DEU NO ESTADÃO: Emmanuel Macron conhece a sombria origem do coronavírus

Gilles Lapouge, O Estado de S.Paulo
22 de abril de 2020 | 03h00

A sombria origem do coronavírus

A história começa em 2004. Jacques Chirac, que tem um grande interesse por civilizações do Extremo Oriente, decide associar-se ao presidente chinês Hu Jintao com o objetivo de lutar contra doenças infecciosas emergentes

De onde vem esse vírus que mata cegamente, que prende 4 milhões de pessoas em suas casas impedindo-as de sair e espalha policiais por toda parte, que arruina países e produz uma crise econômica que, já podemos prever, será violenta? Como responder a esta pergunta?

O culpado é um desconhecido. Além disso, é invisível… Tente apanhar algo invisível! Seu surgimento na Terra é um enigma. Nos primeiros dias, tudo estava claro: havia aparecido na China, em Wuhan, em um mercado onde pequenos animais selvagens são vendidos, dos quais os chineses gostam e que frequentemente carregam vírus. Um vendedor tinha sido infectado.

Alguns dias atrás, um cientista, Professor Montagnier, vencedor do Prêmio Nobel, veio a público. Ele explicou que o coronavírus foi desenvolvido por pesquisadores chineses. Essa revelação não convenceu ninguém. Foi então imaginado que o caso teria sido um acidente, hipótese que também é estudada pelos serviços de inteligência americanos.

O que não ajuda é o fato de os chineses não terem apresentado a investigação epidemiológica que fizeram. Boca fechada e nada de investigações internacionais em Wuhan. E aqui está uma nova versão apresentada.

A França acaba envolvida na história, com seus pesquisadores e políticos do alto escalão. Os rumores circulam há alguns dias, mas hoje temos duas peças sólidas: a reportagem realizada pela unidade investigativa da Rádio França e a do Le Figaro, conhecida pela excelência de sua apuração.

A história começa em 2004. Jacques Chirac, que tem um grande interesse por civilizações do Extremo Oriente, decide associar-se ao presidente chinês Hu Jintao com o objetivo de lutar contra doenças infecciosas emergentes. O primeiro-ministro da época, Jean Pierre Raffarin, um grande amante e um grande conhecedor da China, fez contatos.

O ministro das Relações Exteriores, Michel Barnier, está associado às conversações, cujo objetivo era transferir um laboratório P-4. É importante lembrar que, na época, a China tinha acabado de passar por outro surto, o da Sars, uma síndrome respiratória muito perigosa.

Essas iniciativas foram acompanhadas na França por algumas pessoas cujas análises diferem. Um funcionário sênior resume a importância da operação. Ele explica que é bom ajudar os chineses na luta contra esses flagelos. Devemos ajudá-los e fornecer a eles equipamentos muito sofisticados. Ele conclui com esta frase estranha: “Devemos evitar que os chineses tenham de enfrentar esses problemas sozinhos”.

Entre os apoiadores do projeto estão Chirac e Raffarin, é claro, médicos eminentes, além de um conhecido farmacêutico industrial, Alain Mérieux, que será o piloto da operação, e um chinês. Mas há uma objeção: a pesquisa não estaria sujeita a nenhum controle oficial. A instalação poderia se tornar um arsenal biológico.

Então tem início a operação, que encontra obstáculos constantes, dos quais não podemos descrever todas as fases. Apesar de tudo, o local é concluído, mas que tribulações! É inaugurado em 2018, com a primeira visita de Macron. Antes disso, não faltaram incidentes.

Os chineses pretendiam manter a construção deste laboratório ultra-secreto para si mesmos. A França foi se afastando gradualmente e Alain Mérieux deixou a comissão bilateral. Era esperado que fossem despachados para o local 50 pesquisadores, que trabalhariam na instalação. Nós nunca os vimos.

Algumas autoridades americanas e britânicas fizeram alusões misteriosas ao caso. E o que Emmanuel Macron teve a dizer? “Obviamente, aconteceram ali coisas das quais não temos conhecimento.”

Vamos deixar para trás esses meandros que formam um enorme “emaranhado de nós”. Por outro lado, há uma pergunta que se pode fazer. Durante três meses, todos afirmaram não saber de nada a respeito do episódio.

Na China, obviamente, há pessoas que sabem. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, também. E na França? Dezenas de políticos, cientistas e pesquisadores, entre eles um ganhador do prêmio Nobel, sabiam de alguma coisa, mas o quê? Talvez nada. Hoje, uma nova cortina parece se abrir nesse teatro de sombras e crueldades. E, em suas paisagens invisíveis, o coronavírus continua matando. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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