Aos Irmãos de Curitiba, PR:
Dá para acreditar na isenção de um teólogo profissional e que fez seu Doutorado pela Faculdade Católica Nossa Senhora de Assunção?

Caro editor,

Talvez você até já saiba, mas escrevo para informar que, no último final-de-semana, esteve aqui em Curitiba, o Dr. Rodrigo Pereira da Silva, do Unasp. E mais uma vez, a liderança marcou uma reunião, chamaram a todos do grupo anti-trindade e mais cerca de 40 líderes e pessoas influentes na igreja. Não avisaram direito o que seria a reunião e, de repente, disseram que aqueles que não acreditam na Trindade teriam que apresentar sua posição e o Dr. Rodrigo iria refutar.

Na verdade, não convenceu muito, mas ao final comprometeu-se a nos passar a prova da veracidade do texto de Mat. 28:19, pois este seria um argumento forte que faria os indecisos definir sua posição. Via e-mail, primeiramente, ele mais uma vez criticou os anti-trinitarianos e disse que disse que encontrou os originais do texto do Evangelismo, pág. 616. Como ele é arqueólogo, pode até ser verdade, né? :)

No final-de-semana, estará por aqui o Pr. Jonas Arrais, da Divisão, que também já agendou uma reunião com os interessados.

Bem, o Dr. Rodrigo, por fim, enviou ao pessoal lá da igreja este e-mail que segue em anexo, onde, depois de citar manuscritos e os chamados pais da Igreja (Católica!) em defesa da autenticidade de Mateus 28:19, traça uma espécie de roteiro aterrorizante daqueles que questionam qualquer doutrina da igreja.

Mas minha dúvida maior é a seguinte: Dá para acreditar na isenção de um Pastor que fez seu Doutorado em Teologia pela Faculdade Católica Nossa Senhora de Assunção?


E-Mail do Dr. Rodrigo

Olá pessoal,

...Ao contrário do texto trinitário de I João 4 (que é reconhecidamente apócrifo), Mateus 28:19 passa em todos os crivos técnicos disponíveis e pode ser tomado como legítimo. Bem, com isso eu creio ter cumprido com o prometido e mostrado que o texto existe. Porém, pelos e-mails que recebi, não sei se será o bastante para fazer alguns mudarem de idéia, (embora foi dito na frente de todos que bastava eu mostrar a procedência desse texto).

O máximo que vai acontecer é dizerem que tudo bem, reconhecem que o texto existe, mas que ele não prova a trindade, etc. etc., sobre isso eu já falei no domingo, mas não estou em condições de escrever outro texto pois há outros trabalhos me esperando e se tudo o que falei domingo, conforme disse-me o Jairo por e-mail, não refutou nada de suas considerações, só me resta orar por todos nós e deixar que Deus nos julgue pois só ele conhece o coração de cada um.

É incrível o número de "novas luzes" que tem surgido na Igreja. No Espírito Santo encontrei os Testemunhas de Iehoshua (que dizem que o nome Jesus é pagão e foi imposto na Bíblia pela Igreja católica); em Rondônia havia os que defendiam o sangue literal de Cristo no Santuário celestial; em Brasília os que defendiam a continuidade do ministério de Ellen White nas obras de Jeanine Sourtreau; em Minas os que defendiam a predestinação; no Rio Grande do Sul o problema era justificação pela fé e devolução de dízimos e vários outros mais.

O fato (e me perdoem, mas não posso deixar de comparar) é que todos esses grupos sempre têm o mesmo comportamento que quero deixar registrado para verem o que quero dizer (e sou testemunha ocular de vários casos). Deus sabe que essa comparação não é forçada, mas é fruto daquilo que tenho visto:

a) Não admitem, em princípio, que são um grupo (mas com o tempo começam a ter reuniões na casa de um e de outro até que alugam um salão, recolhem dizímo e se independem).

b) Fazem da Igreja Adventista seu arraial missionário. Abordam irmãos, confundem novos conversos e juram de pé junto que não querem criar dissenção.

c) juram até à morte que jamais intentam sair da IASD pois reconhecem que esta é a última igreja etc... mas com o tempo acabam saindo.

d) Muitos depois de algum tempo acabam se dissolvendo, mas o estrago já feito deixa marcas para sempre. O irmão Carreira em Belo Horizonte fez um belo estrago. Hoje está fora da Igreja e de qualquer religião. Muitos recém conversos que aderiram a ele na época (sua discussão era justiça pela fé) jamais voltaram, nem continuaram com ele. Com o Solano de Governador Mangabeira (BA) foi a mesma coisa (o assunto dele era dom de línguas) quinze pessoas de uma série de conferência o seguiram e jamais voltaram - Deus lhes cobrará essas almas, disso estou certo.

e) Prometem, nalguns casos, que mesmo não se dando por convencidos guardarão suas idéias para si e não polemizarão sobre o assunto. Mas na primeira oportunidade publicam suas idéias pelo púlpito, em reuniões particulares, etc.

f) quando a Igreja reunida, reconhece que seu comportamento é uma negação da doutrina e os disciplina, os mesmos se fazem de vítima como se fossem mártires perseguidos por causa da justiça, por pregarem o que é certo.

h) Sempre argumentam que não foram ouvidos pela igreja.

i) muitos começam aceitando Ellen White, depois de um tempo aceitam-na parcialmente até que negam declaradamente que ela fora inspirada por Deus.

Digo perante meu anjo relator que essa descrição é inspirada em vocês e que poderia ser escrita antes mesmo de Domingo, pois é o que tenho visto em vários lugares. Mas qualquer semelhança pode não ser mera coincidência, vocês não foram os primeiros e certamente não serão os últimos.

Daqui a pouco aparecerão outros em outro lugar do Brasil com outro ponto de vista e lá vamos nós novamente. O que será da próxima vez? Dom de Línguas? Questões sobre o dízimo? Dúvidas quanto à inspiração de Ellen White? Profecias apocalípticas? Não sei, mas sei que em breve eu, o Timm ou outro qualquer estaremos na mesma situação novamente.

Mas, tenho uma dúvida sincera e gostaria de saber o que vcs acham. Devemos continuar dando importância a esses "focos"? Às vezes penso que sim, pois há pessoas sinceras que pedem esclarecimento. Mas como na maioria absoluta das vezes os principais defensores da nova idéia jamais mudam seu pensamento, a despeito daquilo que lhes seja mostrado, pergunto se não é essa uma armadilha de satanás para nos fazer ficar ocupados com esse tipo de coisa e, com isso deixarmos de pregar o evangelho. Algo a se pensar...

Um abraço em Cristo, Pr. Rodrigo.


Nota do Editor

Conheço a íntegra do e-mail que reproduzimos parcialmente acima para que nossos leitores tomem conhecimento da maneira verticalizada como os leigos e seus questionamentos têm sido observados pelos ditos teólogos da igreja. Para eles, leigos em dúvida só causam problemas que os pobres teólogos, feito bombeiros doutrinários, são obrigados a conter antes que o fogo da heresia se espalhe...

Esquecem-se de que é o dinheiro das ofertas e dízimos desses mesmos leigos que os sustenta e custeia-lhes os mestrados e doutorados mesmo em faculdades católicas, com raras exceções.

E essa elite intelectual, que quase nada produz de realmente valioso para a igreja, a não ser a reprodução de novos "teólogos" tão arrogantes e pouco dados ao estudo da Bíblia em sua simplicidade quanto eles, ainda tem o desplante de indagar se devem ou não atender a essas convocações dos leigos e deixar de pregar o Evangelho.

Que pregação, que Evangelho? Tais pregações, quando ocorrem, versam sobre um evangelho ecumênico, incompleto e distorcido, que serve apenas de vacina contra o Evangelho Eterno, anunciado pelos verdadeiros adventistas do sétimo dia.

Que Evangelho irá pregar, que compreensão doutrinária defenderá, um teólogo que optou pelo conhecimento do bem e do mal nas taças impuras de Babilônia? Obviamente, será uma mensagem carregada de opiniões humanas, vãs tradições, autoritarismo (de quem pretende apenas ensinar e refutar, sem sequer supor a possibilidade de aprender com um leigo) e bem pouco de conteúdo bíblico mesmo.

Mateus 28:19

Ora, sobre Mateus 28:19, existem dúvidas exatamente porque a crença numa Trindade não é bíblica e se fundamenta em suposições filosóficas, derivadas das idéias pagãs acerca de múltiplas divindades. Para teólogos como o Dr. Rodrigo, porém, o plano da salvação deve ter visado conduzir a humanidade da adoração politeísta de deuses falsos  para a adoração triteísta de deuses verdadeiros, passando apenas temporariamente pelo monoteísmo judaico e um biteísmo preparatório com Jesus Cristo, que também se dizia deus, segundo eles. Na verdade, Jesus é o Filho de Deus.

A verdade não está com os teólogos, irmãos, mas, sim, com a Bíblia e preferencialmente com os leigos segundo o mundo, mas sábios segundo Deus. Pobres loucos para os teólogos, mas pequeno rebanho escolhido por Deus para dar-lhes o reino. "Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estulto para se tornar sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus." I Coríntios 3:18-19.

O verdadeiro mestre, segundo Deus, coloca-se diante dos homens como aluno, Dr. Rodrigo, procurando aprender com eles. Como também escreveu o apóstolo Paulo: "Nós somos loucos por causa de Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós nobres, e nós desprezíveis." I Coríntios 4:10. Portanto, no próximo encontro com os neo-unitarianos, desarme-se, ouça mais e deixe a Bíblia falar em lugar da tradição católica.

Note como faz sentido o que os leigos dizem sobre Mateus 28:19, Dr. Rodrigo:

1. Quando Cristo supostamente disse o que está registrado em Mateus 28:19, havia discípulos presentes. E obviamente, o que Ele disse foi ouvido e entendido por eles.

2. Portanto, um discípulo como Pedro, por exemplo, poderia nos dizer exatamente como foi que entendeu a ordem do Salvador.

3. Deveriam eles, a partir de então, batizar em nome de uma trindade, composta por três pessoas divinas que misteriosamente formam um único Deus? Em Atos 2:38, vemos Pedro conclamando seus ouvintes a se arrependerem para serem batizados em nome de Jesus e não em três nomes. Pedro explicou ainda que os batizados em nome de Jesus receberiam Espírito Santo como presente.

4. Suponhamos, porém, que Pedro nessa ocasião houvesse esquecido a ordem de Mateus 28:19 e deixado de batizar em nome da trindade... Teria a Bíblia uma outra evidência de como Pedro entendera a última ordem de Jesus? Atos 10:48 afirma que ele ordenou que Cornélio e os seus que deveriam ser batizados em nome de Jesus.

5. Assim, vemos que, como bem argumenta o irmão David do site www.present-truth.net, "Pedro deve ter entendido o imperativo de Jesus diferentemente do que a maioria dos trinitarianos compreendem hoje."

6. Será que Pedro estava sozinho em seu entendimento? Não. Em Atos 8:16, ele e João foram a Samaria encontraram um grupo que havia sido batizado em nome de Jesus por Felipe. Faltava-lhes apenas receber o divino presente de batismo, que era o Espírito Santo. Por isso, Pedro e João lhes impuseram as mãos e oraram por eles.

7. E o apóstolo Paulo, que dizia não ter recebido o Evangelho de nenhum homem, mas do próprio Cristo (Gálatas 1:12), batizava ele em nome da trindade? Quando visitou Éfeso, Paulo encontrou irmãos que conheciam apenas o batismo de João. Pois bem, Paulo, depois de instruí-los, batizou-os somente no nome do Senhor Jesus. Depois, colocou a mão sobre eles para que recebessem Espírito Santo. E eles falaram em línguas e profetizaram!

8. O que estamos dizendo é que não existe na Bíblia qualquer registro de batismo realizado em nome de uma trindade. Diante disso, como ressalta o irmão David do Ministério Verdade Presente (já citado), restam-nos três opções apenas: (a) os discípulos se rebelaram contra Jesus e desobedeceram Sua ordem de batizar em nome da trindade; (b) os discípulos entenderam a ordem de um jeito diferente do proposto pelos trinitarianos; (c) Jesus nunca ordenou que batizassem em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

9. Nos sete primeiros itens deste pequeno esboço, demonstramos que a ordem de Mateus 28:19 foi entendida pelos discípulos de modo diferente do que hoje defendem os trinitarianos, pois batizavam apenas em nome de Jesus. Poderia a terceira opção ser também verdadeira, ou seja, poderiam os discípulos ter entendido a ordem de maneira diferente porque, de fato, foi dada de modo diferente?

10. Estudiosos não comprometidos com a Igreja Católica e seus dogmas e mistérios, porque, certamente, não se pós-graduaram em nenhuma de suas instituições, afirmam que Mateus 28:19 pode ser fruto de um acréscimo posterior ao texto bíblico.

Uma das evidências citadas por esses estudiosos são os escritos de Eusébio de Cesaréia, do quarto século. Dezessete vezes nos textos que escreveu antes do Concílio de Nicéia, Eusébio cita Mateus 28:19 como: "Portanto, ide e fazei discípulos em Meu nome", sem mencionar a fórmula trinitariana. Nos escritos pós-Nicéia, a fórmula trinitariana é encontrada cinco vezes!

11. O contexto imediato de Mateus 28:19 adequa-se muito melhor a essa construção repetida tantas vezes por Eusébio de Cesaréia. Veja:

"Seguiram os onze discípulos para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes designara. E quando O viram, O adoraram; mas alguns duvidaram. Jesus, aproximando-Se, falou-lhes, dizendo toda autoridade Me foi dada no céu e na terra. Portanto, ide a todas as nações e fazei discípulos em Meu nome, ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século." Mateus 28:16-20.

a) Parte dos onze se ajoelhou perante Cristo, enquanto outros tiveram dúvida se deveriam fazê-lo, pois sabiam que só deveriam se ajoelhar diante de Deus.

    
Se você lê em inglês, clique neste link -- Matthew 2819 -- para ter acesso a informações confiáveis acerca da possibilidade de que a fórmula batismal trinitariana tenha sido acrescentada já no quarto século ao Evangelho de Mateus.

O teólogo responsável apresenta fortes evidências históricas para a defesa dessa posição, embora o Dr. Rodrigo prefira ignorá-las. Em defesa da posição doutrinária de seus patrões, o teólogo adventista, cujo título de doutor foi conferido pela Faculdade Católica Nossa Senhora de Assunção, desconsidera o testemunho de um dos mais importantes historiadores do cristianismo primitivo, Eusébio de Cesaréia.

Veja também estes links:

b) Diante da dúvida, Jesus lhes explica que havia recebido de Deus toda a autoridade no céu e na terra e que, portanto, poderia ser adorado de joelhos.

c) A concessão da autoridade divina a Cristo, possibilitou-Lhe ainda ordenar aos discípulos que fossem a todas as nações, fizessem discípulos e os batizassem em Seu nome, ensinando-os a guardar tudo que lhes dissera. (Veja Lucas 24:45-47.)

d) O Filho de Deus, com a autoridade e poder que recebera do Pai, promete então que estaria espiritualmente com eles todos os dias até o fim do mundo. (O Evangelho de Marcos confirma que Ele cumpriu essa promessa: "De fato o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-Se à destra de Deus. E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra por meio de sinais que se seguiam." Marcos 16:19-20.

Portanto, fica demonstrado, segundo o raciocínio dos leigos adventistas, que acrescentar outros personagens à última declaração de Cristo registrada por Mateus fere o contexto, tornando o texto confuso, pois lhe desvirtua o sentido.

12. Para encerrar, uma declaração da Sra. White que nossos teólogos prefeririam que não existisse, porque coloca em dúvida Mateus 28:19 e outras passagens que parecem favorecer o dogma da trindade:

"Vi que Deus havia de maneira especial guardado a Bíblia, ainda quando dela existiam poucos exemplares; e homens doutos nalguns casos mudaram as palavras, achando que a estavam tornando mais compreensível quando, na realidade, estavam mistificando aquilo que era claro, fazendo-a apoiar suas estabelecidas opiniões, que eram determinadas pela tradição. Vi, porém, que a Palavra de Deus, como um todo, é uma cadeia perfeita, prendendo-se uma parte à outra, e explicando-se mutuamente." Primeiros Escritos, págs. 220-221.

Ora, o único texto da Bíblia do qual até os trinitarianos, como o Dr. Rodrigo, têm plena certeza de que se trata de um inegável acréscimo é aquele que se encontra entre colchetes em I João 5:7-8 e favorece a trindade:

"Pois há três que dão testemunho [no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito; e estes três são um. E três são os que testificam na terra]: o Espírito, a água e o sangue, e os três são unânimes num só propósito."

Diante disso, se neste caso favoreceu-se a trindade e o Espírito de Profecia, através da irmã White, fala "nalguns casos", é muito provável, lógico até mesmo para os "leigos", que outros trechos que favorecem a trindade, como Mateus 28:19, sejam também apócrifos.

13. A mais recente edição da Bíblia de Jerusalém, Nova Edição, Revista e Ampliada, lançada em agosto de 2002 pela Igreja Católica, em nota de rodapé a Mateus 28:19, admite que a frase "batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, tenha sido acrescentada posteriormente ao Livro de Mateus:

"É possível que, em sua forma precisa, essa fórmula reflita influência do uso litúrgico posteriormente fixado na comunidade primitiva. Sabe-se que o livro dos Atos fala em batizar "no nome de Jesus" (cf At 1,5+;2,38+). Mais tarde deve ter-se estabelecido a associação do batizado às três pessoas da Trindade..."

Robson Ramos

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