O Comportamento Profano de Altos Dirigentes Brasileiros da IASD

Um artigo de EDEGARD SILVA PEREIRA

Neste artigo pretendo apresentar um quadro do comportamento profano de altos dirigentes brasileiros da IASD: o quadro em que se desenrola a conquista de um poder religioso cada vez maior no âmbito global da Denominação. Nesse sentido, o quadro mostra que esses homens não são “caracteres religiosos”, como aparentam; pois seu comportamento é perfeitamente profano e as forças que operam são puramente humanas: o amor ao poder, as intrigas, a ambição, a rivalidade, as humilhações, a astúcia e as provas de fidelidade ao Brasil. Isto é, o comportamento desses dirigentes é idêntico ao das autoridades brasileiras: seguem velhos métodos herdados do passado colonial e imperial, os quais transformam até suas melhores intenções em pedras para pavimentar o caminho para o inferno. É um quadro eclesiástico com mais sombras que luzes. Sombras que desfilam diante de pensativos obreiros subalternos e membros leigos de visão mais acurada.

 

Esboço da Realidade Profana

Segue um esboço dos aspectos fundamentais dessa realidade profana. Não posso mencionar as datas dos acontecimentos aos quais me refiro a seguir. Elas se perderam no tempo. Comecei a percebê-los em minha adolescência e se tornaram claros durante os vinte e cinco anos de meu ministério pastoral.

O fato primordial: a pressão das Uniões brasileiras para que a Associação Geral criasse uma Divisão brasileira. Eu soube desta pressão na década de 1950, quando estudava no Instituto Adventista do Uruguai. Na sede da Divisão Sul-Americana (de agora em diante designada pela sigla DSA), em Montevidéu, circulavam rumores sobre essa pressão das Uniões brasileiras. Que tal pressão era uma realidade foi-me confirmado depois por parentes que serviam nessa Divisão.

Segundo fato: como resultado da pressão antes mencionada, a Associação Geral resolveu transferir a sede da DSA de Montevidéu para Brasília. Logo, os altos dirigentes brasileiros tomaram posse desse organismo. Mas não ficaram satisfeitos. Queriam e querem muito mais. Agora estão emprenhados em conquistar o máximo possível de território na Associação Geral.

Terceiro fato: os dirigentes das Uniões brasileiras, sob a liderança da União Sul, elaboraram um plano para aumentar seu poder na IASD global. Fui informado desse plano quando eu era pastor da antiga Associação Paulista (abrangia todo o Estado de São Paulo). Em uma reunião de pastores, um funcionário da União Sul Brasileira, especialista em estatística, apresentou um plano minucioso para que as Uniões brasileiras crescessem a ponto de ultrapassarem, em número de membros, à Divisão Centro-americana e, depois, à Divisão Européia. Conseguindo isso, os altos dirigentes brasileiros aumentariam sua influência na Associação Geral, vislumbrando até a possibilidade de conquistarem, além de outros cargos, a presidência do mais alto organismo da IASD.



Conseqüências

As conseqüências desse plano foram muitas na vida eclesiástica.

Na visão desses altos dirigentes, a realização do plano exigia algumas mudanças na forma de controle de algumas instituições. Foi lançado o plano “Dividir para Multiplicar” (multiplicar o número de membros). Mas a verdadeira intenção era outra. A Associação Paulista, por exemplo, foi dividida em várias Associações. Esta divisão resolveu, pelo menos, um “problema” criado nas Uniões pelas Associações mais fortes. Voltando ao exemplo da Associação Paulista, seu fracionamento acabou com o poder de barganha que ela tinha na União Sul e na Confederação das Uniões Brasileiras. Então, foi feito um ajuste nos estatutos, que eliminou a pouca independência das Associações com relação às Uniões, transformando as primeiras em meros apêndices das segundas. Daí em diante, as Associações, agora com territórios reduzidos, passaram a ser meros apêndices das Uniões.

Outra mudança nos estatutos visou as escolas adventistas. Antes dessa mudança, tais escolas pertenciam às igrejas locais, eram administradas por uma Comissão Escolar nomeada pela comunidade local e recebiam apoio técnico e jurídico do Departamento de Educação das Associações. Depois, elas passaram a pertencer às Associações e a ser administradas diretamente por esses organismos. Esta mudança tinha um propósito: permitir um controle administrativo mais severo sobre as escolas, pois elas deveriam crescer a fim de fazer sua parte no aumento do número de adventistas no Brasil. Segundo a lógica dos altos dirigentes, expressa claramente na reunião de pastores à qual me referi antes, as escolas adventistas têm um papel decisivo para superar a Europa em número de membros, pelo simples fato de que a educação pública de bom nível oferecida no Velho Continente dificulta a instalação de escolas particulares. Mais que educar, as escolas adventistas do Brasil se dedicam agora ao proselitismo. Por isso, foram transferidas do fundo do quintal das igrejas para prédios maiores e abriram as portas para alunos não adventistas.

É claro, as igrejas locais também foram afetadas por tudo isso. Há muito tempo a figura bíblica do pastor foi eliminada da IASD do Brasil — o pastor evangélico foi transformado em administrador de distrito. Este problema ainda não foi resolvido: os pastores não têm condições de “apascentar bem o rebanho” quando recebem um distrito com várias igrejas locais para administrar. Os altos dirigentes se justificam dizendo que não há dinheiro para manter um número adequado de pastores, a fim de cuidarem melhor das “ovelhas”. Haveria dinheiro suficiente se esses homens fossem fieis à comunidade e se o objetivo deles fosse criar comunidade. Mas como eles são fieis ao poder religioso (não à comunidade) e são movidos por objetivos que não têm nada de particularmente pastoral, gastam enormes fortunas com o exagerado aumento da quantidade de funcionários, resultante do fracionamento das Associações, para que eles cuidem das instituições (não das comunidades). Esse problema não terá solução enquanto os altos dirigentes vejam as Associações como instrumentos de sua ambição de poder e as igrejas locais como o lugar fundamental para aumentar os dízimos e o número de membros, a fim de estabelecerem a hegemonia brasileira na Organização.

Outras conseqüências serão apresentadas mais adiante, em uma análise mais profunda da questão.



Resumo de Como o Plano Funciona

A hegemonia brasileira na DSA se fundamenta em volume: tamanho do território, monta dos dízimos e quantidade de membros. Para reivindicar a hegemonia na América do Sul, os altos dirigentes adventistas brasileiros se valem do mesmo argumento profano que o Brasil usa em sua política continental. É o argumento do “mais”. O Brasil diz: Sou o líder natural da América do Sul porque sou o país com o maior território, o maior PIB e a maior população. (Atualmente, o Brasil é líder só em volume, o Chile é líder na modernidade de sua economia e na pujança de seu comércio exterior, e a Argentina é líder em desenvolvimento humano.) E os altos dirigentes adventistas brasileiros afirmam: Somos os líderes naturais da DSA porque, em termos nacionais, temos o maior território, a maior monta de dízimos e o maior número de membros. Sabemos que este argumento é profano, moeda corrente no mundo político, no qual as nações maiores e mais fortes procuram dominar às nações menores e menos poderosas. Também sabemos que outros são os princípios válidos para os seguidores de Jesus. A instrução do Senhor é clara: “Mas entre vós não é assim” (ter dominadores ou maiorais que exerçam autoridade, como acontece no mundo político); “pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva...” (Mar 10:42-44).

O principal instrumento para tornar as Uniões brasileiras dominantes na DSA é a Federação das Uniões Brasileiras, criada originalmente para ser o germe da frustrada Divisão brasileira. Agindo como um bloco, as Uniões brasileiras têm um peso político decisivo na DSA: juntas, elas têm o maior número de votantes na Assembléia da DSA, e decidiram que vão eleger sempre, pelo menos, uma cúpula formada por dirigentes brasileiros. Só os cargos subalternos podem ser divididos com funcionários de procedência dos países de língua espanhola que compõem a DSA. É claro, antes das eleições, os votantes das Uniões brasileiras já decidiram quais dirigentes brasileiros vão escolher para formar a cúpula da DSA.

Este controle “brasileiro” cria um clima rarefeito no ambiente eclesiástico, devido a seus traços fortes de astucia, rivalidade, cobiça e agressividade. Em viagens recentes, percebi que a maioria dos obreiros de países vizinhos cultiva sentimentos velados de apatia e de desconfiança para com os dirigentes brasileiros da DSA; pois para esses obreiros está claro que tais dirigentes são movidos por uma compulsão nacionalista, que os fez perder a capacidade de olhar para o outro com sentimentos de verdadeira fraternidade cristã.

Que inspira o comportamento profano dos dirigentes dos quais falamos? Que os impulsiona para conquistar um poder religioso cada vez mais amplo na IASD? Que estímulos fazem que seu comportamento administrativo siga os padrões profanos brasileiros, em vez do Evangelho? A resposta a estas perguntas deixa mais claro o comportamento profano desses dirigentes dedicados à conquista de uma grandeza própria, que tem como pano de fundo a grandeza nacional.



Fidelidade ao Brasil

As respostas a essas perguntas salientam a concordância entre o comportamento da elite política brasileira e o comportamento dos dirigentes adventistas em questão. São muitas as provas de que o comportamento profano destes é o resultado de sua fidelidade ao Brasil, e não a Cristo. Apresentar todas as provas ocuparia um livro inteiro. Para responder às questões levantadas, vou resumir apenas dois ou três dos estímulos que determinam a personalidade coletiva dos brasileiros e com os quais eles estruturam a sociedade; estímulos apresentados de modo convincente por Edgar Norton em seu livro Para Entender Al Brasil, recentemente publicado no Canadá. As respostas se baseiam em uma parte muito pequena, mas substancial, do que esse autor diz sobre tais estímulos. Comecemos pela propaganda nacionalista.

Com certeza, o estímulo para que esses homens tenham um comportamento administrativo profano vem da propaganda nacionalista. Na raiz do nacionalismo exaltado difundido pela tenaz e contínua propaganda nacionalista do governo brasileiro está o conceito abstrato, esquemático e essencialmente político de nação, que é uma ideologia coletivista que pretende definir os indivíduos por sua pertença a um conglomerado humano ao qual certos traços característicos —a raça, a língua, os mitos— teriam imposto uma personalidade específica e diferente de outras.

Segundo Edgar Norton o “Estado brasileiro, dominado por uma pequena oligarquia conservadora, optou pela comunicação para controlar sua população doméstica. E, para dominá-la melhor, usa o poder da propaganda”. E diz que a intensa propaganda nacionalista doméstica responde a quatro necessidades: 1) manter unida uma população numerosa, dispersa em um território imenso e com costumes diferentes; 2) fazer frente às divergências importantes entre as oligarquias regionais; 3) desfigurar a realidade para encobrir a falta de tradição histórica e de uma cultura democrática, a sociedade pouco organizada, a fragilidade das instituições e a brutalidade do regime; 4) transformar os indivíduos em feituras obedientes da máquina estatal de dominação, usando os meios de comunicação para domesticar o pensamento, fabricar consensos e ilusões necessários à gestão social.

Diogo Mainardi afirma que a ditadura de Vargas, seguindo o método goebbeliano, “inventou o brasileiro para dominá-lo melhor”. Seu principal instrumento era uma propaganda do regime que “insistia em noções como identidade nacional, orgulho nacional, sentimento nacional e mentalidade nacional. A idéia era transformar a unidade da nação em valor supremo e incontestável”. Na ditadura Vargas começou a glorificação da raça brasileira, uma mestiçagem de índios, pretos e brancos. Ele afirma que o melhor para o Brasil é que os brasileiros deixassem de ser brasileiros, conforme os padrões dados na propaganda nacionalista.

Esse tipo de propaganda continua até hoje. Mas tornou-se muito mais poderosa, graças a seu meio preferido de divulgação, a televisão. Seu intento ainda é inspirar fortes sentimentos nacionalistas e exclusivistas. As imagens nacionalistas difundidas pela televisão impedem que se compreenda a realidade nacional e a realidade internacional. Elas desfiguram a realidade e seu conteúdo alienante e intoxicante induz a sentimentos e ações favoráveis às oligarquias dominantes, como individualismo, elitismo, racismo (mais no sentido de glorificação da “raça brasileira”), conservadorismo, conformismo, providencialismo (como “Deus é brasileiro), autoritarismo, agressividade e a busca de aventuras (as duas últimas têm o sentido de “conquistas para a grandeza do Brasil”).

As imagens publicitarias onipresentes difundem o glamour e o culto ao Brasil: falam o tempo todo do Brasil, do homem brasileiro, da liderança do Brasil e do modo de vida brasileiro. Mas essa propaganda ufana e triunfalista faz que até as boas pessoas sejam arrogantes, presumidas e incapazes de dar valor a outras culturas. Faz que muitos brasileiros não se sintam latino-americanos. E há os que costumam dizer que pertencem a uma “raça atlântica sui generis”, cujo destino é liderar a América Latina. Tais imagens não inculcam um nacionalismo inteligente, que corresponda a um pais que quer ser grande para seu povo, mas slogans embusteiros que beneficiam uma minoria privilegiada, cuja fome por riqueza e poder é insaciável. Para Edgar Norton, essas imagens criam a ilusão de que o Brasil é uma “grande ilha”, um país fechado em si mesmo, que existe no vazio, independente do ser humano, da estrutura social e sem integrar a América Latina e o mundo. Pois os donos do poder acreditam que é mais fácil dominar uma população isolando-a da realidade.

Eu não tenho dúvidas sobre o seguinte: foram as imagens do Brasil fechado em si mesmo as que inspiraram os altos dirigentes adventistas do Brasil a pressionarem à Associação Geral, no passado recente, para formar uma Divisão brasileira. Essas imagens publicitárias explicam as dificuldades que o país sempre teve para formar comunidade com seus vizinhos. Acredito que a Associação Geral agiu com sabedoria transferindo a sede da DSA para Brasília, em vez de criar uma Divisão brasileira: evitou criar uma IASD brasileira fechada em si mesma, mas não conseguiu evitar que a DSA fosse dominada por brasileiros. Tampouco tenho dúvidas que foi a glorificação da raça brasileira, “destinada a liderar o Continente”, que os inspirou depois a tornarem-se dominantes na DSA. Nos dias de hoje, devido à estreiteza, miopia e inércia de seu nacionalismo, os altos dirigentes brasileiros não conseguem ir além de criar uma fraternidade retórica, sem fôlego cristão, na DSA.

Fidelidade ao Brasil significa fidelidade aos velhos métodos herdados do passado colonial e imperial. Segundo Nicolau Sevcenko, professor de História da Cultura da USP, o Brasil segue até hoje um modelo histórico de sociedade, que é uma adaptação do modelo colonial e imperial fundado pelos portugueses. E acrescenta: “A essência desse modelo histórico de sociedade jamais foi alterado. Todo intento nesse sentido foi frustrado”.

Esse modelo histórico de sociedade permite que o fantasma do Império sempre apareça para assombrar-nos. Paulo Schilling denunciou as pretensões expansionistas e imperialistas do Brasil na América do Sul; pretenssões veementemente negadas pelos donos do poder (eles preferem chamá-las de “liderança”). Atualmente, a agressiva política externa do governo Lula está orientada para tornar o Brasil líder da América Latina, dos países pobres de fala portuguesa, dos países emergentes e conseguir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Recentemente, países vizinhos começaram a tomar medidas drásticas para evitar ser transformados em meros mercados de produtos brasileiros, em simples fornecedores de matérias primas para a indústria brasileira e em bases para converter empresas brasileiras em multinacionais. Uruguai, Paraguai e Bolívia falam do atual “comportamento imperialista do Brasil”, que o faz agir como dono do Mercosur, e não como sócio. É por ouvir as vozes dos fantasmas do passado que o Brasil não consegue romper com a tradição de criar castas indefensáveis na sociedade moderna. Não é de estranhar a desconfiança que desperta nos adventistas sul-americanos de fala espanhola a ação dos altos dirigentes brasileiros para transformar a DSA em seu império. Para uma parte significativa desses adventistas, tal comportamento é intrigante, desconcertante e incômodo.

O comportamento profano em questão também está relacionado com a geopolítica formulada pela Escola Superior de Guerra durante o regime militar. Para Júlio J. Chiavenato, a geopolítica adotada pelo Brasil é a predileta do fascismo. Gerada pelo imperialismo como filha predileta, seus pseudo-argumentos científicos servem para explicar as ações expansionistas e intervencionistas dos Estados totalitários. Não é ciência como querem seus mentores. É deformação da geografia, e sua finalidade é justificar a agressão resultante da atitude imperialista. Essa geopolítica constitui o fundamento da política interna e externa do Estado. Os dirigentes adventistas brasileiros, dedicados à conquista dos espaços oferecidos pela IASD nos países vizinhos, estão em sintonia com o seguinte argumento da geopolítica que orienta a política externa do Brasil no Continente: “A massa maior faz que a menor se lhe aproxime”.

O nacionalismo é destruidor; é a única força capaz de mobilizar as massas umas contra outras em conflitos nacionais e internacionais. Antes de tudo, conduz à alienação e à desagregação da personalidade cristã. O comportamento dos altos dirigentes da IASD brasileira dá a impressão que eles são, antes de tudo, brasileiros, depois adventistas. O comportamento administrativo desses homens, determinado pela fidelidade ao Brasil, levanta sérias dúvidas: São caracteres cristãos e religiosos como aparentam? Seu comportamento perfeitamente profano e as forças puramente humanas que operam são condizentes com o Evangelho, com as instruções de Jesus?



Comportamento perigoso

Vou citar algumas passagens bíblicas, as quais os dirigentes em foco não podem dar atenção porque estão muito preocupados com seus projetos políticos. Elas deixam claro o seguinte: se eles fossem fiéis a Cristo, seu comportamento administrativo seria totalmente diferente do que é agora.

  • Eles saberiam que ser cristão significa “ser um com Cristo” (João 17:20 e 21; Rom 6:5; 12:5; 1 Cor 6:15; 10:16; 12:27; Efe 5:30, 31; confrontar com 1 Cor. 2:16; Col. 1:27; Rom. 13:14; 1 Cor 12:3; Gál 2:20; Efe 4:13 e 15; Col 1:28; 2 Tes 2:14).

  • Então, eles teriam “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”: teriam renunciado ao poder em favor do serviço em amor (Fil 2:5-11; João 13.34 e 35).

  • Eles cumpririam o mandamento de Cristo registrado em Mar 10:42-44. Então se dedicariam não a dominar, mas em criar a nova relação social dos crentes entre si, desejada por Jesus, fundada no conceito “servir”, que significa adesão à pessoa de Cristo (confrontar Mar 10:42-44 com Fil 2:5-8). Jesus exige de seus seguidores a renúncia ao poder que corresponde à vinda do reino de Deus. Ou seja, exige que entre os que foram abrangidos pelo reino de Deus, se adote como conceito fundamental o serviço em amor como ele o viveu em sua atividade terrena; conceito que apresenta como sendo a antítese do conceito de poder, no qual se fundamenta o comportamento profano político e social.

  • Eles teriam percebido, como Paulo em Gál 3:28, o que significa “estar revestidos de Cristo” pelo batismo. Então afirmariam, junto com o apóstolo, de forma adaptada à situação atual: “Assim sendo, não pode haver brasileiro nem hispano-americano, nem dominador nem dominado, nem homem nem mulher; porque todos somos um em Cristo”.

  • Se eles entendessem que a busca de grandezas é um comportamento profano severamente castigado por Deus, não estariam empenhados nessa busca. Deus ordenou a Jeremias que transmitisse a seguinte mensagem a Baruque, o escrevente do profeta: “Assim lhe dirás: Isto diz o Senhor: Eis que estou demolindo o que edifiquei e arrancando o que plantei, e isto em toda a terra. E procuras tu grandezas? Não as procures; porque eis que trarei mal sobre toda a humanidade, diz o Senhor...” Deus realizou essa sua “estranha obra”. Destruiu o reino de Israel e o reino de Judá, valendo-se respectivamente das armas dos assírios e dos babilônios, em um tempo em que os dirigentes e os habitantes desses reinos buscavam a grandeza no mundo das nações. E transformou o Oriente Médio em um cemitério de antigas potências dedicadas à busca de grandezas. A este respeito a mensagem dos profetas é a seguinte: Deus enviou essa sua palavra de destruição para agir na história (foi ouvida como um “rugido de leão”, Amós 1:2; ela “caiu em Israel”, Isa 9:8; é como um fogo, um martelo que bate os rochedos, Eze 11:3). Essa palavra “permanece eternamente” agindo na história (Isa. 40:8). Ela não voltará para Deus vazia, realizará aquilo para que foi designada (Isa 55:10 e 11). Em 1Cor 10:6, Paulo nos lembra que o Antigo Testamento registra acontecimentos que “são exemplos para nós”, como o comportamento da maioria dos hebreus liberta do Egito, que não agradou a Deus, razão por que pereceu no deserto.

Como os dirigentes sobre os quais estamos falando podem ser “um com Cristo” cultivando um comportamento perfeitamente profano? Sendo que o próprio Filho de Deus se humilhou, tornando-se “servo”, como podemos interpretar a busca de grandezas por parte desses homens?



Uma Verdade Inconveniente

O quadro apresentado revela uma verdade inconveniente: o comportamento profano de altos dirigentes da IASD brasileira, dedicados à conquista da hegemonia no âmbito denominacional. Os dirigentes gaúchos são mestres nos métodos e artimanhas subjacentes a esse comportamento, o qual, por razões óbvias, nos foi sistematicamente ocultado.

O quadro mostra os altos dirigentes entregues a si mesmos e ao círculo vicioso das incoerências que eles próprios provocam. São homens movidos por objetivos que não condizem com a missão daqueles que foram chamados para servir de instrumentos particulares da vontade de Deus. Eles vivem o papel de consagrados que fracassaram diante de Deus: dominados por um sombrio poder fatal, escaparam das mãos de Deus e se transformaram em administradores decadentes. Agem como os insensatos, revolucionando intencionalmente os princípios fundamentais do Evangelho e, assim, conseguem modificar muita coisa em benefício próprio. O olhar atento percebe que eles vão cada vez mais longe no desmoronamento da ordem evangélica.

Esses homens parecem desconhecer os perigos e as tentações que assaltam os poderosos, e que a comunidade religiosa permanece ou desmorona com os dirigentes. Posta ao sabor da vontade de altos dirigentes com um comportamento administrativo profano, a IASD tem conseqüências funestas: é um comportamento destruidor da comunhão, pois nele predominam a astúcia, a rivalidade, a desconfiança e a agressividade. Por causa desse comportamento, não só esses homens, mas também muitas instituições e igrejas locais são exemplos de que a força divina foi desperdiçada.

Altos dirigentes conseguem agir de modo profano, sob inspiração nacionalista e em benefício próprio, porque a maior parte do povo adventista no Brasil se caracteriza pela ausência de qualquer preocupação crítica e de responsabilidade coletiva; em sua ingenuidade, se deixa manipular por homens que demonstram uma ousadia que assusta até os teólogos pouco escrupulosos. Enquanto se ufanam de seu nacionalismo, os adventistas brasileiros não advertem os perigos que os ameaçam e ao conjunto da DSA. Pois é cultivando um nacionalismo exaltado e nada inteligente que, talvez sem querer, apoiam a ação profana dos dirigentes, que é um verdadeiro atentado contra a natureza da Igreja.

O que mais precisamos é transformar nosso pobre nacionalismo em um patriotismo que não seja exclusivamente nacionalista, que esteja aberto para criar comunidade com outros povos. Somos torpes em derivar o nosso incipiente patriotismo da tendenciosa propaganda nacionalista do governo, orientada para beneficiar uma pequena oligarquia conservadora, que se sente dona do país. Nos faltou identificá-lo também com a mensagem universal do Evangelho. É porque nos falta tal identificação que improvisamos e truncamos a fraternidade desejada por Deus, totalmente isenta das relações profanas senhor/servo, dominador/dominado, explorador/explorado, grande/pequeno e nacional/estrangeiro. Necessitamos de um patriotismo que remonte à fonte de nossa fé, isto é, a Cristo, aquele que derrubou todas as barreiras que separam os homens, incluso o nacionalismo (Gál 3:28), e é a expressão viva do amor de Deus pelo mundo e pela humanidade (João 3:16). À luz do Evangelho, descobrimos definitivamente que Deus não é brasileiro e que nosso Senhor, o Glorificado, não tem nacionalidade.

Nota: Se você deseja conhecer melhor o Brasil e a si mesmo, quanto a ser brasileiro, o livro Para Entender Al Brasi, de Edgar Norton, é leitura obrigatória. Para obter mais informações sobre o livro, clique aqui: http://www.trafford.com/4dcgi/view-item?item=17282

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