Quem Usa Minissaia Não Vai Para o Céu?

A publicação isolada do primeiro volume da série Testemunhos para a Igreja somada à ação lenta e centralizadora do Centro de Pesquisas Ellen White de Pesquisas, que não cumpre seu papel de divulgação e orientação sobre o correto uso das mensagens do dom profético, podem estar causando problemas em algumas igrejas adventistas brasileiras onde ainda existem irmãos preocupados em pautar sua vida pelas recomendações inspiradas do Espírito de Profecia, através da Sra. White. 

Nesse volume dos famosos Testimonies, sempre citados e nunca disponibilizados em português, o leitor tem acesso a apenas parte de seus primeiros conselhos à igreja e não, uma visão geral de suas orientações, como a que resulta da consulta aos três volumes dos Testemunhos Seletos. Um dos aspectos em que o problema pode ser mais facilmente verificado é o da chamada "reforma do vestuário". 

A dificuldade surge pela inclusão de apenas parte das orientações da irmã White quanto ao tema. Referimo-nos especialmente aos capítulos "Conformidade com o Mundo" (págs. 131-137), "Uma Pergunta Respondida" (págs. 251-252), "A Causa no Leste" (págs. 420-422), "Extremos no Vestuário" (págs. 424-426), "A Reforma do Vestuário" (págs. 456-466) e "O Traje da Reforma" (págs. 521-525.)

É uma citação fora do contexto deste último capítulo que nos parece estar causando maiores problemas. Diz a serva do Senhor: "Recomendo enfaticamente que haja uniformidade no comprimento do vestido. Diria que aproximadamente 23 centímetros estão de acordo como as minhas visões sobre o assunto." Pág. 521. E com base neste pequeno pedaço de um parágrafo, aqui e ali haveria irmãos muito zelosos dispostos até a medir com uma régua o grau de consagração de irmãs adventistas.

Para opor-se a eles, levantam-se pastores despreparados, que não acreditam no poder diálogo e tentam simplesmente impor seu ponto de vista, dizendo que "a Igreja Adventista não possui qualquer doutrina ou recomendação explícita sobre o modo de vestir de seus membros", como aconteceu recentemente na cidade paulista de Mira Estrela.

Entre a opinião de um pastor que não é capaz de parar para conversar, arrazoar e argumentar biblicamente, e o que parece dizer a pena inspirada, é óbvio que os irmãos se radicalizam em seu posicionamento fundamentado nesse e outros trechos isolados dos Testemunhos.

Que diferença faria se os pastores explicassem aos irmãos que:

1. O primeiro estilista que o ser humano teve foi o próprio Deus! - Na criação de Adão e Eva, deu-lhes olhar puro e inocente, que conferia completa ausência de malícia mesmo à observação da nudez do outro. Era como se o casal trajasse vestes de luz. Tão logo entrou o pecado no mundo, imediatamente surgiu a necessidade humana de proteger o corpo, cobrindo-lhe a nudez.

"Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira, e fizeram cintas para si." Gênesis 3:7. Perceba que a raiz do problema residia na perda da inocência de nossos primeiros pais. Seus olhos agora percebiam a realidade sob uma outra lente, o filtro da maldade. Isso os fez sentirem-se vulneráveis, ao olhar do outro e ao olhar divino.

Deixaram de se enxergar como criaturas perfeitas de Deus, Seus filhos recém criados. Assim, perderam o bom conceito que tinham de si mesmos e passaram a ver um ao outro com outros olhos. Olhos escurecidos pelo pecado, que não mais lhes permitiam ver o brilho da justiça divina ao redor de seus corpos.

Jesus Cristo deixou claro e está registrado nos Evangelhos que a luminosidade do corpo está ligada à pureza dos olhos. "São os teus olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso. Se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas." Mateus 6:22-23. Foi o que aconteceu com Adão e Eva.

E talvez tenha sido por essa razão que Ele, em lugar de dizer que aquela que usa minissaia ou blusinha de alça comete pecado, recomendou: "Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela. Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno." Mateus 5:27-28. 

O problema está nos olhos daquele que contempla o outro com intenção impura. Apesar disso, desde que Adão e Eva tiveram que deixar o Paraíso, o próprio Deus reconheceu a necessidade humana de proteção adicional através de roupas. 

2. O segundo estilista da história do planeta foi o próprio homem, mas Deus lhe fez ver que, como Criador, era o Ser mais indicado para decidir que tipo de roupa o casal deveria usar dali por diante.

"Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu." Gênesis 3:21. Meu irmão, se uma roupa poderia ser recomendada como o modelo bíblico original, adequado aos que se apegam não aos princípios, mas a regras, obviamente seria esta. Feita pelo próprio Deus! Mas quem se habilita?

O versículo citado relembra também as freqüentes comparações bíblicas, envolvendo roupas e espiritualidade. Adão e Eva que, então, sentiam-se nus, desprotegidos perante o olhar perscrutador de Deus, um dia seriam cobertos pela justiça de Cristo, "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29.

Os israelitas deveriam colocar uma fita azul em suas vestes! (Números 15:38-41.) Assim, aonde quer que fossem, a fita lhes identificaria como adoradores de Javé. Um lembrete para eles e um sinal distintivo para os que os contemplassem. 

Reconhecem os outros que você é cristão pelo modo como se veste? Faria diferença para você portar em sua roupa um sinal característico e inconfundível de "crente" 24 horas por dia? Ou há momentos em que é melhor que ninguém saiba que você é adventista? No caso dos homens judeus, mesmo que tirassem a roupa, poderiam ainda ser identificados como tais pela circuncisão. 

3. A Bíblia ensina, portanto, que pode haver íntima relação entre o modo de vestir-se e a religião interior. 

A Sra. White reconhecia isto. Para ela, nossas roupas, nosso jeito de conversar, a maneira como nos alimentamos, como nos portamos nos negócios, tudo pode revelar nossa condição espiritual interior. 

Foi por isso que, em todos esses capítulos do Testemunhos para Igreja, Vol. 1, repetidas vezes, a serva do Senhor recomenda que evitemos demonstrar preocupação excessiva com o vestuário, ainda que a intenção seja influenciar o mundo com uma boa aparência. Ostentação, gastos excessivos com roupas, busca de aprovação através da roupa são por ela condenados. 

A instrução é que nos vistamos modesta e economicamente. E que o nosso modo de vestir não constitua tropeço para os descrentes. Não devemos parecer excêntricos ou singulares por causa de nossa roupa. "Nem chiques demais, nem relaxados ou esquisitos demais", talvez ela dissesse hoje. 

Convém-nos evitar qualquer estilo de roupa que destrua ou diminua nossa influência sobre o mundo. Roupas características de outros grupos religiosos, que possam fazer com que sejamos confundidos com estes, também deveriam ser evitadas, conforme a sugestão inspirada.

Conforto, decência, modéstia, higiene, simplicidade, bom gosto, são alguns dos princípios sugeridos na escolha do vestuário adequado. Outro conselho da Sra. White, encontrado no mesmo livro, recomenda não colocar a questão das roupas em pé de igualdade com nossas doutrinas fundamentais:

"Às irmãs cujos maridos se têm oposto ao uso do vestido mais curto, têm solicitado meu conselho. Aconselho-as a esperar. Não considero a questão do vestuário de tão vital importância quanto ao sábado. Com respeito ao sábado, não pode haver nenhuma hesitação. Mas a oposição que muitos sofreriam se adotassem a reforma do vestuário, seria mais prejudicial à saúde do que os eventuais benefícios que o vestido poderia trazer." Pág. 522.

Observe que o ponto que se discutia naquele século era o uso pelas mulheres de vestidos ou saias um pouco mais curtos e não mais longos, como muitos discutem hoje. E as razões para essa reforma ou mudança, eram razões de saúde. O Grande estilista celestial orientou então às mulheres adventistas que por motivo de higiene não deveriam usar roupas que se arrastassem pelo chão, nem tão pesadas. Era essa a preocupação divina neste caso! 

A medida equivalente a 23 centímetros acima do chão sugerida pela irmã White visava, portanto, definir um limite razoável para esse distanciamento do solo no contexto da reforma de saúde. Porque na cabeça dos homens (e provavelmente de algumas mulheres mais ignorantes da época) não havia necessidade de subir tanto a barra da roupa. 

Assim, mais uma vez, a maldade estava no coração do marido ciumento que desconfiava que outro macho poderia vir a cobiçar sua fêmea caso contemplasse seus belos tornozelos!

4. Um pouco de história da época, contada pela própria Sra. White, pode nos ajudar a compreender melhor toda essa questão da chamada "reforma do vestuário".

Está no livro Crede em Seus Profetas, de Denton E. Rebok, págs.229 a 231, 3ª edição, da Casa Publicadora Brasileira:

Foi em princípios e meados da década dos sessenta [no século XIX] que se viu em nossas fileiras a maior agitação por causa da questão da reforma do vestuário feminino. Em razão dos extremistas e dos oponentes das mudanças no modo de vestir, a Sra. White deixou cair o assunto por vários anos. Bem pouco mais se ouviu sobre a questão entre nossos escritos até por volta de 1897, quando alguns indagaram por que a reforma específica do vestuário não estava sendo usada, e desejaram reviver o assunto. A Sra. White escreveu:

"Em resposta às perguntas que me têm chegado recentemente com respeito a reencetar a reforma do vestuário, desejaria dizer que aqueles que têm estado a agitar esta questão podem ficar certos de que não têm sido inspirados pelo Espírito de Deus. O Senhor não indicou que seja dever de nossas irmãs voltarem à reforma nesse sentido. As dificuldades que uma vez tivemos de enfrentar não devem ser suscitadas outra vez. Não precisa haver agora ramificações em formas singulares de vestido. Surgirão continuamente coisas novas e estranhas, para levar o povo de Deus a falsas excitações, reavivamentos religiosos e curiosas expansões; nosso povo, porém, não deve ser sujeito a quaisquer provas de invenção humana que venham criar conflitos em nenhum sentido.

"A defesa da velha reforma do vestuário demonstrou-se a cada passo uma batalha. Não havia da parte de alguns uniformidade nem gosto no arranjo do costume, e os que se recusaram a aceitá-lo causaram dissensão e discórdia. Assim foi a causa desonrada. Porque aquilo que foi dado como uma benção tornou-se em maldição, foi removido o encargo de defender a reforma do vestuário.

"Havia certas coisas que tornavam a reforma do vestuário decidida bênção. Com ela, as anquinhas ridículas, então em moda, não podiam ser usadas; nem a saia longa, arrastando, varrendo a sujeira das ruas. Nos últimos anos, porém, foi adotada pelo mundo uma moda mais sensata de vestir, que não envolve esses aspectos objetáveis; e se nossas irmãs desejam fazer seus vestidos segundo esses modelos, simples e singelos, o Senhor não será desonrado por assim fazerem.

"Alguns têm pensado que a saia e o casaco mencionados em Testimonies, vol. 4, pág. 640, eram o modelo que todas deviam adotar. Não é assim; porém alguma coisa simples assim devia ser usada. Não me foi dado nenhum modelo preciso como regra exata a guiar todos em seu vestuário. Pensassem nossas irmãs que precisavam adotar um estilo uniforme de vestir, e surgiria o conflito, e aqueles cuja mente deve estar toda entregue à obra da mensagem do terceiro anjo, passariam o tempo em combate ativo quanto ao vestido exterior, com negligência daquela piedade interior, o ornamento de um espírito manso e quieto, de grande valor aos olhos de Deus.

"A questão do vestuário não tem de ser nossa verdade presente. Criar um caso a esse respeito agora, seria agradar ao inimigo. Ele se deleitaria em ver as mentes desviadas para qualquer assunto pelo qual pudesse criar divisão de sentimentos, e levar nosso povo a contenda.

"Rogo a nosso povo que ande cuidadosa e circunspectamente diante de Deus. Na questão do vestuário, sigam os usos até ao ponto em que eles estejam de acordo com os princípios da saúde. Trajem-se nossas irmãs com simplicidade, como fazem muitas, fazendo seus vestidos de fazenda boa e durável, apropriados para esta época, e não encha a mente a questão do vestuário. Nossas irmãs devem vestir-se de modo simples. Devem trajar-se com roupa modesta, com pudor e sobriedade. ...

"A operação do Espírito de Deus manifestará uma mudança exterior. As que se arriscam a desobedecer as mais positivas declarações da Inspiração, não darão ouvidos a quaisquer esforços humanos feitos no intuito de induzi-los a usar um vestuário simples, correto, sem adornos e apropriado, que não as torne de maneira alguma esquisitas ou singulares. Continuarão a expor-se, arvorando sua bandeira ao mundo. ...

"Digo portanto a minhas irmãs: Não entreis em discussões quanto ao traje exterior, mas estai certas de possuir o adorno interior de um espírito manso e quieto. Que todos quantos aceitam a verdade mostrem seu verdadeiro pavilhão. Somos um espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens. A falsa prudência, a modéstia fictícia, podem manifestar-se pelo traje exterior, ao passo que o coração se acha em necessidade do adorno interior. Permanecei sempre entregues ao direito." - Manuscrito 167, 1897. Citado em The Story of Our Health Message, de D. E. Robinson, págs. 361-364. (Grifo nosso.)

5. Mais importante que a roupa (aspecto exterior) é a condição espiritual (interior) de cada um de nós. Voltem-se para a Bíblia! Foi essa a última palavra de Deus, através da Sra. White, sobre esse assunto.

"Não seja o adorno das esposas o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido a o incorruptível de um espírito manso e tranqüilo, valor diante de Deus. ...Maridos, ... tratai-a como dignidade." I Pedro 3:3-7. Que os homens aprendam a apreciar a beleza interior das mulheres e as tratem com dignidade! Foi esse o conselho do apóstolo. É por essa razão que sugere a estas que não distraiam a nossa atenção com enfeites exteriores, a fim de que as aprendamos a amar e valorizar por aquilo que são por dentro.

Conclusão: A religião se revela também por aspectos externos, como o vestuário, mas a simples presença desses aspectos em nossa vida não significa que estejamos em situação espiritual mais elevada que os demais.

Esse encantamento e fixação com o que é apenas exterior é que ilude a Igreja de Laodicéia:

"Pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de cousa alguma, e nem sabe que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha de tua nudez, e colírio para que unjas os teus olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a todos quantos amo. Sê, pois, zeloso, e arrepende-te." Apocalipse 3:17-19.

Imaginamo-nos ricos em doutrinas distintivas e conhecimento religioso, mas não somos capazes de defender essas verdades biblicamente, ou as negamos quando começamos a ser discriminados por causa das mesmas.

Imaginamo-nos ricos em instituições, mas aos poucos vamos descobrindo que estas não nos pertencem de fato, porque estão em nome de uns poucos homens autoritários e corruptos, que delas se apossaram através de entidades jurídicas. Nem os nossos templos, cujos terrenos conseguimos através de doações e ajudamos a construir, nos pertencem! 

Imaginamo-nos ricos porque pertencemos à última igreja da história terrestre, Igreja Adventista do Sétimo Dia, mas descobrimos que esses mesmos homens tornaram essa expressão apenas uma marca registrada sobre a qual somente eles têm direito. "A Igreja Adventista do Sétimo Dia não existe", disseram representantes deles perante a Justiça.

E quando tudo isso nos é tirado pela remoção dos registros da Associação, iludimo-nos pensando que nos resta a religião individual, aquela que todos podem ver até através da roupa do corpo. Imprimimos nossos próprios folhetos, fazemos trabalho missionário, publicamos homepages, sustentamos obreiros independentes com nosso dízimo, chamamos o pecado pelo nome, não comemos carne, nossas mulheres se vestem com saias cuja barra ficam a 23 centímetros do chão... 

Nada disso, porém, impressiona à Testemunha Fiel e Verdadeira. Cristo recomenda que nosso zelo seja demonstrado através de atitudes interiores. "Sê, pois, zeloso e arrepende-te," é o Seu conselho.

"Que todos examinemos nosso coração, e neste tempo solene, arrependamo-nos dos nossos pecados e nos humilhemos diante de Deus. A obra está entre Deus e o próprio coração. É uma obra individual, e todos têm muito o que fazer sem ser criticar o vestuário, os atos e os motivos de seus irmãos e irmãs." Págs. 425-426. -- Robson Ramos.

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