Bíblia Católica de Jesus: O livro “apócrifo” de Tobias ainda pode ser útil?

JESUS E OS APÓSTOLOS USAVAM AS ESCRITURAS CATÓLICAS

A versão grega dos 70 (LXX) que contam os livros Baruc, Judite, Tobias, Sabedoria, 1 e 2 Macabeus e Eclesiástico, que hoje fazem parte da bíblia católica e que não existem na bíblia protestante, foi usada por Jesus e seus Apóstolos, e, obviamente, esses livros devem ser verdadeiramente inspirados por Deus.

Para começo de conversa, vamos abrir a nossa bíblia (católica ou protestante) em Gn 46,27. Deixe marcada e abra também em At 7,14. Vejamos:

“José teve dois filhos nascidos no Egito. O total das pessoas da família de Jacó que foram para o Egito era de setenta” (Gn 46,27)

“Enviando mensageiros, José mandou vir seu pai Jacó com toda sua família, que constava de setenta e cinco pessoas” (At 7,14)

Observe que na passagem do livro do gênesis o total das pessoas da família de Jacó era de setenta; já no livro de Atos dos Apóstolos (escrito pelo evangelista Lucas), o número total era de setenta e cinco. Por que a diferença? Isso ocorre devido ao fato de que tanto na bppiblia católica quanto na bíblia evangélica o antigo testamento foi traduzido a partir do original hebraico. Porém, o antigo testamento que Lucas usava era o da versão grega dos 70, em que nele constava que o número total de pessoas da família de Jacó era de setenta e cinco.

É esse posicionamento que encontramos na bíblia de estudos Almeida (evangélica) no comentário de Gn 46,27:

“A versão grega (LXX) acrescenta aqui ainda cinco descendentes dos filhos de José, dando assim o total de setenta e cinco pessoas, número mencionado em At 7,14.”

Outra prova está em Gn 47,31 em comparação com Hb 11,21:

“José jurou-lhe e Israel prostrou-se sobre a cabeceira de sua cama” (Gn 47,31).

“Foi pela fé que Jacó [Israel], estando para morrer, abençoou cada um dos filhos de José e venerou a extremidade de seu bastão” (Hb 11,21).

Estas passagens mostram claramente que o autor de Hebreus usava a versão grega dos 70, já que, na sua carta, ele faz uma citação do livro do Gênesis dojeito que aparece na versão grega, e bem diferente do que aparece no original hebraico.

Observemos o que dizemos comentários da bíblia católica Ave-Maria sobre isso, ao comentar as passagens mencionadas:

“A carta aos hebreus (Hb 11,21) cita esta passagem [Gn 47,31] de acordo com a versão grega.” (pág. 97)

“A extremidade de seu bastão: esta frase obscura é uma citação do texto grego do Gn 47,31. O texto original hebraico diz: ele adorou, voltando-se para a cabeceira de sua cama.” (pág. 1536)

O apóstolo Paulo era o que mais usava citações da versão grega dos 70. Na introdução à epístola aos Hebreus (Bíblia de estudo Almeida, pág. 327), João Ferreira de Almeida fala exatamente isso: “O autor [Paulo] demonstra ser um profundo conhecedor do antigo testamento, cujo texto cita sempre da tradução grega conhecida como LXX ou versão dos setenta (LXX).”

Paulo nos dá outra prova de que usou a septuaginta (LXX) em 2Co 4,13, onde ele faz uma citação do salmo 116,10 da forma como aparece na versão grega, e diferente da versão hebraica.

Por fim, até Jesus usou a versão grega dos 70, quando foi à sinagoga e fez a leitura do livro do profeta Isaías (Is 61,1-2) de acordo com a LXX, conforme está escrito em Lc 4,14-18 e no comentário da Bíblia de Jerusalém e de João Ferreira de Almeida a esta passagem. Jesus usou até mesmo os livros deuterocanônicos em suas pregações: Em Lc 6,31 Jesus cita uma passagem do livro de Tobias (Tb 4,15); em Mc 11,25 Jesus cita Eclo 28,2; e há fortes indícios de que ele teria se baseado em Eclo 11,18-19 para compor a parábola de Lc 12,16-21, dentre outras.

Veja também Tg 4,6 e 1Pd 5,5 (que citam Pr3,34); At 7,53, Gl 3,19 e Hb 2,2 (que citam Dt 33,2); Jo 1,23 quando cita Is 40,3; e Mt 1,23 que cita Is 7, 14. Todos eles em citações do texto grego. Só com estas passagens citadas, descobrimos que, apenas Marcos e Judas não nos dão provas suficientes de que usavam a septuaginta. Mas, alguns ainda poderiam duvidar, dizendo: “sim, mas, quem garante que os apóstolos leram realmente esses livros, não há, em toda a bíblia, nenhuma citação deles”.

Na verdade, há sim diversas citações, posso mencionar 20 delas que encontrei. Uma está no livro de Tiago (Tg 1,19), que cita o texto grego de Eclo 5,11: “Já sabeis meus diletíssimos irmãos: todo homem deve ser pronto para ouvir, porém tardo para falar e tardo para se irar”. (Tg 1,19)

“Sê pronto para ouvir, e lento para responder”. (Eclo 5,11 ou 13, dependendo da tradução).

Obs 1: Diferentemente dos outro escritores dos livros do NT, Tiago não se importava em citar exatamente igual ao que parecia no AT.Veja Tg 4,5, em que Tiago faz uma citação da Bíblia com suas próprias palavras

Obs 2: A passagem “e lentos para se irar” é uma citação de Ecl 7,9 e também de Eclo 44,16.

No livro de Hebreus (Hb 11,5) encontramos uma citação de Gn 5,24 e também de Eclo 44,16. Observe que em Hb 11,5 Paulo afirma que Henoc, antes de ser arrebatado por Deus recebeu testemunho de que agradara a Deus. Porém, como podemos ver, no texto de Gn 5,24 não está dito que Henoc agradou a Deus. Então, de onde Paulo retirou tal afirmação? Foi de Eclesiástico 44,16, que diz assim:

“Henoc agradou a Deus e foi arrebatado, exemplo de conversão para as gerações”.

Ademais, é interessante mencionar que na Bíblia católica Ave-Maria há um detalhe interessante na passagem de Hb 11,5. O autor de Hebreus (Paulo) considera o livro do Eclesiástico como Escritura Sagrada.

Vejamos:

“Pela fé Henoc foi arrebatado, sem ter conhecido a morte; e não foi achado, porquanto Deus o arrebatou; mas a Escritura diz que, antes de ser arrebatado, ele tinha agradado a Deus”.

Ora, a única passagem das Escrituras que fala que Henoc agradou a Deus é em Eclesiástico, não em Gênesis, que em nenhum momento fala que Henoc agradou a Deus.

Mas outro poderia dizer: “certo, mas a Bíblia da Ave-Maria é uma Bíblia católica. Eu acreditaria se fosse uma bíblia protestante que dissesse isso”. Não tem problema. É só pegar a Bíblia protestante Nova Tradução na Linguagem de Hoje e ler o que diz em Hebreus 11,5: “Foi pela fé que Enoque escapou da morte. Ele foi levado para Deus, e ninguém o encontrou porque Deus mesmo o havia levado. As Escrituras Sagradas dizem que antes disso ele já havia agradado a Deus.”

Algumas passagens do Novo Testamento, embora não façam citações, fazem referências a livros deuterocanônicos, como Sb 2,12-20 que profetiza a paixão de Cristo (Mt27,43; Fl 2,8 e 1Jo 2,1).

Além disso, temos pelo menos para o livro de Baruc uma prova de seu caráter inspirado na própria Bíblia. O livro de Baruc é o mesmo que aparece em Jr 36, considerado inspirado conforme Jr 36,4: “Jeremias chamou, então, Baruc, filho de Nerias, que escreveu em um rolo, conforme o ditado de Jeremias, todas as palavras que o Senhor lhe dirigia.”

É bom lembrar que o livro de Baruc foi escrito originalmente em Hebraico, mas nós só temos a cópia grega, pois o original se perdeu com o tempo. O mesmo com o livro de Eclesiástico, cujo original também era em Hebraico.

Só para completar, é bom que se diga que os livros do Cântico dos Cânticos e de Ester, que são considerados inspirados, não são citados em nenhum outro livro da Bíblia, e ninguém fica dizendo que, só por causa disso, eles não são inspirados.

Obs: Os livros deuterocanônicos (chamados apócrifos) foram incluídos na Bíblia no concílio de Cartago em 397 e não pelo concílio de Trento de 1546, o qual apenas confirmou o concílio anterior. É curioso, pois as novas religiões aceitam o concílio de Cartago onde se definiu o Novo Testamento, mas estranhamente o rejeitam quanto à definição do Cânon do Antigo Testamento. No entanto o concílio de Cartago aos dois livros.

Os chamados apócrifos foram retirados do velho testamento pelo concílio de Jamnia por volta do ano 100 d.C. mas não era um concílio cristão. Era um concílio privado dos judeus os quais eram contrários aos livros deuterocanônicos como também aos 27 livros do NT, e contrários a Cristo.

Autor: André Luís da Silva Marinho. Texto extraído do livro “Doutrina Católica para leigos”.

Livro de Tobias

O livro de Tobias (em grego: τωβιτ; do hebraico: טובי, Tobih, “meu Deus”), é um dos livros deuterocanônicos do Antigo Testamento da Bíblia católica e possui 14 capítulos e 297 versículos. Vem depois do livro de Neemias e antes do livro de Judite. Consiste numa narração antiga de origem judaica.

O livro de Tobias foi considerado canônico pelo Concílio de Cartago em 397 e reconfirmado por todos os concílios. E reconfirmado pela Igreja Católica Apostólica Romana no Concílio de Trento em 1546, depois da negação protestante.

Assim como os outros livros deuterocanônicos, o livro de Tobias não foi incluído na Bíblia Hebraica, ou Tanakh como também é conhecida. Apesar de não estarem na Bíblia Hebraica, tanto o livro de Tobias quanto os outros livros deuterocanônicos sempre fizeram parte da literatura hebraica, sendo eles estudados nas sinagogas, tendo um estimado valor dentro do judaísmo e para a história de Israel.

A Bíblia de Jerusalém relata que numa gruta em Qumrã (Manuscritos do Mar Morto) foram encontrados restos de quatro manuscritos em aramaico e de um manuscritos em hebraico do Livro de Tobias, e que ele figura no Cânon, no ocidente a partir do Sínodo de Roma de 382, e no oriente a partir do Concílio de Constantinopla, denominado “in Trullo”, em 692.

O Livro de Tobias , como é chamado na Vulgata Latina, também é conhecido na Septuaginta Grega como o Livro de Tobit e serve como parte dos Livros Históricos da Bíblia sobre Vulgata Latina e Septuaginta Grega . Tanto a origem hebraica do livro eo nome Tobias – טוֹבִיָּה que significa “O Senhor é o meu bem” foram apreciados desde a antiguidade. O nome em si é anotado, por exemplo, em 2 Crônicas 17: 8, Esdras 2:60, Neemias 2:10, Tobit 1: 9 e Zacarias 6:10. A recente descoberta de cinco pergaminhos de Tobit – 4QTob 196-200 em aramaico e hebraico entre os pergaminhos do Mar Mortona caverna IV de Qumran, o livro voltou a atenção. Como em todos os textos antigos descobertos nos Manuscritos do Mar Morto, o hebraico estava apenas em forma consonantal. O Livro de Tobit também existe em árabe, armênio, copta, etíope e siríaco. Esta tradução é baseada principalmente no Codex Sinaiticus, a versão grega descoberta no Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai, Egito em 1844.

O próprio livro é um dos livros mais deliciosos das Escrituras Hebraicas. O livro é um romance religioso caracterizado como um romance hebraico e é uma narrativa cativante. O pai é chamado Tobit ou Τωβίτ na Septuaginta grega. O filho chama-se Tobias ou טוביהem aramaico (4T196 2: 3, 2:10, 2:12) e hebraico (4T200 4: 3, 4: 6), Tobias ou Τωβίας em grego e Tobias em latim. Nesta tradução, pai e filho são conhecidos como Tobias. O livro começa com Tobit ou Tobias, o Pai, um israelita do Reino do Norte deportado para Nínive, que sofre de cegueira. Sara em Medes sofre tormento. Por causa de sua boa vida e orações, Deus envia o Arcanjo Rafael para ajudá-los. O virtuoso Tobias, o Filho, une-se ao Rafael disfarçado em uma jornada a Medes, em nome de seu pai, e traz felicidade tanto a seu Pai quanto a Sara.

A mensagem do livro é que Deus é justo e livre. O livro oferece muita sabedoria e observa que o sofrimento não é um castigo, mas um teste. Deus, a longo prazo, recompensa os justos e castiga os iníquos. O crente é chamado a confiar em Deus e a seguir o seu caminho. O livro apresenta a santidade do casamento , a intercessão através dos anjos , a recompensa de boas obras e o respeito dos pais, bem como a importância da oração em nossa vida diária, o jejum e, principalmente, a esmola na expiação do pecado (12: 9). Rafael se revela em uma fascinante declaração no capítulo 12 como “o anjo Rafael, um dos sete que estão diante do Senhor” (12:15).

Embora o cenário ocorra no século VIII aC, acredita-se que o livro tenha sido escrito após a época de Esdras e, portanto, não foi incluído no cânon hebraico mais curto . No entanto, o livro seguiu Esdras e Neemias no Antigo Testamento da Septuaginta grega e sempre foi considerado inspirado pelas igrejas ortodoxas e católicas. Faz parte dos apócrifos na Bíblia King James. Os Livros Históricos são seguidos pela Literatura da Sabedoria, como os Salmos na Septuaginta Grega, na Vulgata Latina e no Antigo Testamento Cristão da Bíblia.

A seguinte Escritura é da Bíblia de Douay-Rheims, agora de domínio público. A Bíblia de Douay-Rheims foi a Bíblia em inglês padrão para católicos por mais de 300 anos e ainda permanece em uso hoje. A Bíblia de Douay-Rheims foi a primeira tradução aprovada em inglês da Bíblia da Vulgata Latina de São Jerônimo. A tradução do Antigo Testamento foi concluída no Colégio de Inglês de Douai, França, em 1609, e no Novo Testamento, no Colégio de Inglês de Rheims, França, em 1582. A Bíblia de Douay-Rheims foi revisada pelo Bispo Challoner na Inglaterra, de 1749 a 1752. A Bíblia de Haydock Douay-Rheims de 1814 foi a sobre a qual o Presidente John F. Kennedy prestou juramento em 20 de janeiro de 1961 para se tornar o 35º Presidente dos Estados Unidos.

Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_de_Tobias

https://biblescripture.net/Tobias.html

A Grande Bíblia da Família White continha os Apócrifos

Um detalhe curioso e importante em relação a essa grande e pesada Bíblia que Ellen White manteve erguida e folheava enquanto apontava versículos citados sem olhar para ela é que essa Bíblia continha os chamados livros apócrifos ou deuterocanônicos das Bíblias católicas. O exemplar pertencia a seus pais e está guardada no White Estate à disposição dos visitantes, como vimos nas fotos acima.

Na lombada, os nomes de Robert e Eunice Harmon estão gravados com letra dourada. O espesso volume foi impresso em Boston por Joseph Teal, no ano de 1822 e é ilustrado com vinte e seis belas gravuras. Entre o Antigo e o Novo Testamentos, uma folha contém o registro da família, preenchido por Tiago White. Em seguida, ainda entre os Testamentos, estão os livros apócrifos do Antigo Testamento, ausentes nas chamadas Bíblias protestantes. — Continue lendo…

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Os 15 livros ou partes de livros que compõem os apócrifos contêm muitos tipos de escrita. Alguns transmitem histórias de pessoas interessantes ou exemplares ( Tobias, Judith, A canção dos três filhos sagrados, História de Susanna ). Outros pretendem ser fragmentos perdidos de livros canônicos (O restante de Ester, Bel e o Dragão, material adicional para Daniel), enquanto outros compartilham semelhanças com a literatura de sabedoria do Antigo Testamento (A sabedoria de Salomão, Eclesiástico ). Material profético ou do tempo do fim é apresentado em vários livros (1 e 2 Esdras; Baruque, com a epístola de Jeremias; a oração de Manassés), enquanto parte da história do povo judeu entre o retorno do cativeiro babilônico e o nascimento de Cristo é contada em 1 e 2 Macabeus.

Dada a nossa atual compreensão e rejeição dos apócrifos, é uma surpresa para muitos adventistas saber que os primeiros adventistas fizeram referências a alguns desses livros em seus escritos. Em 1847, em “Uma palavra para o pequeno rebanho”, James White incluiu algumas referências aos apócrifos em seus próprios escritos e em notas de rodapé que ele adicionou às seções escritas por sua esposa Ellen.

Além disso, a própria Ellen White mencionou os apócrifos na descrição de uma visão que recebeu em janeiro de 1850. Por que os primeiros adventistas fizeram alusão aos apócrifos em seus escritos? Os pioneiros adventistas e Ellen White, em particular, consideraram os Apócrifos como uma parte inspirada das Escrituras?

Os apócrifos no início do adventismo

Nas décadas de 1830 e 1840, muitas Bíblias inglesas usadas pelos mileritas e pelos primeiros adventistas incluíam os apócrifos. Eles foram incluídos não apenas nas Bíblias Católicas, mas também nas Protestantes. Foi somente em maio de 1827 que a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira decidiu excluir os Apócrifos de suas Bíblias em Inglês. Até aquele momento, ele os incluía em uma seção separada entre o Antigo e o Novo Testamento. A grande Bíblia da família na casa de infância de Ellen White, impressa em Boston em 1822 (cuja réplica é mostrada na foto da capa), era uma dessas Bíblias com os livros apócrifos inseridos entre o Antigo e o Novo Testamento.

Portanto, não deveria surpreender que os livros apócrifos fossem familiares a todos os cristãos de língua inglesa na década de 1840. Embora muitos cristãos não os considerassem inspirados e no mesmo nível que o restante das Escrituras, a atitude do mundo cristão em relação aos apócrifos era diferente do que é hoje. Alusões ou citações dos apócrifos não eram incomuns nem consideradas estranhas, porque se acreditava que muita sabedoria e até verdade podiam ser encontradas nesses escritos.

Esse também foi o caso de muitos adventistas que reconheceram que informações relevantes poderiam ser encontradas neles para o estudo da Bíblia.

Fonte: https://www.adventistreview.org/archives/2002-1513/story2.html

Refutando Acusações contra o Livro Deuterocanônico de Tobias

O livro de Tobias é uma história que conta um relato de uma família. Tobit, um exilado da tribo de Neftali, residente em Nínive, homem piedoso, observante, caridoso, fica cego. Seu parente Raguel, em Ecbátana, tem uma filha, Sara, que viu morrer sucessivamente sete noivos, mortos na noite do casamento pelo demônio Asmoneu. Tobit e Sara, cada qual por seu lado, pedem a Deus que os livre destas condições. Dessas duas infelicidades e dessas duas preces, Deus levará uma grande alegria a todos: Ele envia seu anjo Rafael, que conduz Tobias, filho de Tobit, à casa de Raguel que faz que ele se case com Sara e lhe dá o remédio que curaria o seu pai cego. É uma história edificante, na qual têm lugar notável os deveres para com os mortos e o conselho de dar esmolas. A noção de família é mostrada de forma emotiva e encantadora. Desenvolve uma noção muito elevada do matrimônio. O Anjo Rafael manifesta e ao mesmo tempo esconde a ação de Deus, do qual é instrumento. É essa a providência cotidiana, essa proximidade de um Deus bom e fiel que o livro convida o leitor a conhecer.   (PAUTREL, 2002 pg. 662).

Não há unanimidade acerca da data de composição do livro. Para alguns, teria sido escrito provavelmente entre os anos 200 e 180 a.C, para outros, em uma data posterior, mas tudo indica que realmente foi entre 200 e 180 a.C.

O livro pode dividir-se nas seguintes seções:

1. História de Tobit: 1, 1 – 3, 6;

2. História de Sara: 3, 7 – 4, 21;

3. Preparação da viagem: 5, 1-23;

4. Viagem à Média: 6, 1-19;

5. Casamento de Tobias e Sara: 7, 1-14;

6. Revelação de Rafael: 12

7. Cântico e profecia de Tobit: 13-14;

Neste presente texto iremos demonstrar e refutar as principais acusações de protestantes racionalistas contra o livro Divinamente Inspirado de Tobias.

REFUTANDO ACUSAÇÕES

Acusação:

Tobias (200 a.C) – É uma história novelística sobre a bondade de Tobit (pai de Tobias) e alguns milagres preparados pelo anjo Rafael

O fato de um livro ter linguagem metafórica e usar elementos poéticos não é critério para chamá-lo de “novelístico”, tampouco de não canônico. Se assim fosse, teríamos que chamar Jó, Ester, Cântico dos Cânticos também de “novelísticos”, pois possuem os mesmos elementos e a mesma formação poética.

O fato de um livro ser “novelístico” também não é critério para invalidar sua canonicidade. Tais argumentos são passionais e sem objetividade, pois partem de um pressuposto subjetivo e não se atém à mensagem bíblica, que por diversas vezes utiliza elementos figurativos para exprimir as ações de Deus.

Acusação:

Justificação pelas obras – Oferta em dinheiro para perdão do pecado não encontramos em nenhum lugar da Bíblia, isto é coisa diabólica, pois assim somente os ricos teriam o perdão dos pecados”(Tobias 4, 7-11; 12, 8).

Evidentemente, aqui, o autor da acusação não prestou atenção nos versículos por ele citados, nem muito mesmo no resto da Bíblia. Primeiro, é necessário ler os versículos:

Dos teus bens, filho, dá esmola, e não desvies o rosto de nenhum pobre, para que de ti não se desvie a face de Deus. Segundo o que tiveres, conforme a importância dos teus bens, dá a esmola. Se tiveres pouco, não receies dar a esmola desse pouco. Assim garantes, para ti, um prêmio valioso no dia do infortúnio. Pois a esmola livra da morte e não deixa ir para as trevas.” (Tobias 4, 7-11).

Boa coisa é a oração com o jejum, e melhor é a esmola com a justiça do que a riqueza com a iniquidade. É melhor praticar a esmola do que acumular ouro. A esmola livra da morte e purifica de todo pecado. Os que dão esmola terão longa vida” (Tobias 12, 8).

Perceba o leitor que de modo algum Tobias ensina “justificação” somente por obras. O livro está plenamente de acordo com o Antigo Testamento e apenas elucida o valor das esmolas como é ensinado também nos outros livros das Sagradas Escrituras e que, também, ensinam outras formas de perdão de pecados, inclusive também por obras, mas não exclusivamente por elas:

O ódio provoca rixas, o amor encobre todos os delitos.(Provérbios 10, 12).

Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.” (Tiago 5, 20).

Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados.” (I Pedro 4, 8).

O livro de Daniel ensina exatamente a mesma coisa que Tobias:

Eis por que, ó rei, aceita meu conselho: repara teus pecados pelas obras de justiça e tuas iniquidades pela prática da misericórdia para com os pobres, a fim de que se prolongue a tua segurança. O sonho torna-se realidade” (Daniel 4, 24).

Tobias também está plenamente de acordo com o Novo Testamento:

Porquanto qualquer um que vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa” (Marcos 9, 41).

Dai, porém, de esmola o que está dentro do copo e do prato, e eis que todas as coisas vos serão limpas” (Lucas 11, 41).

Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2, 26).

Como se vê, não há nada presente nesse livro que fuja ao comum das Escrituras.

O Apocalipse ensina que seremos julgados segundo nossas obras, logo, fica claro que as obras (claro que aquelas advindas da fé) têm um papel fundamental na salvação.

Vi os mortos, grandes e pequenos, de pé, diante do trono. Abriram-se livros, e ainda outro livro, que é o livro da vida. E os mortos foram julgados conforme o que estava escrito nesse livro, segundo as suas obras.O mar restituiu os mortos que nele estavam. Do mesmo modo, a morte e a morada subterrâneaCada um foi julgado segundo as suas obras.” (Apocalipse 20, 12-13).

Se o incentivo à prática de boas obras for um critério para a invalidação e descanonização de um livro, Daniel, os Evangelhos, Apocalipse, Tiago, I Pedro seriam todos “apócrifos”, pois frisam muito mais do que Tobias a pratica de boas obras e as diversas formas de perdão de pecados.

Temos que deixar claro que o que importa não é a esmola oferecida em si, mas a intenção de querer fazer o bem, por amor a Deus, pela Fé que é a primeira das causas. É dar a quem precisa, sem querer nada em troca. E isso será levado em conta no Dia do Juízo e compensará os pecados.

Acusação:

Mediação dos Santos” (Tobias 12, 12).

É necessário verificar a passagem citada e os versículos posteriores a ela. Vejamos o texto no seu contexto:

Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse à noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor.Mas, porque era agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te provasse. Agora o Senhor enviou-me para curar-te e livrar do demônio a Sara, mulher de teu filho. Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos na presença do Senhor.” (Tobias 12, 12-15).

Note o leitor que em nenhum dos versículos é mencionado “mediação dos santos” ou algo parecido, o livro somente relata a apresentação das orações de Tobias por Rafael diante do Senhor. Fica claro que o autor da acusação não se preocupou em ler o livro de Tobias, nem a passagem citada ou, então, quis somente agir com desonestidade.

E mesmo assim, se essa passagem fosse herética ou critério para invalidar o livro de Tobias, seria necessário retirar, também, da lista dos livros canônicos o Apocalipse e Mateus, que referenciam diretamente essa passagem relatando as mesmas coisas:

Adiantou-se outro anjo e pôs-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro na mão. Foram-lhe dados muitos perfumes, para que os oferecesse com as orações de todos os santos no altar de ouro, que está adiante do trono. A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus.Depois disso, o anjo tomou o turíbulo, encheu-o de brasas do altar e lançou-o por terra; e houve trovões, vozes, relâmpagos e terremotos.” (Apocalipse 8, 3-5).

Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai que está nos céus.(Mateus 18, 18).

Vale lembrar que os conceitos protestantes não sabem diferenciar “intercessão” (o que ocorre quando oramos por outra pessoa) e o conceito de “mediação”, que é aquilo que só Jesus faz, ou seja, mediação na salvação da humanidade.

Portanto, está provado que essa passagem não tem nada de discordante com o resto das Escrituras.

Acusação:

Ensino de magia e superstição. Será que Deus ensina isso?” (Tobias 2, 9-10; 11, 7-16).

Primeiro, vamos às passagens citadas. Em Tobias 2, 9-10 está escrito:

Mas Tobit temia mais a Deus que ao rei, e continuava a levar para a sua casa os corpos daqueles que eram assassinados, onde os escondia e os inumava durante a noite”.

Será que funerais se tornaram rituais de magia e superstição? “Inumar” significa “enterrar”. Lendo todo o capítulo 2, veremos que Tobias recolhia os corpos para fazer um sepultamento digno para aqueles mártires que estavam morrendo nas mãos do rei.

Em Tobias 11, 7-16:

Unta-lhe os olhos com o fel do peixe, e o remédio fará as manchas brancas se contraírem, e elas cairão de seus olhos como escamas. Assim teu pai vai recuperar a vista e verá a luz.” (Tobias 11, 8).

Será que a cura de doenças agora é feitiçaria? Em Tobias 6, 5-8 o anjo recomenda que Tobias “guarde o coração, o fel e o fígado para servir como remédios muito eficazes” na cura de enfermidades. Já em Tobias 11, 7-16 ele faz o uso do fel guardado para curar a cegueira do seu pai, Tobit. Se isso é ensino de magia, deveríamos também excluir do cânon o livro de Isaías, porque relata a recomendação do uso de cataplasmas de figos para serem aplicados sobre uma úlcera, para que assim Ezequias ficasse curado(cf. Isaias 38, 21). Sem contar que Jesus curou o cego com terra e saliva(cf. João 9, 6) e Tiago dá instruções para usar óleo na cura de enfermos (cf. Tiago 5, 14). No Livro de Números, Moisés faz uma serpente de bronze, que cura, bastando-se apenas olhar para ela (cf. Números 21, 4-9) e em II Reis um morto é ressuscitado pelos ossos do profeta Eliseu (cf. II Reis 13, 21).

Não é encontrado em nenhum outro lugar da bíblia o relato que lama, óleo, cataplasmas de figo, imagens de serpentes de bronze ou ossos de falecidos curassem doenças e ressuscitassem pessoas. Seriam Jesus, Tiago, Isaias e Moisés, todos feiticeiros e supersticiosos?  Não. Foram apenas situações em que Deus usou elementos para realizar a cura. Isso não tem nada a ver com “magia”.

As manchas brancas nos olhos de Tobit levam-nos a crer que essa história figura um claro exemplo de catarata. Tobias aplicou o remédio nos olhos do pai, aguardou certo momento e viu, então, desprender-se dos olhos dele uma escama. Tobias limpou-lhe os olhos e prontamente seu pai retomou a visão. Curiosamente, nos tempos antigos o fel de vários peixes era considerado um remédio eficaz contra a cegueira, prova disso é que o naturalista italiano Plínio se refere a isso em sua “História Natural” (Livro 32, 24). Oftalmologistas sugerem que a esfregação vigorosa dos olhos determinaria o deslocamento da lente de catarata. Nesse caso, especialmente se Tobit fosse míope, a visão teria sido restaurada súbita e perfeitamente.

A cura da cegueira de Tobit Pai de Tobias pintura de Rembrandt

Como fica constatado, até mesmo a ciência comprova a veracidade do livro de Tobias. Enquanto os protestantes chamam isso de magia e de superstição, a ciência nos dá provas de que é cientificamente natural.

Acusação:Histórias fictícias, lendárias e absurdas.” (Tobias 6, 3-4).

Antes de tudo, veremos o que diz a passagem acusada:

Tobias desceu para lavar os pés no rio, quando um peixe enorme, saltando da água, quis devorar-lhe o pé. Tendo ele gritado, o anjo lhe disse: ‘Agarra o peixe e não o deixes escapar! ’ Tobias conseguiu agarrar o peixe e puxou-o para a terra.” (Tobias 6, 3-4).

Se essa passagem é “fictícia, lendária e absurda”, o que diria do profeta Jonas que foi engolido e passou três dias dentro do ventre de um peixe e depois foi vomitado vivo em terra firme? (Jonas 2, 1-2). Se o livro de Tobias é falso, porque um peixe quase lhe devorou o pé, o que se pode dizer do livro de Jonas, então, que foram engolidos pés, mãos, cabeça e tudo mais? É impossível pensar com que adjetivo o autor de tal acusação o qualificaria.

Sobre esta acusação, sem sentido, o estudioso protestante Edward Ruess observou:

Os escárnios lançados contra o pequeno peixe de Tobias, mais cedo ou mais tarde destruirão a baleia de Jonas.” (History of the canon of Holy Scripture in the Christian Church –  Pg. 361-362)

Isto é exatamente o que aconteceu. As críticas protestantes lançadas contra os deuterocanônicos atingem também os livros que eles mesmos aceitam, minando, assim, a autoridade da Bíblia e tornando-a sujeita a suas próprias predileções.

O que diria o acusador da jumenta falante de Balaão (Números 22, 27-28)? É óbvio que para Jonas e Balaão, os protestantes procurarão todas as respostas possíveis, tais como “Deus pode tudo”, “Foi vontade de Deus”, “Foi Deus quem falou”, etc., mas o livro de Tobias, eles o tem como simplesmente lendário, movidos por um sentimento de desprezo contra o Santo Livro.

Acusação:

Queimar fígado de peixe expulsa demônios? Não! Só o Nome de Jesus.” (Tobias 6, 6-8).

Esta acusação entra em contradição com a própria Bíblia, pois ela mesma relata outras formas de expulsão de demônios, a exemplo dos lenços e aventais de Paulo quem foram usados para expulsar demônios:

E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam.” (Atos 19, 11-12).

Também Davi expulsa os demônios de Saul através da música de sua harpa:

E sucedia que, quando o espírito mau da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e a tocava com a sua mão; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito mau se retirava dele.” (I Samuel 16, 23).

Em nenhum lugar dessas passagens foi usado o nome de Jesus na expulsão dos demônios.

O livro de Tobias está no Antigo Testamento, portanto, não tem nada a ver com o nome de Jesus. Imagine os profetas veterotestamentários, expulsando demônios em nome de Jesus sem Jesus nem sequer ter vindo ao mundo ainda e ter se dado conhecido aos homens. Como é que se expulsavam demônios em nome de Jesus no Antigo Testamento?  Além do mais, o livro não ensina que a queima de fígado de peixe expulsa demônios:

O anjo respondeu-lhe: Se puseres um pedaço do coração sobre brasas, a sua fumaça expulsará toda espécie de mau espírito, tanto do homem como da mulher, e impedirá que ele volte de novo a eles.” (Tobias 6, 8).

O que aconteceu posteriormente:

Quando terminaram de comer e beber, quiseram dormir. Levaram o jovem e o acompanharam até o quarto. Tobias, então, lembrou-se das palavras de Rafael, e retirou da sua bolsa o coração e o fígado do peixe e os colocou sobre as brasas do incenso. O odor do peixe manteve à distância o demônio, que fugiu para as regiões mais remotas do Egito. Rafael foi até lá, prendeu-o e logo voltou.” (Tobias 8, 1-3).

É simples notar que o odor do peixe fez o demônio fugir, evidentemente porque ele percebeu que era o anjo Rafael que lá estava e iria prendê-lo, e não porque o fígado do peixe o expulsaria. Torna-se evidente, portanto, que existia um interesse por trás, na referida passagem, por parte de Rafael, que só seria desvendado no versículo 3 do capitulo 8, quando ele próprio expulsa o demônio e o prende.  O interesse disso tudo é de ocultar a identidade de Rafael.

Além disso, os acusadores não entendem o caráter messiânico da passagem. Eles justificam de diversas formas a passagem dos lenços de Paulo expulsando demônios (Atos 19, 11-12) ou o caso da serpente de Moises (Números 21, 4-9), argumentando, por exemplo, que a serpente é uma representação de Cristo, mas a presente passagem de Tobias, eles apenas acusam como herética, não entendendo que o trecho de Tobias também é uma prefiguração de Jesus. Temos ciência de que o primeiro símbolo de Jesus Cristo era um peixe, daí os primeiros cristãos representá-lo como ΙΧΘΥΣ (ictus), peixe em grego, que é o acrônimo de “Iesus Christos Theou Uios Soter” traduzido como “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”, Este é, pois, um dos primeiros símbolos do Cristianismo (cf. Jonas 2).  Em Tobias, o coração do peixe simboliza o Amor de Cristo. As brasas em que o coração é queimado simbolizam o fogo do Espírito Santo. A fumaça que afugentou o demônio simboliza a fumaça do incenso com o qual o sumo sacerdote incensava a arca da antiga aliança (cf. Levítico 16, 13), prefigurando assim a mediação de Cristo, o único Sumo Sacerdote da nova aliança (cf. Hebreus 4, 14), o qual incensa o altar celestial. E o fel simboliza o Evangelho que, sendo amargo, livra-nos do Mal.

Portanto, não há nada de errado com a referida passagem de Tobias, muito pelo contrário, analisando-a a fundo, constamos a concreta canonicidade da mesma.

Acusação:

“‘Expulsa toda espécie de mau espírito, tanto do homem como da mulher, e impedirá que ele volte de novo a eles’ (Tobias 6, 8) Lemos que o espírito maligno está impedido de voltar a eles. Porém, Jesus diz que o espírito maligno tanto pode voltar que o último estado do homem torna-se pior do que o primeiro!” (Lucas 11, 24-26).

É evidente que o autor desta estultice não se preocupou em entender o enredo e o porquê do anjo Rafael falar tais coisas. Como foi visto no item anterior, o anjo Rafael não estava de forma nenhuma ensinando uma maneira de expulsar demônios, ele apenas cria uma situação para que sua identidade seja ocultada mais uma vez, para que quando ele expulsasse o demônio Tobias não percebesse que seria ele quem iria expulsar. Rafael falou que “impedirá que ele volte de novo a eles” justamente porque ele prenderia o demônio, o que vai ser demonstrado no capítulo 8, quando Tobias e Raquel estão juntos e “Rafael foi até lá, prendeu-o e logo voltou.” (Tobias 8, 1-3). Logo, ele não iria voltar, pois estaria preso.Em outras palavras, o homem e a mulher que Rafael menciona, no capítulo 6, são justamente Tobias e Sara e o demônio seria impedido de voltar porque ele o prenderia.

Sintetizando:

Homem e mulher nos quais o demônio não voltaria = Tobias e Sara (8, 1-2).

Por que o demônio não voltaria = Porque Rafael o prendeu (8, 3).

Portanto, vemos que não há nenhuma contradição com as palavras de Jesus no Evangelho de Lucas capítulo 11. E mesmo que realmente Rafael estivesse falando que o demônio estaria proibido de voltar a eles, em nada iria contradizer Jesus, pois ele mesmo diz:

E Jesus, vendo que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai dele e não entres mais nele.” (Marcos 9, 25).

Jesus está aqui proibindo o demônio de voltar, a mesma coisa que se dá no Livro de Tobias. Se Tobias é falso porque diz que o demônio estava proibido de retornar, então Marcos também o é da mesma forma. Estaria Jesus contradizendo suas palavras? Marcos colocou palavras na boca de Jesus? Só Jesus pode falar que os demônios não podem voltar, e Tobias não? Ou este é mais um argumento espúrio?

Acusação:

Narração de anjos mentindo. (Tobias 5, 1-9) Será que anjos de Deus mentem? Não! (Isaías 68, 8; Oséias 4, 2).

A passagem é esta:

O anjo respondeu: Que é que procuras: a raça do servo, ou o próprio servo para acompanhar teu filho? Mas, para tranquilizar-te, eu sou Azarias, filho do grande Ananias. És de família distinta, respondeu Tobit. Rogo-te que não me queiras mal por ter querido conhecer tua origem.” (Tobias 5, 17-19).

Primeiro, o Anjo não mentiu, ele se passou por homem e relatou apenas a forma humana em que ele se encontrava, assim, como vários anjos se fizeram em todo o decorrer da Bíblia. Isso é constatado, por exemplo, no caso de Ló, quando os anjos se passam por homens (Gênesis 19, 1-3) ou no de Juízes 6, 20-22, onde o anjo finge ser um homem, e somente quando ele desaparece é que Gideão percebe que se trata de um anjo do Senhor.

Segundo, o nome fornecido por Rafael ao pai de Tobias era exatamente o nome demonstrativo de sua qualidade:

1- Azarias significa: o Senhor ajudou (porque ele foi enviado pelo Senhor, “Deus Pai”, para assim ajudar Tobias em sua missão).

2- Ananias significa: o Senhor tem sido misericordioso (por atender ao pedido de Tobit, pai de Tobias).

Posteriormente o próprio Rafael revela sua real identidade, para assim mostrar quais eram os planos de Deus:

Vou descobrir-vos a verdade, sem nada vos ocultar […]. Mas, porque era agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te provasse […]. Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos na presença do Senhor.” (Tobias 12, 11.13.15).

Se o disfarce de Rafael for um critério para a sua exclusão da lista dos livros Sagrados, porque o seu relato seria uma mentira, então teremos que excluir vários outros livros da Bíblia, como por exemplo, o livro de I Reis:

Então um espírito adiantou-se e apresentou-se diante do Senhor, dizendo: Eu irei seduzi-lo. O Senhor perguntou: De que modo? Ele respondeu: Irei e serei um espírito de mentira na boca de seus profetas. – É isto, replicou o Senhor. Conseguirás seduzi-lo. Vai e faze como disseste. O Senhor pôs um espírito de mentira na boca de todos os profetas aqui presentes, mas é a tua perda que o Senhor decretou.”(I Reis 22, 21-23).

Aqui o próprio Deus manda espíritos de mentira na boca dos profetas. Será que I Reis também não é canônico por Deus colocar espíritos de mentira nos profetas?

Os grandes patriarcas também mentiram e não foram julgados por isso. Antes, o propósito com que a “mentira” deles foi dita é o que torna legitima a ação, ou seja, o que importa para Deus é a intenção, o propósito da ação. Abraão mentiu dizendo que sua mulher Sara era sua irmã, para livrar sua pele. (cf. Gênesis 20,2). Jacó se passou por Esaú como primogênito e mesmo assim foi abençoado por Deus (cf. Gênesis 27,19). Deus beneficiou as parteiras que mentiram ao faraó para proteger Moisés (cf. Ex 1,15-21). A prostituta Raabe mentiu para os homens do rei de Jericó, para proteger os espiões Israelitas. (cf. Josué 2, 1-6). Eliseu mentiu para os sírios, guiando-os para a Samaria. (cf. 2 Reis 6, 8-23). Jeú mentiu para emboscar e matar os adoradores de Baal. ( cf. 2 Reis 10, 18-28). Sansão mente três vezes à Dalila (cf. Juízes 14, 9; 16, 4-21).

Não é encontrada em parte alguma, a Bíblia condenando ou criticando Raabe, Eliseu ou Jeú, Sansão Abraão, Jacó ou qualquer outro personagem citado acima, por mentirem.Ao contrário, ao lermos esses relatos bíblicos, torna-se claro que eles fizeram o que era certo aos olhos de Deus; aliás, vemos em Tiago 2, 25, e Hebreus 11, 31, a atitude da prostituta Raabe sendo citada como bom exemplo.

Chega-se à conclusão, então, que mais essa passagem difamada do livro de Tobias também não tem nada de discordante do resto das Escrituras. Rafael fez apenas o que era certo: ocultar sua identidade para não atrapalhar o plano de Deus.

Acusação:

Erro histórico: Tobit (pai de Tobias) viveu 112 anos (ver Tobias 1, 3-5 e 14, 2), todavia o apócrifo também alega que ele estava vivo durante o tempo em que Jeroboão se revoltou (931 A.C.) e também quando a Assíria conquistou Israel (722 A.C.), eventos separados por um intervalo de 209 anos! 112 é menor que 209.

Vemos aqui mais um critério que não pode ser levado em conta para definir se um livro é canônico ou não. A Bíblia não é um livro de ciências ou história, portanto, um ou outro fato histórico fora do lugar, não vem a ser argumento contra a canonicidade de um livro. Todavia, se mesmo assim os acusadores querem continuar com esse argumento de pé, terão também que retirar o livro de Ester de suas Bíblias, pois de acordo com o Livro de Ester 2,  5-7, Mardoqueu era um judeu que havia sido deportado da Babilônia no ano de 597 a.C., e que havia adotado Ester, sua prima, que se casa do o rei Xexés.  Mardoqueu se torna grão-vizir do rei persa Xerxes em seu décimo segundo ano, ou seja, em 473 a.C. Isto é, 124 anos após ter sido deportado da Babilônia. Ele teria, neste momento, no mínimo, mais ou menos 150 anos, sem contar o resto que ele ainda viveu. Além de tudo, nenhum historiador registra um judeu como vizir de Xerxes ou uma judia como rainha de Xerxes, como relata o livro. Os historiadores mostram Amestris como rainha de Xerxes, sem nenhum espaço para Ester na história geral. Logo, ou desistem do argumento ou descanonizam Ester também.

De qualquer forma, a passagem nos traz uma profecia. O relato (Tobias 14, 2) que apresenta Tobit como contemporâneo do apogeu assírio, o faz anunciar como futuros certos acontecimento que, para o autor, pertencem ao passado, segundo o artifício apocalíptico que anuncia coisas do futuro como se fossem do passado. A profecia não se detém e penetra no futuro messiânico: “até estarem completos os tempos” (Cf. Tobias 14,5), ou seja, toda essa passagem tem um cunho messiânico por trás, utilizando de recursos apocalípticos.  Ele se coloca em duas épocas diferentes como uma revelação profética.

CONCLUSÃO

Nenhuma das acusações contra Tobias fica de pé com uma breve leitura e comparação com o resto das Escrituras. Nenhum acusador consegue provar qualquer erro ou contradição neste livro, tudo o que levantam contra, é facilmente desfeito.

Fonte: RODRIGUES, Rafael. Refutando Acusações contra o Livro de Tobias. Desde: 22/06/2014. Manual de Defesa dos Livros Deuterocanônicos. 1a edição. Salvador. BA: Clube dos Autores, 2012.

EM DEFESA DA VERSÃO GREGA: TOBIAS

A Igreja Católica usa como Bíblia oficial a versão dos setenta ou como também é conhecida, a “septuaginta”. Não só ela, mas, também às Igrejas Orientais (ortodoxas e uniatas) e até mesmo em antigas publicações de algumas versões protestantes. Ainda que a lista de livros inspirados tenha sido afirmada através dos antigos concílios, discussões e problemas sempre foram levantados, seja para confrontar as obras deuterocanônicas do velho testamento, seja para com os escritos que compõe o novo.

Embora tais divergências tenham sido motivos de discussões na cristandade, a grande e esmagadora maioria de padres, bispos e teólogos católicos e protestantes, concorda que a lista já usada (versão grega) pelos apóstolos e pelo próprio Cristo, deveria ser mantida e inalterada. Com base em inúmeros testemunhos, a Bíblia Católica chegou à era atual com a totalidade de 73 livros (46 do velho + 27 do novo).

Embora o catolicismo,  tenha afirmado a canonicidade de tais obras, séculos depois, o ex-monge agostiniano chamado Lutero, acreditando estar sendo conduzindo pela verdade, retirou sete livros das sagradas escrituras por pensar que não eram inspirados, uma vez que, os Judeus que já haviam rejeitado a Jesus, já não tinham tais livros como palavra divina (Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc). …

Não trataremos do aspecto histórico ou do enredo literário de cada escrito e sim, traremos aos leitores as principais acusações e as refutaremos.

Livro a ser defendido: Tobias

Ano: Aproximadamente 200 a.C. 

Informações adicionais: “O livro de Tobias depende de um original semítico que se perdeu. São Jerônimo utilizou, para a vulgata, um texto “caldaico” (aramaico) que não possuímos mais. Todavia, foram descobertos numa gruta de Qumrã os restos de quatro manuscritos aramaicos e de um manuscrito hebraico de TobiasAs versões grega, siríaca e latina representam quatro recensões do texto, das quais as mais importantes são, de um lado, a do manuscrito Vaticano e Alexandrino, e do outro a do códice Sinaítico e da Vetus Latina. Essa última recensão, apoiada agora pelos fragmentos de Qumrã parece ser a mais antiga” (introdução ao livro de Tobias; Bíblia de Jerusalém; 2002).

REFUTANDO OS FALSOS ARGUMENTOS

1 – Primeiro (falso) argumento: O livro não se declara inspirado.

Dos 73 livros que a bíblia contém, nem todos declararam-se inspirados (ex: Reis e Crônicas), porém, continuam sendo obras inspiradas por Deus possuindo um único fundamento: revelar a bondade de Iahweh para com seu povo e anunciar sua justiça; seja ela em comunidade ou individualmente.

Diferente daqueles que acusam o livro de Tobias, sem ao menos ler qualquer verso, afirmamos que o responsável pelo livro, escreve que suas palavras são vindas do próprio Deus:

Tb 12,20 – “E agora, bendizei ao Senhor sobre a terra e daí graças a Deus. Vou voltar para Aquele que me enviou. Ponde por escrito tudo quanto vos aconteceu. E ele se elevou”. 

2 – Segundo (falso) argumento: A obra não possui qualquer ligação teológica com outros livros da Bíblia.

Ler o livro de Tobias de forma sincera e piedosa, revelará todas as ligações existente com as demais obras das sagradas escrituras. São Policarpo (aos Felipenses; d.C 117) e São Clemente de Alexandria (Stromata; d.C 190-210) são padres do período primitivo que usaram o livro de Tobias ao escrever suas epístola ou trabalhos e encontraram nele, inspiração e verdade.

Sendo assim, localizar “ligações teológicas” não é uma tarefa árdua, ao contrário, enriquece e fortifica a fé nas verdades ensinadas desde os tempos mais antigos. Vejamos algumas comparações:

(Tobias 12,12-15 e Apocalipse 8,2-3)

*O Anjo Rafael entrega as orações a Deus e é um dos sete que assiste perante o Senhor.

Tb 12,12-15 – “Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse à noite, eu apresentava as tuas orações ao SenhorEu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos na presença do Senhor”.

*No livro do Apocalipse é mencionado que os anjos entregam as orações aos Senhor e que, existem sete anjos que estão perante a Deus.

Ap 8,2-3 – “Eu vi os sete anjos que assistem diante de Deus. Foram-lhes dadas sete trombetas. Adiantou-se outro anjo e pôs-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro na mão. Foram-lhe dados muitos perfumes, para que os oferecesse com as orações de todos os santos no altar de ouro, que está adiante do trono”.

(Tobias 13,15-17 e Apocalipse 21,2.19-21)

*A “nova Jerusalém” não está somente no livro do Apocalipse, mas também, está mencionada profeticamente na obra de Tobias.

Tb 13,15-17 – “Feliz serei, se ficar um homem de minha raça para ver o esplendor de Jerusalém: suas portas serão reconstruídas com safiras e esmeraldas, seus muros serão inteiramente de pedras preciosas, suas praças serão pavimentadas de mosaicos e rubis, e em suas ruas cantarão: Aleluia! Bendito seja Deus que te restituiu tal esplendor! Que ele reine sobre ti eternamente!”

*São João descreve uma nova terra outrora anunciada na obra deuterocanônica.

Ap 21,2.18-21 – “Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo. O material da muralha era jaspe, e a cidade ouro puro, semelhante a puro cristal. Os alicerces da muralha da cidade eram ornados de toda espécie de pedras preciosas: o primeiro era de jaspe, o segundo de safira, o terceiro de calcedônia, o quarto de esmeralda, quinto de sardônica, o sexto de cornalina, o sétimo de crisólito, o oitavo de berilo, o nono de topázio, o décimo de crisóparo, o undécimo de jacinto e o duodécimo de ametista. Cada uma das doze portas era feita de uma só pérola e a avenida da cidade era de ouro, transparente como cristal”.

(Tobias 12,12, Jó 5,1, Jó 33,23-24 e Ap 8,3-5)

*A intercessão dos anjos não é mencionada apenas no livro de Tobias e sim, nas obras protocanônicas e no novo testamento.

Tb 12,12-15 – “Quando tu e Sara fazíeis oração, era eu quem apresentava vossas súplicas diante da Glória do Senhor e as lia; eu fazia o mesmo quando enterrava os mortos”.

Jó 5,1 – “Grita, para ver se alguém te responde. A qual dos santos te dirigirás?”

Jó 33,23-24 – “A não ser que encontre um Anjo perto de si, um mediador entre mil, que relembre ao homem seu dever, que tenha compaixão dele e diga: livra-o de baixar à sepultura, pois encontrei resgate”.

Ap 8,3-4 – “Outro Anjo postar-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro. Deram-lhe grande quantidade de incenso para que o oferecesse com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que está diante do trono. E, da mão do Anjo, a fumaça do incenso com as orações dos santos subiu diante de Deus”. 

3 – Terceiro (falso) argumento: O livro diz que o Fel do Peixe cura.

No livro aqui defendido, o uso medicinal do fel nos olhos do pai de Tobias (Tobit), faria com que ele recuperasse a visão e voltasse a ver. Curiosamente, os teólogos que acusam tal passagem de ser incoerente, já que nesse caso, estariam usando um objeto que intermediava a cura, aceitam outros versos que se utilizam de elementos similares.

Vejamos mais algumas comparações:

(Tobias 11,8 – Uso de fel para curar a cegueira)

“E pôr-lhe-ás imediatamente nos olhos o fel do peixe que tens contigo. Sabe que seus olhos se abrirão instantaneamente e que teu pai verá a luz do céu. E, vendo-te, ficará cheio de alegria.”

(Isaias 38,21 – Uso de cataplasma de figo para curar a úlcera)

“Isaías disse então: Que tragam um cataplasma de figos para aplicar sobre a úlcera, e Ezequias sarará.”

(Jo 9,6 – Uso de saliva para curar a cegueira)

“Dito isso, cuspiu no chão, fez um pouco de lodo com a saliva e com o lodo ungiu os olhos do cego.”

4 – Quarto (falso) argumento: O livro diz que o coração de um peixe expulsa demônios.

Não só no velho testamento, porém, até mesmo no novo, encontramos referências de objetos utilizados para expulsar espíritos malignos. A questão é: Por que escandalizar-se com o livro de Tobias, se outras obras bíblicas narram situações idênticas?

(Tobias 6,8 – O coração do peixe expulsa o mau espírito).

“O anjo respondeu-lhe: Se puseres um pedaço do coração sobre brasas, a sua fumaça expulsará toda espécie de mau espírito, tanto do homem como da mulher, e impedirá que ele volte de novo a eles”.

(1 Samuel 16,23 – A harpa de Davi expulsa o mau espírito).

“E sempre que o espírito mau de Deus acometia o rei, Davi tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau o deixava.”

(At 19,11-12 – Aventais de uso pessoal do apóstolo São Paulo, expulsavam demônios).

“Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que tinham tocado o seu corpo eram levados aos enfermos;
 e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos.”

5 – Quinto (falso) argumento: O livro diz que o Anjo mentiu.

Ainda que muitos sustentem a tese de que o Anjo Rafael havia mentido, comparando a passagem acusada com outras histórias bíblica, veremos que o anjo fez algo muito similar a outros personagens bíblicos. O Anjo Rafael, um dos sete, “ocultou” a sua verdadeira forma, isto é, passou-se por um ser-humano. Semelhantemente, quando Ló recebe dois anjos em sua casa, ambos passam-se por homens (Gn 19,1-4). Assim é com Gideão: ele somente percebe que estava ao lado de um Anjo, quando este desaparece (Jz 6,20-22).

Rafael não manifestou a vontade inicial de mostra-se para Tobit, uma vez que, naquele momento, não se fazia necessário. Posteriormente, ele revela sua identidade (Tb 12,15) e todos ficam cheios de espanto (Tb 12,16). É importante ressaltar que o nome concedido pelo Anjo em sua forma humana; “Azarias“; significa o “Senhor ajudou“, mostrando assim, a missão que deveria ser realizada por ele: auxiliar Tobias como emissário do próprio Deus. Por fim, se o livro de Tobias deve ser considerado descartável por conter tal passagem (Tb 5,17-18), o que dizer da obra de “1 Reis”, onde, afirma que o próprio Deus enviou um espírito de mentira?

Compare:

(Tobias 5,17-18 – O Anjo Rafael oculta sua identidade e faz-se passar por “Azarias”).

“O anjo respondeu: Que é que procuras: a raça do servo, ou o próprio servo para acompanhar teu filho? Mas, para tranquilizar-te: eu sou Azarias, filho do grande Ananias.”

(1 Rs 22,21-23 – O Senhor envia um espírito de mentira na boca dos profetas).

“Então um espírito adiantou-se e apresentou-se diante do Senhor, dizendo: Eu irei seduzi-lo. O Senhor perguntou: De que modo?
 Ele respondeu: Irei e serei um espírito de mentira na boca de seus profetas. – É isto, replicou o Senhor. Conseguirás seduzi-lo. Vai e faze como disseste. O Senhor pôs um espírito de mentira na boca de todos os profetas aqui presentes, mas é a tua perda que o Senhor decretou.”

6 – Sexto (falso) argumento: O livro diz histórias fantasiosas sobre a luta de Tobias e um peixe.

As escrituras possuem inúmeras histórias, sendo que algumas delas procuram retratar o poder grandioso de Deus que atua na criação. Grande parte desses fatos, devem ser vistos com os olhos da fé e precisam ser sempre analisados de acordo com o contexto do lugar e cultura. Dentre os argumentos levantados para desmerecer o livro de Tobias, acredito que esse seja um dos piores já inventados. O autor, além de desconhecer sobre a própria bíblia que diz carregar, dúvida dos feitos realizados por aqueles que são escolhidos por Deus. Para esses que procuram alternativas de engrandecer seu próprio orgulho, acusando levianamente a obra por trazer uma história “fantasiosa”, já que, Tobias luta com um peixe, deveriam lembrar-se de outro servo do altíssimo que foi engolido por uma baleia e passou três dias e três noites em seu ventre (Jonas).

(Tb 6,3-4 – Tobias luta contra um peixe)

“Aterrorizado, Tobias gritou, dizendo: Senhor, ele lança-se sobre mim. O anjo disse-lhe: Pega-o pelas guelras e puxa-o para ti. Tobias assim o fez. Arrastou o peixe para a terra, o qual se pôs a saltar aos seus pés.”

(Jn 2,1-12 – Jonas é engolido por uma baleia)

“O Senhor fez que ali se encontrasse um grande peixe para engolir Jonas, e este esteve três dias e três noites no ventre do peixe. Do fundo das entranhas do peixe, Jonas fez esta prece ao Senhor, seu Deus.”

7 – Sétimo (falso) argumento: O livro ensina que a esmola limpa os pecados.

Se olharmos pela ótica de que o livro de Tobias é uma obra anterior a Jesus, entenderemos que o modo de justificação será diferente do que nós entendemos como cristãos. E por quê? Simples: Não poderia existir salvação pelo “sangue de Cristo” se seu advento ainda não tinha acontecido.  Chega a ser confuso, escrever um artigo refutando tal afirmação, uma vez que, ela é descabida de qualquer argumentação. Em Tobias, se ensina que a esmola “apaga uma multidão de pecados”. Sendo assim, seria tal afirmação, um erro perante aos outros livros do antigo testamento?

Inicialmente, vejamos as duas passagens que possuem tal afirmação:

Tb 4,7-11 – “Toma de teus bens para dar esmola. Nunca afastes de algum pobre a tua face, e Deus não afastará de tia a sua face. Regula tua esmola segundo a abundancia de teus bens: se tens muito, dá mais; se tens pouco; dá menos, mas não tenha receio de dar esmola, porque assim acumulas um bom tesouro para o dia da necessidade. Pois a esmola livra da morte e impede que caia nas trevas. Dom valioso é a esmola, para quantos a praticam na presença do Altíssimo”.

Tb 12,8 – “Boa coisa é a oração com o jejum, e melhor é a esmola com a justiça do que a riqueza com a iniquidade. É melhor praticar a esmola do que acumular ouro. A esmola livra da morte e purifica de todo o pecado”.

Se for um erro dizer que a esmola apaga os pecados, o que dizer do livro de Daniel, onde, há o ensino de que as “obras” reparam os erros?

Dn 4,24 – “Eis por que, ó rei, aceita meu conselho: repara teus pecados pelas obras de justiça e tuas iniquidades pela prática da misericórdia para com os pobres, a fim de que se prolongue a tua segurança”.

Já em provérbios, lemos que “Quem faz caridade ao pobre empresta a Iahweh e ele dará a sua recompensa” (Pr 19,17). Até mesmo no novo testamento, na epístola de São Tiago, encontramos que a “fé sem obras é morta” (Tg 2,17).

O escritor do livro de Tobias, afirma uma doutrina enraizada no seio judaico desde a época mosaica. Em deuteronômio está escrito:

Dt 15,11 – “Nunca deixará de haver pobres na terra; é por isso que eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra”.

Dar esmola na teologia de nossos antigos pais, representava um ato de compaixão e amor para com o próximo. Sabiamente, o escritor de provérbios escrevia: “O ódio provoca querelas, o amor cobre todas as ofensas” (Pr 10,12). E é esse amor que está muito bem escrito, não apenas no livro de Tobias, mas também no de Daniel, Provérbios e até em escritos neo-testamentários que revelam nossa obrigação como pessoas tementes a Deus.

CONCLUSÃO

Tudo aquilo que foi posto nesse pequeno artigo, não passa de afirmações já feitas há muito tempo pelos santos padres e teólogos da Igreja, entretanto, faz-se necessário afirmar mais uma vez, aquilo que é verdadeiro. A obra de Tobias, assim como outros livros do velho testamento, possui detalhes e semelhanças que nos revelam o amor de Deus para com seus filhos. Não há problemas com a obra e sim, má fé daqueles que querem desmerecer o livro.

Fonte: https://accatolica.com/2017/08/17/defendendo-a-septuaginta-tobias/

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