Seu Pastor Pode Estar Equivocado: Jesus Não Morreu no Dia 14 de Nisan!
Embora Mateus, Marcos e Lucas concordem perfeitamente sobre a data judaica da morte de Jesus, posicionando-a no dia 15 do primeiro mês, a maior parte dos teólogos da Cristandade tem defendido outra data, a saber, o dia 14 de Nisan, para o evento da crucifixão. À primeira vista, essa divergência pode parecer de pouca importância; não obstante, ela é capaz de alterar todo o quadro profético. Ocorre que o ano 31 tem dificuldades para comportar uma Sexta-feira 14, mas admite com facilidade uma Sexta-feira 15. Por outro lado, o ano 30 não comporta, de maneira alguma, uma Sexta-feira 15, permitindo, no entanto, uma Sexta-feira 14. Sendo, pois, que a data da morte de Cristo repercute tão decisivamente sobre o cômputo dos períodos proféticos, faz-se necessário aprofundar a investigação no sentido de descobrir que opção (se 14 ou 15 de Nisan) melhor se harmoniza com o conjunto das informações bíblicas.
Testemunho dos Sinóticos A Bíblia afirma que “por boca de duas ou três testemunhas toda questão será decidida” 2 Coríntios 13:1. Ver Deuteronômio 17:6; 19:15; Mateus 18:16; João 8:17; 1 Timóteo 5:19; e Hebreus 10:28. No que tange ao tempo da morte do Salvador, os registros de Mateus, Marcos e Lucas não deixam margens para dúvidas: Jesus realmente morreu no dia 15 de Nisan. Ao identificar o dia em que os discípulos interpelaram Jesus acerca do lugar em que celebrariam a ceia pascal, o evangelista Mateus assim se expressa: “No primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, vieram os discípulos a Jesus e Lhe perguntaram: Onde queres que Te façamos os preparativos para comeres a Páscoa?” Mateus 26:17. Esse foi, com certeza, o dia 14 de Nisan, pois era nele que se faziam os preparativos para a celebração da ceia, a qual só ocorria depois do pôr-do-sol, isto é, já nas horas do dia 15 (Êxodo 12:8 e 42; e Mateus 26:20). Na manhã seguinte, Jesus foi crucificado, vindo a falecer por volta das 3 horas da tarde (Mateus 26:30, 47 e 57; e 27:1, 2, 26, 31, 33, 35, 45 e 50). Marcos é ainda mais enfático que Mateus, ao declarar que os discípulos questionaram o Mestre no próprio dia em que o cordeiro pascal era imolado: “E, no primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, quando se fazia o sacrifício do cordeiro pascal, disseram-Lhe Seus discípulos: Onde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a Páscoa?” Marcos 14:12. O texto é tão claro que exige poucos comentários. Moisés havia prescrito: “Este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano... Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família... e o guardareis até ao décimo-quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o imolará no crepúsculo da tarde.” Êxodo 12:2-6. O cordeiro pascal era sacrificado na tarde do dia 14 de Nisan; portanto, foi nesse dia que os discípulos prepararam a última ceia. Depois do pôr-do-sol, eles se assentaram para comer (Marcos 14:17). Naquela mesma noite, Jesus foi preso no horto de Getsêmani e levado para ser julgado e morto (Marcos 14:32, 43 e 53; e 15:1, 15, 20, 25, 33 e 37). Tal seqüência assegura que a morte de Jesus só poderia ter ocorrido no dia 15 de Nisan. O Evangelho de Lucas também confirma essa idéia: “Chegou o dia da Festa dos Pães Asmos, em que importava comemorar a Páscoa.” Lucas 22:7. A expressão genérica “comemorar a Páscoa”, que aparece na Versão Almeida Revista e Atualizada, é tradução da locução grega θύεσθαι τό πάσχα (thuesthai to pascha) e significa literalmente “sacrificar a Páscoa”. O vocábulo “pascha”, nesse caso, seria uma alusão ao próprio cordeiro pascal. Portanto, os discípulos prepararam a ceia no tempo exato que a Lei Mosaica reservava para esse procedimento, o décimo-quarto dia do primeiro mês. A ceia foi celebrada depois do pôr-do-sol, o que coloca a crucifixão de Cristo no décimo-quinto dia do mesmo mês (Lucas 22:14, 39, 47, 54 e 66; e 23:1, 7, 11, 24, 25, 33, 44 e 46). Vale ressaltar ainda o vigor com que Lucas identifica o dia em que a ceia pascal foi preparada. Segundo ele, os discípulos questionaram o Mestre no dia “em que importava comemorar a Páscoa”. O verbo “importava” é tradução do vocábulo grego δει (dei), que significa literalmente “obrigatório por força de lei”, “imperativo”. Destarte, a atitude dos discípulos foi determinada pelo que estava estipulado na Lei Judaica e não por qualquer outro motivo. Isso coloca um selo de garantia sobre a equação Sexta-feira = 15 de Nisan, para o ano da morte de Jesus.
A Tipologia das Festas Judaicas O apóstolo Paulo, por exemplo, fala de Cristo como “nosso Cordeiro
pascal” (1 Coríntios 5:7) e como “as primícias dos que dormem” (1 Coríntios 15:20),
alusões inconfundíveis às festividades da Páscoa e dos Pães Ázimos, no primeiro caso, e à
Festa das Primícias, no segundo. Assim, cada festa tinha um significado tipológico
especial.
1) Analisando 1 Coríntios 5:7 e 8. Conforme Levítico 23:5 e 6, a Festa dos Pães Ázimos só começava no dia
15: “No mês primeiro, aos catorze do mês, no crepúsculo da tarde, é a Páscoa do SENHOR. E
aos quinze dias deste mês é a Festa dos Pães Asmos do SENHOR; sete dias comereis pães
asmos.” Isso revela que Paulo não estava pensando em Cristo como Cordeiro Pascal num
contexto de dia 14, quando o sacrifício era realizado, mas num contexto de dia 15, em cuja
noite o cordeiro era comido, com pães asmos e ervas amargas. Páscoa é para ser comida. Nenhum sentido faria o mero sacrifício do cordeiro se ele não fosse servido numa refeição, como símbolo do concerto de Deus com Seu povo. Jesus é o Cordeiro Pascal enquanto está oferecendo Sua carne e Seu sangue para Seus discípulos. Destarte, a equação que deve ser entendida do texto em comento não é a
de “morte de Cristo (Sexta-feira) = sacrifício do Cordeiro (tarde do dia 14 de Nisan)” e,
sim, a de “Cristo instituindo a Santa Ceia (noite de Quinta-feira, pelo cálculo civil) =
Ceia Pascal (noite do dia 15 de Nisan)”. Ademais, se a morte de Cristo tivesse que ocorrer na tarde do dia 14
pelo simples fato de ser Ele o antitípico Cordeiro Pascal, por que não teria que ocorrer
também, por exemplo, no Dia da Expiação (décimo dia do sétimo mês)? Não era o “bode para o
Senhor” igualmente um símbolo de Cristo? E por que estaria a morte de Jesus vinculada
apenas ao sacrifício da tarde? Não havia também o sacrifício da manhã? Essas considerações
revelam a inexistência de relação tipológica entre o dia em que o cordeiro pascal era
sacrificado (14 de Nisan) e o dia da morte de Jesus. Haveria outra ocasião mais apropriada para a morte do Salvador? Não trouxe Cristo libertação do cativeiro do pecado ao render a Sua vida na Cruz do Cálvário? Sim, e por isso “digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor.” “Àquele que nos ama, e, pelo Seu sangue, nos libertou dos nossos pecados... a Ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” Apocalipse 5:12; e 1:5 e 6.
O anúncio de Cristo estava baseado na profecia de Zacarias 13:7:
“Desperta, ó espada, contra o Meu Pastor e contra o Homem que é o Meu companheiro, diz o
SENHOR dos Exércitos; fere o Pastor, e as ovelhas ficarão dispersas; mas volverei a mão
para os pequeninos.”. Em Zacarias 12:10, o “Pastor que é ferido” aparece sob a figura do
“Primogênito que é traspassado”: “E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de
Jerusalém derramarei o espírito da graça e de súplicas; olharão para Aquele a Quem
traspassaram; pranteá-lO-ão como quem pranteia por um unigênito e chorarão por Ele como se
chora amargamente pelo primogênito”. Portanto, “ferir o Pastor” equivale a ferir o
Primogênito de Deus. Na verdade, Jesus fora ferido no horto de
Getsêmani, quando os pecados de toda a humanidade foram misteriosamente postos sobre Ele,
obstruindo completamente Sua ligação com Deus. Tamanha foi a angústia mental suportada
pelo Salvador que “Seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lucas
22:44). Pouco depois, naquela mesma noite, Jesus foi aprisionado. Foi, “então”, que “os
discípulos todos, deixando-O, fugiram.” Mateus 26:56. 3) A Entrada Triunfal. Consoante a Lei Mosaica, “aos dez deste mês, cada um” deveria tomar
“para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família”, o qual
deveria ser guardado até o dia 14, quando, então, seria sacrificado. Ver Êxodo 12:2-6. O
simbolismo é perfeito. Noutras ocasiões, Jesus recusara fazer qualquer aparição pública em
Jerusalém; nas vezes em que Se dirigiu até lá, manteve-Se em oculto. Dizia sempre que Seu
tempo ainda não havia chegado. Ver, por exemplo, João 7:3-10. Entretanto, “aconteceu que,
ao se completarem os dias em que devia Ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a
intrépida resolução de ir para Jerusalém” (Lucas 9:51). Nessa ocasião, Jesus permitiu que
os discípulos O aclamassem como o Enviado de Deus, o que resultou nas vigorosas
manifestações de triunfo às portas de Jerusalém. Foi através desse acontecimento que Ele
Se colocou à parte como oblação, identificando-Se como o verdadeiro sacrifício da
Festividade que, dentro de alguns dias, seria realizada.
4) A Festa das Primícias. A Lei de Moisés prescrevia que os primeiros frutos deviam ser apresentados no Templo, “no dia imediato ao Sábado” (Levítico 23:12). A despeito de os defensores da equação 14 de Nisan = morte de Jesus alegarem ser esse Sábado o primeiro dia da Festa dos Pães Ázimos, fazendo do Domingo da ressurreição o dia 16 de Nisan, as evidências demonstram ser ele um Sábado semanal. A regra funcionava do seguinte modo: as Primícias eram sempre apresentadas no Domingo da semana dos Pães Ázimos, não importando em que data do mês tal dia caísse (Ver quadro abaixo). Isso concorda perfeitamente com o evento antitípico da ressurreição de Jesus, que, segundo os evangelistas, aconteceu no primeiro dia da semana, dentro do período em que os judeus estavam comemorando a Festa dos Pães Ázimos.
“Não Vim para Revogar, Vim para Cumprir”
O Evangelho de João e o 14 de Nisan Essa precaução dos judeus seria uma evidência de que a celebração da Páscoa só teria vindo a acontecer após o pôr-do-sol de Sexta-feira, o que se contrapõe ao relato dos Sinódicos, que situam a ceia pascal na noite de Quinta-feira. Além disso, João denomina a Sexta-feira da semana da crucifixão de “preparação pascal” (João 19:14). Como os preparativos para a comemoração da Páscoa eram realizados no dia 14, essa declaração faria daquela Sexta-feira o dia em que o cordeiro devia ser sacrificado. Por fim, o dia em que Jesus permaneceu no sepulcro é chamado de “Sábado grande” (João 19:31). Para muitos comentaristas, isso se explica pelo
fato de que, no ano da morte de Jesus, o dia 15 de Nisan (Sábado cerimonial) teria
coincidido com um Sábado semanal. A conjugação de 2 sábados de naturezas diferentes teria
tornado aquela ocasião especialmente solene. Analisando a Cronologia de João Ocorre que, na época de Jesus, todo o período dos Pães Asmos já era comumente conhecido como a Festa da “Páscoa”. Exemplo desse uso se observa no Evangelho de Lucas: “Estava próxima a Festa dos Pães Asmos, chamada Páscoa.” Lucas 22:1. Os judeus poderiam estar preocupados não com a celebração da ceia pascal, mas com outras refeições cerimoniais que eram realizadas durante aquele período festivo. Outra possibilidade seria a de que os líderes
judaicos não teriam celebrado a ceia pascal no tempo determinado pela Lei – que, no caso,
teria sido a noite de Quinta-feira – já que estavam empenhados na caçada a Jesus. Por
isso, teriam deixado para celebrá-la um dia depois, na noite de 15 para 16 de Nisan. Seja
qual for o motivo que determinou o comentário de João, a passagem em análise é
insuficiente para destruir a sólida cronologia esboçada em Mateus, Marcos e Lucas. Resta analisar ainda o sentido da expressão “Sábado grande” (grego: μεγάλη ή ήμέρα έκείνου τοΰ σαββάτου – megale he hemera ekeinou tou sabbatou; tradução: grande o dia daquele Sábado). Afirmar que aquele Sábado foi chamado de “grande” por causa da combinação de um Sábado semanal com um Sábado cerimonial (no caso, o 15 de Nisan) é extrair do texto mais do que ele pode oferecer. A expressão só ocorre uma vez em toda a Bíblia, impedindo, assim, que se verifique seu real significado; e adotar como certa uma posição sem considerar outras possibilidades de interpretação é cometer uma arbitrariedade exegética. Poderia ser o caso, por exemplo, daquele Sábado ser chamado de “grande” por estar inserido na semana da Festa dos Pães Ázimos, sem, contudo, ser uma combinação de um sábado semanal com um Sábado cerimonial. Outra interpretação possível seria a de um
Sábado cerimonial (Sexta-feira = 15 de Nisan) seguida por um Sábado semanal. Isso faria
com que o período de descanso se prolongasse por 48 horas. No estágio atual, não há como
determinar o verdadeiro sentido da expressão joanina.
Conclusão
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