Carta 5 - Por Que Não Uma Audiência?

Carta 5 - Por Que Não Uma Audiência?

 

Numa carta anterior relatei como, no mês de maio de 1957, entrei de posse de algumas minutas oficiais dos Depositários White - supostamente "secretas" - que revelavam uma tentativa de mexer nos Testemunhos ao inserir em alguns dos volumes notas e explanações que fariam parecer que a Irmã White estava em harmonia, ou pelo menos não oposta, com a nova teologia advogada na revista adventista Ministry e no livro Questions on Doctrine [Perguntas sobre Doutrina, aprovado pela Associação Geral da IASD].

Fiquei confuso quando li esse documento oficial, e sem dúvida perplexo quando soube que esse plano tinha a sanção da liderança, e foi um procedimento aprovado. Isto significaria que os homens poderiam livremente tentar fazer inserções nos escritos do Espírito de Profecia, que viciariam ou mudariam o significado pretendido do que a Irmã White tinha escrito. Que segurança podíamos então ter de que os livros publicados eram os ensinos não adulterados do autor, e que eles não foram "remediados e corrigidos" como foram outros livros, de acordo com o relato da revista evangélica Eternity Extra, de setembro de 1956?

Conquanto me sentisse inquieto sobre o que os homens tinham tentado fazer, minha real preocupação era saber que aquilo tinha sido aprovado pela administração, e era doravante para ser uma política aceita. Os homens poderiam agora ir aos Depositários White, e com sua aprovação, inserir explanações e notas secretamente e privadamente, antes que alguém descobrisse o que estava acontecendo. E poderiam fazer isso com a segurança de que se alguém soubesse e revelasse o que estava sendo feito, a administração ameaçaria tal pessoa a não ser que cessasse sua "atividade".

No meu caso, foi-me dito que as minutas eram confidenciais, e que eu não tinha o direito de tê-las nem mesmo de as ler. Embora eu tivesse citado diretamente e corretamente das minutas oficiais, foi-me dito: "Estás fazendo tudo isso sobre boatos e sobre minutas confidenciais que não tens direito nem mesmo de ler." Carta, dezembro de 1957.

Enquanto os homens desejavam inserir "notas", "explanações", "notas de apêndice", "notas de rodapé", "notas apropriadas", "nas futuras edições dos escritos de Ellen G. White", (notem que todas essas declarações estão no plural), o presidente da Associação Geral da IASD [R. R. Figuhr] minimizou o assunto ao declarar na carta de 20 de setembro de 1957, que tudo o que aquilo envolvia era uma "referência cruzada inserida no pé de certa página"; isto é, uma referência cruzada, no fundo de uma página, em um dos livros da Irmã White. Isto está tudo em desacordo com o registro oficial. Como pode essa discrepância ser explicada?

Meu primeiro pensamento e esperança era que eu seria chamado para dar explicações imediatamente, e ser solicitado a provar minhas acusações ou a retratá-las; que um grupo imparcial de homens seria solicitado a conduzir a audiência. Mas nisto fui desapontado.

A primeira reação contra minha "atividade" veio numa carta de 16 de dezembro de 1957. Ali foi-me dito: "A questão de tua atividade foi discutida pelos oficiais da Associação Geral, e eles profundamente deploram o que estás fazendo. Eles portanto pedem que cesses tuas presentes atividades."

Antes que eu tivesse uma oportunidade de responder, recebi o seguinte em 19 de dezembro de 1957:

"Quero repetir o que te escrevi antes, que os homens têm perfeito direito de ir aos conselhos, incluindo o grupo dos Depositários White, e fazer suas sugestões sem o temor de serem disciplinados ou tratados como heréticos. Quando recordamos que estás fazendo tudo isso sobre boatos, e sobre minutas confidenciais que não tens nem mesmo direito de lê-las, isto certamente dá a impressão que não é o modo de o adventista fazer as coisas. Não estiveste presente nas reuniões deste conselho, e tudo o que sabes é boato e as notas breves registradas pelo secretário daquela reunião... Agora ao tu ires adiante e transmitires um assunto como este, certamente te colocas numa luz inviável. Se fizeres isto, teremos de fazer alguma difusão também. Isto te colocará em clara oposição com tua igreja, e certamente levará o assunto de teu relacionamento com a igreja. Em vista de tudo isto, os oficiais, como te escrevi anteriormente, insistentemente te pedem para cessar tuas atividades."

Como será notado, não houve nenhum sugestão de uma audiência para averiguar a verdade ou falsidade de minhas acusações. Foi-me simplesmente pedido para cessar minhas "atividades", ou então...

Como reagi a isso? Como qualquer homem faria sob ameaça. Respondi que eu era um homem de paz, que eu poderia ser persuadido, mas não ameaçado. Pedi que eles levassem adiante seus planos. Eu estava pronto para o que viesse.

O que viria? Eu não sabia o que significava por considerar o meu "relacionamento com a igreja". Poderia não significar nada. Sei que impressão eles deixaram sobre o Sr. Barnhouse, se alguém objetasse à usurpada autoridade deles. Eis o que ele relatou:

"A posição dos adventistas pareceu a alguns de nós em certos casos ser uma nova posição; para eles pode ser meramente a posição do grupo majoritário da liderança sadia que está determinada a colocar os freios em qualquer membro que busque sustentar pontos de vista divergentes dos daquele da maioria responsável da denominação." Eternity Extra, 1º de setembro de 1956.

Parece lamentável que nossos líderes tenham deixado tal impressão sobre os evangélicos. Essa declaração tem estado agora publicada por três anos. A atenção de nossos líderes foi chamada a ela e pedidos foram feitos para que negassem tal intenção. Mas eles não fizeram qualquer negação ou protesto, e nosso povo relutantemente tem chegado à conclusão que o Sr. Barnhouse está correto em sua avaliação de nossos líderes.

Acrescente-se a isto o que o Sr. Martin relata que os líderes lhe disseram, que "eles (os adventistas) têm entre seu número certos membros de sua 'orla lunática', assim como há similares 'extremistas irresponsáveis' em todo campo do cristianismo fundamental." Isto é o que os nossos líderes disseram aos evangélicos na discussão de importantes tópicos da natureza de CRISTO enquanto em carne. Essas declarações eu considero um insulto. Isto mostra o desprezo que nossos líderes têm por aqueles que discordam deles. Penso que essas declarações dão ampla base para denúncia. Nosso povo é tolerante, mas esta é a primeira vez que sei que leais adventistas do sétimo dia são cobertos de insultos pelos líderes.

Um Breve Encontro

A única reunião que tive com nossos líderes foi num dia de fevereiro de 1958, quando dois oficiais me pediram para encontrar-me com eles durante os poucos minutos que tinham de folga entre as sessões de suas reuniões de negócios. A coisa principal pareceu ser o desejo deles de saber se eu pretendia continuar com minha "atividade". Disse-lhes que eu pretendia. Uma observação foi feita de por que eu não havia pedido uma audiência. Nunca tivera me ocorrido que eu devesse pedir uma audiência. Eu esperava ser convocado. Mas refletindo melhor sobre isso, no dia seguinte escrevi:

"Eu não sabia que querias que eu fosse a Washington para uma audiência ou discussão, pois nunca mencionaste tal coisa. Se este é o teu desejo, estou pronto a ir... Tenho apenas um pedido, que a audiência seja pública, ou que um estenógrafo esteja presente, e que eu receba uma cópia das minutas." Carta, 5 de fevereiro de 1958.

Em resposta a isto recebi uma carta, datada de 10 de fevereiro, convidando-me a ir, dizendo:

"Em concordância com o teu desejo, os irmãos não vêem qualquer objeção em gravar nossa conversação. Foi sugerido que um gravador seria o meio mais prático de fazer isto."

Isto me foi satisfatório. Notei, contudo, que nada fora dito de eu receber uma cópia das minutas. Mas talvez, pensei, isto era tomado como certo, uma vez que eu dera essa condição, e eles tinham aceito minha proposição. Mas me senti inquieto. Se eu devesse escrever por mais confirmação poderia parecer que eu estava questionando a sinceridade deles. Mas quando até 21 de fevereiro não recebi mais nenhuma palavra, escrevi:

"Se por equívoco ou intenção, não respondeste ao meu pedido que me seria dada uma cópia das minutas. Isto é necessário, pois em qualquer discussão do que é dito ou não dito, será a minha palavra contra a dos doze. Não me posso permitir colocar nessa posição. Esta é a condição para que eu vá."

A isto recebi uma resposta datada de 27 de fevereiro:

"Sobre o assunto da gravação, penso que indiquei em minha carta de 10 de fevereiro que os irmãos tinham em mente gravar em fita as conversas da reunião. Isto forneceria uma gravação completa do que foi dito e feito. Assumimos que tal gravação completa seria conveniente para ti."

Eu pedira uma cópia das minutas, e essa carta me assegurava que uma gravação em fita seria feita que "forneceria uma gravação completa do que seria dito e feito." Fora assumido "que tal gravação completa seria conveniente para ti." Ela seria. Finalmente fora-me assegurado que uma gravação plena e completa seria feita, e que de acordo com a sugestão deles próprios seria gravada em fita. Nada mais eu poderia pedir.

Mas tendo lido Questions on Doctrine cuidadosamente, eu notara que certas coisas eram ditas numa página, e poucas páginas adiante elas eram ignoradas. Eu notara certas expressões ambíguas, e isto me deu um senso de incerteza. Eu não podia evitar a convicção que algumas dessas expressões foram usadas com o propósito de confusão e foram intencionais para iludir.

Eu portanto reli as cartas que eu tinha escrito, e também aquelas que eu recebera, especialmente as porções tratando com meu pedido por uma cópia das minutas. Notei que em nenhum lugar meu pedido tinha sido reconhecido, mas o assunto tinha sido evitado. Isto me fez pensar. Havia um estudado propósito de não me dar uma cópia das minutas, conquanto as cartas fossem escritas para dar a impressão que eu obteria uma cópia delas? A evidência parecia consubstanciar minha suspeita. Para tornar-me seguro, escrevi em 4 de março que eu queria a garantia absoluta, explicitamente declarada, que eu conseguiria uma "plena e completa cópia das minutas", tal como fora mencionado. Terminei dizendo: "Sobre este ponto preciso ter absoluta garantia."

Como até 12 de março não recebi resposta, escrevi novamente, "Ainda estou aguardando pela palavra definitiva que não somente uma gravação em fita será feita, mas que obterei uma cópia. Como declarei em minha primeira carta, esta é uma condição necessária."

Em 18 de março veio esta resposta:

"Tens te referido ao desejo de teres as minutas gravadas, e também uma cópia das minutas. Ao discutir isto com os oficiais, ocorreu ao irmãos que faremos isto, que parece justo para todos os interessados: um secretário é apontado dentro do grupo para escrever as conclusões a que chegarmos, e isto é submetido ao grupo inteiro para aprovação, após o que será dada uma cópia a todos. Cremos, Irmão Andreasen, que esta sugestão será aceitável para ti."

Isto era inteiramente novo e uma sugestão inteiramente diferente. Depois que foi-me dito na carta de 27 de fevereiro, que uma fita gravada seria feita, uma "completa" gravação do "que foi dito e feito", e a esperança expressa de que tal "gravação completa seria satisfatória" para mim, era-me agora apresentado uma nova proposta não ouvida antes, uma reviravolta completa. Não haveria estenógrafo, nenhuma gravação, nenhuma minuta absolutamente, mas uma que escreveriam sobre as conclusões realizadas. E isto era suposto que me agradasse! Certamente que isto não me era satisfatório. Era uma completa ruptura da fé. Era como substituir Lia por Raquel, uma transação desonrosa. Senti-me como sentiu-se Jacó que havia sido iludido. Três semanas antes, tinham-me prometido "uma cópia completa" das minutas que era esperado ser-me satisfatório. Agora foi-me oferecida uma cópia das conclusões, que também era esperada ser-me satisfatória.

Essa carta de 18 de março revela o fato de que nunca fora a intenção dar-me uma cópia das minutas, e não obstante eles brincaram comigo, pensando que eu aceitaria a sugestão deles, vindo a uma audiência ou discussão, e não tendo nada gravado da discussão, mas somente as conclusões. Nas eras escuras, os heréticos eram presos e condenados em segredo. Naquela época não havia habeas corpus. E agora os oficiais sugeriram uma sessão não gravada, onde somente poucos estariam presentes e nenhum registro de qualquer tipo fosse feito! Considero isto uma sugestão imoral. Do que estariam eles com medo? Além disso, antes de ir a tal audiência a condição fora feita "de que concordas em submeter teu caso ao comitê da Associação Geral, de concordar com a decisão do comitê." (Carta de 13 de maio de 1958). Isto claramente revela a intenção do comitê. Uma audiência devia ser realizada, uma audiência secreta, e entrar numa discussão, mas antes que a audiência ou discussão fosse feita, eu deveria concordar em aceitar a conclusão e veredito deles. Sob essas condições, como poderiam eles ajudar a ganhar o caso deles?

Parece que os oficiais tinham em mente nomearem-se como acusadores, jurados, juízes e executores. Num caso envolvendo pontos de doutrina onde é necessário que haja discussão para se chegar a conclusões seguras, uma comissão neutra de homens não diretamente envolvidos na controvérsia deve ouvir o caso. Nenhum juiz ouve um caso onde ele esteja pessoalmente interessado. Ele se recusa a julgar um caso onde ele esteja mesmo remotamente interessado. Mas nossos oficiais apontaram-se para julgar o caso e agir como árbitros numa disputa envolvendo pontos de teologia, com o poder de agir e pedir que um lado concorde de antemão em aceitar qualquer decisão que seja feita. Isto, de certo, é equivalente a aceitar o dito de homens elevados como administradores, executivos, promotores, financistas, organizadores e conselheiros a ter jurisdição sobre doutrina, para qual obra não estão educados. Tenho ouvido cada um deles dizer, "Não sou teólogo".

Em 26 de março de 1958, respondi a carta que afirmava que não haveria gravação nenhuma, mas que eu receberia uma cópia das conclusões. Eu não precisava daquilo. Eu sabia de antemão quais elas seriam, pois eu já havia sido julgado e ameaçado. Eu tinha sido propositadamente mantido em ignorância sobre o intento de não me darem uma cópia das minutas, mas de me julgarem secretamente. Aparentemente fora intenção manter o assunto desconhecido, e se eu de antemão concordasse em aceitar as conclusões deles, eu poderia ser acusado de quebrar minha promessa se eu fizesse qualquer comentário posterior. Se eu pudesse ser induzido a vir a Washington sob essas condições, eu certamente seria "humilhado". Com o caso inteiro na mente, com as repetidas evasões ao meu pedido por uma cópia das minutas, senti que eu fora iludido e terminei minha carta dizendo, "Tua promessa quebrada cancela o acordo." Minha fé nos homens tinha sido severamente abalada.

Em 3 de abril recebi uma resposta declarando que minha carta "tinha sido recebida e seu conteúdo apresentado aos oficiais." Não havia menção alguma de minha declaração, "Tua promessa quebrada cancela o acordo", a parte mais importante. Além disso, esta declaração não fora lida aos oficiais, pois um mês mais tarde recebi uma carta dizendo, "Através de outros eu soube que sentes que quebramos nossas promessas para ti." Esta perversão de minhas palavras tinha saído ao campo, que naturalmente creriam que eu havia escrito aos outros e não para a pessoa interessada. Não faço esse tipo de obra.

Nessa carta de 3 de abril o escritor declara:

"É verdadeiro, como declaraste, que a gravação da fita foi sugerida no início, sem a promessa, contudo, de dar-te uma cópia. Desde que foi feita esta sugestão, pensamos mais sobre o assunto e cremos que tal sugestão não seria um plano sábio a seguir... A gravação de uma fita de cada pequeno detalhe não seria justa aos participantes. Em tais discussões não é incomum para homens fervorosos cometerem deslizes de que mais tarde se arrependem e corrigem. O homem mortal está sujeito a tais erros; mas por que preservá-los? O propósito sincero da reunião seria chegar a conclusões justas... Conforme revejo tuas cartas, isto pareceria estar de acordo com tua sugestão original."

Isto torna claro muitos assuntos. Admite que uma gravação de fita fora sugerida no início. Também torna claro que nunca foi intenção dar-me uma cópia, embora as cartas foram escritas para esconder este fato. Também declara que os oficiais mudaram de idéia e decidiram que seria sábio não gravar nada, pois isso "não seria justo para os participantes," uma mais surpreendente razão, e revelando a mais decidida fraqueza. E então a última declaração inverídica: "Conforme revejo tuas cartas, isto pareceria estar de acordo com tua sugestão original."

Maior inverdade jamais pronunciada. Eu desafio o escritor que diz que releu minhas cartas, a encontrar qualquer lugar em que digo ou intimo tal coisa. E ainda, essa impressão foi para o campo a partir de Washington. Nunca suspeitando que Washington diria nada senão a absoluta verdade, os homens do campo que foram admoestados a "manterem-se alinhados", naturalmente creriam que aquela fora minha "sugestão original". Nada pode estar mais longe da verdade. Várias vezes enfatizei em todas as minhas cartas que eu queria uma cópia das minutas, e agora o escritor diz como se ele tivesse relido em minhas cartas de que uma cópia das conclusões fora minha sugestão original. Qual foi sua razão por tão patente erro? Penso que sei. É possível que as notícias de Washington sejam dadas com ponto de vista viezado?

Por que esta mudança repentina?

Deve haver algumas razões importantes para que fosse de repente decidido não ter nenhuma gravação, após ter sido primeiro decidido ter uma gravação completa e plena de "tudo o que for dito e feito"? Os registros da crise de 1888, o Alfa da apostasia, desapareceram em grande parte, e os relatos existentes estão seguramente escondidos e não disponíveis. Não queremos uma situação semelhante no tempo do Fmega. Que haja luz.

Não sei por que veio a mudança. Posso apenas supor. Ficou entendido que minha "atividade" seria considerada tanto quanto meu relacionamento com a igreja. Os irmãos também sugeriram que talvez eu tivesse algumas questões além que deveriam ser discutidas. Eu tinha. Fiz uma lista desses assuntos. Eis aqui:

1 - Os artigos do Pr. Froom, particularmente aquele da revista Ministry de fevereiro de 1957, rebaixando a Sra. White.

2 - As visitas aos Depositários White dos Pastores Anderson e Read com relação a ter inserções feitas nos escritos da Sra. White, e as políticas gerais agora prevalecentes.

3 - A lista de tópicos discutidos com os evangélicos que tomaram "centenas de horas", e as primeiras conclusões chegadas.

4 - A lista detalhada de livros "remediados e corrigidos" sob a recomendação do Sr. Martin, e uma posterior lista de livros ainda serem remediados.

5 - O processo de US$ 3.000.

6 - Proselitismo. O que foi acordado.

7 - O significado de "colocar um freio" e "orla lunática" e "extremistas irresponsáveis".

8 - A nova universidade e os débeis campos externos.

9 - "Moedas cambiais".

10 - Uma auditoria completa por uma firma responsável de auditores externos.

Esta lista não enviei para Washington, pois eu bem sabia que seria uma matéria de meses de espera por tal programa. Sugeri apenas poucos assuntos, e certamente eu sabia qual seria o resultado. Mas, curiosamente bastante, exatamente nessa ocasião os irmãos decidiram que não seria sábio ter qualquer gravação feita. Sob tais circunstâncias concordei com a decisão deles. A razão pusilâmine [covarde] dada para não ser feita nenhuma gravação - que os irmãos poderiam fazer observações das quais depois se arrependeriam - é simplesmente tola. Mas que não haja mal entendido. Uma explicação ainda terá de ser dada.

Para culminar, veio isto na carta de 3 de abril: "Nunca pediste uma audiência." Deixarei ao leitor decidir esta questão por si mesmo. Respondi:

"Não cometas erro neste ponto. Eu não somente queria uma audiência, mas tal audiência deve ser realizada se todo este lamentável assunto tiver de ser resolvido. Dizes que imaginastes se eu estou sendo realmente sincero em querer uma audiência. Sim, quero uma audiência. Eu exijo uma. Não uma audiência secreta. Mas uma aberta, ou com uma gravação plena e completa de tudo o que for dito ou feito. Este tem sido meu desejo desde o começo. Nenhum tribunal secreto."

Minha última comunicação com a Associação Geral foi datada de 28.06.58. Perguntei se ainda havia a determinação de dar-me uma audiência com uma fita gravada para mim. Uma secretária respondeu:

"Com referência a uma gravação em fita da reunião, sou instruída a dizer que nossa correspondência não revela nenhuma promessa de uma fita gravada para ti. Se desejado, uma gravação pode ser feita, mas será mantida neste escritório para um registro permanente como previamente declarado."

Isto me deixou livre. Exauri todos os meios de correspondência com os homens a quem havia de me dirigir. Posso agora falar à igreja, como CRISTO disse que deveria ser feito se os outros meios falhassem. Isto farei. Mas ainda estou pronto para uma audiência ou julgamento, apropriadamente conduzido e devidamente gravado. Deixa a luz entrar.

Paixões Herdadas

Na página 383 do livro Questions on Doctrine ocorre a declaração que CRISTO "estava isento [imune] das paixões herdadas e das poluições que corrompem os descendentes naturais de Adão."

Essa não é citação do Espírito de Profecia. É uma nova doutrina que jamais apareceu em qualquer das Declarações de Crenças da denominação adventista do sétimo dia, e está em conflito direto com nossas anteriores declarações de doutrina. Não foi "adotada pela Associação Geral numa sessão quadrienal, quando delegados credenciados de todo campo estão presentes", como Questions on Doctrine diz que precisa ser feito para a declaração ser oficial. Ver página 9. É portanto uma doutrina não aceita nem aprovada.

Duas Declarações

Há duas afirmações nos Testemunhos que são referidas para provar que CRISTO era isento [imune] de paixões herdadas. A primeira diz que CRISTO "é nosso exemplo em todas as coisas. Ele é um irmão em nossas enfermidades, mas não em possuir paixões semelhantes." Testimonies, vol. 2, pág. 202. A outra declara, "JESUS era um poderoso suplicante, não possuindo as paixões de nossas humanas naturezas caídas, mas cercado com enfermidades semelhantes, tentado em todos os pontos mesmo como somos." Testimonies, vol. 2, pág. 509. Ambas essas declarações mencionam "paixões", nenhuma delas menciona "poluições". A palavra isento [exempt em inglês também significa imune] não é encontrada.

Porventura a declaração da Irmã White de que CRISTO não tinha ou possuía paixões significa que Ele era imune a elas? Não, pois não ter paixões não é equivalente a ser isento delas [ou estar imune a elas]. São dois conceitos inteiramente diferentes. Isento é definido "estar livre e excusado de uma obrigação opressiva; tirar, libertar, liberar como de um regulamento que os outros devem observar, que obriga os outros; estar imune de." 

Foi CRISTO excusado de "uma regra que os outros precisam observar, que obriga os outros"? Não, "DEUS permitiu Seu Filho vir, um indefeso bebê, sujeito à (não imune à) fraqueza da humanidade. Ele Lhe permitiu enfrentar os perigos da vida em comum com toda alma humana, lutar a batalha como cada filho da humanidade precisa combatê-la, ao risco de fracasso e perda eterna." Desire of Ages [O Desejado de Todas as Nações], pág. 49. 

"Enquanto Ele era uma criança, Ele pensava e falava como criança, mas nenhum traço de pecado desfigurava a imagem de DEUS dentro Dele. Não obstante Ele não estava isento da tentação. Ele estava sujeito (não imune) a todos os conflitos que temos de enfrentar." Ibidem, pág. 71. 

"DEUS não poupou Seu próprio Filho." Romanos 8:32. "Nenhum filho da humanidade jamais será chamado a viver uma vida santa em meio a tão feroz conflito com a tentação como foi nosso Salvador." Desire of Ages, pág. 71. 

"Era necessário para JESUS estar constantemente em guarda para preservar Sua pureza." Ibidem. Um homem pode não ter câncer, mas significa isto que ele está imune, isento de pegar câncer? Não absolutamente. No ano seguinte ele por ser afligido pelo câncer. A Irmã White não diz que CRISTO era isento de paixões. Ela diz que Ele não tinha paixões, não possuía paixões, não que ele era imune a elas.

Por que CRISTO não tinha paixões? Porque "a alma precisa propor-se ao ato pecaminoso antes que a paixão possa ter domínio sobre a razão, ou a iniquidade triunfar sobre a consciência." Testimonies, vol. 5, pág. 177. E CRISTO não se propunha a nenhum ato pecaminoso. Nem por um momento havia Nele uma propensão pecaminosa. 

"Era necessário para JESUS estar constantemente em guarda para preservar Sua pureza." O Desejado, 71. Ele era puro, santo, impoluto. Mas isto não significa que JESUS era imune à tentação ou ao pecado. "Ele poderia ter pecado, Ele poderia ter caído." SDABC, vol. 5, pág. 1128. Ainda estou perplexo como pode alguém fazer a Irmã White dizer que CRISTO era isento, quando ela diz exatamente o oposto, e não utiliza a palavra isento.

 

É a Tentação Pecado?

Tentação não é pecado; mas pode tornar-se se nos rendermos a ela. "Quando pensamentos impuros são acariciados, eles não precisam ser expressos em palavras ou atos para consumar o pecado e levar a alma à condenação." Testimonies, vol. 4, pág. 623. "Um pensamento impuro tolerado, um desejo não santo acariciado, e a alma está contaminada... Todo pensamento mau deve ser imediatamente repelido." Testimonies, vol. 5, pág. 177.

Satanás nos tenta a pecar. DEUS utiliza tentação controlada para nos fortalecer e ensinar a resistir. Satanás tentou Adão no Éden; ele tentou Abraão e todos os profetas; ele tentou CRISTO; ele tenta todo homem, mas DEUS "não nos deixará ser tentados além do que podemos suportar." I Coríntios 10: 13.

"CRISTO foi um agente moral livre que podia ter pecado se assim desejasse. Ele estava em liberdade de render-Se às tentações de Satanás e de agir em oposição a DEUS. Se assim não fosse, se não Lhe fosse possível cair, Ele não poderia ser tentado em todos os pontos como a família humana é tentada." Youths' Instructor, 26 de outubro de 1899.

A Grande Lei da Hereditariedade

Questions on Doctrine diz na página 383, que CRISTO foi "isento das paixões herdadas e das poluicões que corrompem os descendentes naturais de Adão." Toda criança que é nascida neste mundo, herda diversos traços de seus ancestrais. Herdou CRISTO semelhantes traços? Ou foi ele isento? Eis a resposta:

"Como todo filho de Adão, JESUS aceitou os resultados da operação da grande lei da hereditariedade." O Desejado, pág. 48. "O resultado disso é mostrado na história de Seus ancestrais terrestres." Ibidem. Alguns desses ancestrais eram gente boa; alguns não tanto; alguns eram maus; alguns eram muito maus. Havia ladrões, assassinos, adúlteros, enganadores, entre eles. JESUS tinha os mesmos ancestrais que todos nós temos. "Ele veio com tal hereditariedade para compartilhar nossas tristezas e tentações." Ibidem. "JESUS aceitou a humanidade quando a raça tinha sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado." Ibidem.

Em vista dessas e de muitas outras declarações, como pode alguém dizer que JESUS era imune? Longe de estar isento ou relutantemente submisso a essas condições, Ele aceitou-as. Duas vezes isto é declarado nas citações aqui feitas. Ele aceitou os resultados da operação da grande lei da hereditariedade, e com "tal hereditariedade Ele veio para compartilhar de nossas tristezas e tentações."

A escolha do devoto adventista é portanto entre Questions on Doctrine e Desire of Ages, entre a falsidade e a verdade. "DEUS permitiu Seu Filho vir, um bebê indefeso, sujeito às fraquezas da humanidade. Ele Lhe permitiu enfrentar os perigos da vida em comum com toda alma humana, a lutar as batalhas como cada filhos da humanidade precisa lutá-la, ao risco de fracasso e perda eterna." O Desejado, pág. 49. 

"CRISTO sabia que o inimigo viria a todo ser humano para tomar vantagem da fraqueza hereditária... e ao passar pelo caminho que o homem deve percorrer, nosso SENHOR nos preparou o caminho para vencermos." O Desejado, pág. 122-123. "Sobre Ele que depôs Sua glória, e aceitou a fraqueza da humanidade, a redenção do mundo deve repousar." Ibidem, pág. 11.

Poucos, mesmo de nossos ministros, conhecem algo do que a Irmã White chama de a grande lei da hereditariedade. Não obstante esta é a lei que tornou a encarnação efetiva e fez de CRISTO um homem real, como um de nós em todas as coisas. Que CRISTO devesse ser como um de nós em todas as coisas, Paulo considerava uma necessidade moral da parte de DEUS, e torna evidente ao assim afirmar. Diz ele: "Em todas as coisas convinha que Ele Se tornasse como Seus irmãos, para que Ele pudesse ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas pertinentes a DEUS para fazer reconciliação pelos pecados do povo; pois naquilo que Ele mesmo sofreu, sendo tentado, é capaz de socorrer os que são tentados." Hebreus 2:17-18. Convinha aqui significa "devia", um dever moral recaído sobre DEUS.

A grande lei da hereditariedade foi decretada por DEUS para tornar a salvação possível, e é uma das leis elementares que nunca foi abolida. Eliminada essa lei, e não temos Salvador que possa ser de ajuda ou exemplo para nós. Graciosamente CRISTO aceitou esta lei, e assim tornou a salvação possível. Ensinar que CRISTO era imune a esta lei nega o cristianismo e torna a encarnação um logro piedoso. Queira DEUS libertar os adventistas do sétimo dia de tais ensinos e ensinadores!

Poluição

Não toquei no assunto da poluição, embora ele é mencionado em Questions on Doctrine em conexão com paixões. CRISTO estava sujeito à grande lei da hereditariedade, mas isto nada tem a ver com poluição. Pensamentos impuros tolerados, desejos ímpios acariciados, más paixões favorecidas, terminarão em contaminação, poluição, e pecado franco. Mas CRISTO não foi afetado por nada disso. Ele "não recebeu nenhum aviltamento;" "JESUS, vindo habitar com a humanidade, não recebeu nenhuma poluição." O Desejado, pág. 266.

Paixão e poluição são duas coisas diferentes, e não devem ser colocadas juntas como são em Questions on Doctrine. Paixão pode geralmente ser igualada com tentação, e como tal não é pecado. Um pensamento impuro pode vir espontâneo mesmo numa ocasião sagrada, mas ele não corrompe; não é pecado, a não ser que seja acariciado e tolerado. Um desejo não santo pode de repente refletir na mente sob instigação de Satanás; mas não é pecado a não ser que seja acariciado.

A lei da hereditariedade se aplica a paixões e não a poluições. Se a poluição é hereditária, então CRISTO teria sido poluído quando veio a este mundo, e não poderia ser, portanto, "aquela coisa santa." Lucas 1:35. Mesmo os filhos de um marido descrente são chamados santos, uma declaração que deve ser um conforto às esposas de tais maridos. I Coríntios 7:14. Como adventistas, contudo, não cremos no pecado original.

Sobre esse assunto de poluição há muito a dizer. Mas como o problema que estamos enfrentando trata somente com paixões, não discutiremos poluição adiante. Na ocasião, posso ter mais a dizer sobre paixões, pois considero a declaração em Questions on Doctrine heresia mortal, destrutiva da expiação.

Minha próxima carta será a última desta série. Mas se o leitor consultar a lista dos dez assuntos que enumerei nesta carta, verá que ainda há muito a ser feito. E aquela lista não é exaustiva. Contudo, darei tempo para o que tenho dito penetrar, pois corpos grandes são vagarosos, e toma tempo para "levedar toda massa". Mas o fermento está operando, e no devido tempo os resultados esperados virão. Mas não tenho pressa. O tempo está com a verdade, e a verdade fará seu curso, e não é dependente de nenhum instrumento humano. 

Tenho recebido muitas cartas encorajadoras, e sou grato por elas, e só lamento que preciso deixar muitas sem responder. Um homem proeminente de Washington escreveu-me sobre a confusão existente lá, e declarou: "Estamos observando os eventos, e quando o tempo vier, estaremos prontos para agir. Pessoalmente, não creio que o tempo esteja maduro, mas está perto. Estamos contigo, e podes depender de nós."

Estou contente de relatar que minha saúde está boa, e que estou desfrutando a vida no limite [O Pr. Andreasen faleceu em 1962, aos 86 anos]. É maravilhoso viver num tal tempo como este. "Sou imortal até que minha obra seja feita." Isto pode ser amanhã, mas se assim for, estou satisfeito e preparado.

Saudações a todos os meus amigos com I Tessalonicenses 5: 25: "Irmãos, orai por nós."

(Assinado) M. L. Andreasen.