Pensamentos de 1888 sobre
"A Esperança e a Tardança - 2"

(Lição 10, para 7 de dezembro de 2002)

Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. II Pedro 3:8 e 9

 

Nossa rejeição ao "alto clamor" e ao derramamento da chuva serôdia, em 1888, explica a demora no cumprimento das expectativas que estiveram na base do movimento adventista, segundo seu chamado profético. Nossa resistência em conhecer a história e a mensagem de "1888" faz com que não tenhamos outra explicação sobre a demora, exceto dar passos para trás, e aderir à filosofia calvinista que compõe o pensamento de muitos evangélicos. Isto significa nos envergonhar de nosso legado, que inclui a "bem-aventurada esperança" do breve retorno de Cristo.

Visto que as igrejas populares não têm uma compreensão clara da missão do Sumo Sacerdote em Sua obra de purificação do santuário celestial, não é estranho que não possuam uma explicação sobre a demora da segunda vinda de Cristo com respeito à expectativa profética de "1844" (sobre a que pouco ou nada sabem), mas também carecem igualmente de uma explicação de por quê tiveram que passar 2000 anos desde a primeira vinda de Cristo, antes que Ele venha pela segunda vez.

Calvino descobriu a "solução": Visto que a vontade de Deus é soberana e irresistível, e visto que só Deus sabe o tempo de Sua segunda vinda, "não podemos fazer nada para adiantá-la, nem somos responsáveis por seu atraso". Simplesmente, "não veio porque não foi essa a Sua vontade". O problema para os adventistas é que sabemos que houve uma demora, e a postura calvinista faz com que Deus seja o responsável pela demora.

"Meu Senhor demora-Se", diz o mau servo em seu coração. Não é suficiente que nossa incredulidade e obstinação atrasaram a Sua vinda e permitiram duas guerras mundiais e um sofrimento incalculável neste mundo. Agora, além disso jogamos a culpa desse atraso em Deus!

Trata-se de uma explicação apoiada inteiramente no predeterminismo. Esse raciocínio afirma que Deus conhece algo, predetermina que tenha que acontecer assim, libertando o agente humano de toda a responsabilidade. Mas é evidente o engano deste raciocínio.

Deus sabe se você vai finalmente ser salvo, ou se perder? Não há dúvida de que Ele sabe. Pois bem, se lhe presta atenção ao raciocínio anterior, não há nada que possa fazer para decidir seu destino em um sentido ou em outro. Nem é seu privilégio fazer a escolha a respeito, nem é sua responsabilidade se você finalmente se perder. Simplesmente, se cumprirá a vontade de Deus, contra a qual ninguém pode lutar, e só Ele sabe o que vai acontecer no final... Contraditório, não é mesmo?

Falar do conhecimento que Deus tem do tempo de Sua vinda, com o objetivo de evitar nossa responsabilidade no adiantamento ou atraso de seu cumprimento, quando somos uma parte ativa no mesmo, é recorrer ao calvinismo para tentar escapar da nossa responsabilidade na detenção da chuva serôdia e a conseqüente demora da segunda vinda de Cristo.

Não esqueçamos que (1) A pregação do evangelho é a única coisa que falta para que possa “vir o fim”, (2) Deus nos considera responsáveis por pregar “este evangelho do reino em todo o mundo”, e (3) isto é impossível sem o derramamento do Espírito Santo na chuva serôdia (precisamente o que, segundo a vontade de Deus, deveria ter acontecido em 1888).

Deveríamos prestar muita atenção às palavras de Ellen White: "Vi que Jones e Waggoner tiveram sua contrapartida em Josué e Calebe. Como os filhos de Israel apedrejaram os espias com pedras literais, vós apedrejastes esses irmãos com pedras de sarcasmo e ridículo. Vi que vós rejeitastes o que sabíeis ser a verdade. ... Vi também que, se tivéssemos aceito a mensagem deles, teríamos estado no reino dois anos após aquela data, mas agora temos que retornar ao deserto e ficar 40 anos (Carta, 9 de maio de 1892). "Aquela data" significa 1888; portanto "nós" poderíamos estar no céu já em 1890!

Nenhum dos redimidos se gabará de ter adiantado a segunda vinda, da mesma forma em que nenhum dos redimidos se gabará por ter contribuído para a sua salvação, mediante sua decisão de crer, nem mediante suas obras de amor. Entretanto, foi seu privilégio e responsabilidade, tanto adiantar a segunda vinda de Cristo, como decidir se seria ou não salvo. E suas obras de amor contribuíram decididamente na salvação de outros.

O exposto aqui não significa negar o aspecto incondicional de Sua segunda vinda. O fato em si é incondicional. Não há conflito algum entre nossa responsabilidade (como indivíduos e como povo), e a soberania de Deus. Seria fanático e irrazoável pretender que podemos provocar Sua segunda vinda, ou que podemos impedi-la. Não podemos fazer nenhuma dessas duas coisas, mas Deus tem feito o tempo de Sua vinda condicional à resposta de Seu povo, à maturidade da colheita, à preparação da esposa (Mar. 4:29; Apoc. 14:15; 19:7).

Somos responsáveis por sua demora, na medida em que é nosso privilégio adiantá-la. O Espírito de Profecia é inconfundível: houve demora. Mas não é o Marido que Se demora para vir, mas a esposa que se atrasa a sua preparação. Aceitemos nossa responsabilidade. Aquele que é justificado para com Deus não é aquele que se declara inocente de toda culpa, mas aquele que a reconhece com toda sinceridade, arrepende-se e muda (I João 1:8 e 9).

 

Declarações de Ellen White relativas à aparente demora da segunda vinda

(Ordenadas cronologicamente)

(1868) "A longa noite de trevas é difícil, mas em misericórdia a manhã é adiada, pois se o Mestre viesse, quantos se achariam desapercebidos! A repugnância que Deus sente de que Seu povo pereça, eis a razão de tão longa tardança" (Evangelismo, pág. 694).

(1883) "Em suas mensagens aos homens, os anjos de Deus apresentam o tempo como sendo muito breve. Assim me tem sempre sido apresentado. Verdade é que o tempo se tem prolongado além do que esperávamos nos primitivos dias desta mensagem. Nosso Salvador não apareceu tão breve como esperávamos. Falhou, porém, a Palavra de Deus? Absolutamente! Cumpre lembrar que as promessas e as ameaças de Deus são igualmente condicionais.

"Deus confiara a Seu povo uma obra a ser executada na Terra. A terceira mensagem angélica devia ser dada, a mente dos crentes ser dirigida ao santuário celeste, onde Cristo entrara para fazer expiação por Seu povo. A reforma do sábado devia ser levada avante. A brecha feita na lei de Deus precisava ser reparada. Importava que a mensagem fosse proclamada com grande voz, para que todos os habitantes da Terra recebessem a advertência. O povo de Deus precisava purificar sua alma pela obediência da verdade, e preparar-se para estar sem falta perante Ele em Sua vinda.

"Houvessem os adventistas, depois do grande desapontamento de 1844, sustido firme sua fé e seguido avante unidos, segundo a providência de Deus lhes abria o caminho, recebendo a mensagem do terceiro anjo e no poder do Espírito Santo proclamando-a ao mundo, haveriam visto a salvação de Deus, o Senhor teria operado poderosamente com os esforços deles, a obra haveria sido concluída, e Cristo teria vindo antes para receber Seu povo para dar-lhe o seu galardão. Mas no período de dúvida e incerteza que se seguiu ao desapontamento, muitos dos crentes no advento renunciaram a sua fé. Penetraram dissensões e divisões. A maioria opôs-se pela voz e pela pena aos poucos que, seguindo na providência de Deus, receberam a reforma do sábado e começaram a proclamar a mensagem do terceiro anjo. Muitos que deviam haver consagrado tempo e talentos ao único objetivo de fazer soar ao mundo a advertência, achavam-se absorvidos em oposição à verdade do sábado, e por sua vez, o trabalho dos que o defendiam era necessariamente empregado em responder a esses adversários na defesa da verdade. Assim foi prejudicada a obra, e o mundo foi deixado em trevas. Houvesse todo o corpo de crentes adventistas se unido nos mandamentos de Deus e na fé de Jesus, quão grandemente diversa teria sido a nossa história!

"Não era a vontade de Deus que a vinda de Cristo houvesse sido assim retardada. Não era desígnio Seu que Seu povo, Israel, vagueasse quarenta anos no deserto. Prometeu conduzi-los diretamente à terra de Canaã, e estabelecê-los ali como um povo santo, sadio e feliz. Aqueles, porém, a quem foi primeiro pregado, não entraram "por causa da incredulidade". Mat. 13:58. Seu coração estava cheio de murmuração, rebelião e ódio, e Ele não podia cumprir Seu concerto com eles.

"Por quarenta anos a incredulidade, a murmuração e a rebelião excluíram o antigo Israel da terra de Canaã. Os mesmos pecados têm retardado a entrada do Israel moderno na Canaã celestial. Em nenhum dos casos houve falta da parte das promessas de Deus. É a incredulidade, o mundanismo, a falta de consagração e a contenda entre o professo povo de Deus que nos têm detido neste mundo de pecado e dor por tantos anos" (Evangelismo, pág. 503, e Mensagens Escolhidas, vol. I, págs. 67-69).

(1884) "Se todos os que trabalharam unidos na obra em 1844 tivessem recebido a mensagem do terceiro anjo, e a tivessem proclamado no poder do Espírito Santo, o Senhor teria obrado poderosamente com seus esforços. Sobre o mundo se teria derramado um dilúvio de luz. Faz anos que os habitantes do mundo teriam sido advertidos, teria se completado a obra final, e Cristo teria retornado para a redenção de Seu povo.

"Não era a vontade de Deus que Israel vagasse quarenta anos no deserto; desejava levá-los diretamente à terra do Canaã, e estabelecê-los ali, um povo santo e feliz. Mas não puderam entrar por causa da incredulidade (Heb. 3:19). Devido a sua reincidência e apostasia, pereceram no deserto, e foram outros que entraram na terra prometida. De igual forma, não era a vontade de Deus que a vinda de Cristo fosse demorada por tanto tempo, e que Seu povo devesse permanecer tantos anos neste mundo de pecado e tristezas. Mas a incredulidade os separou de Deus. Quando recusaram fazer a obra que Ele lhes tinha atribuído, outros foram suscitados para proclamar a mensagem. Por misericórdia com o mundo, Jesus demora Sua vinda, a fim de que os pecadores tenham uma oportunidade de ouvir a advertência, e encontrem nEle um escudo antes que a ira de Deus seja derramada" (The Spirit of Prophecy, vol. 4, págs. 291 e 292).

(1896) "Se todos os que diziam ter uma experiência viva nas coisas de Deus tivessem feito sua obra assinalada tal como o Senhor ordenou, todo o mundo já teria sido advertido, e o Senhor Jesus teria vindo em poder e grande glória. Porque o Senhor estabeleceu um dia em que tem que julgar o mundo. Diz-nos quando virá esse dia? ‘E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim’" (Review and Herald, 6 de outubro de 1896).

(1898) "Dando o evangelho ao mundo, está em nosso poder apressar a volta de nosso Senhor" (O Desejado, pág. 633).

(1900) "Caso houvesse sido executado o propósito divino de transmitir ao mundo a mensagem da misericórdia, Cristo já teria vindo à Terra e os santos teriam recebido as boas-vindas na cidade de Deus" (Testemunhos Seletos, vol. III, pág. 72).

(1900) "Cristo aguarda com fremente desejo a manifestação de Si mesmo em Sua igreja. Quando o caráter de Cristo se reproduzir perfeitamente em Seu povo, então virá para reclamá-los como Seus. Todo cristão tem o privilégio, não só de esperar a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, como também de apressá-la" (Parábolas de Jesus, pág. 69).

(1901) "Ela [a vinda do Senhor] não será retardada para além do tempo em que a mensagem for levada a todas as nações, línguas e povos. Havemos nós, que professamos ser estudiosos das profecias, de esquecer-nos de que a paciência de Deus para com os ímpios é uma parte do vasto e misericordioso plano pelo qual Ele está procurando efetuar a salvação das almas?" (Evangelismo, pág. 697).

(1901) "Talvez tenhamos de permanecer muitos anos mais neste mundo por causa de insubordinação, como aconteceu com os filhos de Israel; mas por amor de Cristo, Seu povo não deve acrescentar pecado a pecado, responsabilizando a Deus pela conseqüência de seu procedimento errado" (Evangelismo, pág. 696).

(1903) "Sei que se o povo de Deus tivesse preservado uma viva conexão com Ele, se tivesse obedecido a Sua Palavra, estaria hoje na Canaã celestial" (General Conference Bulletin, 30 de março de 1903).

(1909) "Se todo soldado de Cristo houvesse cumprido seu dever, se todo vigia nos muros de Sião houvesse dado à trombeta um sonido certo, o mundo poderia ter ouvido a mensagem de advertência. Mas a obra está com anos de atraso. Enquanto os homens têm dormido, Satanás se nos tem adiantado furtivamente" (Testemunhos Seletos, vol. III, pág. 297).

(1913) "Cristo nos diz quando será introduzido o dia de Seu reino. Não nos diz que todo mundo será convertido, mas sim ‘E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim’ (Mat. 24:14). Ao dar o Evangelho ao mundo, temos a possibilidade de apressar a vinda do dia de Deus. Se a igreja de Cristo tivesse levado a cabo a obra assinalada tal como o Senhor o mandou, todo o mundo já teria sido admoestado e o Senhor Jesus teria vindo à Terra em poder e grande glória" (Maravilhosa Graça, pág. 353).

 

Outras declarações de Ellen White:

"É privilégio de todo cristão, não só aguardar, mas mesmo apressar a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Se todos os que professam o Seu nome estivessem produzindo frutos para Sua glória, quão rapidamente não seria lançada em todo o mundo a semente do evangelho! Depressa amadureceria a última seara, e Cristo viria para juntar o precioso grão" (Testemunhos Seletos, vol. III, pág. 213).

"Assim, quando nos entregamos a Deus, e ganhamos outras almas para Ele, apressamos a vinda de Seu reino" (O Maior Discurso de Cristo, pág. 109).

"O zelo em favor de Deus e Sua causa impulsionou os discípulos a dar testemunho do evangelho com grande poder. Não deveria um zelo tal inflamar nosso coração com a determinação de contar a história do amor redentor de Cristo e Este crucificado? É o privilégio de todo cristão não somente aguardar, mas apressar a vinda do Salvador" (Atos dos Apóstolos, pág. 600). -- (Seleção L. B.)

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