Dúvida Sobre Chifre de Daniel 8 Mobiliza Paranaenses

"Informações equivocadas sobre a interpretação adventista do chifre de Daniel estão provocando dúvidas entre irmãos aqui do Estado do Paraná. Você não teria algum material a respeito, que pudesse ser publicado com urgência no Adventistas.Com para nos ajudar a rebater essas idéias errôneas?" -- Irmão do Paraná

Olá, irmão! Li com atenção os anexos que nos enviou e, pelo que pude ver, todo o material provém do site do ex-adventista norte-americano Dirk Anderson, que combate o ministério profético de Ellen G. White e nossas doutrinas características. Ele conta com colaboradores brasileiros, que já traduziram parte de seu material para o português.

Para refutá-lo, em relação à Sra. White, creio que a leitura integral do livro A Mensageira do Senhor será de grande ajuda. Quanto à interpretação profética de Daniel 8, estão ali reproduzidos, de maneira resumida, argumentos do teólogo Desmond Ford, já refutados em grande parte por artigos publicados por nossas revistas desde a década de 80. Comprometo-me a tentar localizar alguns deles e publicar aqui no site.

Outra boa fonte de ajuda é o Comentário Bíblico Adventista Sobre Daniel, já traduzido para o português, e ainda a apostila 101 Respostas às Perguntas do Dr. Desmond Ford, publicada pelo IAE na década de 80.

Seu questionamento quanto à interpretação adventista do chifre de Daniel 8, porém, permite-nos mencionar e corrigir aqui uma distorção recente da Lição da Escola Sabatina (Lição 10, 3º trimestre de 2001), cujo autor se referiu a esse aspecto da profecia de forma imprecisa, indefinida e aberta, como se não houvesse base exegética para nosso posicionamento histórico:

"O carneiro é a Média-Pérsia. O bode é a Grécia. O terceiro poder é um que surge depois da Grécia e é um poder perseguidor. Esse poder se levanta contra o 'príncipe dos príncipes' (Jesus). Mas esse poder será destruído no fim dos tempos 'sem mão' (Dan.8:25). 'Sem mão' quer dizer que o poder será destruído por Deus. O único poder que provavelmente se ajusta ao que a Bíblia fala sobre ele é Roma pagã e Roma papal. (Roma pagã e Roma papal são freqüentemente vistas como um só poder na profecia de Daniel) Aquele poder surge depois da Grécia e continua até o fim do tempo. Historicamente, a Média-Pérsia desempenhou um papel importante na história do mundo e do povo de Deus. A Grécia teve um papel importante na história do mundo e do povo de Deus. E, finalmente, é impossível exagerar a importância do papel crucial de Roma, tanto em sua fase pagã como na fase papal." -- Fonte: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/2001/frlic1032001.html

Felizmente, o assunto recebeu tratamento um pouco mais aprofundado no comentário de um de nossos professores de teologia, ao qual respeitamos por suas posições equilibradas e coerentes. O comentário foi distribuído pela internet e ainda pode ser encontrado em sua versão integral no site da Casa Publicadora Brasileira:

Daniel 8: Este capítulo é dividido didaticamente em 2 partes: visão (3-12) e audição (13-14). Depois temos as explicações dadas pelo anjo - angelus interpres - (15-16). O ponto principal da visão é que "é para o tempo do fim".

1. Questão significativa: o que representa o chifre de Daniel 8? O texto da lição não é conclusivo. Diz que "provavelmente..." Gostaria de não deixar dúvidas. Desde os dias dos pioneiros, a interpretação tem sido de que o chifre representa simultaneamente Roma pagã e papal. Isto pode ser comprovado pela distinção interessante feita na língua original: (a) vs. 9 e 10 - as formas verbais são femininas e atua em coisas ocorrendo na Terra; (b) vs. 11 e 12 - as formas verbais são masculinas e sua ação é desenvolvida contra o Céu. Em outras palavras, este mesmo chifre possui duas fases distintas, caracterizadas por formas verbais diferentes e atividades bem específicas.

2. De onde surgiu a Ponta Pequena? No original (v.9), a expressão "chifres" é feminina, mas a palavra que se segue ao numeral é masculina. Assim, deve-se buscar uma coerência no verso 8: a expressão "dos céus" é masculina, contudo, "os ventos" está no feminino. Então, para que haja concordância, é necessário: fazer uma análise mais cuidadosa (infelizmente esta distinção não pode ser notada em nossas Bíblias em português). No início do v. 9, não existe a palavra chifres, mas sim a palavra hebraica "delas" (fem.). No v. 8, também não existe a palavra "chifres", mas somente a expressão "quatro notáveis ". Só há concordância quando traduzimos: "de um dos ventos do céu saiu um chifre pequeno"- expressão que caracteriza que o chifre saiu de um dos quatro pontos cardeais. Daniel 8:9 não usa a expressão "crescer", mas sim "expandir-se" no sentido de movimento, de disposição horizontal. Por expandir-se para a terra gloriosa (a LXX traduz por Norte), leste e sul, pode-se concluir que esse reino veio do Ocidente (Oeste). Se a Ponta Pequena surgiu do Oeste, descarta a possibilidade deste poder ser Antíoco IV Epifânio, pois se derivaria de um dos chifres. E, por outro lado, confirma-se a nossa interpretação: é Roma em sua fase imperial e depois papal.

3. Audição de Daniel 8:13 e 14:

(a) A ênfase da pergunta é no que ocorre após o tempo de 2.300 tardes e manhãs. A audição tem que ver com o tempo do fim. O ponto de início (partida) para este período não é dado em Daniel 8: É um dos elementos que unem Daniel 8 e 9 ("ao princípio" de Daniel 9:21).

(b) Existem várias relações e paralelos de expressões entre Daniel 8 e Levítico 16. Elas comprovam o sentido antitípico que é trazido por Daniel lá da descrição do tipo.

(1) Uso da mesma palavra para "transgressões", "pecado": pesah.

(2) Mudança da terminologia de "santuário": em 11 e 12 é usado miqdas, e em 13 e 14 é usado qodes (mais particularmente "os santos "). Em Lev. 16 é usado qodes, que tem sempre um sentido cúltico.

(3) Uso de bode e carneiro aparece em ambos capítulos.

(c) "A visão do costumado sacrifício" (o original não traz as palavras em itálico). Assim, he (artigo) hazon (visão) não possui este genitivo "do ". A seguir vem: he (artigo) tamid (substantivação do adjetivo contínuo). Tamid aparece 103 vezes no Antigo Testamento; quatro vezes em Dan.; três vezes em Dan. 8 e uma em Dan 9, mas apenas uma vez substantivada. A Bíblia de Jerusalém traduz corretamente: "Até quando irá a visão: o sacrifício contínuo? ". CONCLUSÃO: a visão tem uma duração grande, como se o anjo perguntasse quanto tempo duraria toda a visão. Portanto, não tem a ver com um período curto de 1.150 dias, como sugerido pelos que aceitam Antíoco IV.

(d) "O santuário será purificado" (nisdak - de tsadak): Esta expressão é usada apenas uma vez no Antigo Testamento (não é usada em Lev. 16). A palavra "purificado" de nossas versões segue a tradição da Vulgata, mas nisdak tem um sentido mais amplo: justo, feito justiça (BJ.), justificado, vindicado, restaurado, ter passado por julgamento, expiado. Assim, a purificação do santuário deve ser vista num sentido mais amplo, incluindo idéias de purificação, justificação e vindicação. O tipo de Levítico16 não poderia abarcar todo o sentido do antítipo celestial. ASSIM, quando nisdak qodes aparecem juntos, pode-se concluir que o anjo estaria dizendo que o significado de Dan. 8:14 era muito mais profundo do que de Levítico 16.

c. Ligação com as 70 semanas de Daniel 9:

1. Seqüência da mesma experiência profética, mesmo que muitos anos mais tarde. É o mesmo anjo: o anjo diz para Daniel "entender", como no capítulo 8. A visão anterior referida em Dan. 9:21 é o cap. 8. É a mesma palavra para "visão".

2. Daniel 9:24-27:

(a) V. 24: "Setenta semanas são determinadas (hatak)" - 1 vez no Antigo Testamento, com o sentido de "cortar, tirar", assim significa separar de um período profético anterior.

(b) É o período de 70 semanas que acaba por confirmar o período de 2.300 anos: 457 a.C. (Esd. 7: decreto para restaurar e edificar Jerusalém); 27 d.C.; 31 d.C.; 34 d.C. Se todos os detalhes em relação às 70 semanas se encaixaram perfeitamente na história de Jesus, certamente isto é verdade quanto a 1844.

(c) "Ungir o Santo dos Santos": A expressão qodes qodeshim é usada 30 vezes no Antigo Testamento, sempre em relação ao Santuário, mas nunca em relação a uma pessoa. É usada para referir-se: ao lugar santo, ao santíssimo, para todo o templo e até para descrever os móveis do santuário. Então, qual o santuário ungido? Heb. 8 e 9 fala do santuário em que Cristo entrou como sumo-sacerdote, por ocasião de sua ascensão. Unção quer dizer dedicação, declarar pronto ou separar para o serviço. O Pentecostes foi o sinal terrestre desta unção (Atos 2).

(d). Não existem dúvidas históricas em relação ao ano 457 a.C. Ver S. Horn, "Cronologia de Esdras 7" Ministério Adventista, Julho/1955-Dezembro/1956. -- Prof. Edilson Valiante, Professor de Teologia Sistemática, SALT – IAE C2, edilson@unasp.br.

Fonte: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/2001/com1032001.html

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