Ministro das Relações Exteriores alerta: “Pandemia pode ser usada para instaurar o comunismo global”

Nesta terça-feira, 21, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fez um alerta a população sobre o possível e real problema que pode estar por trás da pandemia de coronavírus, o ‘comunavírus’.

Nas redes sociais, o ministro disse que analisou o livro “Virus” de Slavoj Žižek e o seu ‘projeto’ de usar a pandemia para instaurar o comunismo.

“Não bastasse o Coronavírus, precisamos enfrentar também o Comunavírus. […] O mundo sem nações nem liberdade, um sistema feito para vigiar e punir”, escreveu o chanceler.

Araújo compartilhou um artigo publicado em seu blog pessoal, classificado como ‘Metapolítica Brasil’. No texto, o ministro faz uma análise crítica ao livro do escritor Slavoj Žižek. Segundo o chanceler, o escritor é um dos principais teóricos marxistas da atualidade, e é o autor de um projeto para usar a pandemia com o objetivo de instaurar o comunismo no mundo inteiro.

“Žižek revela aquilo que os marxistas há trinta anos escondem: o globalismo substitui o socialismo como estágio preparatório ao comunismo”, alertou.

O ministro ainda salientou que a pandemia representa, para o escritor, uma ‘imensa’ oportunidade de construir uma ordem mundial sem nações e sem liberdade. Confira:

Fonte: www.jornaldacidadeonline.com.br

Chegou o Comunavírus

O Coronavírus nos faz despertar novamente para o pesadelo comunista.

Chegou o Comunavírus.

É o que mostra Slavoj Žižek, um dos principais teóricos marxistas da atualidade, em seu livreto “Virus”, recém-publicado na Itália (*). Žižek revela aquilo que os marxistas há trinta anos escondem: o globalismo substitui o socialismo como estágio preparatório ao comunismo. A pandemia do coronavírus representa, para ele, uma imensa oportunidade de construir uma ordem mundial sem nações e sem liberdade.

 

Cito e comento, a seguir, alguns trechos do livreto de Žižek, essa obra-prima de naïveté canalha, que entrega sem disfarce o jogo comunista-globalista de apropriação da pandemia para subverter completamente a democracia liberal e a economia de mercado, escravizar o ser humano e transformá-lo em um autômato desprovido de dimensão espiritual, facilmente controlável:

 

“Tomara que se propague um vírus ideológico diferente e muito mais benéfico, e só temos a torcer para que ele nos infecte: um vírus que faça imaginar uma sociedade alternativa, uma sociedade que vá além do Estado-nação e se realize na forma da solidariedade global e da cooperação.”

“Uma coisa é certa: novos muros e outras quarentenas não resolverão o problema. O que funciona são a solidariedade e uma resposta coordenada em escala global, uma nova forma daquilo que em outro momento se chamava comunismo.”

Žižek não esconde seu anseio e sua convicção de que um vírus “diferente e mais benéfico” do que o coronavírus, o vírus ideológico, contagiará o mundo e permitirá construir o comunismo de uma forma inesperada. Não está sequer interessado naquilo que funciona ou não funciona para combater o coronavírus, a quarentena ou o fechamento de fronteiras, pois o objetivo não é debelar a doença, e sim utilizá-la como escada para descer até o inferno, cujas portas pareciam bloqueadas desde o colapso da União Soviética, mas que finalmente se reabriu. Tudo em nome da “solidariedade”, claro, do mesmo modo que no universo de 1984 de Orwell a opressão sistemática fica a cargo do “Ministério do Amor”. Quem quiser defender suas liberdades básicas, quem quiser continuar vivendo num Estado-Nação, estará faltando com o dever básico de “solidariedade”.

 

“Um primeiro e vago modelo de uma tal coordenação na escala global é representado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (…) Serão conferidos maiores poderes a outras organizações desse tipo.”

Não escapa a Žižek, naturalmente, o valor que tem a OMS neste momento para a causa da desnacionalização, um dos pressupostos do comunismo. Transferir poderes nacionais à OMS, sob o pretexto (jamais comprovado!) de que um organismo internacional centralizado é mais eficiente para lidar com os problemas do que os países agindo individualmente, é apenas o primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária. Seguindo o mesmo modelo, o poder deve ser transferido também para outras organizações, cada uma em seu domínio. Žižek não o especifica, mas provavelmente tem em mente uma política industrial global sendo ditada pela UNIDO, um programa educacional global controlado pela UNESCO e assim por diante.

 

“Tudo isto acaso não mostra com clareza a necessidade urgente de uma reorganização da economia global que não esteja mais sujeita aos mecanismos do mercado? E aqui não estamos falando do comunismo de outrora, naturalmente, mas de algum tipo de organização global que possa controlar e regular a economia, como também que possa limitar a soberania dos Estados nacionais quando seja necessário.”

Sim, não é o comunismo de outrora, que instalava ora num país, ora noutro, um sistema de planejamento econômico central, sempre fracassado em proporcionar bem-estar, sempre exitoso em controlar e oprimir a sociedade. Trata-se agora de um planejamento central mundial, que certamente traria o mesmo fracasso e o mesmo êxito desse modelo quando aplicado no passado na escala nacional.

“Muitos comentaristas progressistas moderados e de esquerda revelaram como a epidemia do coronavírus se presta a justificar e legitimar a imposição de medidas de controle e disciplina das pessoas até aqui inconcebíveis no quadro das sociedades democráticas ocidentais.”

Žižek menciona entre esses comentaristas a Giorgio Agamben, filósofo de esquerda aparentemente não-marxista, que escreveu com grande apreensão sobre o cerceamento de liberdades que está em curso e que considerou a reação à pandemia um pânico altamente exagerado (**). Mas aquilo que esses comentaristas vêem com preocupação, Žižek recebe com júbilo, e intitula o capítulo em que trata desse tema justamente:

 

“Vigiar e punir? Sim, por favor!”

Refere-se Žižek, naturalmente, ao título do livro de 1975 de Michel Foucault, Surveiller et Punir no original, que descrevia a evolução das prisões do Século XIX para as prisões sem grades da sociedade de controle da pós-modernidade ocidental.

 

“Não surpreende que, ao menos até agora, a China – que já empregava largamente sistemas de controle social digitalizado – se tenha demonstrado a mais bem equipada para enfrentar a epidemia catastrófica. Deveremos talvez deduzir daí que, ao menos sob alguns aspectos, a China represente o nosso futuro? Não nos estamos aproximando de um estado de exceção global?”

“Mas se não é esse [o modelo chinês] o comunismo que tenho em mente, que entendo por comunismo? Para entendê-lo, basta ler as declarações da OMS.”

Žižek tem uma atitude ambígua em relação à China. Admira o que considera o êxito chinês no controle social, mas ao mesmo tempo não parece querer identificar a sua própria concepção de comunismo com o regime chinês, talvez porque o comunismo, ao final das contas, exige o fim do Estado, enquanto a China representa o modelo de Estado forte que o comunismo visa a superar. Esse não-Estado, esse grau zero do Estado que corresponde ao grau máximo do poder, Žižek vai buscá-lo nos organismos internacionais, que permitiriam, no que parece ser a sua visão, o exercício totalitário sem um ente totalizante, um ultrapoder rígido mas difuso, exercido em nome da “solidariedade” e portanto inatacável – pois quem ousaria posicionar-se contra a solidariedade? “Solidariedade” é mais um conceito nobre e digno que a esquerda pretende sequestrar e perverter, corromper por dentro, para servir aos seus propósitos liberticidas. Já fizeram ou tentaram fazer o mesmo com os conceitos de justiça, tolerância, direitos humanos, com o próprio conceito de liberdade.

 

“Não é uma visão comunista utópica, é um comunismo imposto pelas exigências da pura sobrevivência. Trata-se de uma variante do ‘comunismo de guerra’ como foram chamadas as providências tomadas pela União Soviética a partir de 1918”.

Žižek parece querer dizer: “Não se preocupem. Não há nada de ideológico no que proponho. Apenas me guio pelo pragmatismo de quem quer salvar a humanidade, e neste momento o pragmatismo dita a opção por um sistema comunista, mas é um comunismo de emergência, só isso.” Então perguntaríamos: “E quando vai acabar essa emergência? Quando vai acabar esse estado de exceção?” Žižek possivelmente responderia, com um sorriso cheio de “solidariedade”: “A emergência vai durar para sempre.”

 

Žižek não se preocupa com o resultado da quarentena para a contenção do coronavírus, ele não se preocupa em conter o coronavírus, mas sim em favorecer ao máximo o contágio do outro vírus, esse que ele mesmo denomina o vírus ideológico, “diferente e muito mais benéfico”. Ele louva a quarentena justamente pelo seu potencial destrutivo. Seu mundo dos sonhos é Wuhan quarentenada:

 

“…Uma cidade fantasma, as lojas com a porta aberta e nenhum cliente, somente aqui e ali uma pessoa a pé ou um carro, indivíduos com máscaras brancas (…) fornece a imagem de um mundo não-consumista em paz consigo mesmo.”

No pensamento de Žižek, à custa da destruição dos empregos que permitem a sobrevivência digna e minimamente autônoma de milhões e milhões de pessoas, ao preço do desmantelamento de sua liberdade e de seu sustento, se atinge um mundo “em paz consigo mesmo”. O comunismo sempre afirmou que seu objetivo é a paz e a emancipação de toda a humanidade. Aí, numa cidade deserta, sem emprego, sem vida, onde cada um é prisioneiro em seu cubículo, sob a supervisão de uma autoridade suprema que nem sequer é o governo do seu próprio país (que por mais ditatorial que seja ainda pelo menos tem um rosto e uma bandeira), mas uma agência global anônima e inatingível, aí está a configuração perfeita da paz e da emancipação comunista.

 

Mas o paralelo com o nazismo é talvez uma passagem ainda mais chocante do seu livro:

 

“’Arbeit Macht Frei’ é ainda o lema correto, não obstante o péssimo uso que dele fizeram os nazistas.”

Žižek repete aqui o lema colocado na porta do campo de concentração de Auschwitz, a ultracínica, perversa afirmação de que “O trabalho liberta”. Segundo ele, portanto, os nazistas não erraram na substância, erraram apenas no uso que fizeram dessa frase. (Aqueles que ainda não acreditam que o nazismo é simplesmente um desvio de rota da utopia comunista, e não o seu oposto, encontrarão aqui talvez um importante elemento de reflexão.) Segundo esse expoente do marxismo, Arbeit macht frei é o “lema correto” da nova era de solidariedade global que se avizinha em consequência da pandemia, e o que diferencia este novo mundo do campo de Auschwitz é que agora se fará bom uso desta horrível mentira que perverte e humilha dois valores sagrados da humanidade, o trabalho e a liberdade. Os comunistas não repetirão o erro dos nazistas e desta vez farão o uso correto. Como? Talvez convencendo as pessoas de que é pelo seu próprio bem que elas estarão presas nesse campo de concentração, desprovidas de dignidade e liberdade. Ocorre-me propor uma definição: o nazista é um comunista que não se deu ao trabalho de enganar as suas vítimas.

 

“Não é talvez o espírito humano também uma espécie de vírus, que age como parasita no animal humano, o utiliza para se reproduzir, e às vezes ameaça destruí-lo? E se é verdade que o meio do espírito é a linguagem, não seria oportuno considerar que, num plano mais elementar, a linguagem é também alguma coisa mecânica, uma simples questão de regras que devemos aprender e respeitar?”

Sempre sustentei que o controle da linguagem para destruí-la enquanto meio de pensamento, ou meio do espírito como bem diz Žižek, é um dos grandes objetivos do comunismo, para destruir a dimensão espiritual do homem e assim assujeitá-lo completamente. Se o espírito vive na linguagem e se a linguagem não passa de regras a serem aprendida e respeitadas (sim, respeitadas!), isso significa que a linguagem está, como o comportamento social na quarentena, sujeita aos mecanismos de “vigiar e punir”. Já era assim com as regras do politicamente correto. Agora o politicamente correto incorpora o sanitariamente correto, muitas vezes mais poderoso. O sanitariamente correto te agarra, te algema e te ameaça: “Se você disser isso ou aquilo, você coloca em risco toda a sociedade, se você pronunciar a palavra liberdade você é um subversivo que pode levar toda a sua população a morrer – então respeite as regras.” Controlar a linguagem para matar o espírito, eis a essência do comunismo atual, esse comunismo que de repente encontrou no coronavírus um tesouro de opressão.

 

Também já disse e repito: o verdadeiro inimigo que o comunismo quer abater não é o capitalismo, o inimigo do comunismo é o espírito humano, na sua complexidade e beleza. É o espírito humano que o vírus ideológico de Žižek chegou para destruir.

 

Uma pergunta surge após a leitura desse programa totalitário cheio de desfaçatez e hipocrisia: deve-se levar Žižek a sério?

 

Muito a sério. Žižek é provavelmente o escritor marxista mais lido nos últimos trinta anos. Influencia faculdades e círculos intelecutais “progressistas” ao redor do mundo, que por sua vez influenciam a mídia, que influencia os políticos, que tomam decisões muitas vezes inconscientes da raiz ideológica dos conceitos “pragmáticos” pelos quais se deixam guiar. O que diferencia Žižek de muitos de seus pares é que ele enuncia abertamente o que outros escondem nas entrelinhas.

 

Em suma, Žižek explicita aquilo que vinha sendo preparado há trinta anos, desde a queda do muro de Berlim, quando o comunismo não desapareceu, mas apenas dotou-se de novos instrumentos: o globalismo é o novo caminho do comunismo. O vírus aparece, de fato, como imensa oportunidade para acelerar o projeto globalista. Este já se vinha executando por meio do climatismo ou alarmismo climático, da ideologia de gênero, do dogmatismo politicamente correto, do imigracionismo, do racialismo ou reorganização da sociedade pelo princípio da raça, do antinacionalismo, do cientificismo. São instrumentos eficientes, mas a pandemia, colocando indivíduos e sociedades diante do pânico da morte iminente, representa a exponencialização de todos eles.

 

A pretexto da pandemia, o novo comunismo trata de construir um mundo sem nações, sem liberdade, sem espírito, dirigido por uma agência central de “solidariedade” encarregada de vigiar e punir. Um estado de exceção global permanente, transformando o mundo num grande campo de concentração.

 

Diante disso precisamos lutar pela saúde do corpo e pela saúde do espírito humano, contra o Coronavírus mas também contra o Comunavírus, que tenta aproveitar a oportunidade destrutiva aberta pelo primeiro, um parasita do parasita.

 
 

(*) Žižek, Slavoj. Virus. Milão, Ponte Alle Grazie, 2020 (Quinta edição digital.) (A tradução do italiano ao português de todos os textos citados é minha.)

(**) Agamben, Giorgio. “Lo stato d’eccezione provocato da un’emergenza immotivata”. Il Manifesto – Quotidiano Comunista, 26/02/2020.

Fonte: https://www.metapoliticabrasil.com/post/chegou-o-comunavírus

Leia também o que o Ministro escreveu sobre:

Liberdade religiosa, religião libertadora

Gostaria de compartilhar aqui algumas reflexões suscitadas pelo crescente e oportuno debate sobre o tema da liberdade religiosa.

 

Ao longo de toda a história das explorações e da etnologia, nunca foi encontrada uma única comunidade humana, por mais primitiva e isolada que fosse, que não possuísse as seguintes três características: uma linguagem falada; algum tipo de estrutura familiar; e a crença em alguma realidade imaterial ou espiritual. Língua, família, sentimento religioso: eis os três elementos básicos definidores da espécie humana em sua dimensão social. Nossa época, contudo, acostumou-se a imaginar uma hipotética humanidade pré-histórica vivendo nas cavernas, desprovida desses três elementos, mas que de repente resolveu inventar a fala, os laços familiares e a religião. É mais ou menos a tese de Marx e a de Freud. Porém nenhum dado concreto sustenta as teses pretensamente científicas desses autores sobre o “comunismo primitivo” ou sobre a “horda primeva”. Tanto quanto possamos asseverar, a humanidade nasceu, em algum recanto misterioso da pré-história, já dotada de religião, família e linguagem articulada. Trata-se de características definidoras da espécie, tanto quanto o bipedalismo e a capacidade craniana de cerca de 1.200 cm cúbicos.

 

Curiosamente, o projeto marxista, sobretudo em sua configuração atual no globalismo, contesta essa tríade humana fundacional. O projeto da esquerda em sua atual metamorfose pretende destruir a família, apagar a religião e controlar a linguagem ao ponto de reduzi-la ao balbucio de frases feitas. Percebe-se nisso a vocação desumanizante do programa esquerdista. A instrumentalização do homem para fins políticos, a escravização do homem, objetivo central da esquerda, requer a degradação da fala, a desestruturação da família e a humilhação da crença. Sem esse tripé, o ser humano se desmonta e cai por terra inerte.

 

Para humilhar a crença, a ideologia globalista reinante serve-se frequentemente da alegação de que “a religião causa guerras”. Será? Vejamos. As guerras napoleônicas não foram causadas por religião. A guerra civil americana não foi causada por religião. A guerra do Paraguai não foi causada por religião. A primeira guerra mundial não foi causada por religião, nem a segunda. As guerras do Vietnã e da Coreia não foram causadas por religião. Nos últimos 250 anos, os únicos conflitos de grandes proporções dos quais se pode dizer que suas causas residem na religião foram a revolução Taiping na China (onde, entre 1850 e 1864, o líder messiânico sincretista-cristão Hong Xiuquan arregimentou milhões de adeptos e tentou derrubar a dinastia Qing) e a Guerra Cristera no México (na qual, entre 1926 e 1929, os católicos mexicanos se insurgiram contra o governo que procurava reprimir o culto em nome de princípios socialistas). Em ambos os casos tratou-se de movimentos religiosos oprimidos por autoridades não-religiosas. De toda, nota-se que o iluminismo, que triunfou há 250 anos em nome da razão, erguendo-se contra o “obscurantismo” religioso, e começou a dessacralizar ou “desencantar” o mundo (cf. Marcel Gauchet), não livrou a humanidade do flagelo da guerra. Na verdade, a Era da Razão manejou esse látego com muito mais avidez do que a tão desprezada Idade Média.

 

A religião causa violência? Às vezes causa. Sabem o que mais causa violênciea? Tudo. Viver causa violência. O conflito e a contradição estão na raiz da existência humana (e não só humana). Se nos propusermos a eliminar tudo o que pode causar violência, eliminaremos da vida humana o amor, o orgulho, o sentido de pertencimento a uma comunidade, o desejo sexual, a vontade de realizar, o impulso criador, tudo o que proporciona sentido – pois tudo isso pode, sim, causar violência. A esquerda mantém uma atitude completamente cínica diante da violência. A esquerda denuncia idignada as microagressões escondidas nos pronomes e nas preposições (porque isso faz parte de sua estratégia de desarticular a linguagem), mas cala-se covardemente diante de todas as agressões, assassinatos, torturas, genocídios praticados por regimes de esquerda ao longo da história, praticados até hoje na Venezuela pelo regime Maduro, esse mesmo regime que os partidos do Foro de São Paulo agora correm a defender. Então a esquerda não é, de forma alguma, contra a violência. A esquerda pratica a violência amplamente, sob todas as formas, contra os seus inimigos, enquanto finge um horror hipócrita à violência para desacreditar seus opositores. Por sua vez, a direita não defende a violência. A direita reconhece as contradições humanas e procura combater a violência sem hipocrisia, sem destruir o sentido da existência. (Se não houvesse religião, talvez tivesse havido algumas guerras a menos, mas não teria havido humanidade para lutá-las.)

 

Se um ato de violência alguma vez cometido em nome da religião invalida toda a religião, por que motivo todos os inumeráveis atos de violência cometidos em nome do marxismo não invalidam todo o marxismo? A esquerda precisa destruir a linguagem para impedir as pessoas de se fazerem esse tipo de pergunta.

 

O ecumenismo ao estilo “we are the world” constiui um meio mais sutil de combater a religião. Dizer que todas as religiões se equivalem desmerece-as todas. Tentar reduzir as religiões a uma plataforma comum, a um moralismo vago em torno de abstrações como “paz” e “respeito” é um exercício de agressão ao espírito humano e banalização do homem como ser essencialmente religioso. Não existe religião genérica – assim como não existe comida genérica. Se alguém está com fome e lhe trazem um pão, acaso reagirá dizendo: “não, eu não quero pão, quero comida”? Se lhe trouxerem fruta ou carne: “não quero fruta nem carne, quero comida”? Obviamente isso não faz sentido. A comida só existe sob a forma de algum alimento específico. Do mesmo modo, a religião só existe sob a forma de alguma religião específica. Assim, o ecumenismo – na melhor das hipóteses – consiste na redução da religião à moral, ou a uma simbologia de sentimentos morais, mas isso não é religião autêntica. Para mim, por exemplo, a devoção à Virgem é um sentimento pessoal, a experiência de uma presença viva e vivificante, uma realidade, e não o mero apego a um símbolo de pureza ou abnegação.

 

O diálogo inter-religioso pode ser muito útil e saudável, desde que seja autêntico. Não tenho maneira de explicar a um muçulmano, por exemplo, por que creio que Jesus é Deus (na verdade não tenho como explicá-lo a mim mesmo; uma fé não se entende, não pode ser objeto de compreensão, do contrário deixa de ser fé). Ele tentará argumentar que Jesus foi um grande profeta. Nenhum dos dois conseguirá demonstrar o “erro” do outro, pois aqui não se trata de dois matemáticos analisando uma equação, mas de dois sentimentos completamente distintos. Se eu renunciar a sustentar a divindade do Cristo “para não ofender”, estarei deixando de ser cristão, e aí já não teremos o diálogo entre de um cristão com um muçulmano, mas de um falso cristão, de alguém que ouviu falar de Jesus e acha até que ele existiu mesmo, mas não o tem dentro do coração. Da mesma forma do lado dele: se ele admitir que Jesus é Deus, estará automaticamente deixando de ser muçulmano. O importante, sobretudo, é não conceber esse diálogo como a busca de um mínimo denominador comum – certamente não do ponto de vista dos cristãos. Quando se traça um mínimo denominador comum entre o cristianismo e qualquer outra religião, o que fica de fora geralmente é a divindade do Cristo, ou seja, o cerne da fé cristã, e então na prática esse mínimo denominador é um mínimo que exclui o cristianismo e já não se pode considerá-lo comum.

 

(Para um cristão de hoje, talvez o diálogo mais importante seja com sua própria religião, com a riquíssima tradição e doutrina que a maioria dos cristãos desconhece. Alguns cristãos sabem tão pouco sobre os fundamentos de sua fé quanto sabem sobre o xintoísmo ou sobre os cultos xamânicos da Sibéria.)

 

A busca de um mínimo denominador entre as religiões não é um bom caminho – certamente não para os que creem. Todas as religiões pregam a paz? Imagino que sim, de alguma forma. Porém cada uma prega a paz, ou qualquer outra coisa, a partir de uma perspectiva muito distinta da demais (o cristianismo prega a paz a partir da perspectiva de um Deus trinitário, diferente de qualquer outra perspectiva). Para os cristãos a paz de Cristo é a paz de Cristo, não uma paz genérica e descolorida. Outras religiões pregarão a paz à sua maneira.

 

“Nenhuma religião pode pretender à verdade absoluta”, diz o pensamento polticamente correto. Mas uma religião que não pretende à verdade absoluta não é uma religião, é apenas uma moral enfeitada e não serve para nada. Nossa época politicamente correta construiu um conceito de religião que é fundamentalmente externo, a religião vista pelos ateus, a religião que deixa ao ateísmo a definição dos critérios de verdade, a religião que se deixa julgar pelo ateísmo e recolhe-se obedientemente ao cantinho que o ateísmo lhe reserva.

 

Hoje no Ocidente e em todo o mundo está crescendo a discussão sobre liberdade religiosa – e é excelente que isso ocorra. Para que a discussão frutifique, entretanto, algumas condições se fazem necessárias:

 

Primeiramente, que o nosso mainstream cultural ocidental reconheça a religião como algo essencial ao ser humano e admita a religião em termos religiosos, não sob a forma de um mero código moral universalista abstrato.

 

Segundo, que o cristianismo seja tão tolerado quanto as demais religiões. Hoje, nos países de maioria cristã ou de raízes cristãs nas Américas e na Europa, todas as religiões são toleradas e protegidas, menos a própria religião cristã. Em terra cristã o cristianismo é vilipendiado e humilhado todos os dias, ignorado e desprezado todas as horas. Reduzem a a antiga e infinitamente complexa fé cristã a alguns retalhos da antiga crença, denominados “princípios” cristãos, que nada mais são do que a areia rala que sobra depois que se passa a fé cristã pela peneira do politicamente correto, uma areia inútil que o sistema bem-pensante ateísta guarda cuidadosamente, enquanto joga fora as pepitas de ouro que perfazem a essência da fé. Como culpar aqueles países de maioria não cristã onde os cristãos são oprimidos, se aqui, nos países de maioria cristã, o cristianismo é tão mal tratado? Como exigir que eles não persigam os cristãos, quando nos próprios países da antiga cristandade os cristãos são duramente perseguidos? Será um dever de caridade cristã o de anular-se e renunciar à própria fé até o ponto da apostasia? Será que a única maneira de respeitar o “outro” é rejeitar-se a si mesmo? O Ocidente não será capaz de promover verdadeiramente a liberdade religiosa se não reaprender a respeitar o fenômeno religioso em toda a sua riqueza e profundidade, e especialmente se não reaprender a respeitar o cristianismo, seiva do Ocidente.

 

Terceiro, que abandonemos a prescrição segundo a qual “não se fala de religião”. Por que não se há de falar de algo tão fundamental para o ser humano? Para “evitar polêmica”? Mas o ser humano é essencialmente polêmico e contraditório, o mundo é polêmico, a natureza é polêmica. Um mundo frio onde não se fala de religião para evitar polêmica é um mundo descaracterizado. Tão ruim quanto proibir a prática da religião abertamente é proibir que se fale de religião “para evitar polêmica”. Somente falando podemos entender melhor a própria religião e a religião dos outros, somente num espaço onde se fala de religião um ateu começará a entender por que tantos milhões de pessoas ainda creem com todas as forças. No meu caso, já fui ateu: mas quando comecei a ler e estudar sobre religião (inclusive, mas não apenas, a cristã), quando comecei a entender, quando comecei a compreender a profundidade do incompreensível, quando um dia li que os monges do Monte Atos eram capazes de enxergar o brilho da luz incriada, foi aí que voltei a crer. Se não se falasse de religião, para evitar polêmica, eu e tantos outros não teríamos tido essa oportunidade. Somente se houver liberdade para falar de religião os ateus terão liberdade para saber o que estão perdendo.

 

E quarto, que se enxergue no conceito de liberdade religiosa não apenas a liberdade para a prática das religiões mas também a conexão íntima existente entre religão e liberdade – pelo menos no caso da religião cristã. Na fé cristã há algo profundamente, essencialmente libertador, todo o cristianismo é um cântico da liberdade, esse anseio de liberdade que nasceu com o ser humano na profundidade dos tempos. O sentimento religioso se confunde com o anseio pela liberdade, que nasceu junto com a fala e com a família, as quais assim formam, com a religião, uma tríade, uma tríade que talvez não seja ocasional, mas necessária, indispensável, estruturada numa correlação íntima entre esses três elementos, que têm em comum o fato de que todos os três traçam uma linha entre a natureza e o que a ultrapassa, libertam o ser humano da natureza para a transcendência e realizam a transcendência na natureza.

Fonte: https://www.metapoliticabrasil.com/post/liberdade-religiosa-religião-libertadora

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