7 Reis: Teólogo Português Reafirma Sua Posição e Rebate Reação Leiga

Ernesto Sarmento

Li atentamente as missivas recentemente publicadas. Em primeiro lugar talvez importe referir que não tenho nada a dizer em contra dos leigos (como dizeis); aliás, não gosto desse vocábulo, mas prefiro olhar a Igreja como um só corpo. Agora bem, não se pode descuidar que para funcionamento harmonioso do corpo, Deus colocou, como diz Paulo, pastores, evangelistas, diáconos e doutores. Por quê essa hierarquia? Por quê os doutores? Qual deve ser a sua missão?

Outra questão prende-se com o modo agressivo de discutir as ideias. Volto a repetir que não se deve confundir o campo das ideias e dos debates com as pessoas envolvidas. Aqueles dentre vós que conheçam o grego certamente estão familiarizados com a maneira violenta e sarcástica com que Paulo escreve e debate os seu temas nas epístolas que escreveu. E certamente nenhum de vocês entenderá que o apóstolo visava ofender as pessoas implicadas. E asseguro-vos que ele era sarcástico e duro.

Não houve qualquer compra das ideias de Vaucher (não teria dinheiro para as comprar!). Mas esse irmão adventista foi de facto uma autoridade no estudo das profecias e isso é algo muito reconhecido. Ele foi um dos doutores que Deus colocou na sua Igreja. Não lhe daremos a primazia? Por outro lado torna-se evidente que o irmão Alceu bebeu nas cisternas rotas da fenomenologia das aparições marianas o substrato da sua hipótese. Isso é um facto, principalmente para os especialistas no tema das aparições marianas. Quem conhecer a fundo esses assuntos depressa verifica a semelhança de ideias, o eixo em que tudo gira.

Dizem que a “doutrina” do irmão Alceu transmite esperança e gozo. O reino de Deus não é emocionalíssimo, mas racional. O sentimento está presente, mas não os fatos. Acerca do discernimento do espírito maléfico em mim, como se sugere, nada tenho a dizer, senão que é um julgamento precipitado e uma invasão da personalidade. Mas não levo a mal, pois compreendo que se tendes dificuldade em destrinçar entre o campo das ideias e os seus autores, não vos cabe outra consideração além de julgar pessoas, mas recordo-vos que isso é grave e desnecessário e contradiz o vosso critério.

Muito sinceramente, parece-me que não leram atentamente a distinção que imponho logo no início do meu livro e repito no final, senão não incorreriam no quiproquó de confundir as áreas. Outrossim, mesmo considerando que os irmãos não concordem com a distinção que fazemos, deveriam pelo menos reconhecer que nós assumimos in limine e de um modo claro que uma coisa é o debate das ideias e outra o julgamento do autor ou o ataque à pessoa. 

Depois se relerem o que escreveram vereis que mostram uma atitude ambígua, pois acabam por contradizer-se e incorrem na violência (que tanto criticam) à minha pessoa, ou seja, por fazer exactamente aquilo que me atribuem, mas com uma enorme diferença, a de que eu estabeleci desde início as regras do jogo e jamais dirigi uma palavra directa ao irmão Alceu. Senão meditem: “faz parecer que aprendeu com o papado”, “uma arrogância própria dos professores”, “soa (refere-se à minha pessoa e não às ideias) com uma falsidade inaceitável”, “A diferença está no fato de que eu não comprei as idéias de "Vaucher"”, etc. 

Quem quer que seja o autor destas iguarias interessantíssimas, tenha a bondade de citar do meu texto um único exemplo em que eu ofendo directamente o irmão Alceu, a sua pessoa. As ideias sim. Para isso foi escrito o livro, para esmiuçar, triturar, desfazer com a batedeira, cilindrar, esmiuçar e reduzir a cacos essa doutrina perigosíssima e anticristã, a qual é uma afronta contra o povo de Deus espalhado no catolicismo.

No que respeita aos argumentos discorridos, por serem de péssima qualidade não nos merecem qualquer comentário. E por favor, não entendam isto como pessoal. Eu grafei: no que respeita aos argumentos... (não falo de pessoas). 

Há todavia uma afirmação muito perigosa que gostaria de comentar, a saber: “Particularmente, creio que a maior autoridade em profecias foi a Senhora Ellen White”. Isto é uma afirmação gratuita, destituída de qualquer rigor e um absurdo. É perigosa porque não foi essa a função de Ellen. Jamais o dom de profecia lhe foi concedido para antecipadamente definir uma doutrina ou interpretação bíblica. Primeiro estudava-se; os teólogos da época e outros irmãos estudavam profundamente as questões (Ellen assistia admirada, e mostrando reconhecimento pelos doutores confessava que não era capaz de seguir os seus raciocínios) e posteriormente, então, Ellen confirmava muitos deles.

O autor dessa frase deve ler o Espírito de Profecia e comprovará que sempre foi assim. Ainda lhe digo mais uma coisa. Esta é forte mas espero que aguente: se não sabe inglês, se não tem acesso aos escritos na língua original da autora e se não tem conhecimentos de hermenêutica e teológicos não tem autoridade para interpretar Ellen White.

Outra coisa é ler devocionalmente o Espírito de Profecia (ou a Bíblia). Isto está ao alcance de todos e é salutar e necessário, mas a hermenêutica requer o conhecimento de regras e da língua que, como é óbvio nem todos tiveram oportunidade de adquirir (também representa maior responsabilidade). Por isso Deus colocou uma hierarquia de funções na sua Igreja. Assim, respondam por favor: Por quê colocou Deus doutores na Igreja? E pastores? E evangelistas? E anciãos? E diáconos?

Outro assunto que se prende com toda esta disputa é o facto de ser opróbrio para o adventismo o apresentar interpretações mal fundamentadas. Além do mais confundem o papado com as pessoas da Igreja católica. Não enxergam que uma coisa é o sistema, a ideologia, o dogmatismo e outra as pessoas. Estão todos os papas, bispos, padres e fiéis condenados? Nenhum deles se salvará? A julgar pelas vossas palavras parece que não. Mas afirmar uma coisa dessas é gravíssima. Agora mesmo poderíamos citar textos de Ellen onde ela assevera que muitos católicos pertencem ao povo de Deus (sublinhe isto muito bem: são parte do povo de Deus).

Quantas páginas leram do Espírito de Profecia? Então os papas e toda a hierarquia católica estão condenados? É isso que o adventismo ensina? Como advertência dizemos desde já que futuramente não daremos resposta a missivas deste género. Uma coisa é respondermos a questões bem elaboradas, algumas até muito pertinentes, como fez o irmão Wellington, outra bem diferente é não saber formular questões e vociferar meia dúzia de temas díspares e incoerentes, do tipo: Se é assim, devemos abrir espaço para Cuba, União Soviética, Polônia, Alemanha...; onde nada se aproveita (registe-se muito bem, sublinhado a vermelho). Nada se aproveita.

Que Deus os abençoe!

Um abraço também e particularmente para o irmão Marcelo Plioplis. Também uma advertência. Amado no Senhor, considere (como já escrevi acima) que quer as Escrituras quer o Espírito de Profecia são necessários à Igreja como corpo, mas uma coisa é a leitura devocional e pastoral e outra muito diferente: a leitura teológica, a qual requer conhecimentos profundos das línguas e da hermenêutica. 

Certamente reparou que nós não defendemos uma única hipótese mas colocou-se toda a ênfase no respeito pelo texto e o contexto, considerando válidas aquelas teorias que não violam o sentido do texto, como aliás faz a Enciclopédia Adventista. Ora, a tese do irmão Alceu não é de nenhum modo viável porque não respeita a intencionalidade do texto. Senão teríamos reconhecido o seu valor, e não duvide disso. Por que pensa o irmão que nós lemos o livro do irmão Alceu? Para passar o tempo? Para condenar a priori? Não. Antes, o lemos avidamente e com muito interesse (pode acreditar nisso), na expectativa de encontrar alguma coisa nova.

Lamentavelmente, depois de ter lido e relido o livrito, analisámos conscientemente a argumentação e não passou no teste. Tirámos notas, traduzimos o capítulo, verificámos o contexto, etc.; e só depois de um longo estudo é que decidimos escrever. De início apercebemo-nos que a teoria era violentíssima, mas poderia estar certa e por isso não emitimos um juízo precipitado sobre a mesma. E nem duvide sequer por um segundo (já passou!) que se fosse correcta e inequívoca seríamos os primeiros a propagá-la aos quatro ventos.

Sinceramente, a hipótese do irmão Alceu não tem por onde se lhe pegue, baixo qualquer perspectiva é incoerente e equivocada. Deveria eu calar-me? Deixar a tinta no tinteiro? Não advertir e principalmente não ouvir o pedido daqueles irmãos que pediam um esclarecimento? Não poderia também escrever palavras de manteiga contra uma teoria tão descabida. De modo nenhum! Teria de o fazer de um jeito duro. Como dizemos aqui em Portugal: de escacha pessegueiro. Mas o pessegueiro é apenas a teoria, são as ideias, a hipótese. O irmão Alceu foi apenas o agricultor. O campo onde plantou o seu pessegueiro é amplo e pertence a todos nós. Eu entrei, vi que o pessegueiro estava com moléstia, que não havia nada a fazer e cortei-o de alto a baixo sem dó nem piedade. Aqueles que amavam o pessegueiro ficaram irritados, mas espero que lhes passe. No agricultor nem lhe toquei!

EM DESTAQUE

Querido irmão Wellington:

Fiquei emocionado com a sua palavra de agradecimento e feliz pelo irmão ter compreendido que em momento algum pretendemos ofender o irmão Alceu. De facto no livrito apenas debatemos ideias. Tivemos o cuidado de esclarecer logo no prólogo e repetir na conclusão que nunca se visou ofender a pessoa mas esmiuçar a teoria.

Fico muito contente por saber que o irmão é um verdadeiro adventista esperando a vinda gloriosa do Senhor Jesus como coisa certa e próxima. De facto existem muitos sinais. Jesus voltará muito brevemente. Todas as comoções políticas, económicas, sociais e religiosas apontam nesse sentido. Os dez reis ou Estados que deles procederam estão aliando-se numa confederação final e decisiva para a manifestação de um oitavo, ou seja Satanás.

Que Deus nos conceda o esclarecimento e a luz para discernir a presença maquiavélica do Belzebu, o adversário do plano de Deus. Sabemos que a vitória final neste sangrento conflito entre o bem e o mal, as luz e as trevas, o povo de Deus e Babilónia é absolutamente certa, pois Jesus é Senhor dos Senhores e Reis dos Reis.

Que Deus o abençoe e aos seus,

São os votos sinceros deste seu irmão,

Ernesto Sarmento

O Senhor vem! Oremos pelo derramamento do Espírito:Senhor Jesus que qual ministro pastoreias a tua grei dispersa neste mundo, digna-te nestes últimos dias conceder à tua Igreja a força do Espírito Santo. Derrama desde o Santuário celeste os dons e os benefícios espirituais que como sacrifício e Sumo-Sacerdote adquiriste para os teus irmãos. Amem.


Quem é Ernesto Sarmento

Tenho 42 anos. Estudei Física e especializei-me em Óptica e Optometria. Sou empresário de Óptica. Fiz estudos teológicos no Seminário Adventista de Sagunto (Espanha) e depois estudos teológicos gerais e particulares em Seminário Presbiteriano (Lisboa).

Não estou dentro do staf da Igreja mas com um círculo de amigos.

A Igreja crê hoje num Jesus diferente (assunto da natureza humana) e numa expiação meramente sacrificial (completa na cruz). Estas duas doutrinas foram mexidas. O adventismo sempre entendeu que Jesus assumiu uma natureza caída e que em tudo foi semelhante a nós (excepto no pecado) e que a expiação era um processo sacrificial e minesterial, em que o sacrifício constituiu apenas uma parte, o começo (como diz Ellen), pelo que trata-se de um processo que ainda decorre - e muito mais complexo do que aquilo que à simples vista nos parece, pois, temos de considerar outra dimensão: Ellen diz-nos que Cristo também morreu pelos anjos (que significa isso?).

Um abraço, em Cristo,

Ernesto

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