O Natal do Caipira

-- De primeiro, compadre, Deus estava lá em cimão e nós todos aqui embaixo, na pior das misérias. Mas isso não durou por muito tempo, não. Quando chegou a hora a certa, numa daquelas mágicas que só Deus sabe fazer, um pedaço dEle virou gente e nasceu como um menino, filho de uma mãe solteira. Chamava-se Maria e estava para se casar mas ainda era virgem. Mesmo assim, apareceu grávida e nove meses depois teve um nenê. Ela e o marido José lhe deram o nome de Salvador.

Esse menino era o próprio Deus, mas ninguém sabia. Era como se o dono dos porcos se disfarçasse de porco e passasse uns tempos no chiqueiro, comendo lavagem e fuçando na lama para a porcada ver que ele só quer o bem das criações. Eu sei que é uma comparação meio besta, mas pensar assim ajuda a gente a entender essa história...

Quando Ele nasceu, uns peões que estavam no campo tomando conta de uma rebanho de ovelhas ficaram de cabelo em pé. Eles viram brilhar uma luz esquisita no Céu e se assustaram. Do meio desse clarão, saiu um sujeito que foi logo dizendo que não era assombração. Disse que não precisavam ficar com medo porque só tinha vindo dar uma boa notícia. A novidade era que o Salvador tinha acabado de nascer numa vilazinha bem perto dali.

Depois que ele disse isso, apareceu do nada um grupo de violeiros e sanfoneiros que cantavam uma moda animada como eles nunca tinham ouvido em baile nenhum. Uma cantoria ajeitada que dava gosto ouvir. A letra dizia mais ou menos assim: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade..."

A peonada não perdeu tempo. Desceu para o povoado na mesma hora e encontrou Seo José e a Dona Maria com o nenê, deitadinho num coxo cheio de palha e enrolado nuns pedaços de pano. O menino-deus nasceu como um animalzinho, num mangueiro, para ninguém poder dizer que Ele teve alguma vantagem!

Dali a pouco, chegaram três figurões com uma porção de presentes para o menino. Eles não eram daquela região, mas disseram ter visto a mesma luz que assustou os peões. Pensaram que fosse um sinal do nascimento do Salvador que todos esperavam. De longe, parecia uma estrela apontando o caminho. E sabe que eles estavam certos?

Quando o manda-chuva daquelas bandas, um tal de Herodes, ficou sabendo dessa história toda, a pulga coçou na hora atrás da orelha dele. E por via das dúvidas,  mandou matar todas as crianças com menos de dois anos de idade. Não queria saber de concorrência por lá, não. Quem mandava era ele e ponto final! José e Maria fugiram e levaram o nenê para bem longe.

Depois que esse fulano morreu, voltaram. O menino já estava maiorzinho, mas era uma criança comum, igualzinha às outras. Ajudava o pai na oficina de carpinteiro. Ouvia com uma atenção danada tudo que a mãe lhe contava sobre o nascimento milagroso, o que ele tinha vindo fazer aqui...

O resto da história eu conto outra hora, compadre. - Robson Ramos.


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