Fala sério, pastor: A salvação de bebês depende do gabarito paterno, e não dos méritos de Cristo?

André Reis fez uma pergunta no grupo Adventismo Hoje no Facebook:

Até que ponto chega o ridículo de alguns apologetas adventistas?

Difícil dizer, mas tem alguns que vivem No Limite.

Segundo o respondente do meme, “sabemos” (vai vendo a petulância) que o processo de seleção para a salvação de bebês “remanescentes” depende do gabarito paterno (heresia escancarada), e não dos méritos de Cristo em favor dessa criança. O que estará nesta lista de verificação? Guarda do sábado, dizimista, adventista fiel, seguidor de influencers nas redes sociais?

Também “sabemos” ele continua, que nem todos os bebês serão salvos sem os pais, mas haverá casos isolados de crianças salvas sem pais no céu. Então qual o critério da salvação destes bebês seletos? Foram “predestinados”, enquanto outros bebês se perderão juntamente com os pais? Ou seja, não há nenhuma consistência ou lógica no argumento.

Além disso, afirma-se que no céu crianças precisarão de cuidado dos anjos! Nesse caso, já que meros laços familiares com pais salvos salvam bebês também, então não faria mais sentido salvar a mãe primeiro já que esta precisa amamentar ou cuidar da criança (abaixo de 8 anos!) no paraíso? Que Deus é esse que traz bebês indefesos e chorosos sem pai e mãe no céu e que necessitam atenção especial dos anjos? Se este bebê pudesse escolher estar no céu ou no colo da sua mãe, o que ele escolheria? (Pergunta retórica!). E como entender a declaração infundada e quase hilária de que crianças precisam de “cuidados” no céu?

E o que dizer de mulheres grávidas por ocasião da segunda vinda, Deus fará uma cesariana para levar o bebê, mas deixa a mãe para trás? (São estas e outras perguntas que me levam a pensar que tem assuntos que é melhor “deixar quieto”!).

Não só é a resposta do rapaz aí é pobre e sem fundamento, mas a pergunta que delimita crianças de “8 anos pra baixo” também revela o problemático nível de entendimento teológico em que se encontra nosso alto e baixo cleros (assumindo que o interpelante é adventista).

Tá André, mas como você responderia essa pergunta?

Eu simplesmente diria, “Não sei.” O fato é que, não obstante a arrogância do respondente, não sabemos como Deus tratará o caso de bebês.

O problema de muitos de nossos apologetas é que eles têm síndrome de super-homens teológicos. Têm resposta para tudo, são invencíveis na doutrina, ganhavam todos os concursos bíblicos no JA. Cresceram e viraram “influencers” teológicos nas redes sociais com respostas sensacionalistas a problemas teológicos que não existem. Suas controvérsias––desde a salvação de bebês até a identidade do arcanjo Miguel––são verdadeiros coitos interrompidos que desperdiçam tempo e energia mas que não produzem prole nenhuma. E na falta de um bom argumento bíblico, tacam uma citação de Ellen White para matar a charada. Eles não perdem uma.

Mas deixando de lado a absoluta jactância do autor da resposta, o que sabemos (aí sim!) é que João afirma: “Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação” (Apoc 7:10). Em última instância, são Deus e o cordeiro que decidem a quem outorgar esta salvação.

Sobre crianças sendo cuidadas por anjos no céu, a única revelação que Jesus fez sobre como seremos no céu é que seremos “como anjos” (Marcos 12:25). Daí alguém poderá dizer: Mas lá Jesus estava falando sobre casar-se ou não casar. Claro, mas a declaração de Jesus vai além do mero ato matrimonial, ela trata fala de uma violenta mudança da “natureza humana.”

Quando lemos Paulo, sabemos (opa!) que ao passar pelo processo de imortalização por ocasião da segunda vinda, nossa natureza será transformada (1 Cor 15:51–54) do corruptível ao incorruptível = mudança da natureza humana para a celestial. E segundo Jesus, assumiremos características físicas semelhantes às dos anjos durante este processo. Como essa transformação deve incluir também as crianças salvas, cai por terra a especulação fantasiosa de que crianças-anjos precisariam de cuidados de outros anjos no céu.

Minha impressão é que Deus terá um critério muito especial para tratar não só de bebês, mas de uma vasta gama de seres humanos que não se encaixam nas nossas limitadas e tacanhas categorias de “salvo” e “perdidos”. Mas, não me arrisco a dizer mais do que isso.

Tentar definir “isso daí” com precisão apologética passou do meu e do seu teto salarial, e longe.

Um abraço
André Reis, PhD

Fonte: https://www.facebook.com/groups/245127112188308/permalink/4357783244255987

3 comentários em “Fala sério, pastor: A salvação de bebês depende do gabarito paterno, e não dos méritos de Cristo?”

  1. Que tal esse texto controverso da irmã White?

    “Vi que o senhor de escravos* terá de responder pelas almas de seus escravos a quem ele tem conservado em ignorância; e os pecados dos escravos serão visitados sobre o senhor. Deus não pode levar para o Céu o escravo que tem sido conservado em ignorância e degradação, nada sabendo de Deus ou da Bíblia, nada temendo senão o açoite do seu senhor, e conservando-se em posição mais baixa que a dos animais. Mas Deus faz por ele o melhor que um Deus compassivo pode fazer. Permite-lhe ser como se nunca tivesse existido, ao passo que o senhor tem de enfrentar as sete últimas
    pragas e então passar pela segunda ressurreição e sofrer a segunda e mais terrível morte. Estará então satisfeita a justiça de Deus.” – Primeiros Escritos, pág. 276

    Pera aí? Quer dizer que o cara vive um inferno na terra depois para ir para o inferno literal, sem chance alguma de redenção porque não sabia? E aquele papo de que seremos julgados pela luz que temos? Que luz esse escravo tinha?

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