Árabe Morre para Salvar Menino Judeu

Um pedreiro palestino morreu hoje depois de uma grande luta pela sobrevivência. No sábado, mesmo não sabendo nadar, ele se jogou em um lago para salvar um menino judeu que gritava por socorro. O episódio comoveu Israel.

Buquês de flores enviados por desconhecidos encheram o corredor do departamento de reanimação do Hospital Poria de Tiberíades onde, onde Omari Jada, de 24 anos, estava internado. Sua abnegação manifestou-se justamente no dia em que o rabino Ovadia Yosef comparou os palestinos a "víboras".

Muitos, ignorando que ele já havia morrido, continuavam telefonando pedindo notícias sobre o homem que no sábado jogou-se nas águas do lago de Tiberíades para salvar um menino judeu, Gosha Lepatev, de seis anos, que não conseguia chegar à margem. segundo seus familiares, Omari não sabia nadar e, apesar disso lançou-se no lago ao ouvir os gritos de Gosha.

"Comecei a engolir água - explicou posteriormente o menino. Gritei até que vi esse homem de roupa vermelha perto de mim. Agarrei-me fortemente a ele para manter-me na superfície. Nunca esquecerei seu rosto".

Omari o levantou, mas também foi arrastado pelas águas: completamente extenuado, implorou para que alguém salva-se o menino. Lançou-se então ao lago um policial, que conseguiu levar o garoto até a margem. Omari já estava longe. Muitas pessoas tentaram em vão salvá-lo, mas só depois de vinte minutos conseguiram chegar com ele à margem.

Omari Jada não era bem-vindo em Israel. Sem a permissão necessária, ele havia se "infiltrado" na sexta-feira com dois amigos e passado a noite na praia. No sábado à tarde ele deveria regressar a Habla, onde o esperavam seus dois filhos - Malek, de dois anos, e Viara, de 10 meses - e sua mulher, Kafya, no sexto mês de gravidez.

Em torno de sua cabeceira, no hospital de Tiberíades, reuniram-se seus parentes - todos muçulmanos praticantes - e os familiares do menino, judeus emigrados da Rússia e residentes em Nazaré. Apesar do pessimismo dos médicos, juntos rezaram pedindo por um milagre. "O destino fez de nós uma única família", disse a mãe de Gosha, Tanja.

"Não me entristece pensar que meu filho se sacrificou para salvar a vida de um menino judeu", disse o pai de Omari, Abdel Halim Jada. "Judeus, árabes, qual é a diferença? Somos todos seres humanos. Eu teria feito a mesma coisa no lugar de Omari". Abdel disse só esperar que "Omari vá para o paraíso e que esse episódio sirva de lição de comportamento para muçulmanos e judeus".

Enquanto isso, o rabino Ovadia Yosef, líder espiritual do partido ortodoxo Shas, tentou recuar depois de ter provocado um escândalo com suas declarações sobre as vítimas do Holocausto (reencarnações de grandes pecadores) e sobre os árabes (víboras) mas não convenceu. Um jovem judeu foi preso hoje na proximidades de sua casa que dizia estar decidido a "meter uma bala na cabeça de Yosef".

Na verdade, o jovem estava desarmado e aparentemente não tinha como concretizar sua ameaça. Entretanto, como filho de judeus que escaparam dos campos de concentração, o jovem compartilhava, da sua maneira, a indignação de milhares de pessoas ao saberem que, para Yosef, o Holocausto foi nada menos do que um instrumento divino para "colocar as coisas em seus lugares", castigando seis milhões de almas pecadoras.

Debaixo da chuva de críticas provocada pelo sermão de sábado, interpretada como uma espécie de justificação metafísica do genocídio cometido pelos nazistas e uma bomba contra o processo de paz com os palestinos, Yosef declarou que ele também "carrega o luto pelo Holocausto".

http://www.terra.com.br/cgi-bin/index_frame/mundo/2000/08/07/072.htm 

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