Livro Denominacional Previu que Mensagem do Grande Conflito Causaria Embaraço, Vergonha e Perseguição

Traduzido em dezenas de línguas, impresso aos milhões, e lido no mundo todo, desde luxuosas coberturas em Manhattan até cabanas de sapé na África, o livro O Grande Conflito, de Ellen White, condensou a missão, a mensagem e o propósito dos adventistas de uma forma que nenhum outro livro, exceto a Bíblia, o fez.

No entanto, o livro é hoje considerado um embaraço. Veja estas citações:

''A Palavra de Deus deu aviso do perigo iminente: se este for desatendido, o mundo protestante saberá quais são realmente os propósitos de Roma, apenas quando for demasiado tarde para escapar da cilada. Ela está silenciosamente crescendo em poder. Suas doutrinas estão a exercer influência nas assembléias legislativas, nas igrejas e no coração dos homens. Está a erguer suas altaneiras e maciças estruturas, em cujos secretos recessos se repetirão as anteriores perseguições."1

"São de grande alcance os planos e modos de operar da Igreja de Roma. Emprega todo expediente para estender a influência e aumentar o poderio, preparando-se para um conflito feroz e decidido a fim de readquirir o domínio do mundo, restabelecer a perseguição e desfazer tudo que o protestantismo fez."2

Quem pensa assim, hoje em dia? Suas palavras soam como as palavras de um fundamentalista do século 19.

Com poucas exceções, os únicos que ainda têm este tipo de pensamento são uma minoria de protestantes de extrema direita, tolos excêntricos que acreditam que os negros têm a marca de Caim e os judeus são filhos do diabo. Há várias décadas o anticatolicismo agressivo não faz mais parte do protestantismo. Palavras como romanistas, papistas e papado saíram de moda. Hoje, até a Ku Klux Klan, fundada parcialmente para lutar contra o catolicismo, aceita membros católicos, o que significa que os adventistas estão imprimindo um livro que parece mais radical que David Duke*.

[*Nota do Tradutor: Ex-líder da Ku Klux Klan, David Duke é um político que defende o porte de armas, é contra a obrigatoriedade de escolas que integrem crianças de todas as raças, e defende a separação dos Estados Unidos, formando um país no Sul e outro no Norte.]

Numa época em que os católicos romanos constituem a maioria dos deputados e senadores em Washington(3), em que católicos são plenamente aceitos pela sociedade norte-americana, e quando o papa é recebido na Casa Branca como um convidado especial, os adventistas estão distribuindo um livro que diz que "todos os princípios formulados pelo papado em épocas passadas, existem ainda hoje. As doutrinas inventadas nas tenebrosas eras ainda são mantidas. ... Seu espírito não é menos cruel e despótico hoje do que quando arruinou a liberdade humana e matou os santos do Altíssimo".4

Numa época em que o presidente dos Estados Unidos refere-se a João Paulo II como o "santo padre", estamos distribuindo um livro que o chama de homem do pecado?(5) Num momento da história em que católicos têm liderado movimentos contra o aborto, em que hospitais católicos se recusam a fazer abortos, como podem os adventistas (cujos registros nesta área são nebulosos) alertar no livro O Grande Conflito, que "a pretensão da igreja ao direito de perdoar, leva o romanista a sentir-se com liberdade de pecar; e a ordenança da confissão, sem a qual o perdão não é conferido, tende igualmente a dar livre curso ao mal"?6

Imagine um programa de televisão como o Globo Repórter, por exemplo, fazendo um programa intitulado "As Crenças dos Adventistas do Sétimo Dia". O repórter começa lendo um texto do livro O Grande Conflito que diz que "se quisermos compreender a decidida crueldade de Satanás, manifestada no transcurso dos séculos, não entre os que jamais ouviram algo acerca de Deus, mas no próprio coração da cristandade e através da mesma em toda a sua extensão, temos apenas de olhar para a história do romanismo"(7) - em seguida a câmera de TV enfoca uma cena em que a Madre Teresa abre um hospital para tratamento da AIDS em Nova lorque.

Numa época em que João Paulo II, um dos homens mais respeitados do mundo, declarou que "nenhuma autoridade humana tem o direito de interferir na consciência de uma pessoa", e que "a intolerância é uma séria ameaça que se manifesta quando se nega aos outros a liberdade de consciência"(8), os adventistas vendem, aos milhões, um livro que alerta que a igreja romana e um perigosíssimo inimigo da liberdade civil e religiosa"?9

Quando o livro O Grande Conflito for apresentado ao mundo, especialmente quando algumas porções dele forem retiradas de seu contexto, os adventistas parecerão ao mundo como fanáticos. Sempre advertimos as pessoas a respeito da sacudidura, e a maioria acha que isto terá a ver com teologia ou perseguições, mas, em vez disto, muitos adventistas sairão da igreja por envergonharem-se da mensagem.

Qual é a verdadeira questão? Por que estas declarações de O Grande Conflito parecem tão antiquadas, tão fora da realidade, e tão diferentes do pensamento moderno?

Porque todas já se cumpriram!

Se a maioria dos protestantes ainda encarasse a Igreja Católica como na época em que Ellen White escreveu O Grande Conflito, o livro estaria errado, suas profecias seriam falsas. Mas, como quase ninguém tem esta visão hoje em dia, o livro provou estar correto. O "embaraço", "fanatismo", e "desatualização" das palavras de Ellen White, longe de as desacreditarem, tornam-nas válidas. As tendências que fazem o livro parecer tão bizarro, na verdade confirmam cada página!

Na verdade O Grande Conflito é mais pertinente, relevante e crucial agora do que quando foi escrito pelas mãos da irmã White mais de um século atrás. A despeito das tentativas de descartar O Grande Conflito como algo que não passa de uma "perspectiva escatológica [que Ellen White] tinha de seu tempo"10, os rumos que a política e a religião têm tomado nos últimos anos reacenderam o fogo de suas páginas, fazendo com que brilhem mais agora do que no tempo em que A. T. Jones* lutou contra a lei dominical no Congresso norte-americano.

[* N. do Tradutor: Os argumentos apresentados por A. T. Jones perante o senado americano em 13 de dezembro de 1888 transformaram-se num livro, The National Sunday Law (A Lei Dominical Nacional).]

Se você tem lido, estudado e procurado entender os sinais dos tempos, deve ser capaz de ver como O Grande Conflito assumiu uma incrível relevância. O colapso do comunismo, a ascensão do papado, o movimento da Nova Direita Cristã nos anos 90, a força dos conservadores na Suprema Corte norte-americana, as máscaras do espiritismo moderno, a união política entre católicos e protestantes, são peças de um quebra-cabeça que reproduz o cenário profetizado em O Grande Conflito.

Como estas tendências refletem o grande conflito? O que significam? Como se encaixam em nosso cenário profético? Como podemos com segurança interpretar os eventos atuais sem cometer erros como os que embaraçaram adventistas no passado? E o que esses eventos nos dizem sobre o tempo da segunda vinda de Cristo?

A despeito da ampla oportunidade de preparar-se para a crise final, muitos adventistas serão afugentados pelo constrangimento de O Grande Conflito. Para outros, aqueles que têm "o amor da verdade" (II Tessalonicenses 2:10), aquilo que afasta os infiéis, atrairá os fiéis para mais próximo dAquele cujo Espírito inspirou O Grande Conflito, e cujo sangue selou cada página desse livro.

O Grande Conflito sem dúvida desencadeará uma tempestade de perseguições contra nós. Por quê? Porque o dragão faz guerra contra aqueles que, entre outras coisas, têm o "testemunho de Jesus" (Apocalipse 12:17). E como os eventos mundiais confirmam a cada dia, esse "testemunho" é, verdadeiramente, o "Espírito de profecia" (Apocalipse 19:10).

Referências:

1. WHITE, Ellen G., O Grande Conflito, pág. 581.
2. Idem, págs. 565 e 566.
3. "Católicos Romanos Estão em Maioria na Centésima Segunda Formação do Congresso", Church and State, Janeiro de 1991.
4. WHITE, Ellen G., O Grande Conflito, pág. 571.
5. Ibidem.
6. Idem, pég. 567, grifo nosso.
7. Idem, pag. 570.
8. Mensagem de Sua Santidade o Papa João Paulo II para a Celebração do Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro de 1991.
9. WHITE, Ellen G., O Grande Conflito, pág. 566.
10. BUTLER, Jonathan, "O Mundo de E. G. White e o Fim do Mundo", Spectrum, agosto de 1979.

Fonte: O texto acima é o capítulo inicial do livro O Dia do Dragão, de Clifford Goldstein, lançado pela Casa Publicadora Brasileira por volta de 1997.

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