Bacchiocchi Confirma a Origem Pagã do Natal

Por Dr. Samuele Bacchiocchi, Doutor em História da Igreja

A adoção do dia 25 de Dezembro para a celebração do Natal é talvez o mais explícito exemplo da influência da adoração do Sol no calendário litúrgico cristão. É fato conhecido que a festa pagã do dies natalis Solis Invicti - o aniversário do Sol Invencível, era comemorado naquela data. Mas por acaso fontes cristãs admitem abertamente o empréstimo desta data, uma festividade pagã? Geralmente não. Admitir semelhante empréstimo de uma festividade pagã, mesmo depois de uma reinterpretação do seu significado, seria o mesmo que trair a fé. Mas isto os "Pais" da igreja estavam ansiosos por evitar.

Uma exceção é o comentário de um desconhecido escritor sírio que escreveu na margem do Exposítio em Evangélia de Bar-salibaeus: "Era um ritual solene entre os pagãos celebrar o festival do nascer do sol neste dia, 25 de Dezembro. E para acrescentar algo mais à solenidade deste dia, estavam acostumados a acender velas para o ritual que eles estavam acostumados a convidar e mesmo admitirem Cristãos. Então quando os Professores perceberam que os cristãos estavam inclinados para este costume, eles formaram um concílio e estabeleceram neste dia o festival do verdadeiro Nascimento." 15

A comemoração do nascimento do deus-Sol não foi facilmente esquecida pelos cristãos. Agostinho e Léo, o Grande, fortemente reprimiram aqueles cristãos que no Natal adoravam o Sol ao invés do nascimento de Cristo. 15  Portanto, é bom ter em mente que na investigação da influência dos cultos ao Sol na liturgia Cristã, o que mais podemos esperar encontrar não são indicações diretas mas indiretas. A advertência não apenas deve ser aplicada à data do Natal mas para o Domingo também.

Especulações Astronômicas e Alegóricas

Alguns estudiosos mantém que a data de 25 de Dezembro foi derivada de observações astronômicas-alegóricas. Foi a opinião de alguns "Pais" que tanto a concepção como a paixão de Cristo ocorreu no tempo do equinócio vernal (primaveril) de 25 de Março. 16 Reconhecendo a partir desta data os nove meses de gravidez de Maria, a data do nascimento de Cristo foi assim computada para ser 25 de Dezembro.

Oscar Cullmam observa corretamente que estas computações "podem dificilmente ter dado a iniciativa." 17 Eles parecem representar uma posteriori rationale adiantada para assim justificar uma já existente data e prática. Para a maioria dos estudiosos, como foi declarado por J. A. Jungmann, "Tem progressivamente sido claro que a real razão para a escolha do 25 de Dezembro foi a festa pagã do dies natalis Solis Invicti que era celebrado naqueles dias com grande esplendor." 18

Em sua dissertação The Cult of Sol Invictus (O Culto do Sol Invicto), Gaston H. Halsberghe similarmente conclui: "Os autores a quem nós consultamos neste ponto são unânimes em admitir a influência da celebração pagã em honra do Deus Sol Invictus em 25 de Dezembro, o Natalis Invicti, na celebração Cristã do Natal. Esta influência é sugerida por ser responsável pela mudança para o dia 25 de Dezembro do nascimento de Cristo, que até então era comemorada no dia de Epiphany (Epifania) 6 de Janeiro. A celebração do nascimento do deus Sol, que era acompanhada pela profusão da luz e tochas e a decoração de ramos e árvores pequenas, tinha cativado os seguidores deste culto a tal ponto que mesmo depois de serem convertidos ao cristianismo eles continuaram a celebrar a festa e o nascimento o deus Sol." 19

Não nos esqueçamos que a Igreja de Roma (assim como no caso do Domingo de Páscoa também é com a questão da celebração do Natal) foi a pioneira e promoveu a adoção da nova data. De fato, a primeira indicação explícita de que no dia 25 de Dezembro os cristãos celebravam o nascimento de Cristo, é encontrada num documento Romano conhecido como Cronografia de 354 (um calendário atribuído a Fuzious Dionysius Philocalus), onde diz: "VIII Kal. Jan. natus Christus em Belém da Judéia - No oitavo calendário de Janeiro - i.e., 25 de Dezembro - Jesus nasceu em Belém da Judéia." 20

Que a Igreja de Roma introduziu e promoveu esta nova data, é aceito pela maioria dos estudiosos. Por exemplo, Mario Righetti, um renomado católico liturgista que é o autor de quatro volumes encontrado na Storia Liturgica (A História da Liturgia), escreve: "Depois da paz a Igreja de Roma, para facilitar a aceitação da fé pelas massas pagãs, achou conveniente instituir o 25 de Dezembro como a festa do nascimento temporal de Cristo, para desviá-los da festa pagã celebrada no mesmo dia em honra do 'Invencível Sol' Mitras, o conquistador das trevas." 21

No Oriente, contudo, o nascimento e batismo de Jesus foi celebrado respectivamente em Janeiro dia 5 e 6. B. Botte, um Belga, estudioso, membro da ordem de São Bento, num significante estudo conclui que esta data também evolui da original festa pagã, nomeadamente Epiphany (Epifania), que comemora o nascimento e desenvolvimento da luz. 22 Não foi uma tarefa fácil para a Igreja de Roma convencer as igrejas do Oriente a aceitar a nova data de 25 de Dezembro, porque muitos deles "firmemente aderiam à prática de observar o festival do nascimento de Cristo em sua forma antiga como o festival da Epifania dos dias 5 e 6 de Janeiro." 23

Levaria muito mais tempo e espaço para traçarmos o processo de adoção do dia de Natal Romano de 25 de Dezembro pelas várias comunidades Cristãs. Seria no entanto suficiente informar que a adoção da data de 25 de Dezembro para a celebração do nascimento de Cristo, mostra não somente a influência do culto ao Sol, mas também a prioridade e esforço da Igreja de Roma em promover a adoção dos feriados pagãos em referência ao Dies Solis (Dia do Sol) e o Natalis Solis Invicti (o nascimento do Sol Invencível), celebrado em 25 de Dezembro.

(Este artigo é parte do estudo que se encontra no Endtime Issues No. 59 - www.biblicalperspectives.com. O Pastor S. Bacchiocchi conclui neste estudo que se for conveniente comemorar o nascimento de Cristo, tal deveria corresponder à data que corresponde ao contexto bíblico do Velho Testamento, pois este aponta a altura do Seu nascimento. Ele sugere também que tal evento deverá estar conectado com a adoração e culto, Lucas 2:8-12; oferendas a Deus, Mat. 2:1-11;  e proclamação da paz e boa vontade, Lucas 2:13-14)

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Referências

15 -  Augustine, Sermo in Nativit ate Domini 7, PL 38, 1007 and 1032, enjoins Christians to worship at Christmas not the sun but its Creator; Leo the Great rebukes those Christians who at Christmas celebrated the birth of the sun rather than that of Christ (Sermon 27, In Nativitate Domini, PL 54, 218).

16 - L. Duchesne, Christian Worship: Its Origin and Evolution, 1919, pp. 260f., presents this hypothesis as a possibility. M. Righetti, Manuale di Storia Liturgica, 1955, II, pp. 68-69, explains that the date of March 25th "though historically unfounded, was based on astronomical-allegorical considerations, namely that on the day of the vernal equinox the world was created." According to this theory, on the same date of March 25 creation began and Christ, as Augustine says, was "conceived and crucified" (De trinitate 4, 5, PL 42, 894); cf. Hippolytus, In Danielem commentarius 4, 23, for a similar view.

17 - 0scar Cullmann, The Early Church, 1956, p. 29.

18 - Joseph A. Jungmann, The Early Liturgy to the Time of Gregory the Great, 1962, p. 147; L. Duchesne (fn. 74), p. 26, also recognizes this as a more plausible explanation: "A better explanation is that based on the festival of Natalis Invicti, which appears in the pagan calendar of the Philocalian collection under the 25th of December. . . .One is inclined to believe that the Roman Catholic Church made the choice of the 25th of December in order to enter into rivalry with Mithraism"; John Ferguson, The Religions of the Roman Empire, 1970, p. 239, defends the same view; cf. Franz Cumont (Franz Cumont, Astrology and Religion Among Greeks and Romans, 1960), p. 89: "It appears certain that the commemoration of the nativity was placed on December 25, because on the winter solstice was celebrated the rebirth of the invincible god. By adopting this date ... the ecclesiastical authorities purified somehow some pagan customs which they could not suppress."

19 - Gaston H. Halsberghe, The Cult of Sol Invictus, 1972, p. 174.

20 - T. Mommsen, Chronography of Philocalus of the Year 354, 1850, p. 631; L. Duchesne, Bulletin critique, 1890, p. 41, has established that the calendar goes back to 336, because the Depositio ma rtyrum is preceded in the Philocalian by the Depositium episcoporum of Rome, which lists Sylvester (d. A.D. 335) as the last pope.

21 - Mario Righetti, Manuale di Storia Liturgica, 1955, II, p. 67.

22 - B. Botte, "Les Denominations du dimanche dans la tradition chrétienne," Le Dimanche, Lex Orandi 39, 1965, pp. 14ff.

23 - 0scar Cullmann, The Early Church, 1956, p.32.

Fonte: http://www.tagnet.org/santos/artigos/natal_pagao.htm

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