Muita fé, Adrenalina e Vontade de Vencer!

Piloto curitibano de Fórmula-5 é adventista e larga sempre na última posição do grid

Fabrício Corrêa

"Largar em último às vezes é depressivo. Mas, vale a garra pela vitória", disse o piloto de Fórmula-5, Robson Ferraz, de 34 anos. Fatalmente ele nunca sentirá a adrenalina de largar em primeiro lugar no grid, pois como ele é adventista (judeu-cristão como ele se autodenomina), não participa das tomadas de tempo que são sempre realizadas aos sábados. "Na Bíblia diz: Lembra-te do dia do sábado", exalta o piloto e empresário curitibano, que é amante da velocidade desde a adolescência.

Robson começou sua trajetória nas pistas sobre duas rodas, correndo de moto nas categorias 125 cc e 250 cc até 1993. "No começo o pessoal brincava um pouco, mas com o tempo a coisa ficou normal. Existe um certo respeito", disse. Nesta época ele conquistou cinco vezes o campeonato paranaense e três vezes o sul-brasileiro. "Meu grande incentivador foi o inesquecível Nivanor Bernardes ­ para mim um ídolo, campeão várias vezes no Brasil e das Américas", salientou.

Aos 25 anos, Robson partiu definitivamente para o automobilismo e foi vice-campeão sul-brasileiro de Fórmula 200, em 1996. "Foi muito gratificante. Mesmo largando em último, consegui esta façanha", contou. As suas últimas vitórias aconteceram em 1997, em Curitiba e Cascavel, pelo circuito de Fórmula-5. "Foi muito legal. Saí lá de trás e consegui fazer uma ótima corrida. Me senti como o Aírton Senna, meu maior ídolo no automobilismo", relembra.

Mas, Robson reconhece que a Fórmula-5 ganha mais competitividade a cada ano, desde que foi lançada em 97 e que as vitórias ficarão cada vez mais difíceis. "Ela é uma modalidade para pessoas que gostam de velocidade como eu. O carro pode chegar até 204 km/h e é tudo no braço. Hoje, o circuito conta com quase vinte pilotos e com certeza vão surgir mais, com a expectativa de aparecer muitos bons pilotos", prevê Robson.

Bem humorado, o piloto define a Fórmula-5 como "uma espécie de Fórmula Indy". "É uma categoria para quem quer se divertir, e não com vistas a chegar a uma Fórmula 1, por exemplo. O pessoal que corre na Fórmula-5, são aqueles mais velhinhos, que já passaram do tempo de encarar uma carreira nas pistas", explica. "No meu caso, pratico para tirar o stress", completou.

Motor para o ano 2000 será mais forte

Para a temporada do ano 2000, a Fórmula-5 vai aumentar a velocidade. O motor de 200 cc será substituído por um de 500 cc. Com isso, o carro de 170 quilos e sem suspensão poderá alcançar até 230 km/h. "Ele é como um minifórmula-3, com um tanque de 20 litros de álcool metanol e pneus slic. Uma boa máquina para quem gosta de adrenalina", explicou Robson. A fábrica dos fórmula-5 é em Porto Alegre (RS) e um carro novo custa em torno de 5 mil reais. As provas do ano que vem serão realizadas, além do Paraná, em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Fonte: Gazeta do Povo 17/09/99


Religião Obriga a Troca do Sábado pelo Domingo

Profissionais seguidores de cultos sabatistas arrumam alternativas para conseguir se ausentar do trabalho no "dia de guarda"

Audrey Possebom

Trabalhar aos sábados é uma prática comum e necessária em grande parte das profissões. Mas como fazem aqueles que, por motivos religiosos, não podem trabalhar no sétimo dia da semana? Algumas religiões, como o Judaísmo e algumas facções do Cristianismo, reservam esse dia para orações e dedicação a causas espirituais e não permitem nenhum tipo de atividade profissional a partir do pôr-do-sol de sexta-feira.

Freqüentador da Igreja Adventista da Promessa, o sargento Ronivaldo Brites, 29 anos, já passou por diversos departamentos da Polícia Militar até conseguir um local onde não tivesse que trabalhar aos sábados. Ele começou a freqüentar a igreja em 1991 e precisou convencer colegas e comandantes para seguir as doutrinas de sua igreja.

"Sempre tem alguém que quer trocar sua folga de sábado pela minha de domingo, porque a maioria prefere descansar nesse dia", comenta Brites. Apesar da compreensão de seus companheiros, ele achou melhor deixar o trabalho na rua, que exercia quando estava no 13º Batalhão e no BPTran, e solicitou a mudança para um departamento interno da PM. Hoje ele executa a tarefa de manutenção de armamento, no setor de armas e munições, e poucas vezes é escalado para as operações de fim de semana.

Transferência

Funcionário do Hospital de Clínicas, Marcelo Domingues, 31 anos, não teve a mesma facilidade que seu colega de igreja para conseguir as folgas no sábado. "Trabalhava no setor de emergências, onde é justamente no final de semana que há maior movimento", revela. "Quando faltava aos sábados era descontado do meu salário, o que me obrigava a desobedecer as doutrinas da igreja."

Para conseguir mudar de setor, ele teve que recorrer à direção do hospital, que o transferiu para o departamento de engenharia clínica. Segundo Domingues, nunca houve repreensão da igreja por trabalhar aos sábados, mas sim uma auto-cobrança por estar infringindo os mandamentos bíblicos. "O sábado não me pertence", justifica.

Ele conta que sua esposa, Andréa Domigues, também evangélica, prepara comida congelada para fora e não atende nenhum pedido no sábado. "Temos prejuízo, afinal esse é um dia de grande procura, mas acreditamos que seja um forma de provação", opina Domingues, que passa todo o dia de guarda em atividades na igreja.

Mudança

O rigor na preservação do sábado foi um dos motivos que afastou o médico ginecologista Éber Juk, 35 anos, da Igreja Adventista. Ele diz que freqüentou os cultos durante dois anos, mas nunca deixou de trabalhar nos finais de semana.

"Procurava evitar fazer cirurgia aos sábados, mas era impossível me negar a atender alguma emergência", esclarece. Segundo ele, a religião permite que trabalhos de cura sejam feitos no dia de guarda e acredita que outras atividades também deveriam ser liberadas.

Teólogo defende sétimo dia

Para o diretor dos cursos de teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Mário Betiato, o costume de reservar o sábado para descanso é uma prática adotada por segmentos cristãos que seguem o Antigo Testamento. "O Cristianismo celebra muito mais a ressurreição de Cristo, que foi em um domingo, do que o sétimo dia de descanso", observa. Segundo ele, mesmo os protestantes históricos, como Lutero, elegeram o domingo como dia sagrado.

Betiato entende que a celebração do sábado vem do mito da criação, de que Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo. "O número sete é simbólico, representa a plenitude, não quer dizer que o descanso deva ser exatamente no sétimo dia", opina o professor. (AP)

Poucos judeus mantêm tradição

O sábado continua sendo um dia sagrado no Judaísmo, mas grande parte dos judeus de Curitiba deixam de trabalhar no Shabbat, como chamam esse dia. A comunidade é dividida em liberais, conservadores e ortodoxos, e apenas estes últimos mantêm a tradição do sabatismo.

"Em Israel o sábado é dedicado exclusivamente à religião, mas vivemos outra realidade e temos que nos adaptar aos costumes", opina o coordenador do Centro de Cultura Judaica, Daniel Knopfholz. Segundo ele, depois das revoluções liberais que ocorreram no final do século passado, os judeus passaram a participar mais efetivamente da socieadade e tiveram que rever seus costumes e tradições.

Dono de uma rede de lojas e confecção de roupas esportivas, o empresário Sérgio Daitschman diz que nunca deixou de trabalhar aos sábados, apesar de todos de sua família e de sua esposa serem judeus. "Trabalho com comércio e não tenho como fechar a loja nesse dia", argumenta. Para o rabino ortodoxo Yassef Dubrawsky, a guarda do sábado é indispensável e deveria ser seguida por todos os judeus. (AP)

Fonte: Gazeta do Povo 25/09/99


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