A Primeira Mentira na Obra, a Gente Nunca Esquece...

 

Confissões de um Ex-pastor - IX

Peço perdão, àqueles que vinham acompanhando minha história, pela longa demora, do último artigo a este que escrevo agora. Um problema de saúde, crônico, que em tempo oportuno, revelarei aos irmãos qual é, me impediu de prosseguir em meu desabafo, aqui no site do amado irmão Robson. Além do mais, tinha que meditar um pouco, naquilo que estava escrevendo. Jesus, uma vez disse:

― Mas aquele que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria que pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e se precipitasse na profundeza do mar.  

Temi, que alguém, novo na fé, acessasse o site do Robson e lendo meus artigos, perdesse a fé em Deus, por causa dos homens. A saber, os mercenários, que lideram o povo de Cristo, e que tão bem eu estava descrevendo. Afinal, convivi com eles. Mas, depois de muito pensar, resolvi continuar. Afinal a mensagem para Laodicéia, não é nada romântica, e devemos como cristãos, novos na fé ou não, aprendermos desde cedo a separar o joio do trigo. Existem homens de coração bom, na liderança. É uma espécie em extinção, mas ainda existe e sem a ajuda do Green Peace (Estou me sentindo irônico, como o Dr. Tales).

Bom, aonde eu parei? Eu estava no teológico, e tinha descoberto que Jesus não voltava por causa da apostasia de Laodicéia. Bem, adiantemos os fatos.

Quando já estava no último ano, em 1986, fiquei em DP (dependência) em uma matéria. Aquilo era triste, pois eu seria forçado, a cursar mais um semestre, por causa de uma única matéria pendente. Para mim, que já estava casado, com filho recém nascido, significava mais um semestre sem chamado e conseqüentemente sem emprego. Mas Deus era comigo. Havia me tornado um excelente colportor. Manteria minha família assim, e os estudos também.

Para minha surpresa, fui chamado na antiga Paulista Sul (não era ainda a Paulistana), pelo então secretário Getúlio Farias. Entrei na sala dele, sem saber que estava entrando no covil de um lobo, que poucas vezes a história adventista gerou. Ele queria que eu trabalhasse. Era um chamado para a Igreja de Moema, como pastor auxiliar. Fiquei maravilhado! Meu primeiro chamado!

Já havia respondido, antes da entrevista com o Sr. Farias, uma série de perguntas, em uma entrevista feita com o pastor Guilhém, no próprio IAE. Ele ficou comigo duas horas, me submetendo a uma série de perguntas. Deixei claro, que estava em dependência de uma matéria. Ele me disse que isso não iria atrapalhar meu trabalho, visto que o tempo que eu gastaria no teológico seria mínimo.

Na entrevista com o Getúlio, esta ficha estava sobre a sua mesa, contendo esta minha observação concernente ao meu curso incompleto.

Apesar do chamado fiquei preocupado. As férias de Julho haviam chegado, e eu sempre saía para colportar. Comentei isso na entrevista com o pastor Getúlio. Então ele me disse:  

― Há quanto tempo você não descansa nas férias?  Era verdade. Desde que me tornara adventista, não tinha gozado de férias. Nem no meio do ano, quanto mais no final, onde nós na colportagem costumamos dar tudo de si, nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Sorrindo, o pastor Getúlio disse:  

― Vá descansar e passeie um pouco com sua esposa! Descanse neste mês de julho, quero você inteiro, para agosto começar teu ministério em Moema, que é uma Igreja de peso.Expliquei a minha situação financeira. Ele disse:

― Não se preocupe. Daremos-te um adiantamento, em agosto!  Que santo homem! Havia pensado em tudo!  

Vocês podem imaginar a alegria da minha esposa? Quando falei do primeiro chamado, das férias, aonde poderíamos aproveitar melhor, a alegria de ter um filho? Realmente, foi um mês inesquecível. Pude descansar, após todos aqueles anos de intenso trabalho missionário, através da obra sagrada da colportagem. Pude descansar também, do estudo exaustivo, de quatro anos de teologia. Pude, finalmente me dedicar mais ao meu filho recém nascido. O dinheiro iria acabar no final do mês? Qual é o problema? Tinha a palavra de um homem de Deus, a respeito de um adiantamento de salário.  

Bem, agosto chegou, e eu me dirigi a associação paulista. Getúlio me recebeu com um ar grave no rosto. Nos sentamos e eu fui logo dizendo:  

―  Vim assumir meu cargo e dar início ao meu ministério. Descansei, no mês de julho, como o senhor me pediu. Mas agora, estou pronto para começar. Ele me disse friamente:  

―  Você não irá trabalhar conosco, porque mentiu para mim. Disse que havia terminado o teológico, e ainda deve uma matéria.  

Fiquei pasmo. Não era mentiroso. Nunca havia sido. Mesmo antes de me tornar um cristão. Como havia perdido minha mãe logo cedo, e meu pai abandonara a mim e minhas irmãs, havia sido criado por avós. Minha avó, uma católica sincera, que me ensinou a rezar, mesmo depois de ter perdido a filha num assassinato cruel e covarde, sempre mantivera sua fé em Deus inabalável. Dos vários princípios cristãos que ela havia me ensinado, havia o de sempre dizer a verdade, a todo custo.

Agora, eu tinha diante de mim, aquele homem, me chamando de mentiroso! Mantive a calma, a muito custo. Sou neto de italianos, e para nós, desenvolver o fruto do Espírito, referente à mansidão, é muito mais complicado do que para indivíduos de outras etnias. Disse ao pastor Getúlio calmamente:  

―  O senhor está com minha ficha?  

―  Que ficha?  

― Aquela, que o Sr. pediu para o pastor Guilhém preencher comigo, numa entrevista que durou duas horas, em que respondi perguntas até de fórum íntimo.  

―  Onde está? Ele empalideceu. Continuei:  

―  Pois é, naquela ficha, preenchida no I A E, estão todos os meus dados. Inclusive, o fato de que eu devo uma matéria no teológico.  

―  O senhor não leu a minha entrevista? Ainda pálido ele respondeu sem graça:  

― Não.  

Mentiroso. Havia, com o passar dos anos, na escola da colportagem e no próprio teológico, desenvolvido a psicologia de reconhecer uma pessoa falsa e mentirosa com poucos minutos de conversa. Ali estava uma. Um pastor, com cargo administrativo de peso, mais um mentiroso. Sabia que aquela conversa não iria acabar bem. Meu sangue italiano já estava atuando no meu sistema nervoso, diante da mentira deslavada e cínica. Continuei pressionando:  

―  Mas como o senhor não leu? Estava na sua mesa na última conversa que tivemos. Ele levantou-se, visivelmente abalado. Sentado, continuei:  

―  Afinal, foi o senhor que enviou o pastor Guilhém ao IAE para me entrevistar. E agora me diz que não leu minha entrevista? Para que então a entrevista? O que o senhor estava fazendo com minha ficha da última vez que conversamos? Ela estava na sua mesa, eu lembro. Onde está minha ficha?  

Atordoado, ele começou a procurar a ficha, num armário para arquivos de pastas. Não encontrando, ou melhor, fingindo não encontrar, virou-se para mim e disse:  

―  Não encontro sua ficha. Perdi a calma diante da última mentira.  

― Belo secretário de associação que o senhor me saiu! Totalmente desorganizado...Nem uma simples ficha, no seu próprio fichário você consegue achar...  

― Irmão o que é isso? Nunca nenhum teologando falou assim comigo!  

― O senhor já havia chamado algum de mentiroso? Injustamente? Porque a minha ficha prova a verdade.  

― Nunca disse ao pastor Guilhém e nem ao senhor que havia concluído o curso, pelo contrário, o pastor Guilhém disse, quanto anotou inclusive o nome da matéria que eu devia, que as horas que eu passaria no teológico para fazê-la não atrapalhariam em nada o meu trabalho em Moema.  

― Mas você não pode ir, já enviamos outro no lugar. Estava em pé olhando pela janela, de costas para ele. Quando ele disse esta última frase, virei e o olhei bem nos olhos:  

― O senhor quer que eu vá então para casa. Ele disse que sim. Continuei:  

― É fácil para você, que se senta numa poltrona macia, e que tem seu salário certo, no final do mês mandar um chefe de família para casa sem o emprego prometido.  

― Você se esquece que me impediu de ir colportar, para que eu descansasse, e que no final do mês me daria um adiantamento de salário? Você não sabe que é justamente nos meses de julho, dezembro, janeiro e fevereiro, que o estudante colportor ganha seu sustento para o ano todo?  

― Esqueceu que sou casado e tenho um recém nascido em casa?  

―  É verdade, disse ironicamente, eu não li a sua ficha...

― Você leu sim, seu mentiroso e agora tenho que ir para casa, confiando em Jesus, que certamente não deixará minha família passar necessidade. Eu estava visivelmente transtornado, e para não dizer coisa pior, retirei-me abruptamente da sala.  

Apesar de começar a colportar com um mês de atraso, nada faltou ao meu bebê, nem a minha esposa e a mim também. Não preciso relatar o olhar triste da minha companheira quando lhe falei que não teria o chamado. Quem é casado, sabe do que estou falando.

Soube, depois, que o pastor Getúlio havia mandado um filho de pastor para Igreja de Moema. Todas aquelas mentiras, só para encobrir este fato tão corriqueiro na obra. Sabemos que os filhos das famílias tradicionais, das oligarquias que existem, tem a preferência em tudo. Fazem o que querem, sem dar satisfação a ninguém. Foi um Sarli, se não me engano, que foi no meu lugar. Sarli, Reis, Borba, o que importa? São todos uns sepulcros caiados, de marca maior. Apossaram-se da herança dos santos, assim como Satanás, se apossou da herança de nosso pai Adão, através da mentira.

Essas famílias mentem, prejudicam, denigrem, oprimem, perseguem, enfim fazem de tudo pelo poder eclesiástico. Longe de quererem servir a Jesus, muito pelo contrário, nem ao menos tiveram um encontro com Ele. Nem querem. Já, há muito tempo fizeram sua escolha: o mundo e seus prazeres.  

Não é de se estranhar, porque os líderes do tempo de Jesus, haviam feito essa escolha também. A tal ponto, que quando o Pai pensou: Vou mandar meu Filho, para falar com estes lavradores, certamente Ele, eles vão respeitar. Os lavradores, vendo o herdeiro de tudo, o mataram, para que a herança fosse deles.

Vocês acham meus queridos irmãos que esses homens querem que Jesus volte, para arrebatar das mãos deles o patrimônio de bilhões de dólares, que eles empregam com seus próprios prazeres, das suas esposas levianas e de seus filhos mimados?

Fiquei sabendo, tempos depois, através de um pastor amigo, que fazia parte da mesa da paulista sul, que eu, quando fui finalmente chamado, não duraria muito no campo, por ter um inimigo ferrenho, dos tempos do teológico, a saber, o mentiroso Getúlio Farias.  

Ele me odiou, por tê-lo pego naquele flagrante e principalmente por ter tido a coragem de ter lhe dito isso face a face. Ele nunca me procurou, para tirar isso a limpo. Preferiu a arma dos homens covardes: A perseguição silenciosa e constante.

Sei que os anos que passei na associação paulista como ministro, foram todos tremendamente dificultados por esse filho de Satanás. Por ele e por outro que ele jogou contra mim, como me disse o amigo mesário: o pastor Osmar Reis, presidente da então paulista sul. Ele preferiu acreditar nas mentiras do secretário, a vim falar comigo, conforme preceito bíblico. Mas esses homens não estão nem aí para as Escrituras. Fazem dela um meio de ganhar dinheiro fácil.  

Por essas voltas que a vida dá, nos pregando peças, minha esposa que é professora, veio a trabalhar, numa escola, particular, cujo dono era filho do Getúlio. Ele foi logo, no primeiro dia, dizendo para ela:  

― Sei que seu esposo é pastor. Sei também que meu pai maltrata muito os ministros sob seu comando.  

― Então o que você não estará pensando de mim, nesse momento? Não sou igual ao meu pai, sou totalmente diferente.  

― Uma vez, vi um pastor, pedir a ele uma segunda chance. Aquele homem chorou, na minha frente, alegando ter família. Meu pai foi inflexível. Quando o pastor se retirou, disse-lhe: Pai, dê uma chance para esse coitado, se não for por ele nem pela família dele, faça por mim que sou seu filho. Então ele me respondeu secamente: Nunca me meti nos teus negócios, não se meta, portanto nos meus. Mas saiba, que eu sou diferente dele, entendeu?

Minha esposa narrou para mim esse diálogo. O que posso mais dizer aos irmãos, diante deste fato? São esses homens que lideram vossos ministros. E vocês, meus amados irmãos, muitas vezes me perguntaram, quando eu pastoreava ainda:  

― Por quer Jesus não volta, pastor?

Sem comentários.

Ex-pastor K.

P.S: Coloque, como sempre, o título que quiser, Robson. Quanto à trindade, li os artigos que me pediu. Entendo, agora sua posição. Li também um artigo excelente, do pastor André Reis. Tenho que estudar mais o assunto. Mas primeiro darei prioridade ao que comecei: Contar minha história e deixar que os irmãos julguem minha causa. Alertá-los também sobre esta apostasia que tomou conta da nossa liderança, e confortar outros que estão na minha situação. Um grande abraço, deste teu servo em Cristo Jesus.

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