Escultor do Cristo de Encantado, no RS, foi criado na Igreja Adventista e já construiu seis estátuas gigantes pelo Brasil

A Escultura do “Cristo Protetor” foi finalizada na sexta-feira 22 de Abril de 2022, em Encantado, no Vale do Taquari, a 144 km de Porto Alegre. Os últimos reparos foram feitos pelo artista cearense Markus Moura, responsável pela imagem. A estátua mede 37,5 metros de altura – 43,5 metros, com o pedestal –, sendo mais alta que o Cristo Redentor do Rio de Janeiro, com 38 metros, sendo 30 da estátua e oito da base. É a terceira maior do mundo, perdendo apenas para a estatua Cristo de La Paz e Patung Yesus Memberkati ambas fora do Brasil. A obra, custeada com recursos de empresários da região, foi iniciada em 2019. Apesar da estátua ter sido concluída, a inauguração só deve ser feita no segundo semestre, quando o entorno do complexo for finalizado.

Fonte: https://www.facebook.com/watch/cristoencantado/

Markus Moura é o artista por trás da construção da maior imagem de Jesus em todo o mundo, no município gaúcho; a obra está orçada em cerca de R$ 2 milhões

Lucas Mathias

Quando esta reportagem foi publicada no jornal O Globo, o Cristo Protetor tinha 70% da sua estrutura montada, e cerca de 30% da parte escultural já erguida na cidade de Encantado (RS) Foto: Silvio Ávila / AFP

 

Markus Moura, de 41 anos, é um escultor de Cristos. Ele herdou o trabalho de seu pai, Genésio Moura, de 66 anos, conhecido como Ceará, que lhe ensinou a arte da escultura. O currículo de ambos é extenso. Só o pai já esculpiu cinco estátuas de Jesus Cristo. Juntos, fizeram mais duas. Trilhando o seu caminho, o filho fez três e vai para a quarta: o Cristo Protetor, de Encantado, no Rio Grande do Sul.

Este último, porém, exige uma responsabilidade ainda maior: depois de ser comparado com o Cristo Redentor, do Rio de Janeiro, o monumento gaúcho ganhou repercussão nacional e internacional e porque promete ser o mais alto do mundo, com 43 metros de altura.

Nascido em Fortaleza, no Ceará, Markus cresceu acompanhando o trabalho do pai como escultor no parque de diversões Beto Carrero. Só de Cristos, Genésio já esculpiu em Balneário Camboriú (SC), Bocaiúvas (MG), Pouso Alegre (MG), Muriaé (MG) e Bom Jesus do Galho (MG). Ele tem 45 anos de profissão e também é conhecido por esculpir o rosto de Pelé, em Três Corações, e o Menino da Porteira, em Ouro Fino, ambas em Minas Gerais. Foi também ele o responsável por cinco estátuas da loja Havan: em Brusque, Florianópolis, Itajaí, Curitiba e em Barra Velha, todas em Santa Catarina.

Até colocar a mão na massa, porém, o filho seguiu um caminho distinto: cursava Educação Física quando o pai lhe chamou para ajudar em um novo Cristo: o da cidade de Elói Mendes (MG). “Foi meu primeiro trabalho. Tranquei minha matrícula e fui trabalhar com ele. Ele já sabia que eu e meus irmãos tínhamos o dom, que a gente sempre desenhou. E já me colocou pra ajudar na cabeça do Cristo, foi ensinando a gente. O meu pai é meu grande mestre”, lembrou Markus.

Orientação

Seu pai teve que deixar a mão de obra do Cristo de Elói Mendes, até então o mais alto do Brasil, por questões de saúde. Como a escultura era muito alta, o perigo era grande. Enquanto o filho esculpia de cima, o pai orientava de baixo. “Foi aí que eu aprendi, sabe?”, conta Markus Moura.

Markus Moura trabalha na escultura do Cristo Protetor, de Encantado Foto: Arquivo pessoal

Até seguir por conta própria, mais uma imagem de Cristo foi feita pela dupla, em Francisco Sá (MG). Daí em diante, foram mais três na conta de Markus, sempre com as orientações do pai, mesmo à distância: em Joaquim Felício (MG), Ribeirão Claro (PR) e Sertãozinho (SP), até chegar à maior estátua de Cristo do mundo, que está sendo construída em Encantado.

“Agora, como nunca, a responsabilidade é grande, chegou até fora do país. E está sendo muito gratificante”, celebrou Markus Moura. A obra do Cristo Protetor está orçada em cerca de R$ 2 milhões e foi financiada sem dinheiro público, somente com doações de empresários e membros da comunidade local, organizada pela Associação Amigos do Cristo.

O maior desafio, segundo o artista, já passou: foi planejar e esculpir as mãos e o rosto do Cristo Protetor. “São as etapas mais detalhadas. Eles só me deram a informação de que queriam um rosto sereno. Não é um rosto sério, não é um Cristo velho nem sofrido, mas sereno. E conto com a ajuda do meu pai, mesmo de longe”, detalha. “Arruma mais essa boca, dá mais vida nessa boca, dá mais arte nessa boca”, orientava Genésio ao filho, enquanto os detalhes eram ajustados.

Cristo Protetor da Cidade de Encantado (RS) terá 43 metros de altura, cinco a mais que o Cristo Redentor do Rio Foto: Silvio Ávila / AFP

Markus conta que demorou um mês trabalhando somente no rosto do Cristo Protetor, etapa que começou em fevereiro. Seu trabalho com a escultura foi iniciado em setembro de 2020. Ele explica que o princípio de tudo é um “rabisco no papel”. Depois vem a ferragem sobre a estrutura de sustentação e a arte. “Eu uso ferro de construção, tela de viveiro e massa de cimento”, diz o escultor.

Detalhes

Apesar de ficarem a 1500km de distância um do outro é inevitável a comparação entre os Cristos Redentor, do Rio de Janeiro, e o Protetor, de Encantado. Mais ainda depois que os prefeitos Eduardo Paes, do Rio, e Jonas Calvi, da cidade gaúcha, trocaram brincadeiras nas redes sociais. Para Markus, porém, a inspiração existe, mas as diferenças serão claras.

Cristo Redentor, com a Lagoa Rodrigo de Freitas e as praias de Ipanema e Leblon ao fundo: cartão-postal máximo do Rio de Janeiro Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

“O Cristo Redentor é uma das Sete Maravilhas Modernas do Mundo. E foi feito na década de 1930. Com a tecnologia que nós temos hoje, é mais fácil”, afirma, antes de detalhar o que difere sua obra da estátua esculpida por Maximiliam Paul Landowsky na capital fluminense.

“O Cristo do Rio de Janeiro é estilizado, o meu já é mais realista, mais detalhado. Você vai ver fio de cabelo, os traços da mão. O manto vai ser diferente. A única semelhança é que está de braços abertos e o Cristo Redentor é o primeiro. Então, todos os outros são uma inspiração. Se você for olhar o rosto do Cristo Redentor e ver o rosto que eu estou fazendo, vai ver a diferença gritante”, completa o artista.

Criado na Igreja Adventista, Markus Moura foi educado segundo os ensinamentos “da Bíblia, de Deus e de Jesus”. Apesar do tempo ter mudado sua forma de encarar a religiosidade, ele crê que sua escultura não é apenas concreto e cimento: “Eu acredito no Deus bondoso, de todos. É um Deus único que as pessoas acreditam da forma que acham que é. Eu acredito que a estátua é tipo uma fotografia, vamos dizer assim. É o que significa, o simbolismo”, finaliza o escultor.

Fonte: https://oglobo.globo.com/epoca/sociedade/escultor-do-cristo-de-encantado-no-rs-ja-construiu-seis-estatuas-gigantes-pelo-brasil-24985333

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