Jubileu do Milênio:
Papa João Paulo II Abre as Quatro Portas Sagradas de Roma para a Celebração
Ansa e Reuters
Uma multidão de peregrinos invadiu as ruas de Belém, na Cisjordânia, onde,
segundo a tradição cristã, Jesus teria nascido. Em todas as igrejas católicas
e ortodoxas do mundo, os preparativos começaram cedo. A Missa do Galo realizada
no último Ano Santo teve ainda um outro acontecimento histórico: o papa João
Paulo II abriu as quatro Portas Sagradas do Vaticano. As imagens da Basílica de
São Pedro foram mostradas ao vivo em um telão colocado ao lado da Basílica da
Natividade
Numa cerimônia cheia de simbolismos, o patriarca de Belém
iniciou a procissão pelas ruas da cidade até chegar à Basílica da
Natividade. Chegando lá, ele desceu as escadas que levam à gruta onde Maria,
onde ela deu à luz Jesus. Esse foi o início de um ano muito especial para
todos os cristãos, que celebram o jubileu a cada 50 anos. Além da formalidade
da tradição, este momento significa a abertura de um período de reflexão.
Centenas de pessoas, procedentes do mundo inteiro, começaram a
chegar desde as primeiras horas da manhã à praça onde fica a basílica da
Natividade.
O presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, assistiu à
missa ao lado de milhares de pessoas. Ele chegou ao local pouco antes do
meio-dia (8h, no horário de Brasília) para rezar na mesquita de Omar Bin Al
Jatab, em frente à basílica.
A polícia israelense manteve um posto de controle na entrada de
Belém, e deixava passar apenas os carros dos peregrinos. Na cidade, as ruas e
os tetos das construções ao redor da praça eram vigiados por patrulhas dos
diferentes serviços de segurança palestinos.
INOVAÇÃO
Uma cerimônia similar foi realizada no Vaticano. A bela Praça
de São Pedro ficou lotada de fiéis que aguardavam a abertura das Porta
Sagradas.
Pela primeira vez na história da Igreja as quatro portas
Sagradas de Roma foram abertas pelo papa. Tradicionalmente ele abre apenas a de
São Pedro, as outras são abertas por cardeais designados pelo santo padre.
Mas como este é um ano especial para a Igreja
Católica, João
Paulo II, sempre inovador, ainda que tradicionalista, decidiu participar de
todas as cerimônias. Cada uma delas abre uma passagem para outra basílica.
Assim as basílicas de São Pedro, São João, Santa Maria e São Paulo criam um
corredor. A primeira abertura da Porta Santa foi em 1423, na Basílica de São
João.
A cerimônia começaria às 23h de Roma (19h em Brasília),
quando o papa subiria ao átrio da basílica e caminharia em direção à Porta
de São Pedro, onde faria a primeira oração.
Logo após, o papa aproximaria-se da porta e cantaria em latim:
‘‘Esta é a porta do Senhor’’. Mais uma quebra no protocolo original, o
papa não usaria o tradicional martelo utilizado simbolicamente para derrubar a
parede que existia detrás da porta, que foi retirada previamente, desimpedindo
a passagem.
Ao abrir a Porta Santa, símbolo da ação redentora de Jesus
—
que definiu a si mesmo como a porta para os Evangelhos — que leva da escuridão
à luz da Salvação, todas as luzes então seriam acesas.
INDULGÊNCIAS
A participação dos fiéis estaria presente durante a preparação
e a celebração da missa. Peregrinos da Ásia e Oceania, decorariam com flores
e perfumariam o umbral que simboliza a Boa Nova do nascimento de Cristo,
enquanto que outros chegados da África fariam soar as trombetas feitas de
chifres de animal — este é o sinal da proclamação do Evangelho e também a
lembrança do Jobel, o instrumento judeu bíblico que marcava o início dos
jubileus do Antigo Testamento, e que terminou por dar-lhe o nome.
Europa e América seriam representados por fiéis que
acompanharam o papa enquanto este atravessaria a basílica em direção ao altar
mor, levando lanternas e flores, para completar o símbolo da presença de todo
o mundo na cerimônia, realizada em vários idiomas.
Para lembrar o dever do anúncio da boa nova, antes de entrar na
Basílica, João Paulo II mostraria aos fiéis um Evangelho, dando início à última
Missa do Galo do milênio.
Segundo o porta-voz do Vaticano, Joaquin Navarro Valls, foram
feitos 62 mil pedidos formais para participar da cerimônia da Basílica de São
Pedro, mas somente 8,2 mil puderam entrar.
As Portas Sagradas estão sempre fechadas, à exceção dos Anos
Santos, nos quais são celebrados acontecimentos especiais para a Igreja Católica,
ou durante a distribuição de indulgências. A de São Pedro foi aberta pela última
vez em 1983, quando se celebrou os 1.950 anos da morte de Cristo.
As indulgências são absolvições dos castigos temporais —
aplicados na vida terrena ou depois da morte — para purificar a alma dos
pecados cometidos e já perdoados em confissão a um padre.
No ano 2000, os católicos poderão receber as indulgências por
meio de uma peregrinação a Roma, à Terra Santa, aos santuários de seus países
ou fazendo obras de caridade, como visitas a doentes ou presos, ou mesmo doações
a entidades de caridade.
Correio Braziliense - Mundo - 25/12/1999
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