Mistério dos Nefilins: Entenda quem são os “filhos de Deus” e as “filhas dos homens”

Dentre as variadas suposições que existem para entender o texto de Gênesis 6.2, a opinião mais frequentemente aceita entre os cristãos é a terceira, dentre as três principais abaixo:

1) Anjos caídos que se relacionaram com as mulheres;
2) Homens de grande importância política e religiosa, chamados filhos dos deuses, ou sacerdotes pagãos, ou até descendentes de Lameque que tomaram mulheres em seu harém;
3) Descendentes de Sete, que se relacionaram com as filhas de Caim.

Entretanto, a opinião judaica, aceita desde séculos antes de Cristo tem sido a primeira e a mais chocante! Afirma-se que se trata de anjos realmente. Contra a opinião cristã (que diz ser os descendentes de Sete), o primeiro ponto cita a seguinte fraqueza: Deus não puniria o mundo com um dilúvio universal só porque descendentes humanos se casaram com mulheres, isso é muito natural, apesar de se chamar os descendentes de Sete de justos, entretanto, tal não se pode afirmar, pois a Bíblia diz que toda a carne se corrompeu (isto inclui, claro os descendentes de Sete).

No versículo 1 também diz que os homens começaram a se multiplicar sobre a terra e ter filhas. Nada afirma que cainitas se reproduzissem separadamente dos setitas. O argumento é que o filho de Sete chamado Enos deu incício à invocação do nome do Senhor (YHWH). Entretanto, alguns eruditos nos dão uma tradução mais literal e exata para este verso: “Então os homens começaram a chamar a sí próprios pelo nome de YHVH.” Outros estudiosos traduzem a declaração desta maneira: “Então os homens começaram a chamar seus deuses (ídolos) pelo nome de YHVH.”

Se nenhuma destas é a tradução correta, então a evidência para a denominada linhagem piedosa de Sete é inexistente. A verdade é que Enos e sua linhagem, com poucas exceções conhecidas, eram tão impiedosos quanto as outras linhagens. O registro divino não poderia ser mais claro: “toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra.” (Gênesis 6:12b). Temos também que em todo o AT o termo “filhos de Deus” refere-se sempre a anjos, como se vê em Jó 1.6; 2.1; 38.7. No AT os anjos são filhos de Deus e os homens servos. No NT isto inverte, como bem observou Lewis Sperry Chaffer.

Já em Gênesis 6.9 diz que Noé foi “perfeito em suas gerações.” Será que isto significa perfeição moral e espiritual? Dificilmente. Gênesis 9.20-23 contesta tal perfeição. O que, então, a Bíblia quer dizer quando o chama de “perfeito?” A palavra hebraica para perfeição nesse caso é “tamiym” e vem da raiz “taman”. Isto significa “sem mácula”, como em Êxodo 12.5; 29.1 e Levítico 1.3. Da mesma maneira que o cordeiro expiatório não poderia ter qualquer mancha física, assim era a perfeição de Noé.

Em seu significado fundamental, “perfeição” não se refere à qualquer atributo moral ou espiritual, mas à pureza física. Noé não havia sido contaminado pelos invasores estrangeiros. Ele havia preservado sua genealogia e a preservou pura, apesar da corrupção que prevalecia, provocada pelos anjos caídos. (Companion Bible [Oxford University Press]. Appendix 26.) e novamente: A linhagem sanguínea de Noé havia permanecido livre de contaminação genética. (The Gospel Truth Magazine, Vol. 18, (June 1978), No. 7).

Até o século V não se ouve falar em outra interpretação desse texto a não ser atribuindo o sentido a anjos. Nas palavras dos Pais antenicenos, os anjos caíram “em amor impuro de virgens e foram subjugados pela carne… desses amantes de virgens, portanto, foram gerados aqueles que são chamados gigantes.” E novamente, “…os anjos transgrediram e foram seduzidos pelo amor de mulheres e geraram filhos.” (The Ante-Nicene Fathers, Vol. 8, pp. 85 and 273).

“O desejo dos demônios por um corpo, evidente nos Evangelhos, oferece pelo menos algum paralelo a esta fome por experiência sexual.” Derek Kidner. Parece que Judas faz alusão a este caso, citando-o como crença comum de que os anjos de fato foram os protagonistas do texto de Gênesis. Ele cita bastante o livro apócrifo de Enoque. Veja o que está escrito no livro de Enoque capítulo 7:

1 E aconteceu depois que os filhos dos homens se multiplicaram naqueles dias, nasceram-lhe filhas, elegantes e belas.
2 E quando os anjos, (3) os filhos dos céus, viram-nas, enamoraram-se delas, dizendo uns para os outros: Vinde, selecionemos para nós mesmos esposas da progênie dos homens, e geremos filhos.
(3) No texto aramaico lê-se “Sentinelas” (J.T. Milik, Aramaic Fragments of Qumran Cave 4 [Oxford: Clarendon Press, 1976], p. 167).
3 Então seu líder Samyaza disse-lhes: Eu temo que talvez possais indispor-vos na realização deste empreendimento;
4E que só eu sofrerei por tão grave crime.
5 Mas eles responderam-lhe e disseram: Nós todos juramos;
6 (e amarraram-se por mútuos juramentos), que nós não mudaremos nossa intenção mas executamos nosso empreendimento projetado.
7 Então eles juraram todos juntos, e todos se amarraram (ou uniram) por mútuo juramento. Todo seu número era duzentos, os quais descendiam de Ardis, (4) o qual é o topo do monte Armon. (4) de Ardis. Ou, “nos dias de Jared” (R.H. Charles, ed. and trans., The Book of Enoch [Oxford: Clarendon Press, 1893], p. 63).
8 Aquele monte portanto foi chamado Armon, porque eles tinham jurado sobre ele, (5) e amarraram-se por mútuo juramento. (5) Mt. Armon, ou Monte Hermon deriva seu nome do hebreu herem, uma maldição (Charles, p. 63).
9 Estes são os nomes de seus chefes: Samyaza, que era o seu líder, Urakabarameel, Akibeel, Tamiel, Ramuel, Danel, Azkeel, Saraknyal, Asael, Armers, Batraal, Anane, Zavebe, Samsaveel, Ertael, Turel, Yomyael, Arazyal. Estes eram os prefeitos dos duzentos anjos, e os restantes estavam todos com eles. (6) O texto aramaico preserva uma lista anterior dos nomes destes Guardiães ou Sentinelas: Semihazah; Artqoph; Ramtel; Kokabel; Ramel; Danieal; Zeqiel; Baraqel; Asael; Hermoni; Matarel; Ananel; Stawel; Samsiel; Sahriel; Tummiel; Turiel; Yomiel; Yhaddiel (Milik, p. 151).
10 Então eles tomaram esposas, cada um escolhendo por si mesmo; as quais eles começaram a abordar, e com as quais eles coabitaram, ensinando-lhes sortilégios, encantamentos, e a divisão de raízes e árvores.
11 E as mulheres conceberam e geraram gigantes, (7). O texto grego varia consideravelmente do etíope aqui. Um manuscrito grego acrescenta a esta secção, “E elas [as mulheres] geraram a eles [as Sentinelas] três raças: os grandes gigantes. Os gigantes trouxeram [alguns dizem “mataram”] os Naphelim, e os Naphelim trouxeram [ou “mataram”] os Elioud. E eles sobreviveram, crescendo em poder de acordo com a sua grandeza.” Veja o registro no Livro dos Jubileus.
12 Cuja estatura era de trezentos cúbitos. Estes devoravam tudo o que o labor dos homens produzia e tornou-se impossível alimentá-los;
13 Então eles voltaram-se contra os homens, a fim de devorá-los;
14 E começaram a ferir pássaros, animais, répteis e peixes, para comer sua carne, um depois
do outro, (8) e para beber seu sangue. (8) Sua carne, um depois do outro. Ou, “de uma outra carne”. R.H. Charles nota que esta frase pode referir-se à destruição de uma classe de gigantes por outra. (Charles, p. 65).
15 Então a terra reprovou os injustos.

Cristãos argumentam que anjos não têm sexo, mas a concepção judaica rebate dizendo que Cristo não disse que anjos não têm sexo, apenas que não se casam, nem se dão em casamento no Céu (o que não significa que não podem fazê-lo, em desobediência, claro).

Ao não aceitarem o conceito judaico, os cristãos referem-se à vingança de Deus só contra os homens e não contra anjos em Gênesis 6. Porém a resposta é que Judas mostra a vingança que Deus executou contra tais anjos “que não guardaram seu estado original”, dando a eles a sentença de “guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia” (Jd 6). E ainda no v. 7, Judas mostra a razão pela qual isso aconteceu: “como Sodoma e Gomorra e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregado à prostituição como aqueles [subentende-se os anjos do v. 6], seguindo após outra carne…” Esse seguir após outra carne, no grego é heteros, que significa outro de outra espécie, e não allos, que é outro da mesma espécie. Portanto, tem-se que os anjos realmente seguiram outra carne, ou outra espécie.

A mistura destas duas categorias de seres, foi contrária ao que Deus havia pretendido e sumariamente conduziu ao maior ato de julgamento de Deus, nunca antes decretado sobre a raça humana, o dilúvio!

Sobre essa mistura de seres, o judaísmo entende que aí está a origem dos gigantes. O texto de Gênesis 6.4 diz: “Naqueles dias estavam os nefilins na terra, e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos. Esses nefilins eram os valentes, os homens de renome, que houve na antigüidade”. Os nefilins têm sido traduzido por “gigantes” em nossas versões. Vem do verbo hebraico naphal, que quer dizer “cair”. Gigantes veio do grego (LXX) gegenes, que quer dizer “nascido da terra”, o que nada tem a ver com estatura. Se naphal se refere a caídos, então pressupõe-se a queda de tais anjos que se apaixonaram pelas humanas. Muitos teólogos entendem “caídos”, mas de uma certa religião para o paganismo, ou da crença para a descrença.

O mais pasmático é que a opinião judaica entende a partir daí aquele versículo controverso de Paulo em 1Co 11.10: “Portanto, a mulher deve trazer sobre a cabeça um sinal de submissão, por causa dos anjos”. Afirmam que Paulo já conhecia a interpretação judaica sobre Gênesis 6 e então escreveu este versículo para propor modéstia entre as mulheres na igreja, a fim de não provocar os anjos que estavam no culto, uma vez que isso poderia tentá-los. Paulo acreditava que uma mulher descoberta era uma tentação até mesmo para os anjos. William Barclay menciona uma velha tradição rabínica que alega que foi a beleza dos cabelos longos das mulheres que atraiu e tentou os anjos em Gênesis…

Tais anjos caídos que praticaram esse ato horrível contra a criatura de Deus ficaram confinados no tartaro, como diz Pedro na sua 2ª carta. E isso, de acordo com esta interpretação, para que a raça humana ficasse livre em sua pureza, a partir de Noé, antes que tais demônios pudessem corromper toda a raça, o que, segundo a visão judaica, impediria o nascimento de Cristo, pois até lá, toda raça humana já teria sido contaminada pelos nefilins… Por isso a preservação de Noé (que era puro).

Fica porém uma pergunta: se foram destruídos no dilúvio, como se explica a existência deles nos dias da terra prometida? Pois os filhos de Israel encontraram em Canaã gigantes também (Nm 13.28,33). Ou o dilúvio não foi universal e alguns nefilins sobreviveram, ou então houve uma segunda queda de anjos…

Há muita coisa para se estudar…

Dia tes písteos, Cleilson

Fonte: http://teolatria.blogspot.com.br/2011/05/filhos-de-deus-e-filhas-dos-homens-gn.html

3 comentários em “Mistério dos Nefilins: Entenda quem são os “filhos de Deus” e as “filhas dos homens””

  1. 1E aconteceu depois que os filhos dos homens se multiplicaram naqueles dias, nasceram-lhe filhas, elegantes e belas.2E quando os anjos, (3) os filhos dos céus, viram-nas, enamoraram-se delas, dizendo uns para os outros: Vinde, selecionemos para nós mesmos esposas da progênie dos homens, e geremos filhos.Esta parte tambem e citada na biblia. Gênesis cap 6 vs 2,4.(3) No texto aramaico lê-se “Sentinelas” (J.T. Milik, Aramaic Fragments of Qumran Cave 4 [Oxford: Clarendon Press,1976], p. 167).3Então seu líder Samyaza disse-lhes: Eu temo que talvez possais indispor-vos na realização deste empreendimento;4E que só eu sofrerei por tão grave crime.5Mas eles responderam-lhe e disseram: Nós todos juramos;6 (e amarraram-se por mútuos juramentos), que nós não mudaremos nossa intenção mas executamos nosso empreendimento projetado.7Então eles juraram todos juntos, e todos se amarraram (ou uniram) por mútuo juramento.

Deixe um comentário