IASD: Igreja Absolutista do Sétimo Dia

 

O Manual da Igreja afirma que a forma de governo eclesiástico adotada pela Igreja Adventista é a forma representativa. Segundo o Manual da Igreja esta é “a forma de governo eclesiástico que reconhece que a autoridade na igreja repousa nos seus membros, com a responsabilidade executiva delegada a entidades e oficiais representativos para dirigir a igreja.” - Manual da Igreja, pág. 24.

De acordo com este método de governo, todo o poder de decisão emana dos membros da igreja. Estes escolhem os líderes da instância administrativa superior (Associações) que irão liderar a igreja. Este método democrático é apresentado aos membros como um método inspirado por Deus.

Entretanto, a observação prática demonstra que o sistema administrativo adventista está longe de ser democrático ou representativo como apresentado no Manual. E, por isso, está muito longe do plano original de Deus para a sua igreja. Quantos membros leigos de sua igreja já tiveram a oportunidade de se reunir para debater e decidir qual seria a pessoa mais recomendada para assumir o cargo de presidente da Associação? Você já participou de uma reunião deste tipo? Foram apresentadas alternativas de pessoas para assumir o controle da Associação? Ora, não sejamos ingênuos, este tipo de decisão está muito longe do povo comum.

Alguns membros leigos eventualmente são chamados para participar como “delegados” das reuniões administrativas (chamadas de trienais, quadrienais, quinquenais), mas a prática revela que tais irmãos apenas comparecem para homologar as decisões que já haviam sido tomadas nos bastidores pelos administradores da instância superior. Isso significa, por exemplo, que no momento da eleição de um novo presidente de Associação quem exerce maior influência são os administradores da União, nunca os membros da igreja local.

Na verdade a igreja local não tem qualquer autonomia para eleger os administradores das associações. Se a igreja não consegue escolher o pastor distrital, como poderia escolher o presidente da Associação? Por esta razão afirmamos sem medo que errar que o sistema administrativo adventista está bem longe de um sistema representativo democrático. Definitivamente o poder não emana da igreja local, mas sim da instância superior. Se o sistema administrativo adventista não é representativo, então o que é?

Para descobrirmos qual é o modelo administrativo adventista, temos que coletar o máximo de informações sobre as práticas administrativas da igreja e comparar com os modelos administrativos de origem humana que conhecemos.

 

Sistema Absolutista

Para entender o sistema administrativo adventista temos que voltar aos séculos 16 a 18 e entender o que foi o sistema Absolutista. Com o surgimento do capitalismo, no final da Idade Média, houve a necessidade de se aprimorar as condições para o exercício do comércio. Isto foi feito através da unificação dos mercados consumidores, da tributação, da justiça, das moedas. Esta unificação só poderia ser concretizar-se através da centralização do poder. Foi neste contexto que surgiu o que chamamos de Estado Absolutista.

O modelo de governo Absolutista tinha várias características, muitas delas defendidas por filósofos que lançaram os fundamentos teóricos deste sistema. Dentre as características do Absolutismo podemos citar:

1.  Os poderes executivo, legislativo e judiciário estavam centralizados numa só pessoa, o Estado.

2.  O Rei era o representante político de Deus.

3.  O poder do Estado e o poder do Rei se confundiam.

4.  Os direitos dos cidadãos eram renunciados em favor do Rei.

5.  O Estado era parasitário e aristocrático.

Vamos analisar estas características do sistema Absolutista e compará-las com as características do sistema administrativo adventista.

 

(1) Centralização dos três poderes numa pessoa - Para compreendermos os efeitos da centralização dos três poderes numa pessoa, temos que entender cada um dos poderes separadamente. Basicamente, o poder legislativo tem a função de criar novas leis ou alterar as leis existentes, o poder executivo deve governar cumprindo a lei e assegurando que ela seja cumprida e o poder judiciário julga os casos onde alguma lei foi supostamente violada.

Num estado democrático cada um dos três poderes é exercido por pessoas ou grupos de pessoas diferentes. No Brasil, por exemplo, o poder legislativo é exercido pelos senadores, deputados e vereadores; o poder executivo é exercido pelo Presidente, Governadores de Estado e Prefeitos; e o poder judiciário é exercido pelos juízes de várias instâncias.

No sistema Absolutista, o Rei exercia o poder absoluto (daí o termo Absolutismo) através do controle dos três poderes: O Rei criava a lei, executava e julgava. Tratava-se de uma forma de ditadura. Montesquieu, um ilustre pensador francês que viveu na época do absolutismo, escreveu que para se evitar o despotismo, o arbítrio e promover a liberdade política, seria necessário separar as funções principais do governo: legislar, executar e julgar. "Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou a mesma corporação dos príncipes, dos nobres ou do povo exercesse três poderes: o de fazer as leis, e de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as desavenças particulares", dizia Montesquieu. Fica claro que no sistema democrático os três poderes devem ser exercidos por grupos diferentes.

Na igreja adventista, o sistema administrativo obedece os mesmos princípios do sistema absolutista. Os três poderes são exercidos pelo mesmo grupo: o clero (grupo de pastores e administradores). Os administradores da igreja elaboram e votam as leis (regulamentos administrativos, financeiros e doutrinários), estes mesmos administradores tem sobre si o poder executivo de administrar as entidades denominacionais (são presidentes de Associações, Uniões, Divisões) e em caso de suposta infração dos regulamentos denominacionais são os próprios administradores que julgam o infrator, liderando os tribunais (comissões ou conselhos com o objetivo de definir uma sentença). Se houver necessidade, estes administradores (presidentes de Associações) dirigem-se às igrejas locais para liderar reuniões de julgamento onde se aplica a temida “disciplina eclesiástica”. Você consegue perceber agora como os três poderes estão nas mãos de um mesmo grupo? Esta é a primeira característica do sistema Absolutista. Veremos outras características.

 

(2) O Rei era o representante de Deus na Terra - Para justificar a centralização de tanto poder na mão do Rei, os defensores do sistema absolutista no século 16 pregavam que o poder do Rei vinha diretamente de Deus. Desta forma o povo era levado a crer que a decisão do Rei refletia a vontade de Deus. Isso reduzia os questionamentos do povo que, via de regra, aceitavam passivamente as decisões arbitrárias do Rei entendendo que era a vontade Deus. Jean Bodin, um dos teóricos defensores do Absolutismo, escreveu:

“Nada havendo de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes para governarem os outros homens, é necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade com toda a obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a honra, pois quem despreza seu príncipe soberano despreza a Deus, de Quem ele é a imagem na terra."

Jacques Bossuet, outro importante defensor do Absolutismo, defendeu o Direito Divino dos Reis em seu livro “Política Tirada da Sagrada Escritura”. Ele dizia o seguinte:

“O trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus... Os reis... são deuses e participam de alguma maneira da independência divina. O rei vê de mais longe e de mais alto; deve acreditar-se que ele vê melhor, e deve obedecer-se-lhe sem murmurar, pois o murmúrio é uma disposição para a sedição."

Uma das consequências lamentáveis deste conceito é que os Reis estavam submetidos apenas a Deus, nunca ao povo. Por isso não se admitia questionamentos de improbidades administrativas contra o soberano. O povo não tinha o direito de questionar, investigar, exigir mudanças. Isto era entendido como um questionamento ao próprio Deus.

A mesma filosofia absolutista do século 16 encontra lugar hoje na Igreja Adventista do Sétimo Dia. A única forma de concentrar poder nas mãos de um pequeno grupo de administradores é pregando que o poder destes administradores deriva diretamente de Deus. Por esta razão, afirma-se como o bispo Bossuet, reclamar com os administradores da igreja equivale a reclamar contra o próprio Deus. E mais, os administradores da Igreja Adventista consideram e ensinam que eles devem prestar contas só com Deus, nunca com o povo.

Você certamente já ouviu a seguinte frase: “Se os administradores da igreja usam mal o dízimo eles terão que prestar contas com Deus”. Este tipo de argumentação é típico de um sistema de governo absolutista onde o governante está abaixo apenas de Deus tendo, portanto, a obrigação de prestar contas apenas com Deus, nunca com o povo. Como consequência temos a falta de transparência financeira na Igreja Adventista do Sétimo Dia que nega o fornecimento de prestação de contas detalhadas sobre o uso do dízimo.

O conceito absolutista do “Direito Divino dos Reis” manifesta-se de várias formas na igreja adventista. Uma destas manifestações acontece através do nono voto batismal.

Observando este voto temos uma grande evidência de que a administração da igreja busca na fé dos membros a legitimidade do exercício do poder. A todos os batizandos é perguntado: “Credes na organização da Igreja?” Em outras palavras, está-se perguntando se o indivíduo crê que a administração da igreja é de origem divina. O voto batismal é uma profissão de fé. O voto batismal nº 9 (ver Manual da Igreja, pg. 31) é uma profissão de fé no sistema administrativo absolutista. Para ser batizado na igreja adventista é necessário professar publicamente a fé na organização da igreja - uma profissão de fé no melhor estilo Jacques Bossuet e Jean Bodin.

Em contrapartida, o ato de não declarar a fé na organização adventista é interpretado como rebeldia, heresia. É natural que seja assim. A partir do momento em que a crença na organização é uma das crenças fundamentais dos adventistas, esta fé na administração da igreja torna-se um dogma, uma doutrina da igreja sendo, portanto, natural encarar como um apóstata qualquer pessoa que discorde desta “doutrina”. Como o sistema administrativo adventista é apresentado como um sistema divino, qualquer objeção ao sistema é visto como uma afronta ao próprio Deus.

 

(3) O poder do Estado e o poder do Rei se confundiam - A consequência imediata da centralização do poder e da admissão de que o poder provinha de Deus era a confusão entre poder do Rei e poder do Estado. O que significa “confusão” de poderes? Significa que não havia diferença entre o poder do Rei e o poder do Estado. Um dos grandes representantes do Absolutismo na França, Luis XIV, costumava dizer “O Estado Sou Eu”. Isto significava que qualquer crítica contra o Rei era interpretada como uma crítica contra o Estado. O Rei era a personificação do Estado, ou seja, era o Estado em pessoa. Por esta razão o Rei não admitia qualquer tipo de contestação. Qualquer cidadão que reclamasse da administração absoluta do Rei invariavelmente sofria punições severas.

Na Igreja Adventista ocorre a mesmo confusão (“confusão” não no sentido de tumulto ou desordem, mas no sentido de fusão, amálgama). O poder dos administradores se confunde (ou se funde) com a chamada “autoridade da igreja”. O tão propalado conceito de “autoridade da igreja”, que deveria referir-se à autoridade dos membros da igreja local, tem seu sentido desvirtuado ao ser aplicado a um grupo de administradores soberanos. Esta fusão de conceitos é demonstrada na vida real através de várias situações práticas.

Por exemplo, se algum membro questionar a administração financeira realizada pela Associação, certamente será acusado de estar criticando a igreja. Este é um fenômeno típico do modelo Absolutista. Questionar a administração equivale a criticar a igreja. O conceito de organização adventista e igreja adventista confundem-se na cabeça dos membros. E quem não for capaz de separar estes conceitos não conseguirá compreender o sistema administrativo adventista. E mais, interpretará este livro como uma crítica à igreja.

A ferramenta de coerção mais utilizada pelo poder absolutista adventista contra os membros questionadores é a temida “disciplina eclesiástica”. Contra pastores questionadores o método da transferência para um distrito “no fim do mundo” é a forma mais comum de coerção. Posteriomente falaremos um pouco mais sobre as formas de coerção do sistema administrativo adventista.

 

(4) Os direitos dos cidadãos eram renunciados em favor do Rei - Com a centralização do poder nas mãos do Rei, os cidadãos abriam mão de sua liberdade e autonomia acreditando que o Rei os conduziria para uma situação melhor, uma situação de segurança e prosperidade que não poderia ser alcançada sem a centralização.

Thomas Hobbes, outro defensor do Absolutismo, ensinava que o homem é naturalmente desorganizado e precisa estar submetido a um poder mais forte, dominador, centralizador chamado “o Estado”. Segundo Hobbes, este é um mal necessário para a sociedade e em deixar-se dominar pelo Rei, cada cidadão estaria ganhando paz e tranquilidade. Hobbes compara o Estado a um grande monstro, o Leviatã (em nossa cultura poderíamos chamar de elefante branco). Hobbes dizia:

“Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembléia de homens [o Estado].... Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. É este o surgimento daquele grande Leviatã, ou antes (para falar em termos mais reverentes) daquele Deus Mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus Imortal, nossa paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por cada indivíduo no Estado, é lhe conferido o uso de tamanho poder e força que o terror assim inspirado o torna capaz de conformar as vontades de todos eles no sentido da paz em seu próprio país, e da ajuda mútua contra os inimigos estrangeiros.“

Da mesma forma, hoje os adventistas do sétimo dia abrem mão de sua autonomia e de seu direito de mordomo em favor da administração da igreja. Deus concedeu a cada um dos seus filhos os direitos e deveres de mordomos, ou seja, a autonomia e responsabilidade de administradores. Cada um de nós é um mordomo, um administrador dos bens que Deus nos confiou. Cada vez que envio o dízimo para a Associação estou transferindo meu direito e o meu dever de mordomo para uma administração centralizada. Estou, na verdade, concedendo poder absoluto aos homens que se consideram os únicos receptores do dinheiro sagrado. Deus pede que os mordomos administrem os bens do Senhor, não pede que eles deleguem seus direitos e deveres para terceiros.

 

(5) Estado Parasitário e Aristocrático - O Estado Absolutista firmou-se com o apoio da burguesia que se beneficiava da centralização para prosperar em suas atividades comerciais. No entanto, com o passar dos anos e com a evolução do Estado Absolutista, o sistema tornou-se um peso insuportável para os grupos que a princípio haviam apoiado a centralização. A cada dia o Rei se tornava mais “guloso” e, portanto, “sugava” cada vez mais daqueles que trabalhavam de fato. O Rei e a aristocracia (grupo de nobres que se beneficiavam das mordomias do Rei) eram considerados verdadeiros parasitas. Nada produziam e muito consumiam. A fome do grande Leviatã não tinha limites, pelo contrário, aumentava a cada dia. Esta foi uma das razões da queda do sistema absolutista. A burguesia conscientizou-se e vendo-se explorada cada vez mais, revoltou-se. As revoluções burguesas (Revolução Francesa e Industrial) marcaram o fim do sistema Absolutista.

A comparação destas características do sistema absolutista com o sistema adventista é imediata. Os que usufruem do dízimo são os que menos produzem para a igreja local, são os que menos contribuem para o evangelismo. Os membros leigos trabalham de forma voluntária, evangelizam, cuidam da igreja local, e ainda têm a árdua tarefa de sustentar a nobreza adventista. Dia a dia a fome do grande elefante branco vem aumentando: hoje os dízimos não são suficientes. O Leviatã adventista estimula a entrega de ofertas para a Escola Sabatina, Recolta, Ofertas Natalícias e atualmente vem prospectando os velhinhos da igreja na intenção de obter algo no setor de “Heranças e Legados”. Até quando os membros terão que sustentar uma máquina administrativa ineficiente e parasitária de vários níveis hierárquicos? Até quando nossos queridos e dedicados irmãos vão continuar acreditando que o sistema administrativo adventista é democrático e representativo?

 

A Alienação: Administradores e Membros

Uma conseqüência negativa do sistema absolutista adventista é a alienação entre administradores e membros. Esta alienação ocorre em mão dupla: Os administradores estão afastados da igreja local e a igreja local está afastada da administração.

O afastamento do povo em relação à administração já foi comentado: consiste na impossibilidade dos membros leigos afetarem de forma significativa as decisões da Associação. Os membros não têm condições de alterar a forma de governo da igreja, não têm condições de escolher a administração da Associação, nem mesmo têm a possibilidade de escolher o pastor da própria igreja.

As decisões tomadas por membros leigos através das comissões da igreja são decisões de pequeno impacto no âmbito global, decisões que nada afetam a administração da Associação. São decisões que envolvem a escolha de voluntários para determinados cargos, a aprovação de programações como semanas de oração, acampamentos e decisões envolvendo a aplicação dos recursos do caixa local (compra de material evangelístico, reforma no prédio da igreja, etc...)

O afastamento da administração em relação ao povo é facilmente notado. Na maioria das denominações religiosas, os administradores das instâncias superiores, além de suas funções administrativas, mantêm funções eclesiásticas preservando a integração entre administração e igreja. Um exemplo de integração é o do pastor Batista Fausto Aguiar Vasconcelos que é presidente da Convenção Batista Brasileira e também é pastor da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro.

Em várias denominações cristãs existe este tipo de integração entre administradores e igrejas locais, no entanto o que se observa na Igreja Adventista é uma alienação, uma separação das funções administrativas e das funções pastorais. A Associação é completamente alheia aos problemas da igreja local e quando a igreja local pede a interferência da Associação, não é raro obter a resposta: “Não podemos interferir, pois a igreja local é soberana.”

Em geral, alega-se que os administradores têm muito trabalho e não podem resolver os problemas das igrejas. Mas quando a igreja interrompe o envio de remessas de dízimos para a Associação, então a alienação desaparece e os administradores aparecem com os sermões e semanas de oração de mordomia e fidelidade. Isso demonstra que a igreja é soberana, menos quando o assunto é dinheiro. Demonstra também que os administradores estão alienados da igreja local, exceto quando existe o problema do dinheiro.

 

O Sistema de Dominação Adventista e a Unificação dos Membros

Provavelmente esta seção será melhor compreendida por pastores, obreiros e funcionários das instituições denominacionais. Estas pessoas testemunham com muita frequência demonstrações de dominação por parte dos administradores da obra, mas nem sempre conseguem interpretar tais arbitrariedades como uma característica do sistema. Como já afirmamos, o problema do abuso de poder é, em geral, interpretado como uma falha pessoal de um ou outro administrador. Raramente os abusos de poder são encarados como deveriam ser: uma manifestação natural de um sistema absolutista fundamentado em princípios de dominação e centralização do poder.

No sistema administrativo adventista atuam forças invisíveis que agem através de quase todos os administradores fazendo com que as atitudes de dominação sejam praticamente uniformes. Ao ler este artigo, que fará parte de um livro em preparo, você provavelmente está pensando: “Este livro diz o que sempre pensei. Isso é a pura verdade”. Isto mostra que as ações do sistema são uniformes e são percebidas em todos os lugares mudando apenas os protagonistas, os atores.

O sistema de dominação estabelecido por Deus determinava que os homens dominassem os animais, sujeitando-os. O homem não deveria ser dominado por outro homem, mas deveria sujeitar-se somente a Deus. Então a hierarquia de sujeição deveria ser a seguinte: Deus - Homem - Animais: Deus dominando os homens e os homens dominando os animais.

Quando um homem tenta dominar outro homem, na realidade ele está se colocando no lugar de Deus, ou então, colocando o dominado no lugar de um animal. Este definitivamente não era o plano de Deus para a sua igreja. A centralização do poder, do dinheiro e da propriedade que vemos no sistema administrativo adventista é uma aberração e nada tem de divino.

Por que o sistema funciona desta forma? A centralização do poder, do dinheiro e das propriedades tem seu papel na manutenção da engrenagem. Os administradores da igreja temem que se houver uma descentralização do poder, do dinheiro e da propriedade a igreja local poderá se sentir muito independente e passar a questionar a importância e viabilidade de se manter uma estrutura administrativa gigante e ineficiente.

Devido a um instinto de auto-preservação, o sistema administrativo adventista não admite descentralização de poder, dinheiro e propriedade. A única descentralização admitida pela administração adventista é a descentralização do trabalho: todos devem trabalhar voluntariamente na igreja.

O conceito de sacerdócio universal de todos os crentes (sacerdócio de Melquisedeque) pressupõe descentralização ao ressaltar os direitos e deveres de todos os crentes. Por isso ele só é ressaltado pelos representantes do sistema quando o assunto for trabalho. “Todos devem trabalhar, não só o pastor”, dizem eles.

Quando o assunto é poder, dinheiro e propriedade o conceito descentralizador do sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque é simplesmente ignorado. O dinheiro, o poder e as propriedades devem continuar pertencendo ao sistema.

Através da centralização do poder, do dinheiro e da propriedade, busca-se a unificação da igreja. Não há comunidade ou povo sem unificação, não há unificação sem soberania, não há soberania sem poder. Por isto os administradores adventistas continuam exercendo o poder para manter a unificação da igreja. É importante destacar que a unificação mantida pelo poder político é bem diferente da unidade mantida pelo amor (Colossenses 2:2) e da união dos crentes pela fé em Jesus (João 17:20 e 21). Nossa união deveria ocorrer em decorrência da ação do poder do Espírito Santo, não em decorrência do poder político eclesiástico.

 

As Empresas Multinacionais e a IASD

Os sistemas administrativos fortemente baseados no poder da hierarquia são herança da cultura militar. As grandes corporações multinacionais herdaram alguns elementos da hierarquia militar, mas na década de 1990, ao perceberem que a manutenção destas estruturas estava custando uma fortuna, elas se viram obrigadas a cortar custos para manter a competitividade.

Naquela época vimos o que os administradores de empresas chamaram de “reengenharia” - na prática, isso representava redução dos níveis hierárquicos nas empresas e demissão de muitos gerentes e funcionários improdutivos. As empresas contratavam consultores especializados para analisar os processos, a forma de trabalho da empresa e as atividades de cada funcionário.

No final desta análise, estes consultores entregavam para a alta administração um relatório com recomendações para a mudança da forma de trabalho. Resumindo, os consultores tinham a missão de descobrir qual funcionário não estava agregando valor no fluxo de trabalho, não contribuindo para a consecução dos objetivos da companhia.

Nesta época reforçou-se o conceito de que a empresa não era um fim em si mesma, mas um meio de satisfazer os clientes. A diminuição de custos e o aumento da qualidade nos produtos e serviços passaram a ser preocupações constantes.

O sistema administrativo adventista não precisou de reengenharia, não precisou de mudanças em sua estrutura. Não houve a necessidade de enxugar a máquina burocrática e reduzir custos. As empresas multinacionais mudaram pois a necessidade de economizar era vital para a sobrevivência da companhia. Estas empresas tinham duas opções: ou cortavam custos ou a concorrência os atropelaria. Mas na Igreja Adventista a situação é diferente. Não há concorrência. Não há a necessidade de se agradar o membro. Mesmo se o pastor não trabalhar, no próximo sábado vai entrar mais dízimos.

Descobriram que a igreja local é uma engrenagem que funciona sozinha - é uma máquina de gerar dinheiro! Isso ocorre porque a maioria dos membros imagina que está devolvendo os dízimos para financiar a obra de Deus. Poucos estão conscientes de que os dízimos enviados para a Associação são usados para a manutenção do sistema, para a alimentação desta gigantesca máquina burocrática e ineficiente.

Vamos considerar uma hipótese absurda apenas para exemplificar este fato inquestionável. Imagine que a Associação entre em greve e os pastores distritais também parem de trabalhar. Que impacto esta paralização teria nas programações da igreja local? Nenhum impacto. O diácono vai continuar abrindo as portas bem cedo, o diretor da escola sabatina vai coordenar a programação inicial, as professoras dos infantis ensinarão os pequeninos, os anciãos cuidarão do culto, os diáconos recolherão os dízimos do povo e o tesoureiro continuará enviando as remessas de dinheiro para a Associação que, por sua vez, tratará de distribuir o dinheiro para os funcionários, para a União, para as despesas administrativas e para os benefícios dos pastores e administradores.

Alguns membros da igreja me perguntam se isto um dia vai mudar. E eu respondo: Enquanto os membros olharem para o sistema administrativo adventista e acreditarem que ele é de origem divina, professarem fé nesta administração, e acharem que é Deus quem está por trás de tudo isto, então não vejo possibilidade de mudança para melhor. Afinal de contas, por que deveríamos mudar o sistema se ele é de origem divina e se Deus está no comando? Fico mais otimista em relação à possibilidade de melhora quando vejo os membros sugerindo, atuando, pedindo transparência, tomando iniciativas missionárias, conscientizando outros irmãos, buscando uma descentralização do poder, combatendo o absolutismo eclesiástico, divulgando as informações deste livro, e assumindo o papel de verdadeiros mordomos que Deus lhes deu. -- Ricardo Nicotra

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