. 67, Mensagens Escolhidas, p. 29 e “Ellen G. White, Mensageira da Igreja Remanescente”, p. 35). “O Espírito Santo tem traçado verdades em meu coração e em minha mente.” (Testimonies, Vol. 5, p. 64,67; Carta 90, 1906)

III. Ellen G. White deixa claro que sua fonte de inspiração é o Espírito Santo. “O Espírito Santo é o autor das Escrituras e do Espírito de Profecia.” (Selected Messages, vol 3, p. 30) “Antigamente Deus falava por meio dos profetas e apóstolos. Nestes tempos Ele tem falado por meio dos testemunhos de seu Espírito.” (Testimonies, vol 4, p. 148; vol 5, p. 661).

  1. Deus estabeleceu em sua Palavra e nos Testemunhos o que Ele tem enviado ao Seu povo.” (Battle Creek Letters, p. 74). “Deus tem falado a vocês. Tem estado brilhando luz desde a sua Palavra e desde os Testemunhos, e ambos têm sido desprezados e desatendidos.” (Testimonies, Tomo 5, p. 217).
  2. “Estes livros contém a verdade clara, honesta e inalterável e certamente devem ser apreciados. As instruções que eles contém não são produção humana.” (Carta H-339, 26 de dezembro, 1904) “Em meus livros se afirma a verdade, protegida por um ‘Assim diz o Senhor.” – (Carta 90, 1906, citada en Ellen G. White, por Arthur L. White, tomo 4, p. 393) Numa referência aos ‘testemunhos’: “É Deus, e não um falho mortal, quem fala para salvá-los da ruína.” (Testemunhos Seletos. vol. II, pág. 292).
  3. Sei que a luz que tenho recebido vêm de Deus, nenhum homem me ensinou sobre ela.” (EGW a Bates, 13 de julho de 1847, MS B-3-1847 (Washington: EGW Estate).

VII. Em defesa de sua inspiração, Ellen G. White fez inclusive reivindicação de inspiração verbal mostrando que sua fonte era somente Deus: “Quando minha pena vacila um momento, vêm a minha mente as palavras apropriadas… Quando escrevia estes preciosos livros, se eu titubeava, recebia a palavra mesma que eu queria para expressar a idéia.” (3MS, páginas 51, 52).

Ellen G. White praticou Plágio?

Para alguns adventistas, pelo fato da própria Ellen G. White haver afirmado que sua fonte de inspiração era unicamente seus sonhos e visões, o assunto já estaria encerrado. Como havia a suspeita de plágio, tornou-se necessário realizar uma séria verificação para inocentar ou comprovar o que foi afirmado. Assim, pela seriedade do assunto, e por ser esta uma maneira utilizada pelos críticos para denegrir a imagem e o ministério de Ellen G. White, a organização adventista patrocinou uma cara e grande investigação sobre o assunto. Em se tratando especificamente da produção de livros, o plágio é definido hoje como a apropriação de idéias ou trechos das obras de outros autores sem atribuir-lhes o devido crédito, bem como o camuflar a obra de qualquer outro e atribuir a si a autoria ou paternidade.

  1. Por volta de 1980, o pastor adventista norte-americano Walter Rea afirmava, após haver pesquisado por muitos anos, que Ellen G. White utilizou outras fontes que não as visões e sonhos para escrever os ‘testemunhos’, chegando mesmo a praticar plágio (utilizando e apropriando-se de escritos e idéias de outros autores sem dar-lhes o devido crédito).
  2. Em 1980 um Comitê foi designado para analisar as questões levantadas por Walter Rea (que ainda não haviam sido publicadas como livro). Reunidos na cidade americana de Glendale em janeiro daquele ano, eles concluíram que era muito grande a dependência literária de Ellen G. White e foi decidido encarregar um especialista para conduzir uma investigação mais ampla. Assim a IASD pediu ao Ph.D., Dr. Fred Veltman, chefe do departamento de Religião do Pacific Union College e especialista em análise literária, que fizesse uma investigação sobre as acusações de plágio dirigidas contra Ellen G. White por Walter Rea e outros. Depois de oito anos, sendo seis de pesquisa intensiva e U$ 500.000 de despesas o trabalho foi concluído (1988). (Nota: Dependência Literária: algumas vezes também é utlizada a expresão “empréstimo literário”, mas ambas as expressões traduzem o mesmo problema do ‘plágio’, e empréstimo literário seria ainda um eufemismo, pois ‘empréstimo’ traduz a idéia de futura devolução, o que não era o caso).

III. Observe a seguir que, para surpresa e espanto da maioria dos adventistas os resultados da investigação do Dr. Fred Veltman revelaram que Ellen G. White praticou Plágio em diversos níveis e graus sem atribuir absolutamente nenhum crédito aos autores dos quais ela se valeu.

  1. Tudo indica que por quase dois anos houve dúvidas com relação a publicação da pesquisa conduzida pelo Dr. Veltman. Entretanto (e finalmente), o resultado da investigação do Dr. Fred Veltman foi publicado na revista Ministry de novembro de 1990, a revista oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia para seus pastores nos Estados Unidos. A seguir, alguns relatos tais como aparecem na revista:

“É de suma importância notar que foi Ellen G. White mesma, não seus assistentes literários, quem compôs o conteúdo básico do texto do livro O Desejado de Todas as Nações. Ao fazer isto foi ela quem tomou expressões literárias das obras de outros autores sem lhes dar crédito como suas fontes.”

“Segundo, deve-se reconhecer que Ellen G. White utilizou os escritos de outras pessoas consciente e intencionalmente (…). As semelhanças literárias não são o resultado de acidente ou memória fotográfica.”

“Implícita ou explicitamente, Ellen G. White e outros que falaram em nome dela, não admitiram e até negaram a dependência literária (plágio) da parte dela.” (p. 11).

“Eu penso que qualquer tentativa de direcionar este problema (do plágio) deveria incluir uma consideração séria do que está se entendendo pelo tipo de inspiração de Ellen G. White e do papel dela como uma profetisa.”

“A maior parte do conteúdo do comentário de Ellen G. White sobre a vida e o ministério de Cristo, O Desejado de Todas as Nações, é mais derivado do que original (…). Em termos práticos, esta conclusão declara que não se pode reconhecer nos escritos de Ellen G. White sobre a vida de Cristo nenhuma categoria geral de conteúdo ou conjunto [catálogo] de idéias que sejam somente dela.” (p. 12).

“Devo admitir desde o começo que, na minha opinião, este é o problema mais sério a ser deparado com relação à dependência literária de Ellen G. White. Isto atesta um golpe ao coração de sua honradez, sua integridade, e portanto, sua confiabilidade.” (p. 14).

A “conclusão” de nº 4 no estudo é: “Ellen G. White empregou um mínimo de 23 fontes de vários tipos de literatura, inclusive ficção, em seus escritos sobre a vida de Cristo”. “Na verdade, não há meios de saber quantas fontes [exatamente] estão representadas na obra de Ellen G. White sobre a vida de Cristo”. (p. 13).

  1. Os comentários do Dr. Fred Veltman procedem de alguém amigo, não de algum oponente da Igreja Adventista do Sétimo Dia. E ele não era só um amigo, como também um atuante obreiro adventista antes e depois da pesquisa. A Revista Ministry indagou a Robert Olson, na ocasião secretário do Patrimônio White, se estava satisfeito com a investigação levada a cabo por Fred Veltman: “Estou totalmente satisfeito com esse estudo. Ninguém poderia ter feito um melhor trabalho. Ninguém. Ele [Fred Veltman] o fez como o faria uma pessoa neutra, não como um apologista”. (op. cit., p. 16).
  2. Como se viu, sobre a obra “O Desejado de Todas as Nações” também é revelado pelo relatório do Dr. Fred Veltman que 23 diferentes obras foram utilizadas em sua composição, inclusive contos de ficção, como um romance fictício de uma jovem que escrevia sobre Jesus para o seu pai, um rico comerciante judeu que morava no Egito. (Veltman’s Report).

VII. Observe esta conclusão feita pelo Dr. Fred Veltman, que destacamos novamente aqui: “Devo admitir desde o começo que, na minha opinião, este [o plágio e sua negativa] é o problema mais sério a ser deparado com relação à dependência literária de Ellen G. White. Isto atesta um golpe ao coração de sua honradez, sua integridade, e portanto, sua confiabilidade.” (Revista Ministry, nov. de 1990, pág. 14).

Parte II

Os líderes da Igreja tinham conhecimento do Plágio em Ellen G. White?

Embora negassem oficialmente o plágio nas obras de Ellen G. White, desde a época em que ela vivia, os dirigentes da Igreja Adventista do Sétimo Dia e alguns assistentes literários tinham conhecimento que Ellen G. White utilizava obras de outros autores para produzir seus escritos. Conforme se pode perceber pela leitura do Relatório da Conferência dos Professores de Bíblia da Associação Geral de 1919, quatro anos após a morte de Ellen G. White, os principais líderes mostraram saber desse fato e alguns demonstravam uma séria preocupação de como fariam para contar aos irmãos da igreja. (Report of Bible Conference, 1919). Quanto desse assunto eles sabiam? Porque esse assunto não chegou às Igrejas?

  1. Arthur Daniells, presidente da Conferência Geral da IASD (na época de Ellen G. White), afirmou em 1919 sobre o livro “Sketches of Life of Paul” de 1883, que Ellen G. White havia copiado tanto material do livro “A Vida e as Epístolas de Paulo“, que seus autores Conybeare e Howson, ameaçaram a denominação em função do plágio. Embora o livro estivesse sendo considerado para ser vendido pelos colportores, ele foi tirado de circulação (o livro chegou a ser publicado em 1883 por duas casas publicadoras adventistas, Review and Herald e Pacific Press; Report of Bible Conference, 1919). Anos mais tarde, D. E. Robinson, em defesa de Ellen G. White, afirmou que o pr. A. G. Daniels não deveria se lembrar adequadamente do fato, pois não foram os autores, mas foi ‘a Editora T. Y. Crowell Co. New York’ que entrou em contato com a liderança da denominação adventista e que ‘não houve ameaça de processo’, mas que houve um acordo e o livro foi recolhido. (W. C. White, “Brief Statements Regarding the Writings of Ellen G. White” (St. Helena, Calif., “Elmshaven” Office, August, 1933, reprinted, 1981).
  1. O relatório da Conferência de 1919 mostra que muitos dirigentes (aqui incluido Tiago White) sabiam desde o tempo em que EGW ainda vivia, que seus escritos continham errose que neles havia plágio (empréstimo literário) de outras obras. Embora fosse tomada uma decisão durante a citada reunião para que o relatório ou suas conclusões fossem disponibilizados para toda a liderança da igreja em todos os níveis, infelizmente nada foi feito para esclarecer aos membros da Igreja e nem mesmo aos pastores em formação sobre esses assuntos. Embora pessoas de influência tenham demonstrado claramente essa preocupação (W.W. Prescott, A.G. Daniels e outros) foi feita uma opção pelo silêncio. As 2400 páginas dos Relatórios ficaram em uma sala da Conferência Geral até 1974, ano em que foram ‘descobertas’ pelo administrador da igreja Dr. F. Donald Yost e finalmente disponibilizadas à alta liderança. Depois do advento da internet, e depois de pressões externas, elas foram disponibizadas no site do White State (www.whitestate.org) (Report of Bible Conference, 1919).

III. Em 1980 (antes mesmo da investigação do Dr. Fred Veltman), numa reveladora declaração do presidente da Conferência Geral da Igreja Adventista, Neal C. Wilson, foi afirmado de que a alta liderança e o White State sempre souberam do plágio. Entretanto, Neal Wilson disse que tinha que admitir que “a quantidade de material que foi tomado ‘emprestado’ era maior do que o que eles sabiam anteriormente.” (Neal C. Wilson, “This I Believe about Ellen G. White,” Adventist Review, 20 Março de 1980, p. 8-10).

  1. Declaração semelhante foi feita pelo neto da sra. White, Arthur White, pouco antes de sua morte: “É certo que o intenso trabalho de estudo (…) tem revelado um uso mais amplo de outros escritos por parte de Ellen G. White do que era consciente o White State e os dirigentes da Igreja.” (Arthur L. White, “The Prescott Letter to W. C. White [6 de Abril de 1915], Washington: EGW Estate, 18 de janeiro de 1981, p. 4, 7).
  1. A srta. Mary Clough, sobrinha de Ellen G. White, que a serviu na função de assistente literária por algum tempo entre 1874 e 1875, ciente de como o trabalho de produção das obras de Ellen G. White era feito, terminou por denunciar a metodologia literária da tia, confessando ao pr. Adventista George B. Starr o seu mal-estar em participar de tais atividades. (George B. Starr, in EGW Estate “Uma declaração concernente … Fannie Bolton” EGW State DF 445). O depoimento dela ao pr. Starr é confirmado em um documento oficial adventista chamado “The Truth About The White Lie” (Document prepared by the staff of the Ellen G. White State in cooperation with the Biblical Research Institute and the Ministerial Association of the General Conference of SDA, August 1982. Revised January 1999).
  1. A assistente de Ellen G. White, Vesta Farnsworth, numa surpreendente e sincera declaração ao obreiro Guy C. Jorgensen, negou que Ellen G. White tentasse impedir que outros vissem o que ela fazia: “A acusação de que a irmã White cobria os escritos dela com o seu avental quando um visitante entrava para esconder o fato de que ela não estava copiando algo de algum livro, é verdadeiramente absurda. Não era nenhum segredo que ela copiava passagens selecionadas de livros e periódicos. Mas quando ela estava escrevendo testemunhos e reprovação a ministros mais velhos, ela às vezes desejou que isto não deveria ser do conhecimento de obreiros mais jovens. Isto a levou freqüentemente a cobrir os escritos dela quando as visitas chegavam”. (Vesta Farnsworth to Guy C. Jorgensen, 01/12/1921).

“O Grande Conflito” é fruto de Plágio?

O livro “O Grande Conflito” é um dos clássicos da literatura adventista e um dos livros mais admirados de Ellen G. White. Também houve plágio em sua produção?

  1. Em 1980, o Dr. Don McAdams, um erudito adventista, afirmou nas reuniões de Glendale que, “… se cada parágrafo do livro “O Grande Conflito” tivesse adequadamente notas de rodapé indicando as fontes, então todos os parágrafos do livro teriam referências ao pé da página.” McAdams também observou: “Ellen G. White não apenas tomava emprestados parágrafos aqui e ali segundo os encontrava no curso de suas leituras, mas também em realidade seguia os historiadores página após página, deixando fora muito material, mas utilizando sua seqüência, algumas de suas idéias e freqüentemente suas palavras. Nos exemplos que examinei, não encontrei nenhum fato histórico em seus textos que não estivesse nos textos deles.”(McAdams, “E. G. White and the Protestant Historians”, p. 231-234, citação geral).
  1. Quatro anos após ter negado que Ellen G. White houvesse praticado plágio, o mesmo Robert W. Olson (responsável pelo White State) admitiu que “possivelmente cinquenta por cento ou mais do material do livro “O Grande Conflito” foi extraído de outras fontes.” (Adventist Review de 23 de fevereiro de 1984). Vale mencionar que H. L. Hastings, autor não adventista, publicou um folheto intitulado “A Grande Controvérsia entre Deus e o Homem”. Anos depois, em 14 de março de 1858, Ellen G. White teve sua famosa visão em Lovett´s Grove sobre “O Grande Conflito”. Quatro dias mais tarde, em 18 de março de 1858, Tiago White publicou uma resenha do livro de H.L. Hastings na Review. Seis meses após a publicação dessa resenha, Ellen G. White publicou sua própria versão da “Grande Controvérsia”. As idéias foram publicadas em “Spiritual Gifts”, vol. I. Mais tarde este material evoluiu para converter-se no livro “O Grande Conflito”. (Review and Herald, 18/03/1858).

III. Sobre a obra “O Grande Conflito“, fruto de cópias de outros autores (empréstimo literário ou plágio) conforme declarações de Robert Olson e Don McAdams (eruditos adventistas), Ellen G. White afirmou especificamente: “Enquanto eu preparava o manuscrito do “Grande Conflito” era sempre consciente da presença dos anjos de Deus. E muitas vezes as cenas sobre as quais estava escrevendo se apresentam novamente em visões à noite, de maneira que estavam sempre frescas e vívidas em minha mente.” (Carta 56, 1911, O Colportor Evangelista, p. 128).

  1. Ainda sobre a obra “O Grande Conflito”, ao copiar do livro “The History of Protestantism” da autoria do Rev. J.A. Wylie, até mesmo a gravura utilizada no livro citado foi transposta para o “Grande Conflito” sem autorização. (“The History of Protestantism” da autoria do Rev. J.A. Wylie, p. 30, 1876; “The Great Controversy”, Original 1886, p. 76-77). Para colocar fim a acusação de uso indevido da imagem, um acordo foi firmado e a organização adventista comprou 1000 exemplares de outra obra da editora Cassel & Company.
  1. Em defesa de Ellen G. White e dos editores, a Conferência Geral explica que a matriz foi comprada da Cassell & Company Ltd., e os documentos que comprovam esta compra foram destruidos num incêndio da Pacific Press. Mas a comparação entre as gravuras mostra que a história está mal contada. A gravura que aparece no Grande Conflito parece uma cópia feita em processo rudimentar; quando se comparam as gravuras, vê-se que não têm o mesmo tamanho; apagaram o nome do artista e puseram “Pacific Press Oakland,Cal.”. Estes detalhes são importantes, pois se a matriz original tivesse sido comprada, as gravuras teriam o mesmo tamanho, mesma qualidade e o mesmo nome do autor. O que será que aconteceu? (Ennis Meyer, adventistas.ws).
  1. Todas as edições da obra O Grande Conflito anteriores a 1911 são falhas com relação a menção das fontes: autores e livros de onde as ideias, pensamentos e textos foram extraídos.

Ellen G. White também copiou para compor seus outros livros e artigos?

Bem, realmente é surpreendente que ela tenha utilizado tanto material de outros autores para compor “O Desejado de Todas as Nações” e “O Grande Conflito”. Mas será que para escrever suas outras obras e seus artigos ela também utilizou material de outras fontes?

  1. Durante as décadas de 1980 e 1990 as descobertas e revelações sobre o plágio que chegaram aos ouvidos dos adventistas sobre as obras de Ellen G. White evoluiram desde os clássicos da série “Conflito” (Patriarcas e Profetas, Profetas e Reis, O Desejado de todas as Nações, Atos dos Apóstolos, O Grande Conflito) para os livros de saúde, depois para os “Spiritual Gifts”, artigos e até mesmo os “Testemonies”, que alguns julgavam totalmente originais. O estudo de Fred Veltman, embora enfocasse o “Desejado”, confirmou o que outros haviam revelado: dependendo do material utilizado dos escritos de Ellen G. White, o copiado podia chegar a até 90% (Veltman Report, 1990). Mas o Veltman Report aponta uma média geral de 31% É tanto plágio que nem mesmo o livro Educação, (que depois foi plagiado por um primeiro ministro de uma nação africana) escapou. E neste livro (Educação), até um dos mais recitados e admirados pensamentos de Ellen G. White, considerado como uma das pérolas da inspiração, é de outro autor:

“A maior necessidade do mundo é de homens – homens que não se compram nem se vendam, homens que sejam verazes e honestos no mais íntimo de seu ser, homens que não temam chamar o pecado pelo verdadeiro nome, homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo, homens que permaneçam ao lado da verdade ainda que caiam os céus.” (Educação, p.57, publicado em 1903).

Este pensamento havia sido publicado na “Review and Herald” na Seção “Seleto” muitos anos antes e estava sem o nome do autor, porque tinha sido retirado de uma fonte desconhecida ou que não era aceitável nomear. [“Recheio” Editorial], Review, Tomo 37, n. 6, janeiro de 1871).

  1. Em 1898 Ellen G. White escreveu um artigo que foi publicado na Review and Herald. O artigo dizia assim: “Nas visões da noite, ministros e obreiros pareciam estar em uma reunião onde as lições da Bíblia estavam sendo ministradas. Nós dissemos: ‘Temos o Grande Professor conosco hoje’, e escutamos com grande interesse as suas palavras. Ele disse: “(…)”

III. Após essa introdução, Ellen G. White citou literalmente uma cópia do texto de John Harris, extraido do livro “The Great Teacher” (O Grande Professor) escrito em 1836 e reeditado algumas vezes. Observe que ela atribuiu ao Espírito de Deus o trecho copiado do livro de Harris. Note que ela utilizou até mesmo o título do trabalho de Harris (“O Grande Professor”) dizendo que este tinha sido mencionado na visão. (Manuscrito 27, Extraído de “Ellen G. White-Mensageira da Igreja Remanescente”, p. 35. Da autoria de seu neto Arthur L. White) (John Harris, The Great Teacher (Amherst: T. S. & C. Adams, 1836: Boston: Gould and Lincoln, 1870) p. 14-18: Veja também EGW, Testimonies for the Church, tomo 6, p. 58-60) (Review and Herald de Abril 4, 1899).

Há como defender Ellen G. White nessa questão do Plágio?

Esse assunto torna-se inquietante e desagradável, mas será que é possível defender Ellen G. White ou encontrar as explicações para este procedimento?

  1. Vários dos autores dos quais Ellen G. White copiou eram bastante meticulosos em seus escritos e indicavam suas fontes. Um caso de destaque é o de J. N. Andrews, pesquisador e intelectual adventista, do qual ela utilizou considerável material desde muito cedo em sua carreira literária. (Doug Hackleman, Adventist Currents, junho de 1985).
  1. Ellen G. White pediu aos outros que iriam citar os seus escritos que fizessem menção dela como autora. Em 30 de janeiro de 1905, David Paulson solicitou a Ellen G. White que permitisse a utilização de seus artigos para a sua revista mensal The Life-boat. Willie White, filho de Ellen G. White, respondeu assim a solicitação em 15 de fevereiro de 1905: “Minha mãe me pediu que diga ao sr. que pode sentir-se livre de selecionar de seus escritos artigos curtos para a ‘The Life-boat’. Você pode fazer resumos destes artigos curtos e de escritos similares,dando o devido crédito em cada caso.” (D. M. C., Life of Ellen G. White, cap. 10). Diante disso é estranha a tentativa de defender Ellen G. White feita por Robinson, de que “ela atuava sem conhecimento dos padrões literários que consideravam o uso dos escritos alheios como condenável ou desleal.” (White and Robinson, “Brief Statements,” p. 18).

III. Ellen G. White pediu a seu filho “que não contasse a ninguém” que ela copiava de outros autores. (The Adventist Review, 23 fevereiro, 1984, p. 5 no artigo “Sources of the Great Controversy”).

  1. Para Herbert E. Douglas, a responsabilidade sobre o negar e ocultar o método utilizado por Ellen G. White ao se valer dos escritos de outros seria da própria sra. White. Citando Robert W. Olson, ex-diretor do Patrimônio Literário White, ele afirma: “’Em minha opinião, ela não queria que seus leitores, concentrando-se no método, fossem distraídos da mensagem. A indevida atenção sobre como escreveu poderia levantar dúvidas desnecessárias a respeito da autoridade do que ela escreveu.” A fala de Robert Olson neste trecho é incrivelmente reveladora. É desconcertante. É como se ele estivesse pedindo a todos para não darmos muita importância ao fato de Ellen G. White se valer do plágio para produzir suas obras, pois isso poderia nos levar a duvidar da autoridade dela como profetisa da Igreja Adventista. (Robert W. Olson, “Questions and Problems Pertaining to Mrs. White´s Writings on John Huss,” EGW State, 1985, p. 6)
  2. Reservadamente em documentos do White State, Robert Olson afirmou: “Também é fato que ela tinha diante de si os livros de onde copiava os trechos e não uma memória fotográfica.” (…) “Estou convencido de que ela tinha diante de si algumas obras enquanto escrevia, no entanto a igreja crê que ela possuía memória fotográfica e inconscientemente utilizava as palavras de outros autores.” (“Mensageira do Senhor”, p. 462; www.whitestate.org; Robert W. Olson, “Questions and Problems Pertaining to Mrs. White´s Writings on John Huss,” EGW State, 1985, p. 6).
  1. Uma única vez, numa contradição de suas próprias declarações de sempre escrever o que era inspirado em visões, Ellen G. White admitiu, após ser questionada do ‘porquê’ de suas visões publicadas serem tão semelhantes aos ensinos dos livros de J. C. Jackson sobre saúde, de que, como havia muita “harmonia” de pensamento, ela “copiou” trechos da obra do autor citado. (R&H do dia 08/10/1867).

VII. O que se sabe hoje é que, ao longo de mais de cem anos, várias pessoas chamaram a atenção para a questão do plágio nas obras de Ellen G. White. Canright foi o primeiro a chamar a atenção para esse assunto. Depois William Patterson, Ingemar Linden, Ronald Numbers, Jonathan Butler, Don McAdams, Warren H. Johns, Ron Graybill e outros acrescentaram mais dados à evidência já acumulada de sua dependência literária durante toda a sua vida, de fontes às quais ela não deu o devido crédito. E por muitos anos e décadas, tanto Ellen G. White e os responsáveis pelo Patrimônio White, bem como os administradores da Igreja negaram esse fato, Somente com as críticas levantadas pelo pastor Walter Rea (e depois tornadas públicas com a publicação do livro White Lie) que a organização adventista se viu forçada a investigar oficialmente a questão.

VIII. Herbert E. Douglass, numa tentativa de defender Ellen G. White da acusação de plágio faz a seguinte declaração: “Ellen G. White não copiou por atacado ou sem discriminação. O que selecionou ou não selecionou, e como se alterou o que selecionou ‘revela que ela usou fontes literárias’ para amplificar mais destacadamente ou indicar seus próprios temas transcendentais; ela era o mestre, não o escravo, de suas fontes.” E ainda mais, Douglass faz outra defesa estranha de Ellen G. White, ao afirmar que ela tinha “apreço pelos melhores pensamentos alheios para comunicar a clara intenção da mente”. (Herbert E. Douglass, Mensageira do Senhor, p. 461, em inglês). Observe que Douglass, um defensor de Ellen White, está dizendo claramente que ela gostava tanto das melhores ideias dos outros, que ela as tomava para si. É verdade. Ela tomava para si, dizia que tinham vindo de Deus, negava que havia pego dos outros, compunha seus livros e exigia direitos autorais.

  1. “Ellen G. White havia descoberto percepções e fraseologias de outros autores que a ajudavam a explicar melhor os penetrantes pensamentos que ela queria comunicar”. (“Mensageira do Senhor”, p. 252, 253, 450-453, em português). Robert Olson, que foi por vários anos o diretor do White State também se pôs a defender Ellen G. White: “É fato que Ellen G. White verdadeiramente usou obras de outros até certo ponto enquanto empenhada em seus escritos, mas não há nenhuma evidência da intenção de fraude, por parte dela, nem há evidência de que qualquer outro autor fosse alguma vez privado de seus legítimos benefícios por causa das atividades dela.” (idem). Estranho, ele não nega a intenção de fraude, ele nega a evidência da intenção de fraude. E ao dizer que nenhum outro autor foi privado de seus interesses por causa das atividades dela, ele deliberadamente deixa de mencionar e gostaria que não nos lembrássemos do caso do livro que ela plagiou de Conybeare e Howson em 1883 e quase enfrentou um processo por isso.

  2. O White State realizou uma pesquisa interna em 1983 e chegou a afirmar que de todos os escritos de Ellen G. White, em apenas 2% (dois por cento) havia paralelos com as obras de outros autores. Porém, o estudo mais aprofundado do Dr. Fred Veltman revelou em 1990 que esse percentual era muito maior. Atualmente, diante de tantas evidências e do conclusivo estudo do Dr. Veltman, o White State (Depositários do Patrimônio literário de Ellen G. White) em seu site oficial (ellengwhite.org) afirma sem rodeios: “Ellen G. White freqüentemente fez uso de fontes literárias ao comunicar suas mensagens.”
  1. No site oficial dos Depositários do Patrimônio literário de Ellen G. White (ellengwhite.org; whitestate.org) são disponibilizados o resultado oficial das investigações do Dr. Fred Veltman, o Relatório da Conferência dos professores de Bíblia da Associação Geral de 1919 (Report of Bible Conference, 1919) e vários outros documentos.

XII. Em 1981, nove anos antes da publicação do conclusivo relatório do Dr. Fred Veltman (que revelou que Ellen G. White de fato praticou plágio), a Igreja Adventista contratou o advogado Vincent L. Ramik, um especialista em patentes, marcas registradas e nos casos de copyright para defender Ellen G. White das acusações de plágio em seus escritos. O advogado contratado pela Igreja, como era de se esperar, deu um parecer favorável a sra. White. As afirmações a seguir são do próprio site do White State (responsável oficial pelo Patrimônio Literário de Ellen G. White): O “mero uso de expressões de outros não constitui o roubo literário” (…).

XIII. A opinião legal de Vincent Ramik: “Ellen G. White não era uma plagiarista, e trabalhos dela não constituem infração dos direitos de copyright.” Ramik continua, ao listar porque Ellen G. White deve ser inocentada da acusação de plagio: 1) “suas seleções ‘permaneceram bem dentro dos ‘limites legais’ do uso justo.’ 2) ‘Ellen G. White usou os escritos de outros; mas na maneira que os usou, ela tornou-lhes excepcionalmente seus próprios’ (…) ‘adaptando as seleções em sua própria estrutura literária.’ 3) ‘Ellen G. White incitou seus leitores a terem cópias de alguns dos livros que ela empregou, demonstrando que não tentou esconder o fato de seu uso de fontes literárias, e que não teve nenhuma intenção de fraudar ou substituir os trabalhos de nenhum outro autor.” Ressalte-se que Ramik não era um juiz julgando um caso, mas apenas um advogado dando um parecer a um cliente. As leis que punem o plágio só passaram a valer nos Estados Unidos em 1916, um ano após a morte de Ellen G. White. (O parecer do advogado católico levou em consideração as leis vigentes nos Estados Unidos sobre direitos autorais entre 1850 e 1915 e foi publicado na Adventist Review em 17 de setembro de 1981, p. 3, e também se encontra no site do White State).

Perguntas:

  1. Ao longo de sua carreira literária, Ellen G. White negou diversas e reiteradas vezes que utilizasse outras fontes, que não os seus sonhos e visões para escrever seus livros. No entanto, ela de fato copiava de outros autores, sem atribuir-lhes crédito. Que nome dar a essa atitude?
  1. Porque Ellen G. White copiou de outros autores sem dar-lhes crédito?

III. Porque Ellen G. White afirmava estar sendo inspirada por Deus ao mesmo tempo em que praticava plágio?

  1. Porque Ellen G. White negou direta ou indiretamente a sua verdadeira metodologia literária?
  1. Porque os dirigentes da Igreja Adventista (que tinham consciência do plágio) não advertiram ou repreenderam Ellen G. White? Se o fizeram, porque ela continuou?
  2. Porque os dirigentes da Igreja adventista negaram e decidiram ocultar dos membros da igreja a verdade sobre os métodos utilizados por Ellen G. White ao escrever seus livros?

VII.Por que a Igreja afastou da organização e retirou a credencial do pastor que levou o assunto à administração da IASD?

VIII. Porque o relatório do Dr. Fred Veltman não foi apresentado a toda a Igreja em todo o mundo?

  1. Precisava Ellen G. White ser defendida por um advogado? O parecer do advogado inocenta ou ratifica a culpa de Ellen G. White?
  1. O advogado foi contratado para dar um parecer específico a um cliente particular. Se o parecer fosse contrário ao esperado, teria ele sido divulgado pela Igreja?
  1. O advogado Vincent Ramik disse que ela não seria condenada pelas leis americanas sobre direitos autorais do período. Isso torna correto o que Ellen G. White fez?

XII.O fato de Ellen G. White não ser considerada plagiária por um advogado torna moralmente correto o que ela fez?

Parte III

Outros escreveram por ela ou a influenciaram diretamente?

Ellen G. White afirmou: “Não tenho o hábito de ler nenhum artigo doutrinal no diário para que minha mente não sofra a influência das idéias e pontos de vista de nenhuma outra pessoa.” (Mensagens Escolhidas, vol 3, p. 63). Embora alguns defensores de Ellen G. White neguem que ela recebesse influência de outros autores, é fato evidente em suas obras a influência direta de vários deles. Mas será que além de ser influenciada, Ellen G. White assumiu a autoria de material escrito por outras pessoas?

A obra mais famosa de Ellen G. White é o livro “Caminho a Cristo”, traduzido em mais de 150 idiomas e com publicações que ultrapassam a casa dos quinze milhões de exemplares. Sobre essa obra repousam sérias questões que merecem ser analisadas. Como este livro foi produzido e porque esse assunto é tão delicado para o White State?

 

  1. Fannye Bolton, secretária de Ellen G. White afirmou que ‘parte’ do que era publicado sob o nome de EGW eram construções suas e de Marian Davis. A maior parte da obra “Caminho a Cristo”, além da revisão e montagem final é da autoria de Fannye Bolton, conforme suas próprias declarações. Embora Herbert Douglass, no livro “A Mensageira do Senhor”, afirme que várias idéias e escritos anteriores de Ellen G. White estejam presentes no livro “Caminho a Cristo” e negue a autoria de Marian Davies, ele não nega a participação de Fannye Bolton. Fannie Bolton não só escreveu livros para a Sra. White, como também artigos e algumas cartas sob o nome da Sra. White. Fannie confessou a Merritt G. Kellogg, meio-irmão de John Harvey Kellogg, que o que ela escrevia… “publicava-se na Review and Herald (…) como se o tivesse escrito a Sra. White sob a inspiração de Deus. (…) Sinto-me muito angustiada por esse assunto, porque sinto que estou agindo com engano. As pessoas estão sendo enganadas acerca da inspiração do que eu escrevo. Parece-me muito mal que qualquer coisa que eu escrevo saia sob o nome da Irmã White como um artigo especialmente inspirado por Deus. O que eu escrevo deveria sair com minha própria assinatura (…) assim o crédito seria dado a quem lhe corresponde.” (Review and Herald, 27 de nov. de 1883; F. D. Nichol, Ellen G. White and her Critics, Review and Herald, 1951, USA, pgs. 479-486; Herbert Douglass, Mensageira do Senhor, 453).
  1. O neto de Ellen G. White, Arthur White afirmou em tom de desafio: “Se as mensagens transmitidas por Ellen G. White tiveram sua origem nas mentes ou nas influências que a rodeavam; se as mensagens sobre organização se pode seguir seus rastros até as idéias de Tiago White ou George I. Butler; se os conselhos sobre saúde se originaram nas mentes dos doutores Jackson, Trall ou Kellogg; se as instruções sobre educação se basearam nas idéias de G. H. Bell ou de W.W. Prescott; se os altos estandartes defendidos nos escritos e livros de Ellen G. White foram inspirados por homens poderosos de sua causa – então os conselhos do Espírito de Profecia não significam nada para nós do que algumas boas idéias e conselhos úteis.” (Arthur L. White, “Who Told Sister White?” Review (14 de Mayo de 1959), p. 1. p. 6).

III. Interessante é notar que Arthur White menciona os nomes que todo bom pesquisador da história da Igreja Adventista imagina. Estas pessoas citadas de fato influenciaram Ellen G. White. Seu neto, ao lançar um desafio (o qual ele depois negaria enfaticamente no mesmo artigo), acaba por apontar para as pessoas certas revelando um fato dado como certo por vários teólogos e membros da igreja de hoje. Entretanto, vinte e dois anos mais tarde, em 1981. Quando admitiu que houve dependência literária nos escritos de Ellen G. White, já perto de sua morte, Arthur White acabou por confirmar que Ellen G. White sofreu forte influência de outros. Será que podemos deduzir como verdadeiras suas palavras “os conselhos do Espírito de Profecia não significam nada para nós do que algumas boas idéias e conselhos úteis”? (Arthur L. White, “The Prescott Letter to W. C. White [6 de Abril de 1915], “fotocopiado (Washington: EGW Estate, 18 de Enero de 1981), p. 4, 7.)

  1. Secretárias e mesmo Willie White escreveram ‘cartas de aconselhamento’ que receberam o selo “Ellen G. White”. E a ajuda que ela recebeu de suas secretárias e ajudantes editoriais ultrapassavam muitas vezes o limite da revisão e seleção de temas. Eles tinham muita liberdade para reorganizar o material para sua edição final. Marian Davis, Clarence C. Crisler, Dores E. Robinson, Mary Steward, Fannie Bolton, Mary H. Crisler, Sarah Peck, Maggie Hare, e H. Camden Lacey eram as pessoas mais conhecidas que trabalharam com ela diretamente. Mas houve outros mencionados por Willie White: Lucinda Abbey Hall, Adelia Patten Van Horn, Anna Driscoll Loughborough, Addie Howe Cogshall, Annie Hale Royce, Emma Sturgis Prescott, Mary Clough Watson, e a sra. J. L. Ings. (W. C. White, citado por Robert W. Olson y Ronald D. Graybill em um Seminário no Southern Missionary College no outono de 1980; De W. C. White para o Comitê da Conferência Geral, 3 de Outubro de 1921; John Harvey Kellogg – Entrevista autêntica – G. W. Amadon, para o ancião A. C. Bourdeau – Battle Creek, Michigan, 7/10/1907).
  1. Tiago White afirmou: “Ela é frágil e deve ser tratada com delicadeza, ou nada pode fazer. Os Prs. Butler e Haskell têm tido uma influência sobre ela que espero ver interrompida. Isso quase a tem arruinado. Esses homens não devem ser suportados pelo nosso povo para agirem como têm agido ao ponto de quase todos os nossos ministros desanimarem quase que inteiramente. Os jovens são mantidos fora do ministério pela atitude estreita e cega deles.” “A pressão tem sido terrivelmente dura sobre minha pobre esposa. Ela tem sido muito influenciada pelos Prs. Butler e Haskell.” (Citado em The Case of D. M. Canright, por Norman F. Douty, p. 77 e 78).
  1. Ao compor diversos livros como “O Grande Conflito”, “Atos dos Apóstolos”, “Patriarcas e Profetas” e “O Desejado de todas as Nações” (além de outros), Ellen G. White recebeu ajuda direta, orientações, conselhos e material de Tiago White, Urias Smith, John Andrews, W. W. Prescott, A.G. Daniells, Dores E. Robinson, O. C. Crysler, isso além de seus assitentes editoriais e secretárias. (Uriah Smith, “The Sanctuary and the Twenty-three Hundred Days of Daniel VIII, 14”. Battle Creek: Steam Press, 1877. J. N. Andrews, The Prophecy of Daniel: the Four Kingdoms, the Sanctuary, and the Twenty-three Hundred Days la Profecía de Daniel (Battle Creek: Steam Press, 1863. Robert W. Olson, “Historical Discrepancies in the Spirit of Prophecy”, nota no apêndice por Arthur L. White, fotocopiado – Washington: EGW Estate, 17 de Julio de 1979, General Conference Report, 1919).

Perguntas:

  1. Poderia uma profetisa inspirada por Deus aceitar ajuda para escreverem em seu lugar e compor seus escritos de pessoas não inspiradas diretamente?
  1. Por que Ellen G. White permitia que cartas escritas por secretárias levassem seu nome?

III. A beleza e o estilo superior de algumas obras de Ellen G. White se deve a ela ou aos seus colaboradores?

  1. Por que não foi dado o devido crédito a Fannye Bolton? E por que os outros colaboradores não receberam nenhuma menção?

Ellen G. White ou White Lie?

Entre 1977 e 1979, Robert Olson, secretário do White State manteve correpondências e reuniões com um pastor adventista do sul dos Estados Unidos, chamado Walter Rea, que realizava uma série de pesquisas intrigantes sobre os escritos de Ellen G. White. Olson pediu ao pastor Walter Rea que não publicasse seus estudos até que outros pudessem analisá-lo e teve seu pedido atendido. Reconhecidamente pelo White State, Walter Rea era a pessoa que havia estudado mais a fundo os livros de Ellen G. White e como eles tinham sido escritos. A divulgação em alguns círculos adventistas dos estudos de Walter Rea sobre o “plágio” nos “testemunhos” levaram a administração a convocar uma reunião em 1980 para analisar esse grave assunto.

  1. Nas correspondências com Walter Rea, o White State (com sede em Washington) sempre parecia ter desculpas para os “empréstimos literários” de Ellen G. White. Então, nessa época, um jovem chamado Bruce Weaver, seminarista da Universidade Andrews e pastor na Conferência do Arkansas-Lousiania, teve acesso ao material de pesquisa de Walter Rea e pediu para fotocopiá-lo. Recebeu autorização e percebeu que havia mais informação no material do que apenas os estudos de Walter Rea. Ali também estava uma lista com nomes de todos os livros que havia na biblioteca particular de Ellen G. White e ainda as sugestões dadas por escrito por Robert Olson e Arthur White de como lidar com oproblema ‘Walter Rea’ (utilizar linguagem de duplo sentido e fazer pressão sobre ele). Cientes de que o material havia caído em mãos erradas, o White Estate acusou Bruce de ‘roubar’ o material da biblioteca, ainda que ele só tivesse copiado e devolvido. Ao final, Bruce foi despedido do seminário e do ministério. (Depoimento pessoal de Bruce Weaver – [exposed] – Site; W. L., p. 11, 1982).
  1. Com a divulgação informal das pesquisas de Walter Rea, Olson se dedicou a fazer uma campanha verbal para suavizar o impacto que as pesquisas revelavam. Além disso, pessoas de várias regiões da América Norte já estavam solicitando a evidência encontrada nos trabalhos do pastor Walter Rea. Numa apresentação que Olson fez, numa tarde de janeiro de 1979, na Universidade de Loma Linda, na Califórnia, alguém no auditório perguntou a respeito do empréstimo literário por parte de Ellen G. White. A resposta de Olson foi no sentido de que nada disso era verdade, que todos os escritos eram apenas de autoria dela. Chocado com essa atitude de Olson, Walter Rea dirigiu-se diretamente à cúpula da Igreja e apresentou o caso. (W. L., p. 12, 1982).

III. Em Glendale foi formado um comitê para estudar o assunto. Ele recebeu o nome de “Glendale Committee, “Ellen G. White and Her Sources” e ocorreu nos dias 28 e 29 de janeiro de 1980. Vieram a tona não só os estudos de Walter Rea, como também outros que o White State já possuía há algum tempo. Cientes de que Ellen G. White havia utilizado em grande medida outros autores para compor suas obras, decidiu-se contratar um erudito adventista para realizar uma longa investigação sobre a dependência literária de Ellen G. White ao escrever o livro “O Desejado de Todas as Nações”. No caso do livro “O Grande Conflito” esta pesquisa se mostrava naquele momento desnecessária, em função de ser óbvio de que ela havia se servido de outros autores. Mas no caso do “Desejado” isso não era tão evidente e este era um dos livros mais apreciados de sua autoria. (http://www.whiteestate.org/issues/issues.asp)

  1. Este é o anúncio editorial não assinado na Revista Adventista norte-americana em 27 de novembro de 1980:

“Depois de exame cuidadoso dos dados, isto [O Comitê de Glendale, de 28-29 de janeiro de 1980] concluiu que o uso que Ellen G. White fez de outras fontes foi mais extenso do que nós tínhamos percebido a princípio; recomendamos que um erudito treinado em análise literária empreenda um estudo minucioso de “O Desejado de Todas as Nações”. Esta sugestão foi adotada pela Conferência Geral. O Dr. Fred Veltman, um erudito do Novo Testamento da Faculdade do Pacific Union College já está em tempo integral comprometido no projeto onde se espera que esteja terminado em aproximadamente dois anos”.

  1. Impacientes com o andamento das coisas e aborrecidos com a divulgação das pesquisas de Walter Rea, a denominação tirou as credenciais de ministro adventista. Preocupada com o rumo que as coisas poderiam tomar e com o trabalho da equipe de Fred Veltman ainda no começo, a Associação Geral tomou uma decisão inusitada. Contrataram um advogado para defender Ellen G. White da acusação de plágio.
  1. A contratação de um advogado católico para defender Ellen G. White da acusação de plágio acabou custando ‘caro’ para a organização. Primeiro porque a ala tradicional adventista não admitia nenhum tipo de ligação com a igreja do Vaticano e segundo, porque a defesa feita por Ramik é para bons entendedores, uma completa admissão de culpa. Torna-se evidente na opinião legal de Vincent Ramik que Ellen G. White só não pode ser considerada uma plagiária (ou plagiadora) porque a lei especifica dos direitos autorais surgiu apenas em 1916.

VII. As expressões ‘legais’ de Vincent Ramik de que as seleções de trechos de outros autores feitas por Ellen G. White “permaneceram bem dentro dos ‘limites legais‘ do uso justo’” e “Ellen G. White usou os escritos de outros, mas na maneira que os usou, ela tornou-lhes excepcionalmente seus próprios’ (…) ‘adaptando as seleções em sua própria estrutura literária’”. Todas essas frases de Ramik são a mais perfeita admissão de dependência literária. E como ela não dava o devido crédito às suas fontes, isso acaba sendo uma confissão camuflada de plágio. É incompreensível como as declarações (de Ramik) ainda podem ser utilizadas por concienciosos adventistas para defender Ellen G. White. (http://centrowhite.uapar.edu/).

VIII. Dois anos após seu desligamento, Walter Rea sentiu-se livre para publicar o livro “White Lie” (A Mentira Branca). Segundo depoimentos de adventistas que vivem há muitos anos nos Estados Unidos, o livro do pastor Rea ocasionou mais danos à IASD que os adventistas no resto do mundo poderiam imaginar e tiveram notícia. Felizmente para a administração da IASD, o livro não foi imediatamente traduzido para outras linguas e os seus efeitos ficaram circunscritos aos Estados Unidos. Este problema aliado às consequências já perceptíveis da questão doutrinária “Desmond Ford” fez com que milhares de adventistas abandonassem a igreja e a Igreja acabou passando por uma grave crise ideológica e financeira.

  1. A crise foi tamanha que até o jornal The New York Times deu espaço para ela em suas páginas. Com assuntos ligados a Ellen G. White, foi exposto no “The New York Times”, de 06/11/1982, com destaque, num artigo intitulado “7th-Day Adventists face Change and Dissent”. Entre os tópicos deste famoso periódico, estavam os subtítulos: “Mais de cem ministros já se demitiram da Igreja ou têm sido forçado a fazê-lo”; “O foco do fermento dos adventistas é a Universidade Andrews”; “Vários incidentes nos dois últimos anos têm provocado o aparecimento de tensões e abaixamento da moral”. Ali eram mencionadas as questões que envolviam o questionamento da autoridade de Ellen G. White, tanto por Walter Rea, como no caso Desmond Ford.
  1. Mas não era só isso, e o texto da Revista Time de agosto de 1982 (que cita como fonte a Revista “Ministry” de julho de 1982), declara: “O mais chocante de tudo: ela [EGW] usava as palavras de autores anteriores como se fossem as palavras que escutava quando em visão. Em alguns casos, ela usa as palavras de autores do século dezenove como se fossem de Cristo ou de um guia celestial.”
  1. Novamente vale a pena ler as palavras de alguém que estava no centro dos acontecimentos e olhava desde a perspectiva da igreja. No começo de suas investigações o Dr. Fred Veltman afirmou:

“… a credibilidade dos dirigentes da Igreja diminui a cada nova publicação. (…) A igreja deveria estar na linha de frente fazendo o estudo e informando aos membros da igrejaquando a informação tenha sido cuidadosamente avaliada.”

“O que é difícil entender é porque a igreja não está disposta a trabalhar com Walter apesar de que ele está disposto a trabalhar com a igreja.”

“Walter está decidido a chegar fundo ao problema e torná-lo conhecido a Igreja. Ele não quer que outra geração passe pela agonia pessoal da desilusão que ele experimentou. Isto é inegociável para Walter e é difícil criticá-lo por sua convicção em vista da evidência e da história desse problema na igreja.” Fred Veltman, “Report to PREXAD on the E. G. White Research Project” [Informe para PREXAD sobre o Projeto de Investigação Acerca de E. G. White]; fotocopiado (Angwin, CA Life of Christ Research Project, n. d. [Abril de 1981], p. 21 a 25).

A Igreja tentou mostrar algo aos Membros numa Lição da Escola Sabatina?

A lição do 1º Trimestre de 2009 se propôs a fazer o que nenhuma outra lição antes tentou na história da Igreja Adventista: mostrar uma Ellen White mais humana, mais falível, sujeita a erros, mas sobretudo (e ainda) profetisa e autora de escritos inspirados. Bem, essa foi a proposta esboçada na introdução da Lição, mas no decorrer dela, ele faz exatamente o contrário. Enfatiza continuamente o dom superior de Ellen G. White e a compara com os profetas bíblicos.

Sobre o modelo de inspiração e forma de preparar os escritos, o autor da Lição, Gerhard Pfandl, faz comparações entre os autores bíblicos Lucas e Paulo e Ellen White. Mas ele faz uma comparação forçada, parcial e equivocada. (colaboração de J. Clophas).

  1. Gerhard Pfandl diz que tanto Lucas, como Ellen White tiveram inspiração em harmonia com os eventos históricos. Vejamos se de fato foi assim:
  1. Sobre o modelo de inspiração e forma de preparar os escritos, o autor da Lição, Gerhard Pfandl, faz comparações entre os autores bíblicos e Ellen White. Ao falar sobre a inspiração de Lucas (o evangelista bíblico), Gerhard Pfandl diz que ele “não foi testemunha ocular dos eventos que descreveu. Em vez disso, ele escreveu sobre o que aprendeu de outros, todos, sem dúvida, sob a inspiração e direção do Espírito Santo, o que assegurou de que o que escrevia estava em harmonia com os eventos históricos e com a vontade de Deus.” (Lição da Escola Sabatina, jan/fev/mar 2009, p. 60 da Lição dos Adultos – Professor, CPB). Fica claro que, por estar sob a direção e inspiração do Espírito Santo, Lucas escreveu em harmonia com os eventos históricos e de acordo com a vontade de Deus.

III. Gerhard Pfandl fala que o mesmo se passou com Ellen White: que ela escreveu sob a inspiração do Espírito e em harmonia com os eventos históricos. Mas será que foi assim mesmo?

  1. Robert Olson (responsável pelo Patrimônio Literário White nas décadas de 1970 e 1980), após pesquisar diretamente nas fontes utilizadas por Ellen White, afirmou: “Ao seguir o livro de Willie, a sra. White fez várias afirmações históricas errôneas (sobre John Huss, por exemplo) que agora se consideram inexatas”. (Robert W. Olson, “Questions and Problems to Mrs. White´s Writings on John Huss,” EGW State, 1975, p. 6). Em outras palavras, Ellen White não pode ser comparada com Lucas, pois ela não escreveu em harmonia com os eventos históricos. Olson continua: “Aceito o fato de que Ellen White seguiu a Willie muito, muito de perto – desde a página 97 até a página 110 do The Great Controversy (O Grande Conflito).” (idem). Ellen G. White copiou tantas páginas seguidas do escritor Willie, que copiou até seus erros históricos.
  1. E a partir daí, Robert Olson é ainda mais contundente: “Para mim, é difícil crer que o Senhor dera a sra. White uma visão ou uma série de visões que, ao longo de quatorze páginas, coincidisse com o escritor Willie em tantos detalhes.” (idem).
  1. Como os documentos de Robert Olson são de 1975, fica evidente que mesmo antes das revelações do relatório do Dr. Fred Veltman, em documentos não abertos ao público, Robert Olson (responsável pelo Patrimônio Literário White) demonstrava não apenas já saber da questão do plágio, mas mesmo duvidar que Deus houvesse revelado algumas coisas a Ellen G. White. Mesmo assim, ele mentiu aos membros da Igreja da Califórnia em 1979, ao negar que Ellen G. White tivesse utilizado outras fontes que não seus sonhos e visões. Olson apresenta dois sérios problemas nos escritos ‘inspirados’ de Ellen White: mesmo escrevendo sob inspiração, havia erros e inexatidões históricas nos escritos da sra. White; ele, Robert Olson, duvidava que Deus houvesse revelado algumas coisas a Ellen G. White, pois ela copiou quatorze páginas consecutivas de outro autor, coincidindo em detalhes a tal ponto, que chegou mesmo a copiar seus erros.

VII. Para ele, diretor do Centro White americano, era difícil crer que Deus houvesse revelado através de visões aqueles detalhes históricos equivocados. E por que ele afirmava isso? Por que a própria sra. White negava utilizar outras fontes e dizia estar escrevendo sob inspiração: “Enquanto eu preparava o manuscrito do “Grande Conflito”, era sempre consciente da presença dos anjos de Deus. E muitas vezes as cenas sobre as quais estava escrevendo se apresentam novamente em visões à noite, de maneira que estavam sempre frescas e vívidas em minha mente.” (Carta 56, 1911; O Colportor Evangelista, p. 128).

VIII. Mas o autor da Lição da Escola Sabatina continua a sua comparação e na sequência, compara Paulo, Lucas e Ellen White, dessa vez para dizer que os escritores bíblicos também utilizaram outros autores como fonte. Após falar sobre Lucas, Pfandl fala sobre Paulo:

  1. “No Novo Testamento, o apóstolo Paulo não só recebeu informações verbais de outros (I Cor 1:10, 11) como, em alguns lugares, citou escritos de autores pagãos. Por exemplo, em Atos 17:28, ele cita o poeta ciliciano Aratus (…) Veja também I Coríntios 15:33 e Tito 1:12, em que Paulo citou outras fontes, tudo, a fim de ensinar a verdade inspirada.” (Lição da Escola Sabatina, jan/fev/mar 2009, p. 60 da Lição dos Adultos – Professor, CPB).
  1. Para completar a sua comparação, já falando sobre Ellen White, o autor da lição diz: “Em certas ocasiões, Ellen White usou outros livros como fontes de seus próprios escritos. Na introdução de O Grande Conflito, ela escreveu: “Os grandes acontecimentos que assinalaram o progresso da Reforma (…) Esta história, apresentei-a de maneira breve (…) Em alguns casos em que algum historiador agrupou os fatos (…) ou resumiu (…) suas palavras foram citadas textualmente; nalguns outros casos, porém, não se nomeou o autor, visto que as transcrições não são feitas com o propósito de citar aquele autor como autoridade (…) Narrando a experiência e perspectiva dos que levam avante a obra da Reforma em nosso próprio tempo, fez-se uso semelhante de obras publicadas”. (p. Xi, XII).
  1. Será que foi de fato assim? Será que Gerhard Pfandl tem razão dessa vez?

XII. O que o autor da lição não diz aos seus leitores (ou seja, aos membros da Igreja) é que tanto Paulo, quanto Lucas deixam bem claro para seus leitores o que estavam fazendoe de onde tiraram suas informações. Por exemplo, Lucas deixa claro no início de seu evangelho, tanto o seu estilo de escrever como as suas fontes de informações. Paulo, ainda mais consciencioso, toda vez que cita algo que não é de inspiração divina, deixa isso muito claro aos seus leitores. É só pegar a Bíblia e conferir: Lucas 1:1-4, Atos 17:28, I Cor. 1:10-11, 6:12, Tito 1:12.

XIII. Com relação à Ellen White, o autor da lição não esclarece aos leitores o fato de que a obra O Grande conflito foi publicada em sua edição mais completa e conhecida em 1883 e vendida aos membros da Igreja e, pelos colportores, aos de fora, desde então, sem menção de que ela utilizou as obras de outros autores para compor seu livro. Somente em 1911, vinte e oito anos após aquela edição, após muitas críticas e acusações de plágio e um pedido dos colportores, é que a introdução de O Grande Conflito foi reformulada conforme citada acima e a obra também, passando a incluir as notas de referência das obras de outros autores, mas não de todos.

XIV. E por que não há referências de todos os autores, os quais Ellen White usou como fontes na obra O Grande conflito? Porque, como disse o erudito adventista Don McAdams nas reuniões de Glendale em 1980 que, “(…) se cada parágrafo do livro “O Grande Conflito” tivesse adequadamente notas de rodapé indicando as fontes, então todos os parágrafos do livro teriam referências ao pé da página.” (McAdams, “E. G. White and the Protestant Historians”, pp. 231-234).

  1. Outro ponto esclarecedor é dado pelo próprio Centro de Pesquisas White. Após tantos anos e o pelo fato de terem sido usados tantos autores diferentes, não era tarefa fácil identificar cada um deles. Por isso, mesmo na correção da obra vários autores utilizados por Ellen White não foram mencionados. Acompanhe a narrativa do filho de Ellen White sobre “A revisão do Grande Conflito de 1911” em documento oficial do White State:

“Quando apresentamos a minha mãe o pedido de alguns colportores, no sentido de que na nova edição não se deviam dar somente referências bíblicas, mas também as referências dos historiadores citados, ela nos instruiu a buscar e insertar as referências históricas. Também nos instruiu para que verificássemos as referências e corrigíssemos qualquer inexatidão que encontrássemos.” (…)

A busca de diversas passagens citadas de historiadores tem sido uma tarefa árdua, e a verificação das passagens citadas nos induziram a fazer mudanças na fraseologia do texto. (…)

Em alguns poucos casos, foram usadas citações de historiadores, pregadores e escritores modernos no lugar dos antigos, porque têm mais força ou porque não conseguimos encontrar a procedência das anteriores. (…) Em cada caso, minha mãe examinou detidamente a substituição proposta e as aprovou. (…)

Há, porém, alguns pontos ou citações do livro que até agora nos foram impossíveis de localizar. Afortunadamente, relacionam-se com assuntos acerca dos quais não há probabilidade de haver séria discussão. (…)

Em vários lugares foram mudadas formas de expressão para evitar que se produzissem ofensas desnecessárias. (…)

Fonte: Tópico sobre a Edição do Grande Conflito de 1911, pp. 02 e 03.

(http://centrowhite.uapar.edu/pregyres.htm#pyrEGW).

XVI. Embora Gerhard Pfandl se esforce, não é possível comparar Ellen G. White com os escritores bíblicos. Ela não seguiu corretamente as referências históricas (mesmo estando sob inspiração), não procurou de nenhuma forma deixar claro aos seus interlocutores o que estava fazendo e só fez modificações em uma das obras (O Grande Conflito) porque os colportores pediram.

XVII. É importante que a Igreja de fato esclareça aos membros sobre a obra de Ellen White. Mas se há de fato uma intenção de mudar a postura histórica adventista com relação à Ellen White, ao esclarecer seus métodos de produção literária e detalhes sobre sua vida e obra, é vital que os administradores saibam que isso pode deixar alguns irmãos chocados e decepcionados. Mas, nessa hora, o antigo ditado tem seu valor ampliado: antes tarde do que nunca.

Conclusões

Há duas coisas importantes nessa conclusão. Uma é observar o que disseram os apoiadores e amigos da Igreja Adventista e a partir daí tirar conclusões sobre a questão do empréstimo literário na obra de Ellen G. White. A segunda é tentar imaginar qual seria a melhor solução para a Igreja Adventista ao enfrentar as verdades sobre esse problema.

A importância de analisar o que disseram apoiadores é relevante, pois é claro que os críticos do ministério de Ellen G. White acreditam que ela era uma plagiadora. Que copiava indiscriminadamente de vários autores para compor suas obras, não citava suas fontes e apropriava-se de produções de seus colaboradores e assistentes literários. Além disso, de maneira direta e indireta, ela negou que tivesse agido dessa maneira.

Poderíamos falar de várias pessoas ligadas a Igreja ao longo da história do movimento, mas a análise das conclusões do Relatório do pesquisador Fred Veltman fala por si. Afinal de contas, foi a própria Igreja Adventista que pediu a investigação, montou a equipe e convidou um obreiro adventista, o Ph.D. Fred Veltman para conduzir as pesquisas. O peso e o impacto das declarações do relatório não podem ser subestimados.

 

Após mais de cem anos de negativas oficiais, um documento oficial da Igreja é produzido por uma equipe, liderada por um expert no assunto de análise literária, numa pesquisa que levou mais de oito anos e consumiu mais de quinhentos mil dólares.

As afirmações são categóricas e objetivas. Fred Veltman não utiliza a expressão ‘plágio’, mas como se pode ver pelo teor do Relatório, os eufemismos ‘empréstimo literário’ e ‘dependência literária’ apontam claramente nessa direção. Fred Veltman, pesquisador da Igreja adventista, falando oficialmente na Revista destinada aos pastores (publicação oficial) diz sem rodeios que foi Ellen G. White “quem tomou expressões literárias das obras de outros autores sem lhes dar crédito como suas fontes.” (Ministry, nov. de 1990, p. 11). Ou seja, não se pode falar de uma conspiração, de alguém ‘armando’ para prejudicar a sra. White, de assistentes literários inserindo ideias de outros autores de forma camuflada nos escritos dela. Foi ela mesma quem fez isso.

Veltman continua e diz que “Ellen G. White utilizou os escritos de outras pessoas consciente e intencionalmente.” (idem). Após um trabalho exaustivo que consumiu milhares de horas, quase três mil dias, muitos meses e anos, numa análise aprofundada, a equipe de investigação de Fred Veltman pôde concluir claramente que a profetisa agiu de forma consciente e intencional. “As semelhanças literárias não são o resultado de acidente ou memória fotográfica.” (idem).

Veltman vai além e confirma que mentiras foram contadas para acobertar o questionável procedimento. De maneira direta e indireta, “implícita ou explicitamente, Ellen G. White e outros que falaram em nome dela, não admitiram e até negaram a dependência literária [plágio] da parte dela.” (idem).

O comportamento errático, as negativas oficiais, o acobertamento por parte da igreja e da liderança, levam o Ph.D. Fred Veltman a afirmar que Ellen G. White teve abaladas a sua honra, sua integridade e até mesmo sua confiabilidade. (idem, p. 14). Um duro golpe. Mas fazer o quê?

Para defender Ellen G. White, nos livros que procuraram justificá-la e no site oficial, escritores e redatores citam as referências existentes na obra “O Grande Conflito”. Destacam também a introdução dessa obra que afirma que no livro foram utilizadas citações de outros autores. Mas essa postura é enganosa e evasiva, pois leva membros sinceros e alguns incautos a pensar que sempre foi assim e que o mesmo se passa em todas as obras da autora. O Grande Conflito recebeu diversas modificações entre a década de 1880 e 1910. Mas uma ampla modificação da introdução e a colocação sistemática de várias fontes de referência ocorreram somente a partir da edição de 1911. E esse tipo de correção não foi feito nas demais obras, após passados tantos anos.

Vários livros da autoria de Ellen G. White têm extensas citações, pensamentos, trechos, sequência de páginas, títulos de capítulos e construção de ideias e sentido extraídos de outros autores anteriores ou contemporâneos dela. Patriarcas e Profetas, Profetas e Reis e Atos dos Apóstolos são gritantes exemplos dessa prática chamada de ‘empréstimo literário’.

O projeto ‘Desire of Ages Data’ conduzido por Fred Veltman, como diz o nome, só foi feito com a obra O Desejado de Todas as Nações. E revelou o uso de no mínimo 23 (vinte e três) diferentes fontes sem a menção dos autores. Não foi feita nenhuma referência a eles. Ellen G. White copiou tanto de outros autores nessa obra, que Veltman afirma que “a maior parte do conteúdo do comentário de Ellen G. White sobre a vida e o ministério de Cristo, O Desejado de Todas as Nações, é mais derivado do que original.” (Ministry, nov. de 1990, p. 12). Será que isso é tudo? Não. Veltman diz que nenhuma ideia na obra é apenas dela. Nenhuma. “Em termos práticos, esta conclusão declara que não se pode reconhecer nos escritos de Ellen G. White sobre a vida de Cristo nenhuma categoria geral de conteúdo ou conjunto [catálogo] de idéias que sejam somente dela.” (idem).

Fred Veltman chega a ser ousado quando faz algo que nenhum outro teólogo adventista antes dele ousou fazer. Mesmo sabendo que a Igreja colocou Ellen G. White no patamar dos profetas e escritores bíblicos, ele chega ao ponto de questionar e por em cheque o tipo de inspiração dela. Questiona até mesmo o “papel dela como uma profetisa.” (idem, p. 13). É claro que ele tem que questionar, pois além de tomar as ideias dos outros em suas obras, ela exigiu direitos autorais para si e os deixou como herança para filhos, netos e bisnetos.

Muito bem, foi feita a admissão oficial, fruto de pesquisas. Ellen G. White era uma plagiadora. Ou, como deseja a Igreja Adventista, uma tomadora de ‘empréstimos literários’. Iniciaria a Igreja Adventista um novo capítulo em sua relação com os escritos e obra de Ellen G. White? Seria Ellen G. White rebaixada a uma simples conselheira? O mito Ellen G. White seria colocado no seu devido lugar?

Quanta ilusão. Nada foi feito. A Igreja certamente deve ter avaliado que o Relatório foi uma concessão indevida, pois incrementou ainda mais as suas táticas de defesa do ‘Espírito de Profecia’. Um livro e uma Bíblia seriam as respostas às conclusões do Relatório Veltman.

Patrocinou Herbert Douglass para escrever um livro onde ele defende e justifica de forma completa o comportamento errôneo de Ellen G. White. Ele chama de criatividade e seletividade a prática dela de copiar e reorganizar os textos dos outros. (Herbert Douglass, Mensageira do Senhor, p. 451). Douglass retira de Fred Veltman frases isoladas para dar a impressão de que o Relatório é favorável a Ellen G. White, quando na verdade uma simples leitura do mesmo mostra o contrário.

Herbert Douglass defende Ellen G. White fazendo comparações dela com autores bíblicos que mencionavam uns aos outros. Entretanto a sra. White, de acordo com Fred Veltman, utilizou obras de ficção para compor um livro sobre a vida de Cristo. Isso mesmo, ela tomou ideias de autores que não estavam escrevendo a partir de uma perspectiva bíblica. E escondeu esse fato. Até mesmo Francis Nichols, um ferrenho defensor de Ellen G. White, admite que ela fez uso do livro apócrifo de II Esdras. (Referências a Esdras em A Word to the Little Flock aparecem nos rodapés do folheto, p. 14-20, “Ellen G. White and Her Critics”, Washington: RHPA, 1951, apêndice, p. 561-84).

Douglass afirma que os críticos estão muito preocupados com a quantidade de fontes que Ellen G. White utilizou e isso não é importante. (idem, p. 457). Nesse ponto Douglass tem razão. Não é a quantidade de ‘empréstimo literário’ [plágio] que importa. O que de fato importa é que ela, muito ou pouco, copiou de outros, não deu o devido crédito a eles, mentiu e negou que tivesse feito isso e além do mais, foi apoiada pela administração da Igreja ao longo de cem anos na negativa de que ela tivesse agido assim (quando eles sabiam da verdade sobre o assunto).

Mas para não trair sua consciência, Douglass deixa no seu texto preciosas e esclarecedoras informações. Na página 456 de seu livro em defesa de Ellen G. White, ele diz que os textos e trechos de outros autores transcritos por ela sem citação de fontes, “copiados ou parafraseados foram usados não somente na produção de seus livros”, mas também em cartas, sermões, diários e às vezes até mesmo “para expressar pensamentos que lhe foram diretamente inculcados em visão”. Douglass parece não ter refletido muito bem sobre o que escreveu. Em sua pesquisa ele descobriu que até mesmo para descrever o que viu em visões, Ellen G. White teve que utilizar textos de outros autores. Isso é impressionante. Não é essa uma clara confissão da prática ampla e organizada de ‘plágio’?

A glorificação de Ellen G. White pela Igreja Adventista ultrapassa o bom senso. Deram a ela um título divino (Espírito de Profecia); defenderam-na da prática de qualquer erro; justificam suas práticas antiéticas; escrevem uma Bíblia com comentários dela (Clear Word Bible) e em reuniões quinquenais da Associação Geral, reforçam o mito para incentivar a devoção e alavancar as vendas de seus livros.

A santificação e endeusamento de uma mulher ocorrem na Igreja Católica. A Igreja Adventista parece ter achado isso bem interessante.

Histórico da questão do Plágio nos escritos de Ellen G. White

1846 – 1915 Período da produção literária de Ellen G. White (Livros, artigos, cartas, livretos, manuscritos)
1863 –   Primeiras críticas relativas a utilização dos escritos de outros autores sem atribuir-lhes crédito.
1875 – Mary Clough, sobrinha de Ellen G. White, denuncia a metodologia literária da tia, confessando ao pr. Adventista George B. Starr o seu mal-estar em participar de tais atividades.
1883 – Após ameaça de processo por causa do livro Sketches of Life of Paul, escrito por Ellen G. White a partir do livro A Vida e as Epístolas de Paulo, dos autores Conybeare e Howson, a Editora T. Y. Crowell Co. New York faz acordo com a IASD e o livro foi recolhido.
1911  

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