Que Estranha Igreja é Essa, que Ora pela Morte de Seus Velhos?

 

Este é mais daqueles textos que escrevo com dor no coração. Porque no fundo não gostaria de precisar fazê-lo. Porque me sinto como se estivesse expondo a desconhecidos problemas íntimos de minha família. Porque temo pelas conseqüências deste relato. Imagino-me em situação semelhante à de uma menina que denuncia violências praticadas contra ela por seu próprio pai.

Ninguém me pediu para fazê-lo, muitos dirão que não deveria ter publicado isto, mas o faço porque julgo que não posso me omitir, nem permitir que tudo continue como está, sem que ao menos tenha tentado reverter o que está ocorrendo na Igreja Central de .................................................. .

Pode ser que o errado até seja eu, que não esteja avaliando a situação corretamente e tenha decidido fazer "tempestade em copo d'água", como afirma a expressão popular freqüentemente citada contra nós. De qualquer modo, em minha pretensiosa opinião, creio que os fatos que irei descrever mereceriam especial atenção do Presidente da Associação Sul-Mato-Grossensse e do Presidente da União Sul-Brasileira.

 

Se houvesse estado no culto deste sábado (16/08/2003) pela manhã como um repórter secular em busca de um furo sensacional de reportagem, por volta das 9h30 eu já estaria telefonando para a redação, eufórico, reservando com meu editor um espaço entre as manchetes da primeira página ou do primeiro bloco do telejornal.

"Igreja Pede a Morte de um de Seus Membros"; "De Joelhos, Adventistas Imploram pela Morte"; "Pastor Elogia a Morte e Faz a Igreja Clamar por Ela"... Para qualquer um desses títulos, a ilustração seria uma foto ou vídeo da congregação de joelhos, enquanto o pastor distrital pedia que Deus "recolhesse" ou acelerasse "o descanso", "o fim do sofrimento", ou, sem floreios, a morte de um irmão de 96 anos, que precisou ter suas duas pernas amputadas por problemas circulatórios.

Ao fim da oração realizada com esse objetivo específico, quase todos os presentes disseram "amém!", de tão acostumados que estão ao pessimismo e desequilíbrio emocional do pastor, que não deve ter completado 40 anos, mas já demonstra ser portador de uma estranha ansiedade, que o faz elogiar freqüentemente a morte como um sono, um descanso e até saudá-la como bem-vinda, como aconteceu na semana anterior, depois de anunciar que possui um seguro de vida no valor de cento e poucos mil reais que poderiam deixar sua família em situação muito boa.

PASTORES: AINDA QUE DITO EM TOM DE BRINCADEIRA, ISTO É UM SINAL CLARO DE QUE HÁ ALGO ERRADO E GRAVE PRESTES A OCORRER COM ESSE MOÇO, QUE PRECISA DE AJUDA, ANTES QUE UMA TRAGÉDIA ACONTEÇA. QUEM ESTUDA O COMPORTAMENTO HUMANO, SABE DO QUE ESTOU FALANDO.

 

Eu poderia falar das crises semanais de choro em todos os sermões que prega, e dos boatos que colocam em dúvida sua integridade psicológica, mas creio que isto já seja do conhecimento dos senhores. Se nada fizerem, serão responsáveis pelo que possa vir a ocorrer com ele, sua família e com a Igreja, cujas reuniões freqüento.

Antes da oração a que me referi acima, disse que estava autorizado pela família a apresentar o caso à igreja e a realizar tal pedido em oração. Aliás, já anunciou que o pedido será repetido no culto deste domingo.

Não estou duvidando que a família realmente o tenha autorizado. Mas coloco em dúvida a propriedade e a conveniência de estimular uma família já fragilizada e estressada com o grave problema de saúde de seu patriarca a envolver toda a igreja numa corrente de pessimismo e falta de fé, como se a remoção por decisão médica de parte do corpo seja situação tão inaceitável a ponto de se optar pela morte.

Na mesma congregação, temos um irmão tetraplégico, que é levado aos cultos numa cadeira de rodas, dois deficientes visuais, irmãos vítimas do câncer e outros portadores de necessidades especiais, dentre os quais eu me incluo. Ora, deveria ele, o irmão tetraplégico, ou aqueles que não podem ver, ou têm câncer, ou eu, ou todos os deficientes físicos, ou nossas famílias, rogar também pela nossa morte?

Não caberia ao pastor elevar nossos olhos para Deus, que é todo-poderoso e misericordioso, estando sempre disposto a nos dar forças para superar nossos problemas com fé, aguardando a bendita esperança do retorno de Seu Filho para pôr fim ao sofrimento e dor, enxugando de nossos olhos toda lágrima?

(Em sermão anterior, já faz alguns meses, o depressivo pastor disse no púlpito que nem todas as coisas contribuem para o bem dos que amam a Deus e que a afirmação de que "tudo posso nAquele que me fortalece" não deveria ser levada tão a sério... O título do sermão era: "Será que Deus se Importa?")

Não deveria o pastor reconhecer sua inabilidade ou despreparo para lidar com casos desse tipo e solicitar a ajuda de um pastor mais experiente, quem sabe o capelão do Hospital do Pênfigo, ou um psicólogo, uma assistente social, enfim profissionais devidamente habilitados para conduzir famílias envolvidas em situações dessa natureza?

PASTORES: SE DEUS POR ALGUMA RAZÃO NÃO NOS DÁ O PODER DE CURAR, COMO NO PASSADO, PEDIREMOS A ELE AGORA QUE MATE NOSSOS ENTE QUERIDOS PARA QUE NÃO SOFRAM? OU VAMOS PEDIR-LHE QUE NOS DÊ FORÇAS PARA QUE, COMO IGREJA, FAMÍLIA OU INDIVÍDUOS, POSSAMOS PERMANECER FIRMES NESSES MOMENTOS DE AFLIÇÃO?

 

Na semana passada, esse mesmo pastor narrou a experiência de um rapaz norte-americano, que foi à Guerra do Vietnã e lá perdeu suas duas pernas numa explosão. Antes de retornar para casa, o tal soldado teria ligado para os pais é dito que levaria consigo um amigo que perdera as pernas no combate, mas foi desestimulado pelo pai que lhe disse que seria muito trabalhoso. Dias depois, a família soube que o rapaz se suicidara, pois falava sobre si mesmo e não queria dar trabalho aos pais.

Embora o excessivo apego do referido pastor a histórias desse tipo possa, talvez, revelar algo acerca de sua personalidade frágil e negativista, no contexto do sermão em que a experiência esteve inserida, a mensagem era de que devemos aceitar nossos entes queridos e irmãos da fé como eles estiverem ou são, pois é assim que Deus também nos trata. Temo, porém, que o relato possa ter causado impacto negativo sobre a família que já lutava com o problema da amputação dos pés desse senhor.

"Ele já está com 96 anos bem vividos, de fidelidade a Deus e poderia muito bem descansar. Chega de tanto sofrimento", argumentou o pastor neste sábado, acrescentando os versículos: "Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos." Salmo 116:15. "Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas..." Apocalipse 14:13.

O que mais me surpreendeu foi a prontidão com que 99% da congregação se ajoelhou e acompanhou o pastor, com uma seqüência incrível de "améns", rogando a Deus que retire a vida do irmão, que sofre internado no CTI. Com argumentos semelhantes, um enfermeiro de Hospital Adventista nos EUA já "antecipou" a morte de vários pacientes idosos, crime pelo qual foi recentemente condenado; e há alguns anos, houve suicídio coletivo de centenas de seguidores do "reverendo" Jim Jones.

Por que não oramos todos pela cura desse irmão, ou para que Deus o capacite para resistir a dor, ou a ter forças para encarar com coragem essa nova fase da vida? Por que não fazemos do sofrimento dele um motivo a mais para pedirmos que a volta de Jesus Cristo seja abreviada a fim de que todo o sofrimento e miséria deste mundo cessem?

Que pastor é esse que faz toda a igreja prostrar-se diante de si, dizendo-lhe "amém", enquanto ora egoisticamente pela morte de um ancião para que a família seja poupada do sofrimento de lidar com alguém limitado pela velhice e amputações realizadas por decisão médica? Pede a morte, mas mantém as aparências, acrescentando ao final "seja feita a Sua vontade". É como se dissesse: "Nós queremos ou achamos melhor que ele morra e contamos com Sua ajuda, mas se não nos puder fazer esse favor, tudo bem..."

Nunca leu esse pastor o que Deus afirmou pelo profeta Ezequiel sobre a morte: "Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o SENHOR Deus."

Nenhuma família é biblicamente obrigada a preservar artificialmente e a qualquer custo a vida de alguém que esteja "desenganado", ou em situação terminal irreversível, mas a decisão de interromper a esse tratamento cabe unicamente à família. Não se pode envolver nela toda a igreja, nem atribuir essa responsabilidade a Deus, pedindo que Ele intervenha para tirar a vida de um filho Seu.

O mais incoerente e ilógico de tudo é que, no sermão que proferiu a seguir, o pastor discursou sobre a possibilidade cristã de superar todas as perdas, tendo fé em Deus no poder e misericórdia de Deus. O texto básico foi o relato da ressurreição do filho da viúva de Naim.

 

ÚLTIMA PARTE: PASTORES, VOCÊS LERAM A EDIÇÃO DE AGOSTO DE 2003 DA SÉRIE "PROVAI E VEDE", IMPRESSA E DISTRIBUÍDA PELA USB? PERCEBERAM O QUE É ENSINADO ALI SOBRE A MANEIRA COMO DEUS LIDA COM OS PECADORES?

Por terrível coincidência, esse material foi distribuído à entrada do culto deste sábado, na igreja em que o pastor acima é distrital. Daria também uma boa reportagem: "Pastores Adventistas Garantem que Deus Mata Ladrões que Roubem Seus Fiéi$!"

Ora, um deus que pune com a morte o roubo de R$ 110 praticado contra um dizimista, pode muito bem atender a orações pela morte de qualquer membro da igreja, desde que o dízimo dele esteja em atraso!

Até quanto tudo isso continuará ocorrendo, senhores? Até 2.300 denúncias como esta? Se for, está próximo, pois logo chegaremos lá. -- Robson Ramos


Nota do Editor: O irmão cuja morte foi pedida no culto de 16/08/2003, faleceu na madrugada deste sábado 23/08/2003. Em vez de sair para auxiliar e confortar a família enlutada, o pastor limitou-se a sorrir e até mesmo gargalhar, enquanto acompanhava, assentado na plataforma, divertido "sermão" apresentado por uma representante do chamado "Ministério da Mulher".

Aliás, durante a mensagem, toda a igreja foi convidada a fazer careta sisuda, mostrar a língua e gargalhar para ilustrar que "o coração alegre serve de bom remédio". O pastor sorriu o tempo todo, especialmente durante a piada do marido que confundiu um pedaço de sabão com um pedaço de queijo, foi estimulado pela esposa a comê-lo e, ao final, disse, com a boca espumando:"Tem gosto de sabão, mas é queijo."

A congregação mais uma vez foi estimulada a fazer uma viagem imaginária, no velho estilo dos promotores de sugestão coletiva. Mas a irmã que pregou não pode ser condenada, pois simplesmente reproduziu modelo de pregação que também está acostumada a ver na IASD.

Houve silêncio e reflexão apenas quando se fez referência a casos de violência familiar, registrados entre membros da igreja. Mas o clima na maior parte do tempo foi de alegria e louvor, embora uma família da igreja estivesse enlutada.

Nesse sábado, apenas um irmão me disse que havia lido o artigo acima e concordado com o que eu havia escrito. No culto de domingo à noite (17/08/2003), uma irmã me havia entregue um bilhete com uma passagem bíblica, que trazia a sugestão de não promover dissensões na igreja. -- Robson Ramos

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