Colportor é Visto Caminhando Sobre a Água ao Lado de Jesus

(Confissões de um Ex-Pastor - VII)

 

A colportagem foi para mim uma escola. Mais do que isso: Tive o privilégio de verificar com meus próprios olhos a verdade dita pela Serva do Senhor: "No trabalho pela
salvação de almas que estão a perecer, tendes a companhia dos anjos".

Sentia a presença deles. Foi uma época de intensa consagração a Deus. Passava horas de joelhos, buscando uma comunhão íntima com Jesus, antes de sair a campo. Orava nas ruas silenciosamente. Antes de tocar a campainha ou bater palmas diante de uma casa, rogava a Deus sabedoria, para cada palavra a ser dita.

Era a época do meu primeiro amor. Hoje pesa sobre mim a sentença: "Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor". Penso que nunca deveria ter deixado de ser um colportor para ser um pastor. O colportor está afastado dos administradores. Tem contato com eles, somente para saldar débitos, dos livros que ele pegou. Já o pastor acaba conhecendo esta escória de perto.

Tenho muitas saudades da época inocente da colportagem. Uma experiência que me marcou para o resto da vida, ocorreu num bairro pobre, aqui de São Paulo, o Jardim Clímax.

 

Estava trabalhando com os livros Vida de Jesus e O Grande Conflito. Estava numa avenida, que dava acesso a várias casas. Era só descer o barranco. Vi quatro casas e desci até elas. Comecei a ofertar os livros, casa por casa. Sempre, que terminava a oferta, pedia para orar pelas pessoas. Assim foi nas quatro casas.

Notei que uma menina, de seus cinco anos, mais ou menos, havia me acompanhado nas quatro casas. Achei, que ela morava em uma delas, mas qual foi minha surpresa, ao começar subir o barranco para a avenida, quando esta menina se dirigiu a mim dizendo:

Moço, moço! Você não vai à minha casa?

Achei graça e disse:

Vou sim!

Ela sem dizer nada, virou-se de costas para mim e começou a caminhar em direção a um enorme matagal.

Segui a menina, e aí eu pude visualizar uma picada que permitia a caminhada para dentro da mata. No final do caminho, lá estava um casebre, com uma senhora olhando para mim, visivelmente assustada.

Pensei: "Ela deve estar achando que eu sou um bandido..." Imediatamente, fui tirando do bolso minha identificação e ainda de longe disse:

Sou do Serviço Educacional Lar e Saúde.

Não adiantou muita coisa. Aquela senhora continuava me encarando com o rosto visivelmente marcado pelo medo.

Sempre, sorrindo, me aproximei e tirei o prospecto do Vida de Jesus da mala e comecei a ofertar-lhe o livro. Ela me olhava apavorada e ia vendo também as gravuras do livro.

Depois de um longo silêncio por parte dela, pois eu não parava de falar, ela disse:

Conheço você!

Verdade? Da onde?

Conheço você de um sonho!

Parei com a oferta do livro. Sabia da existência destas experiências, ocorridas com outros colportores. Pedi para ela explicar melhor.

Sabe, eu te vi chegando na avenida, aqui nas casas. Havia sonhado com você, ontem. E agora estava te vendo. Corri para casa de medo. Não demorou muito e você me aparece, com minha filhinha à frente, vindo para minha casa.

A senhora tem certeza. Era eu no seu sonho?

Sim, só que você estava com outra roupa, esta aqui.

Ela apontou o dedo para o livro Vida de Jesus, para uma veste típica da época de Cristo.

Você estava andando sobre o mar com Jesus. Ele tinha o cabelo branco e uma voz maravilhosa. Ele me segurava, para que eu não afundasse, no mar revoltoso, e então Ele olhou para mim e disse: "Não tenha medo! Vou mandar ele para te ajudar!" Então Ele olhou para você e pude ver bem teu rosto. Agora você aparece no dia seguinte! O que está acontecendo? Pode me explicar?

 

Naquela tarde, falei aquela senhora do amor de Deus, da cruz de Cristo e da breve volta de Jesus. Pedi que ela me recebesse em outra ocasião, junto com seu marido, que estava trabalhando. Levei o obreiro do distrito. O casal, tempos depois, se batizou.

Eu andava com Jesus sobre o mar revoltoso! Como Pedro, a princípio. Também como Pedro, olhei para os lados e vi homens, "homens finitos que se julgam deuses", disse a irmã White. Ela viu o surgimento de líderes que pensam que são deuses, por causa do cargo que ocupam. Oprimem seus subordinados! Ameaçam.

Quantas vezes o pastor Vilfredo Dorner nos disse em reunião:

Se vocês não estão satisfeitos, saibam que para cada um, tenho dez teólogos recém formados, querendo o emprego!

Ficávamos então calados, com medo de sermos demitidos. Tínhamos filhos pequenos, que ainda mamavam. Esses canalhas sabiam da nossa situação e da crise que havia, por existirem muitos teólogos. Ao invés de aplicar o dinheiro do dízimo corretamente e chamar todos, para finalizar a obra mais cedo, aproveitavam-se para ameaçar e mentindo descaradamente, diziam não ter dinheiro para empregar a todos.

Esses calhordas transformaram a bênção de Deus, de ter tocado no coração de muitos jovens, para serem ministros, sim, transformaram a bênção em maldição. Não havia dízimos para manter os servos de Deus! Mas para irem para motéis, com suas secretárias, como ficamos sabendo de alguns, para isso tinha dízimo suficiente.

Andei com Jesus sobre o mar da Galiléia. "Mas, observando o vento forte, teve medo e, começando a afundar, clamou: Senhor, salva-me!"

Sei que nunca deveria ter desviado o olhar de Jesus para olhar para os administradores da Obra. Mas sei também que um dia, Àquele que está ao leme há de mudar todas as coisas. Os ratos são os primeiros a abandonar o navio, quando este está afundando.

Quando, a Igreja estiver sendo perseguida, e a nau de Cristo, aparentemente estiver indo a pique, as ratazanas que têm liderado a obra serão os primeiros a abandonar a
embarcação. Então Jesus conduzirá, a Sua Igreja, ao porto seguro e eterno do Pai. Amém. -- Ex-pastor K


Aviso ao leitor: Se ainda não leu os textos anteriores, incluindo a reação de leitores e a resposta do ex-pastor K, conviria fazê-lo para acompanhar a seqüência do raciocínio e de toda a história desde o início:

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