Médico Adventista Inventa o "Publiseu"

"Publiseu" é um novo estilo de ser adventista, que mistura a humildade do publicano com a religião tida como exemplar, do fariseu, segundo propôs um médico adventista, que pregou na igreja que freqüento no culto deste domingo (noite de segunda, de fato). Poderia ser também "Faricano", em lugar de "Publiseu". Afinal, segundo o pregador, Jesus teria usado dois personagens extremos na parábola de Lucas 18:9-14, para nos induzir a optar pelo caminho do meio, o do equilíbrio.

Quando você pensa que já ouviu todas as barbaridades imagináveis, os representantes da Corporação (obreiros ou os chamados "oficiais" da igreja) surpreendem você com um disparate ainda maior! É como Deus disse repetidas vezes ao profeta Ezequiel: "Vês isto, filho do homem? Verás ainda abominações maiores do que estas." (Ezequiel 8:15) Em linguagem de hoje: "Você pensa que as coisas não estão bem na igreja? Pois, saiba que ficarão bem piores!"

A mensagem bíblica foi completamente distorcida. O fariseu a quem Deus não justificou, foi elogiado pelo médico e o publicano, perdoado e aceito por Deus, teve todos os seus pecados relembrados pelo pregador!

O conselho da Testemunha Fiel e Verdadeira à Igreja de Laodicéia, para que a igreja deixe de tentar o equilíbrio entre o quente e o frio, foi contrariado. Jesus nos diz para abandonarmos a mornidão, decidindo-nos por um extremo ou outro, enquanto o pregador propõe a religião do mais ou menos.

Mais ou menos quente, ou mais ou menos frio, é sinônimo de morno. Esse falso equilíbrio espiritual provoca ânsia de vômito nAquele que por nós intercede no santuário celestial, de modo que corremos o risco de não ser mais reconhecidos por Ele como fiéis.

A impressão que tive foi que o duplo objetivo do sermão era (1) estimular a maioria dos ouvintes a permanecer como está em sua vida espiritual e (2) desestimular aqueles poucos que percebem que há necessidade de mudanças em vários níveis de nossa religião, tanto no aspecto individual quanto institucional.

Um objetivo secundário poderia ter sido colocar a maioria acomodada contra a minoria incomodada.

Outro alvo da mensagem pode ter sido também o coração do próprio pregador, que, talvez, estivesse precisando justificar para si mesmo o fato de continuar servindo como ancião da igreja e defendendo à Organização sempre que possível, embora tenha conhecimento de tudo o que acontece dentro dela, especialmente na chamada "área da saúde" adventista.

Importante, porém, foi o objetivo com que o Mestre Jesus narrou essa parábola:

9  Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros:
10  Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano.
11  O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano;
12  jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.
13  O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!
14  Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.

Ora, se Jesus Cristo propôs a parábola "a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros", fica evidente que Ele queria ensinar que aqueles que desprezavam os outros, estavam errados, porque se consideravam justos, confiando em si mesmos.

Dicas equivocadas

Essa é a lição principal da parábola e, em torno dela, é que deveria ter girado o sermão. Mas esse nosso irmão médico interpretou-a como "Dicas de Jesus Cristo sobre o que fazer para receber bênçãos de todo o tipo, seja financeira, de saúde, familiar ou espiritual".

Resumindo, concluiu que é preciso agir como o fariseu: ir a igreja, orar, não roubar, não ser injusto, nem adúltero, jejuar duas vezes por semana, dar o dízimo, não sentar nos últimos bancos, não se comparar aos outros, sobretudo não criticar, não acusar, não se preocupar em mudar os outros nem a igreja e esperar intimamente pela misericórdia de Deus, como publicano. Sejamos, pois, publiseus!

Assim, a lição bíblica principal foi colocada de lado para favorecer os interesses da liderança da denominação, que prefere membros apáticos, que não sejam dados a questionamentos. Pior, Jesus Cristo mesmo acaba condenado por Sua parábola! Estivesse o médico-pregador com a razão e Ele jamais poderia ter censurado os fariseus, criticando sua conduta através dessa pequena história, pois, embora não tivesse pecado, estaria dando um péssimo exemplo a Seus seguidores.

Não percebeu o pregador que Cristo não só criticou os fariseus, mas, sim, ridicularizou-os diante de todos os que O ouviam. Costumo dizer que foi uma espécie de "piada didática", a anedota do Santarrão Metido e o Pilantra Arrependido. É bem isso, porque a suposta religião dos fariseus era apenas exterior, sua justiça não lhes tocava o interior.

Foi por essa razão que a oração do fariseu não atravessou o teto da igreja. Ele orava "de si para si mesmo". Não falava com Deus. Não era uma oração o que ele estava fazendo. Era um auto-elogio. Em lugar de justificação, queria receber os cumprimentos de Deus. Queria que Deus lhe desse parabéns por sua religião!

Enquanto o publicano foi à igreja para ver a Deus, o fariseu esteve lá para ser visto por Ele... É a parábola do adorador certo e do adorador errado, que falava consigo mesmo, porque confiava em si mesmo para a salvação. Confiava em suas próprias obras e não sentia necessidade de que Deus lhe perdoasse e transformasse o caráter! Para completar, confiava tanto em si mesmo que se achava o máximo e desprezava os demais.

Bênçãos espirituais no presente

O publicano "não ousava nem levantar os olhos ao céu", mas sua oração chegava até lá. Porque orou de maneira perfeita! Sete palavras: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador." Aquele que se apresentou com as mãos vazias diante de Deus, retornou para casa com estas cheias de bênçãos espirituais: perdão e poder para vencer o pecado.

A parábola não está falando de outro tipo de bênçãos, pois nesta vida Deus não oferece nenhuma vantagem material a Seus filhos. Nesse sentido, bons e maus estão em idêntica posição: "Porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos." Mateus 5:45.

O tão citado profeta Malaquias, aquele que cobrou dos sacerdotes de Israel o uso integral do dízimo no templo, ensina que a recompensa dos justos é futura:

"Vós dizeis: Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos e em andar de luto diante do SENHOR dos Exércitos? Ora, pois, nós reputamos por felizes os soberbos; também os que cometem impiedade prosperam, sim, eles tentam ao SENHOR e escapam. Então, os que temiam ao SENHOR falavam uns aos outros; o SENHOR atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao SENHOR e para os que se lembram do seu nome. Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que prepararei, diz o SENHOR dos Exércitos; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve. Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve. Pois eis que vem o dia e arde como fornalha; todos os soberbos e todos os que cometem perversidade serão como o restolho; o dia que vem os abrasará, diz o SENHOR dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo. Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas; saireis e saltareis como bezerros soltos da estrebaria." -- Malaquias 3:14-18; 4:1-2.

O segredo da bênção futura é viver com humildade no presente, consciente de que Deus tudo vê, tudo registra e a tudo recompensará. Pela fé, temos essa certeza de que, naquele dia, Ele não nos decepcionará.

O fariseu que se apresentou com as mãos cheias de justiça própria diante de Deus, não pôde levar nenhuma bênção espiritual para casa. Não havia lugar para elas, porque ele não sentia necessidade delas. Bastava-se a si mesmo, julgando não necessitar da graça e misericórdia divinas. Subiu ao templo para encontrar-se com Deus e fez papel de bobo, pois nem falou com Ele!

Conclusão

O publicano se deu bem, no final da história que Cristo contou. É o exemplo dele -- e não de um equilibrado "publiseu" -- que Deus quer que sigamos, tanto em nível individual como institucional.

Como indivíduos e como igreja, precisamos (1) reconhecer que desagradamos a Deus em pensamentos, palavras e ações; (2) aproximar-nos dEle, confiantes em Sua misericórdia; e (3) pedir-Lhe que nos perdoe os pecados e purifique de toda injustiça.

"Ó Deus, sê propício a mim, pecador. Ó Deus Deus, sê propício ao meu irmão, pecador. Ó Deus, se propício à igreja, pecadora." Essa, sim, deve ser nossa tríplice oração.

O fariseu representa também a igreja, tanto quanto representou o grupo dos que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos e desprezavam os demais. O espírito de auto-suficiência de Laodicéia, que imagina ser rica e de nada ter falta, quando, de fato, é miserável, pobre, cega e nua, é idêntico ao do fariseu.

O conselho de Cristo no Apocalipse indica que devemos adotar a postura do publicano e reconhecer nossa necessidade de ajuda divina. Vamos nós permitir que Ele, que está do lado de fora, à porta, batendo, entre em Sua igreja e a purifique, como fez com o templo judaico? Essa é a grande pergunta, de cuja resposta depende a aprovação ou rejeição final da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Aos que integram comunidades adventistas independentes, por força da ira da Organização contra o chamado Movimento Leigo, a mesma parábola poderá apresentar personagens diferentes. Um leigo fariseu e um publicano corporativo, por exemplo. Mas a lição que Cristo pretendia ensinar será sempre a mesma: "Todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado." -- Robson Ramos.

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