Lucro dos pastores-influencers coloca Michelson, Eleazar, Rodrigo e outros em conflito com as diretrizes da IASD na DSA

Revista Zelota: Pastores adventistas lucram com YouTube e desobedecem a praxe da instituição

O lucro mensal do conteúdo nas redes sociais configura-se como “conflito de interesse” nas diretrizes eclesiástico-administrivas com consequências que variam entre disciplina e desligamento do ministério

1 jul., 2021 | Da redação Zelota

Segundo dados do Social Blade em junho (30), pastores-influencers adventistas lucram mensalmente no YouTube com a publicação de conteúdos direcionados à membresia na América-Latina. Entre eles, o Pr. Michelson Borges, editor na Casa Publicadora Brasileira (CPB), e o Pr. Eleazar Domini, pastor distrital da Missão Bahia do Sudoeste, ambos com lucro estimado de R$ 400 a R$ 7.000 por mês; e o Pr. Rodrigo Silva, professor no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP), com lucro mensal estimado de R$ 2.000 a R$ 37.000. A conversão dos valores foi realizada na data da coleta dos valores, R$ 5,00/dólar.

De acordo com as diretrizes eclesiástico-administrativas da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) (B 150 18), “configura-se conflito de interesses o uso do cargo ou influência do obreiro para vender sua produção intelectual para a igreja local, Missão/Associação, União, Divisão ou Instituição em que exerça cargo ou tenha influência em razão de nomeação por parte da Igreja.” Segundo o mesmo documento, o obreiro que infringe as determinações está sujeito à ação disciplinar, incluindo o cancelamento de suas credenciais ou desvinculação do ministério.

Fonte: Social Blade (dados de 30 jun., 2021).
Fonte: Social Blade (dados de 30 jun., 2021).
Fonte: Social Blade (dados de 30 jun., 2021).

Segundo o documento, o lucro dos pastores-influencers com o YouTube corresponde especialmente ao que pode ser definido como “serviços de qualquer natureza”. Atividades lucrativas do gênero, na praxe, não podem ser realizadas por pastores, que em tese se dedicam ao trabalho ministerial em tempo integral e não podem usar sua influência na igreja para autopromoção. Nos termos das diretrizes eclesiástico-administrativas da IASD (E 85 05 S), configuram-se como “conflito de interesse” as atividades que contemplam as seguintes descrições:

  • Envolver-se em atividades comerciais, negócios, serviços de qualquer natureza ou emprego externo que afetem ou restrinjam a expectativa da Organização denominacional de receber uma dedicação exclusiva e um serviço de tempo integral de seus obreiros/missionários, mesmo quando não haja outro conflito. 
  • Envolver-se em procedimentos, atividades, negócios, serviços ou empregos que, de alguma forma, possam competir ou estar em conflito com qualquer transação, atividade, regulamento ou objetivo da Organização. 
  • Envolver-se em quaisquer procedimentos, atividade, serviços, negócios ou trabalhar para um fornecedor ou empregador que forneça bens ou serviços à Organização. 
  • Valer-se do fato de ser um obreiro/missionário ou membro voluntário que é membro de Comissão Diretiva da Organização para promover atividades, negócios, serviços ou empregos externos, associando a organização denominacional ou seu prestígio com uma atividade, serviço, negócios ou um emprego externo, ou usar a conexão que a pessoa tenha com a denominação para promover interesses pessoais ou de políticas partidárias.

De acordo com o Pr. Rafael Rossi, Diretor de Comunicação para a Divisão Sul-Americana (DSA), o lucro dos pastores-influencers e o conflito com as diretrizes da IASD “é uma grande questão”. Para o diretor, não há nada no regulamento que aborde esse tema especificamente, e será necessária uma reunião com o advogado geral da IASD para a DSA, Dr. Luigi Braga, entre outros, a fim de que algum critério seja estabelecido. Rossi informou que uma decisão será tomada após julho (5), data da escolha de novos departamentais para a DSA. 

“Vamos ter que estabelecer algo, porque neste momento o regulamento não tem nada sobre isso. É uma coisa muito nova que acabou sendo acelerada pela pandemia, e nós ainda não deliberamos sobre isso, mas a igreja irá tomar uma posição. Obviamente, esse lucro ou ganho de dinheiro por postagens na internet ou redes sociais deve ser deliberado, porque a igreja tem o entendimento sobre o rendimento que os pastores e obreiros devem ter em geral. Então, vai ser tomada uma posição”, explica o diretor de comunicação.

Rossi especifica que o fator que precisa ser deliberado é a utilização de canais remunerados do YouTube, detalhe que não havia sido estudado até então, e ausente nas diretrizes administrativas. O diretor de comunicação também afirma que as penas aplicadas ao descumprimento da praxe – entre disciplina e desligamento do ministério – ainda não foram discutidas. 

Segundo o Social Blade, as datas de criação dos usuários remontam, em média, há aproximadamente uma década. O perfil do Pr. Michelson Borges foi criado no dia 10 de abril de 2008; o do Pr. Eleazar Domini em 30 de outubro de 2007; e o do Pr. Rodrigo Silva em 28 de maio de 2016. A partir de tais datas, os ganhos mensais variam de acordo com o número de visualizações.

Zelota entrou em contato com o Pr. Eleazar Domini questionando-o sobre os lucros e a desobediência à praxe; ele permaneceu em silêncio por dois minutos na ligação e não ofereceu explicações. A revista entrou em contato pelo Whatsapp, mas ele não respondeu ao questionamento até a publicação desta matéria. O Pr. Michelson Borges também foi procurado por telefone, tanto o particular quanto o da CPB, mas não nos atendeu. A mesma pergunta foi enviada por Whatsapp; ele a visualizou e não respondeu até a publicação da matéria.

Após algumas ligações, o Pr. Rodrigo Silva atendeu a Zelota e também foi questionado a respeito de seus lucros com o YouTube e a desobediência às diretrizes da praxe. O pastor informou à revista que “poderia estar rico”, se assim desejasse, pois recebe dinheiro com atividades não relacionadas ao ministério pastoral: ele afirma receber mensalmente R$ 9 mil da Record; para cada viagem que faz à Israel, informa receber o lucro de R$ 11 mil a 12 mil; e afirma ter realizado um curso de arqueologia cujos lucros somaram a média de R$ 300 mil. O Pr. Rodrigo Silva explicou à Zelota que nenhum desses valores era recebido de forma particular, e garantiu que eram doados à instituição.

Após aproximadamente cinco minutos de conversa, o pastor não esclareceu à Zelota o que era feito com os lucros do YouTube, que segundo o Social Blade, somam mensalmente entre R$ 2.000 e R$ 37.000. Depois de alguma insistência por parte da revista, respondeu: “o que eu faço com o dinheiro do YouTube são doações e isso não é do interesse de vocês.” Ele finaliza a ligação entregando a revista a Satanás.

Na ligação, o Pr. Rodrigo Silva afirmou que a Zelota estava “passando dos limites”, e que a pergunta foi “muito desrespeitosa”. No mesmo dia, ele participou ao vivo de um programa on-line chamado Flow, transmitido pelo YouTube e pela Twitch-TV, em que dedicou alguns minutos para comentar o ocorrido com os apresentadores. No programa, além de repetir algumas informações oferecidas na ligação e afirmar que possui faturamentos com o YouTube, ele também afirma receber lucros de direitos autorais de seus livros, mas considera não estar quebrando o contrato com a IASD, como se estivesse atuando em um “segundo emprego”. Nessa ocasião, ele também não explica o destino do faturamento de seu conteúdo no YouTube.

Os três pastores-influencers costumam compartilhar seus respectivos conteúdos no YouTube; ou mesmo elaborar e publicar material intelectual em conjunto. Entre eles também existe alinhamento político-ideológico de extrema direita, como já foi demonstrado pela Zelota sobre os pastores Michelson Borges e Rodrigo Silva. O Pr. Eleazar Domini, embora não tenha sido citado, também publica conteúdos que demonizam as esquerdas políticas, como a crença na teoria conspiratória do “marxismo cultural”.

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