Mal da Igreja: Ausência de Reflexão

2001, início de um novo século. Século das esperanças. Esperança de maior compreensão entre os homens. Esperança de um novo despertar da humanidade para os valores morais e espirituais pregados por Cristo. Esperança da concretização do mais acalentado sonho dos filhos de Deus de todos os tempos, a Volta de Jesus &m Glória e Majestade.

Os adventistas, aqueles que aceitaram de coração a Tríplice Mensagem Angélica, olham expectantes para o futuro. Com a mão sobre os olhos, procuram divisar no horizonte dos acontecimentos sociais indicativos da presença da pequena "nuvem" que há de crescer, iluminar a Terra, ofuscar os olhos dos grandes e poderosos e encher de júbilo o coração dos fiéis.

Há 137 anos completos, a Igreja Adventista, como instituição, vem proclamando essa "Bem-Aventurada Esperança", que foi tão cara aos primitivos cristãos e aos nossos pioneiros e que ainda é preciosa para muitos de nossos dias. Essa Igreja cresceu, expandiu o seu "território", consolidou-se doutrinariamente e como instituição e é considerada, pelos seus membros mais amadurecidos, como a "Igreja do Deus Vivo".

No entanto, membros e líderes estão encontrando dificuldades para administrar alguns problemas internos surgidos em decorrência do "tardar do esposo". Problemas que bem refletem a sua condição laodiceana ou a ausência de azeite em muitas lamparinas.

Estamos vivendo uma estranha situação que denomino de "SÍNDROME DAS FAMÍLIAS VÍTIMAS DE UM TERREMOTO". As famílias vítimas de um terremoto dão graças a Deus quando ouvem os gemidos de seus entes queridos, sob as ruínas. Esse gemido, ainda que nessa situação nada favorável, acende nelas um facho de esperança e passam da lamentação à ação e ao desejo de que o socorro chegue a tempo.

Assim vivemos nós, os pais e líderes de igrejas. Damos graças a Deus quando um membro da família canta em algum conjunto, ou ainda não trabalha aos sábados, mesmo que sua vida seja um exemplo de indiferentismo religioso. A presença de um jovem na Escola Sabatina faz pulsar o nosso coração ainda que saibamos que está ali por mero costume ou por alguma pressão paterna. Damo-nos por felizes em ouvir esses gemidos" sob os escombros da sua indiferença, na esperança de que alguém inicie um movimento de soerguimento espiritual em breve e que eles atendam ao apelo.

Ao mesmo tempo, angustiamo-nos quando vemos que aqueles que se propõem a ajudá-los são "leigos" em socorro. Alguns, embora movidos de boa intenção, não sabem por onde começar e nem como agir.

Há anos deixamos de ser o povo da Bíblia, no sentido de ter pleno conhecimento do seu conteúdo e sabermos manuseá-la com destreza. Falta-nos convicção em algumas doutrinas. Nosso parco conhecimento doutrinário é tão patente que os estudos elaborados para discussão em pequenos grupos são excessivamente elementares e alguns ainda têm dificuldades em ministrá-los.

Bem sabemos que a guarda dos mandamentos (especialmente o sábado) não nos salva, mas já não sabemos porque guardá-los. Sabemos que ser adventista é não ser católico, espírita ou pertencer a outra denominação evangélica qualquer, mas talvez não saibamos a diferença.

Que mais, além da guarda do sábado, nos distingue? E as profecias, o que significam elas para nós? São ainda a espinha dorsal da nossa mensagem? Se ainda têm lugar de destaque em nossa crença, onde estão os nossos sermões sobre profecias? Há quanto tempo não se ouve mais sobre o santuário, expiação, juízo vindouro, chuva serôdia, etc?

Daniel e Apocalipse foram escritos apenas para falar de Cristo? Por que será então que usam uma linguagem tão estranha e não aquela linguagem simples e direta, dos evangelhos? Se tudo é tão simples, como nos apresentam hoje, porque será que Ellen White e seu grupo passavam horas inteiras em solene investigação das Escrituras para que pudessem compreender a verdade para esse tempo?

Temos hoje uma mensagem simplificada, com excessiva ênfase evangélica. Será uma forma de acalmar os membros, de evitar excitação e desestimular as interrogações? De fato, nossa pregação tem um efeito calmante, mas infelizmente tem também o efeito destrutivo de não levar à reflexão, de não exigir comprometimento. A ausência de reflexão tem sido o mal da Igreja.

Parece que não gostamos de membros que pensam e questionam. Será por isso que não nos empenhamos em despertar os nossos jovens?

A entrega de uma mensagem de acentuado conteúdo profético, e que representasse um chamado à uma tomada de posição poderia escandalizar alguns, mas por certo produziria reflexão e solidificaria os que decidissem permanecer. A igreja adquiriria forma e os membros teriam um direcionamento.

Há uma tarefa para cada pregador, líder, professor da Escola Sabatina, coordenadora do Ministério da Mulher e departamental da Associação. Há uma tarefa grandiosa: tentar remover os escombros espirituais e trazer-nos à vida. -- Prof. Antônio Sales. Formado em Matemática e Mestre em Educação. É professor de Matemática na Uniderp e integrante da Equipe da Divisão de Políticas e Programas para o Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande, MS. E-mail: a.sales@terra.com.br 

Fonte: Reproduzido sem permissão do Jornal Âncora, número 73, julho de 2001, pág. 2.

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