Ômega
"O que foi, é o que há de ser; e o que se fez, isso se
tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol" - Eclesiastes
1:9
Tem-se dito que os que deixam de aprender da história estão
fadados a repetir seus erros. Para os adventistas do sétimo dia esta
declaração é mais que um clichê. É uma certeza.
"Não vos enganeis; muitos se afastarão da fé, dando ouvidos
a espíritos sedutores e doutrinas de demônios. Temos agora perante nós
o alfa deste perigo. O ômega será de natureza mais assustadora" -
Mensagens Escolhidas, vol 1, p 197
Esta declaração foi feita em julho de 1904, quando a denominação
enfrentava um batalhão de problemas quase além da imaginação. A perda
de sua maior instituição e o enfraquecimento da obra médica vital.
Apostasia em larga escala entre alguns de seus homens mais influentes.
Heresias tão sutis que suas implicações passavam sem serem reconhecidas
mesmo pelos que as proclamavam. Manipulações legais que despejavam
fortunas em algumas áreas enquanto o campo mundial lutava para
sobreviver. E o iminente ataque de Ballenger, ferindo a própria base lógica
do adventismo. Era um tempo em que se necessitava de todas as energias de
cada membro fiel da igreja para manter o navio à tona, e contudo, em
meios à crise, Ellen White tomou tempo para advertir a igreja sobre um
perigo que ainda estava no futuro.
"No livro Living Temple acha-se apresentado o alfa de
heresias letais. Seguir-se-á o ômega, e será recebido por aqueles que não
estiverem dispostos a atender à advertência dada por Deus"
Mensagens Escolhidas, vol 1, p 200
Ômega. Alguma outra coisa viria, suficientemente parecida com a
crise então presente para justificar o encadeamento dos dois eventos por
letras tiradas de um mesmo alfabeto. Além disso, a serva de Deus disse
pouca coisa. Foi uma advertência enigmática, gritada de dentro do
vendaval de uma crise devoradora quase como um aparte, uma dádiva para o
futuro dada num momento quando ela quase não tinha tempo para nada exceto
o presente. E contudo, Ellen White deixou algumas pistas quanto ao que o
ômega poderia envolver, e, pela urgência de sua advertência, parece ser
essencial que tentemos encaixá-las umas com as outras.
Do Espírito de Profecia podemos depreender com certeza pelo menos
três coisas sobre o ômega. Não era uma parte da apostasia do alfa; ele
iria "seguir" mais tarde. Seria até mais letal que o alfa, um
desafio tão terrível que Ellen White "tremeu" por nosso povo.
E ele "será recebido por aqueles que não estiverem dispostos a
atender à advertência dada por Deus". Em outras palavras, aqueles
que escolhem seguir o conselho de Deus apenas quando convém a suas preferência
pessoais, aparentemente serão alvos fáceis de oportunidade para o engano
do ômega.
Mas se investigarmos a escolha do simbolismo que Ellen White faz,
parece haver até mais do que podemos decifrar. Em 1904 ela vê que algo
terrível está acontecendo com a igreja. Portas que uma vez estavam
abertas ao evangelho estão se fechando. Até as verdades mais básicas
estão sendo questionadas de todas as formas. É uma experiência horrível
que ela teme abertamente lhe possa custar a vida, e olhando para o futuro,
ela vê que isto acontecerá novamente, próximo ao fim do tempo. De
alguma forma o povo de Deus deve ser avisado, e a sra. White tenta obter
uma figura para descrever dois
eventos separados pelo tempo mas de natureza similar. Ao descrever a
grande apostasia do futuro, ela não usa a letra seguinte ao alfa no
alfabeto grego. Ela não advertiu sobre uma apostasia "beta"ou
"gama" ou mesmo "delta". Ao invés disso ela salta bem
adiante, para o fim do alfabeto, e escolhe um símbolo que Cristo usou em
conexão com o fim. Alfa e ômega. As implicações são claras. Há dois
eventos, separados mas similares. Um ocorre no fim do tempo. E, se se
entende o primeiro, reconhecer-se-á o segundo.
De uma outra coisa podemos estar quase certos: o ômega atacará
doutrinas básicas da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Quase todas as
grandes apostasias têm incluído uniformemente três áreas de ataque: O
santuário, o juízo investigativo e o Espírito de Profecia - sempre em
nome de grande bem para a igreja, disfarçadas em termos como reforma.
"O inimigo das lamas tem procurado introduzir a suposição de que
uma grande reforma devia efetuar-se entre os Adventistas do Sétimo Dia, e
que essa reforma consistiria em renunciar às doutrinas que se erguem como
pilares de nossa fé, e empenhar-se num processo de reorganização".
(Idem, p 204) Tal apostasia, advertiu ela, poderia ter efeitos
devastadores, pois o Adventismo é um sistema de verdades altamente
interrelacionadas; ataque uma, e as peças de dominó começam a tombar.
Os "princípios da verdade", nos quais a igreja remanescente tem
crido por longo tempo "seriam rejeitados". Uma "nova
organização" seria estabelecida. Seriam escritos livros de uma
"ordem diferente". Filosofia intelectual tomaria o lugar das
verdades fundamentais da igreja. O sábado seria "menosprezado".
E o novo movimento seria liderado por homens agressivos que não
permitiriam a "coisa alguma... opor-se". Idem, p 204,205
Era uma cena arrepiante. Sob a bandeira de "nova luz"
poderosas forças procurariam moldar a igreja de Deus em alguma nova forma
irreconhecível. Agiriam eles em nome de uma reforma, esquecendo que a
reforma que a bíblia requer é uma reforma de vida, não da doutrina
estabelecida; esquecendo-se, também, da advertência de Ellen White de
que a igreja não necessitava de nova luz tanto quanto de viver à altura
da luz que já possuía. E no processo eles certamente introduziriam,
dessa forma, profunda confusão sobre uma das questões mais básicas na
igreja: Como devem viver os Adventistas?
Não há nada de sutil relacionado com o adventismo. Ele não
sussurra ao mundo, mas grita. Ele começa, segundo a imagem da bíblia,
com anjos, falando em alta voz do meio do céu. ele termina com o mais
poderoso terremoto da história. E tendo obtido a atenção do mundo,
exibe a lei de Deus e proclama que o juízo já começou. Há pouco lugar,
numa religião assim, para padrões dúplices, para pregar uma coisa e
fazer outra. O povo de Deus reclama estar vivendo no grande dia antitípico
da expiação, com suas vidas sendo passadas em revista final perante
Deus, e uma das maiores falhas concebíveis seria dar tal mensagem e viver
como se ela não fosse verdadeira.
Não obstante, este é o resultado invariável de um ataque ao
santuário ou ao juízo investigativo. O adventismo produz um problema
inevitável para todo indivíduo que já tentou reescrever a verdade
adventista. O santuário e a santificação estão relacionados de maneira
indivisível. Ataque um, e causará dano também ao outro. Remova a
verdade do santuário com sua poderosa mensagem de verdadeira reforma, e
você se verá logo perdido numa confusão de termos teológicos, tentando
explicar porque as obras são até necessárias. Ataque a santificação,
e você não poderá descansar confortavelmente até que remova a
persistente luz do santuário.
Há uma possibilidade de que também isto seja repetido como parte
do ômega? Talvez. E um dos melhores esclarecimentos encontra-se no
simbolismo usado pela mensageira de Deus. Lembre-se de que alfa e ômega são
duas letras nos extremos opostos do mesmo alfabeto. Elas estão ligadas
por algo em comum, não obstante estão voltadas para direções opostas.
Há aqui um significado que se torna evidente com um pouco de reflexão.
Para captá-lo tem-se de olhar em retrospecto para a teologia do
alfa. Durante toda a sua vida Kellogg firmemente proclamou sua crença no
cristianismo. Superficialmente examinadas, mesmo as declarações que ele
fez em sua última entrevista com os pastores do tabernáculo de Battle
Creek soam como palavras de um cristão devoto. Não obstante, a teologia
de Kellogg, levada até sua conclusão lógica, remove a necessidade de um
salvador. Deus, afirmava ele, estava em todas as coisas - no ar que
respiramos (na forma do Espírito Santo), na luz do sol, até mesmo nos
gramados que se estendiam fora se sua casa. Se Deus está em tudo, ele
deve estar também no homem; e assim, todo ato humano se torna um ato de
Deus. A divindade se torna tão interna ao homem que o próprio pensamento
de um salvador externo se torna sem sentido.
Não há salvador - não há nada fora do homem. Isso, levado a um
extremo que nem Kellogg nem Waggoner jamais puderam perceber plenamente,
é a mensagem fundamental do alfa. Agora segue-se o simbolismo lógico de
duas letras, partilhando da mesma matéria de um alfabeto mas localizadas
em extremos opostos. Se o alfa é um erro concernente ao papel de Cristo
na salvação, e se ele aponta em certa direção no alfabeto grego, será
possível que o ômega também interpretará mal a obra de Cristo
apontando ao mesmo tempo em sentido oposto? Em outras palavras, há uma
possibilidade de que o ômega de "heresias letais" tentará
colocar Cristo totalmente fora do homem, introduzindo assim confusão
sobre a santificação porque torna a salvação totalmente externa?
É uma questão que merece a mais séria reflexão. O papel e a
obra de Cristo são as verdades centrais do cristianismo. fique confuso
sobre a obra de Cristo, quer no santuário celestial ou na vida, e, como
Daniells tão adequadamente o expressou, "tudo tomba". em 1904
pediu-se aos adventistas que cressem numa nova doutrina que tornava a
salvação completamente interna. Era um erro enormemente atraente,
perfeitamente calculado para atrair as pessoas numa era de otimismo na
qual todos, desde financistas até ministros, falavam sobre o avança
humano.
Mas que dizer de uma época posterior, na qual um mundo desiludido
olha para trás através dos destroços de seu século e vê apenas
guerras sem fim, grande depressão e luzes se apagando sob um céu impróprio
para respirar? Que dizer dos adventistas, exaustos e desencorajados,
maduros para algo que parece oferecer uma saída mais fácil do infindável
desafio? A este grupo de pessoas o diabo jamais poderia esperar vender o
imensurável otimismo do alfa. Mas ele podia fazer outra coisa. em um
mundo de cabeça para baixo ele podia virar o alfa de cabeça para baixo.
Ele podia tomar o mesmo assunto e abordá-lo a partir do extremo oposto.
ele podia saltar para o fim do alfabeto e encontrar o ômega. E suas
palavras, caindo sobre uma igreja cansada, poderiam soar como música:
"Relaxe; a obra está feita e o tem estado há séculos. Sua única
tarefa é crer nisso".
E de um golpe o enganador-mestre teria levado o adventismo de volta
no tempo a um ponto antes de seu início, apagando o movimento de Deus
como alguma estranha distorção de tempo de ficção científica. Pois o
dom singular do adventismo para o mundo é seu senso de urgência, uma
certeza de grandes eventos que requerem grande preparação. No próprio
momento de seu nascimento o adventismo produziu a mais esplendida exibição
de fé e obras desde o Pentecostes. Os crentes haviam levado a palavra fé
além do mais vertiginoso pico que Lutero jamais sonhou atingir; eles não
haviam apenas crido em Cristo, mas haviam esperado vê-lo, e a perspectiva
de tal evento se tornou mais real para eles do que a vida na terra. Logo,
criam eles, contemplariam Sua face, viveriam com os anjos, testemunhariam
para os mundos não caídos. Não se abordaria este tipo de perspectiva em
descuidosa indiferença sobre sua qualidade de vida. "Estamos nos
preparando para encontrar Aquele que, acompanhado por um séquito de
anjos, deve aparecer nas nuvens do céu para dar aos fiéis e justos o
toque final da imortalidade" (Testemunhos Seletos, vol 2, p 255),
havia escrito Ellen White, e suas palavras captam perfeitamente a urgência
de 1844. Era um tempo solene, um exemplo do que é realmente crer que
Jesus está voltando. Velhos erros foram concertados. "muitos
buscavam o Senhor com arrependimento e humilhação. Fixavam agora no céu
as afeições que durante tanto tempo se haviam apegado às coisas
terrenas...
"As barreiras do orgulho e reserva foram varridas. Fizeram-se
confissões sinceras e os membros da família trabalhavam pela salvação
dos mais queridos e dos que mais perto se achavam. Freqüentemente se
ouvia a voz de fervorosa intercessão" (Grande Conflito, 368) E o
resultado? Um poder para testemunhar depois disso imitado mas raras vezes
alcançado: "Vastas multidões escutavam silenciosas e extasiadas, às
solenes palavras. O céu e a terra pereciam aproximar-se um do outro...
Pessoa alguma que haja assistido àquelas reuniões jamais poderá
esquecer-se dessas cenas do mais profundo interesse" Idem p. 368,369
Se a igreja de Deus houvesse continuado dessa maneira, não teria
havido nada que ela não pudesse ter feito - o diabo tinha de arranjar uma
forma de embotar essa mensagem. E pouco lhe importava se o povo de Deus
errava pensando que a salvação era inteiramente interna, ou se
renunciariam, finalmente, sob as nuvens do fim do tempo que se ajuntavam,
confiando em algo que se disfarça como fé e terminasse como um fracasso.
Para ele havia apenas uma necessidade: ele tinha de desviar o povo de Deus
do plano divino.
Era uma situação notavelmente similar à que Israel enfrentou no
Jordão. Quando obedientes a Deus, eles eram invencíveis. Não havia
nenhum rei Balaque que pudesse impedi-los, nem mesmo alugando um profeta
que indefeso pronunciou bênçãos sobre a nação que fora subornado para
amaldiçoar. Contudo havia uma saída. O povo de Deus podia ser
conquistado se eles deixassem de agir como seu povo. Balaão era impotente
para amaldiçoar a Israel, mas ele ainda podia trazê-los à beira do
desastre com um esquema sutil que os levasse para fora da proteção da
lei de Deus. As bênçãos de Deus eram gratuitas, mas eles poderiam
perder o direito a elas.
Assim com o adventismo. A igreja de Deus estava agora perante o
Jordão - o Jordão na primavera, na época de cheia, correndo para o Mar
Morto, o símbolo de um mundo furioso pelo qual Seu povo teria de passar
em sua jornada rumo ao lar. Não havia maneira humana de passar através
daquele furioso rio, contudo eles podiam fazer a travessia - salvos sob a
arca de Deus, que continha Sua lei. Esta era a mensagem singular do
adventismo. Grandes mudanças se aproximavam; o mundo se dirigia para seus
eventos finais, e não havia nada mais importante que preparar-se. Nenhum
grupo religioso na história moderna jamais fez os reclamos que fizeram os
adventistas: reclamos de novas e grandes compreensões sobre a própria
estrutura do céu, onde Jesus estava julgando o mundo por uma norma
chamada lei de Deus. Toda a razão de ser do adventismo era encontrada
nessa mensagem. Diante do mundo os crentes haviam elevado a arca e chegado
às bordas do Jordão, e a mais inconcebível de todas as calamidades era
a de que eles podiam de alguma forma, aqui na margem, tropeçar e deixá-la
cair.
Esta era a questão, e aí satanás escolheu dirigir seus ataques
sobre a igreja, justamente como Ellen White disse que ela faria. Os
ataques contra o adventismo sempre pareceram envolver suas doutrinas
particulares, atingindo as elevadas normas de Deus para Seu povo - ou
dizendo que os requisitos eram desnecessários ou declarando-os inatingíveis.
Aqui Canright havia naufragado, desafiando abertamente a lei, o sábado, a
inspiração do Espírito de Profecia. John Kellogg, aproximando-se do
mesmo recife, por outra direção, havia também soçobrado na fé com idéias
não demonstradas que eliminavam o juízo investigativo e colocavam o
santuário de Deus dentro do corpo humano. Ballenger, Waggoner, Jones,
McCoy, Conradi - todos seguiram rotas semelhantes, encalhando onde
pensavam ter visto um canal desimpedido que levasse à verdade. E, ao
assim fazeres, estariam inconscientemente demonstrando o papel das obras
no adventismo.
O comportamento dos que advogaram o alfa proporciona algumas
elucidações fascinantes quanto aos efeitos de falsas doutrinas e dá
alguns sinais extremamente úteis para reconhecê-las quando elas
reaparecerem. O próprio Cristo disse que às vezes pode ser extremamente
difícil detectar a heresia, em particular quando ela é habilmente
adaptada para satisfazer à condição mental de sua época. No fim do
tempo, apareceriam erros capazes de enganar os "próprios
escolhidos", uma profecia cumprida com triste precisão no alfa, que
arrebatou a muitos da elite espiritual do adventismo. Deus deu, assim, em
Sua sabedoria, um segundo meio pelo qual podem ser detectados a verdade e
o erro: Frutos. O comportamento humano. Os meios pelo qual as pessoas saem
promovendo as coisas que são importantes para elas. E o meio usado pelos
"reformadores" de 1905 parecia uma lista de sinais de advertência
dos quais se poderia esperar a verificação no engano chamado Ômega.
Encabeçando a lista está a mesma tática que Lúcifer usou para dar a
conhecer à humanidade o pesadelo do pecado. É chamada desonestidade.
"A disputa se tornará cada vez mais feroz" advertiu
Ellen White em 1898. "Dispor-se-ão mentes contra mentes, planos
contra planos, princípios de origem celeste contra princípios satânicos".
E então ela predisse as táticas que alguns usariam. "Há homens que
ensinam a verdade, mas que não estão aperfeiçoando seus caminhos diante
de Deus, que estão tentando dissimular sua apostasia, e encorajar uma
alienação de Deus" Special Testimonies, Série A, n 11, p5,6
"De nosso próprio meio se levantarão falsos mestres, dando
ouvidos a espíritos sedutores cujas doutrinas são de origem satânica.
Estes mestres arrastarão discípulos após si. Infiltrando-se sem serem
notados, usarão palavras jactanciosas e farão hábeis embustes com tato
sedutor" (MS 94, 1903). Quase no mesmo fôlego ela disse que
"falsas teorias estarão misturadas com cada fase da experiência e
serão advogadas com fervor satânico a fim de cativar a mente de toda
alma que não estiver arraigada e fundamentada no pleno conhecimento dos
sagrados princípios da palavra". Idem.
Estas predições haviam se cumprido tragicamente no caso do Dr.
Kellogg e o círculo íntimo de seguidores que apoiavam suas manobras em
Battle Creek. foram postos em ação tramas secretos, que por certo tempo
não foram conhecidos senão pelos conspiradores - e a mensageira do
Senhor, que viu os encontros deles em visão naquela noite. Em 1905 seus
planos estavam quase maduros; o sanatório de Battle Creek permaneceria
pouco tempo mais como instituição adventista, e Ellen White proclamou em
alta voz um alarme a igreja. "Desejo fazer soar uma nota de adventícia
a nosso povo de perto e de longe. Os que estão na vanguarda da obra médica
em Bettle Creek estão fazendo um esforça para obter controle de uma
propriedade que à vista das cortes celestes, não têm direito de
controlar. ...Está em andamento uma obra enganadora para obter uma
propriedade de maneira clandestina. Isto é condenado pela lei de Deus. Não
mencionarei nomes. Mas há médicos e ministros que têm sido
influenciados pelo hipnotismo exercido pelo pai das mentiras. Apesar das
advertências dadas, os sofismas de satanás estão sendo aceitos agora da
mesma forma como o foram nas cortes celestiais" (Special Testimonies,
Série B, n 7, p30). Antes ela havia escrito uma carta comovente a seu
filho, que enfrentava a fúria da apostasia de Michigan. "O médico
está se esforçando para laçar firmemente as instituições médicas de
acordo com suas palavras, como satanás trabalhou nas cortes celestiais
para laçar anjos, a quem induziu a se unirem a seu partido para
trabalharem a fim de criar rebelião no céu". E então ela
acrescentara: "sinto muito por você, Willie. Desejo não estar em
Battle Creek. Mas permaneça firme pela verdade" Carta a W.C. White,
05/08/1903 (Grifos acrescentados)
As mesmas táticas agora se espalhavam por outras áreas. Kellogg e
seus colaboradores, desmascarados pela mensageira de Deus, voltaram seus
ataques contra ela. Dúvidas sutis sobre a fidedignidade de suas mensagens
foram muitas vezes lançadas por obreiros que por razões táticas ou de
emprego fingiram estar dando seu apoio (Kellogg podia manter as pessoas
encantadas ao inundá-las de histórias sobre como ele havia
"preparado uma armadilha para a Irmã White", e como os
testemunhos dela para ele eram alimentados por informações falsas
fornecidas por A.G. Daniells e "Willie chorão" White). tudo
isso Ellen White viu e descreveu com serena precisão. "Muito
habilmente têm alguns trabalhado para tornar sem efeito os testemunhos de
advertência e reprovação que têm resistido à prova por meio século.
Ao mesmo tempo negam estar fazendo tal coisa". Special Testimonies, Série
A, n 11, p31
Verdade. O artigo mais essencial do mundo. Nossa própria sobrevivência
depende dela. Cada dia confiamos absolutamente em informações precisas
sobre mesmo as coisas mais simples como a cor do sinal de trânsito ou a
capacidade de carga de uma viga. sem verdade não há segurança, quer num
sentido físico ou espiritual. É o único canal pelo qual Deus Se
comunica; e a verdade estava sendo manipulada por homens que afirmavam ter
uma mensagem de reforma para a igreja de Deus, homens que não estavam
sendo honestos nem mesmo sobre suas verdadeiras intenções.
"Antes do desenrolar dos recentes eventos, o procedimento que
o Dr. Kellogg e seus associados seguiriam foi claramente delineado perante
mim. Ele e outros planejavam como ganhar a simpatia do povo. eles
procurariam dar a impressão de que criam em todos os pontos de nossa fé,
e tinham confiança nos testemunhos. Assim muitos seriam enganados, e
tomariam posição ao lado dos que se haviam apartado da fé". -
Carta 328 de Ellen White, 1906
Tudo isto leva a outra característica do alfa, sobre a qual o povo
de Deus no fim do tempo precisa ser especialmente advertido. Esta tática
é a hábil manipulação de pessoas. Os líderes do alfa tinham se
dedicado tanto a mudar a igreja que parecem ter decidido que os fins
justificam os meios. Anunciaram planos deliberados de representarem ser fiéis
adventistas que criam na verdade mas que possuíam nova luz que, se a irmã
White pudesse ter uma visão clara a respeito da mesma, ela própria a
adotaria. mesmo homens, como Dr. David Paulson iludido durante algum tempo
por Kellogg, pensavam honestamente que a nova teologia
era apoiada pelos escritos de Ellen White, um erro que, advertiu
ela, Kellogg estava tentando difundir a todo custo. Foi um engano
executado de maneira magistral, e o resultado foi um núcleo de pessoas
brilhantes e influentes que se agruparam em torno de um homem e um novo
movimento, mesmo que isso significasse ter de deixar a igreja.
Isto tem uma profunda importância para as pessoas que estão
atentas para identificar o ômega. As verdades de Deus são tão entrelaçadas,
tão firmemente coerentes, que desviar-se delas quase sempre envolve um
estímulo distrativo, como um indivíduo de personalidade carismática. Há
uma poderosa tendência humana de seguir a liderança forte, especialmente
se esse líder irradia carisma. Nações inteiras - milhões de pessoas -
têm feito exatamente isso, seguindo um homem até sombras profundas onde
não penetra o sol. É uma ameaça à qual nem mesmo o povo de Deus está
imune. Ellen White adverte que há uma classe de pessoas particularmente
vulnerável a esta tática. "Há muitos que não aperfeiçoaram um
caráter cristão; não tornaram a vida pura e imaculada através da
santificação da verdade; e trarão suas imperfeições para dentro da
igreja, e negarão sua fé, adotando teorias estranhas, que promoverão
como se fossem verdades" (MS 145, 1905) - (Há um ponto aqui que deve
ser explorado um momento. Se um falso líder percebe isto, se compreende
que as imperfeições na vida de seus seguidores os liga mais fortemente a
ele e suas teorias, haverá uma poderosa motivação para que ele delineie
uma teologia que deixe as pessoas confortáveis em seus erros).
"Idéias brilhantes, cintilantes, muitas vezes relampejam de
uma mente que se acha influenciada pelo grande enganador. Os que escutam e
aquiescem ficarão encantados, como ficou Eva pelas palavras da serpente.
Eles não podem dar ouvidos a encantadoras
especulações filosóficas, e conservar ao mesmo tempo clara na
mente a palavra do Deus vivo" 1 ME 197
Uma noite em 1904, antes de partir de Washington para Berrien
Springs, Ellen White viu uma reunião em andamento em Battle Creek.
"(Kellogg) estava falando, e ficou cheio de entusiasmo com respeito a
seu tema. ...em sua apresentação ele disfarçou um pouco o assunto, mas
em realidade esta apresentando... teorias científicas que são
semelhantes ao panteísmo.
"Após considerar o semblante satisfeito, interessado, dos
ouvintes, alguém que estava ao seu lado me disso que os anjos maus haviam
dominado a mente do orador". E Ellen White acrescentou que ficou atônita
ao ver com que entusiasmo eram recebidos os sofismas e teorias
enganadoras" Special Testimonies, Série B, n 6, p41
Havia perigo até em discutir tais assuntos com líderes do alfa, e
isto novamente envolvia honestidade básica. "Quando ocupados em
discussão sobre estas teorias, seus defensores tomarão as palavras
faladas para se opor a eles. e farão com que elas pareçam significar
justamente o oposto do que quem as falou queria dizer" (Idem). Em
outras palavras, até falar com esses homens seria correr o risco de ter
as próprias palavras citadas incorretamente, torcidas de forma a parecer
que apoiassem as idéias de Kellogg. Assim os conspiradores do alfa podiam
fazer parecer que multidões estavam "com eles", e que seus
seguidores eram em número muito maior do que eram na realidade. Um jogo
mortal, com regras heterodoxas que os líderes de Deus não poderiam usar
- um jogo que mexia com mentes humanas, como peões num tabuleiro de
xadrez, cujo prêmio para o vencedor seria, em última instância, o
controle da igreja. Pode-se dizer uma coisa com certeza: o jogo do alfa
era jogado com ardor e suas conseqüências seriam eternas.
Para executar seus alvos persuasivos, Kellogg e seus seguidores
usaram alguns mecanismos psicológicos fascinantes. As reuniões eram freqüentemente
realizadas à noite, a às vezes nas primeiras horas da manhã, quando os
ouvintes estavam cansados e menos capazes de pensar por si próprios.
"As longas entrevistas noturnas que o Dr. Kellogg realiza são um de
seus mais eficazes meios de conseguir seu intento. Seu constante fluxo de
palavras confunde a mente dos que ele está procurando influenciar. Ele
expõe e cita palavras erroneamente, e coloca os que discutem com ele numa
luz tão falsa que suas faculdades de discernimento ficam amortecidas. Ele
cita as palavras destes dando-lhes um cunho que faz com que elas pareçam
significar exatamente o oposto do que eles disseram" (Carta 259,1904)
Ellen White escreveu a ele em angústia, lembrando-o de que essas mesmas táticas
haviam antes sido usadas, e haviam causado a queda de um terço dos anjos
do céu. Lúcifer também havia usado habilmente a técnica de ir de anjo
em anjo, arrancando deles declarações que ele então repetia a outros
anjos, dando-lhes um falso sentido. Era uma tática assoladora que fazia
com que ele parecesse ter mais apoio do que existia em realidade, enquanto
ao mesmo tempo isto era usado para lançar descrédito sobre os que eram
leais a Deus, enfraquecendo a credibilidade destes e, dessa forma, sua
influência ao lado da verdade. Era uma tática contra a qual nem mesmo
Deus tinha qualquer medida defensiva exceto o tempo - e a certeza de que
um dia Lúcifer iria longe demais e cometeria uma asneira que removesse o
verniz superficial que encobria seu verdadeiro caráter.
A técnica do mexerico parece ter sido uma parte do alfa, e é um
perigo contra o qual a igreja de Deus deve estar especialmente alerta.
"Mesmo em nossos dias continuará a haver famílias inteiras que uma
vez já se regozijaram na verdade, mas que perderão a fé por causa das
calúnias e mentiras que lhes são trazidas com respeito àqueles que têm
amado e com quem têm tido agradáveis trocas de idéias". O erro
deles estava em ouvir. "Eles abriram o coração à semeadura do
joio; o joio brotou no meio do trigo... e a preciosa verdade perdeu o
poder para eles". Por algum tempo, como ocorreu com Eva, a excursão
deles nesse novo jogo de mexerico e falsa teologia trouxe um estranho
senso de excitação: "Falso zelo acompanhou suas novas teorias, o
que lhes endureceu o coração contra os defensores da verdade como
ocorreu com os judeus em relação a Cristo" Special Testimonies, Série
A, n 11, p9,10
Portanto, o carisma, o uso hábil de inverdades sobre pessoas do
lado direito, e o apelo para seguir personalidades, foram todos grandes
fatores na apostasia que arrebatou da igreja até mesmo homens que haviam
uma vez dado a terceira mensagem angélica "em verdade". Todo
artifício foi empregado para atrair lealdade a um homem e suas idéias
vistosas, mas sem valor, e a técnica funcionou com impressionante
sucesso. É uma ameaça quanto à qual o povo de Deus deve estar vigiando
com profunda atenção para assegurar que ela não volte a ocorrer. E para
aqueles que se sentem atraídos pelo magnetismo de uma personalidade, que
ficam intrigados com novas idéias que podem seduzir até mesmo pensadores
de destaque, há uma advertência emitida em 1905: "Tenho receio dos
homens que adentraram o estudo da ciência que satanás introduziu na
guerra no céu. ... Tendo eles aceito a isca, parece impossível quebrar o
encanto que satanás lança sobre eles" Carta Ellen White para os irmãos
Daniells e Prescott e seus associados, 30/10/1905, coleção J.H.N.
Tindall.
O ponto principal a ser lembrado é que a real questão era o
controle da igreja. Se suficiente número de pessoas pudessem ser
convertidas à nova teologia, se as igrejas pudessem enviar tais
"conversos" às reuniões onde se realizavam eleições, se as
instituições pudessem ficar
abarrotadas de pessoas devotadas à causa do alfa, a igreja finalmente
seguiria este rumo, quer A.G. Daniells e Ellen White gostassem ou não. Há
toda razão para crer, pelos escritos de Ellen White, que se estavam
envidando esforços conscientes e bem estruturados a fim de subverter a própria
organização da igreja. Note a escolha de palavras em uma advertência
dada por ela em junho de 1905: "Devo advertir a todas as nossas
igrejas a que se acautelem contra homens que estão sendo enviados para
fazer a obra de espiões em nossas associações e igrejas - uma obra
instigada pelo pai da mentira e engano" Special Testimonies, Série
A, n 12, p9. Ela advertiu alhures
que "no campo têm havido muitos traidores disfarçados, e Cristo
conhece cada um deles. Deus tem sido desonrado por súditos desleais. ...
Aos que residem em Battle Creek, digo: Por amor a vossas almas, que todos
quantos possam, se afastem da luta que aí se desenrola e de seus
perigos" Special Testimonies, Série B, n 7, p15.
A "luta" e os "perigos" aos quais ela fez referências
estavam se tornando acentuados em 1906. Já em 1902 membros da igreja
haviam ameaçado processar a igreja para evitar a localização de Review
& Herald Publishing Association novamente em Washington, D.C. Agora
este espírito de luta e coerção veio novamente à tona. O grande tabernáculo
de Battle Creek se tornou o ponto focal de uma disputa pelo controle;
abriu-se um processo no tribunal de Michigan para evitar a transferência
da propriedade da igreja para a associação adventista local. Os membros
leais à igreja finalmente venceram, mas somente depois de uma luta
espetacular de dois anos. Até mesmo um jornal de Chicago anunciou sob
manchetes na primeira página que a Igreja Adventista estava a ponto de se
dividir "em duas", e colocou a maior parte da culpa em Ellen
White. todo este triste caso serviu para ilustrar outro ponto da
identidade do alfa: Onde quer que fosse, surgiriam problemas
O mesmo havia sido visto na apostasia de Ballenger. Informando das
Ilhas Britânicas, o pastor Farnsworth havia dito que Ballenger "Tem
propalado estas coisas em grau maior ou menor até que disse que o irmão
Hutchinson na Irlanda via o assunto da mesma forma que ele, como também
um número significativo de irmãos leigos influentes. O irmão Meredith
que está encarregado da obra no País de Gales disse que um bom número
de irmãos leigos nesse país estava contrariado com este ponto de vista,
e, no norte da Inglaterra o irmão Andross está tendo sérias
dificuldades na igreja de Birmingham e também em outros lugares, com
alguns dos irmãos de influência, com respeito ao assunto do santuário.
...De algum modo esta negra nuvem de apostasia tornou as coisas difíceis
para nós" (Carta de A. G. Daniells para W.C. White 16/03/1905). E em
Battle Creek, Kellogg havia recentemente trabalhado por trás da cortina
num esforço inútil, mas importuna, a fim de remover do cargo a liderança
da Conferência Geral. Havia um capricho determinado em tudo isto para
mudar a igreja - se possível por um processo político, mas se necessário
pela subversão - e a descrição
de Ellen White é bem precisa: "coisa alguma se permitiria opor-se ao
novo movimento". ME,
v1, p205. Havia
uma estranha crueldade, que raras vezes (se é que alguma vez) fora vista
antes, na qual amizades de longa data já não pareciam valer muito e a
lealdade tradicional desapareceu misteriosamente. John Kellogg havia
recebido ajuda financeira dos White durante toda a sua estada na escola de
medicina: Agora ele se voltava para seus velhos amigos com ataques
mordazes. A.T. Jones e E.J. Waggoner, que haviam trabalhado e pregado com
Ellen White, abandonaram as velhas amizades em favor da nova teologia.
Mesmo Frank Belden, compositor de hinos adventistas e sobrinho da Sra.
White, tentou sem sucesso enganá-la para que emitisse um falso
testemunho, e depois abriu um processo contra membros leias que estavam
tentando proteger a propriedade da igreja. A toda parte que ia a nova
teologia parecia haver problemas, trazidos por "línguas daninhas e
mentes aguçadas, afiadas por longa prática em evadir-se à
verdade", que estavam "em contínua atividade para introduzir
confusão, e a executar planos a que são instigados pelo inimigo". ME
v1, p194,195
Como
vimos anteriormente, outra característica do alfa era a maneira pela qual
ele tentava atingir os jovens da igreja adventista. Depois que foi
impresso The Living Temple, Kellogg o enviou às associações
locais e tentou alistar os jovens paras sua distribuição e venda. Ele
também reanimou o Colégio de Battle Creek, o que colocou muitos
estudantes sob a instrução de seus mais brilhantes auxiliares.
Tormando-os numa idade propícia a receber impressões, colocando-os no
ambiente de uma sala de aulas na qual o instrutor tradicionalmente goza de
alta credibilidade, esperava ele ganhar muitos adeptos dentre a nova geração
da igreja. E assim os proponentes da nova teologia teriam uma forte
segunda linha de ataque. Se não tivessem sucesso em impor seu ponto de
vista sobre a igreja, precisavam somente aguardar, treinar pacientemente
estudantes e então espalhá-los pelo campo mundial, de forma que a própria
estrutura da obra organizada começaria a mudar imperceptivelmente. E um
dia os dissidentes teriam a influência e os votos, talvez, para tornar
oficial a mudança. Em alguns aspectos, esta pode ter sido a mais perigosa
de todas as táticas. e a esta altura, a sra. White estava preparada para
colocar tudo, inclusive a própria vida, na linha de batalha. "Não
permita Deus que uma só palavra de encorajamento seja proferida para
chamar nossos jovens para um lugar onde serão corrompidos por falsas
informações e mentiras referentes aos testemunhos, e à obra e caráter
dos ministros de Deus. Minha mensagem se tornará cada vez mais aguda,
como era a mensagem de João Batista, mesmo que isso me custe a vida. As
pessoas não serão enganadas" Special Testimonies, Série b, n 7,
p34.
Faz-se
às vezes a observação descortês de que Ellen White não se importava
com as realidades que os jovens da igreja enfrentavam. Em 1904 ela estava
pronta a morrer por eles. Finalmente, os que estavam envolvidos na
apostasia alfa tinham outro ponto em comum: Eram opostos ao Espírito de
Profecia. Os motivos disto não são difíceis de se entender; muitas de
suas idéias preferidas estavam em frontal oposição a Ellen White. Sob o
poder do Espírito de Deus, seus planos ocultos foram muitas vezes
trazidos à luz, suas reuniões presenciadas mesmo a grandes distâncias.
Não tendo a verdade divina a seu lado, eles precisavam recorrer a algum
substituto, e o recurso mais fácil parecia ser muitas vezes ataques
pessoais à mensageira que Deus escolhera usar. Nada havia de novo nesta tática;
pode ser vista desde o tempo de Cades-Barnéia, onde Israel
- em plena vista da nuvem divina - censurou Moisés por traze-los a
uma difícil travessia do deserto. E o resultado, nesse tempo como mais
tarde, sempre foi a separação das bênçãos de Deus.
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