A Ansiedade que Surge com a Aproximação do Ano 2000

Ana Maria Rossi

Apesar de os matemáticos afirmarem que o novo milênio começa apenas no Réveillon do próximo ano, é difícil manter-se à parte da celeuma que caracterizará o início da era 2000. As reflexões sobre as conquistas e as perdas de todo o final de ano sofrerão a influência numérica.

Em vez de avaliar o último ano, passarão pelo crivo da memória a última - ou últimas - décadas. E os planos estão sendo feitos para o próximo milênio, e não para o dia seguinte.

A ansiedade sempre é grande nesta época, mas este final de ano é peculiar. Segundo o neurologista e neurocirurgião Jorge Curia Filho, o estresse tem sido maior por conta da data redonda.

"Mais gente tem procurado ajuda, e estão mais estressados do que em outros anos. Esta virada está mexendo mais com o ser humano," disse Curia.

As altas expectativas sobre a era 2000 são as maiores responsáveis pela ansiedade crescente. Acompanhando a mudança do ano, as pessoas fazem planos de alterar radicalmente suas vidas.

E, para isso, impõem a si mesmas objetivos tão grandes que se vêem impossibilitadas de cumpri-los e frustram-se com a própria incapacidade. Para Curia, as pequenas conquistas também devem ser valorizadas, porque é por elas que se chega às maiores.

Se alguém deseja realmente promover uma mudança em sua vida, pode até utilizar a virada como um marco do novo propósito. Para a doutora em psicologia Ana Maria Rossi, essa atitude é positiva. Mas, se a mudança permanecer na proposta, a chance de frustração é grande.

"Precisamos ter um objetivo bem focado e saber como realizá-lo," explica Ana Maria. "Muitas pessoas buscam apoio na espiritualidade, e isso é positivo se servir como um momento de reflexão e de tomada de decisões."

Controlar a ansiedade é uma boa forma de tornar exeqüíveis as resoluções de Ano-Novo. Mas a simples virada não fará a mudança sozinha. Será preciso muito esforço individual para que as expectativas sejam atendidas. Se não, vale o consolo de que o 1º de janeiro de 2000 será, provavelmente, como qualquer outro primeiro do ano.

Por que alguns ficam tristes?

Há uma discrepância entre o sentimento externo e o sentimento interno. Existe uma "obrigação social" de estar feliz e realizado, de aproveitar a vida em todos os momentos e de curtir a felicidade do final do ano. Mas nem sempre é assim que as pessoas se sentem. Muitas podem ter sofrido perdas (de parentes, de relacionamentos, financeiras)durante o ano, ou estar insatisfeitas com o trabalho ou com a vida familiar. O confronto entre as duas realidades gera um sentimento de culpa, fazendo a pessoa se sentir incapaz de mudar o curso da sua vida o fim do ano marca o encerramento de um ciclo. Por isso, lembra também o envelhecimento. A idéia de finitude entristece as pessoas o encerramento do ano faz a pessoa refletir sobre as realizações.

As metas colocadas como objetivo no início do ano são avaliadas e se faz um balanço, nem sempre positivo, sobre as perdas (reais ou afetivas) o estresse causado pelas cobranças externas (no trabalho, na família) e internas (de alcançar metas, de ter se saído bem em todos as áreas da vida) aumenta a ansiedade, gerando estresse e desânimo, que podem levar à tristeza o que é bom entender:

A atitude de cada pessoa no fim de ano tem a ver exclusivamente com suas experiências pessoais. Ninguém pode se sentir obrigado a ser feliz se não é esse o seu sentimento real o abuso de álcool e das drogas nesta época do ano tende a ser maior, aumentando as chances de sentimentos ruins. Diferentemente do que parece, o álcool só é estimulante em pequenas quantidades, e o uso abusivo pode levar a estados depressivos. Por isso, as recaídas de bebedores crônicos costumam aumentar neste período.

As pessoas tendem a fantasiar que a passagem de ano promoverá uma virada em suas vidas. Por isso, fazem resoluções de Ano-Novo, promessas que muitas vezes ficam apenas na intenção. As decisões que realmente alteram o rumo das coisas são tomadas no dia-a-dia, diante de cada pequeno problema.

Entenda que a frustração faz parte da vida. O prazer vem com muito esforço e luta, mas as situações frustrantes acontecem sem aviso. Mas se console: todo mundo passa por isso. Portanto, não supervalorize o sentimento.

Não prometa para si mesmo grandes alterações em sua vida. Trace pequenos objetivos, alcançáveis, para que possam ser cumpridos. Isso evitará frustração e fará você se sentir capaz de alterar o que acha necessário.

Faça o que você realmente tem vontade de fazer. Não se sinta obrigado a participar de festas fantásticas se estiver a fim de curtir a virada sozinho ao lado de uma pessoa só, ou jogando carta com os filhos como pretende o ator Tom Hanks. A celebração (seja de Natal ou de Ano-Novo) tende a ser melhor junto às pessoas com quem se tem vínculos verdadeiros, e não ao lado de quem você se sente obrigado a estar, sem prazer.

Descanse. Dê ao seu corpo o tempo necessário para recarregar as energias (oito horas de sono para adultos e nove para adolescentes).

Combata o estresse com uma alimentação balanceada (moderando a ingestão de açúcar, gorduras e frituras), pratique alguma atividade física no mínimo três vezes por semana e faça algum tipo de atividade intelectual para manter o cérebro ativo.

Dê um tempo para si mesmo: delegue tarefas, ouça música, dê uma caminhada, faça respiração abdominal para relaxar.

Dados: psiquiatra Nelio Tombini, neurologista Jorge Curia Filho e doutora em psicologia.

(Copyright 1999 Agência RBS)

Fonte: CNN Brasil 


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