Vergonha do que Fiz na CPB

Bom seria nada ter de que me envergonhar após haver trabalhado por um período como redator da Casa Publicadora Brasileira. Assim, teria cumprido a recomendação apostólica: "Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar..." II Timóteo 3:15.

Infelizmente, porém, tenho a lamentar pelo menos mais uma falha grave, além das que já contei nos textos sobre o histórico deste site. Refiro-me a um artigo encomendado pelo redator-chefe, Rubens Lessa, que me sugeriu que escrevesse contra a ordenação de mulheres para a edição de maio de 1986.

Em minha ingenuidade de pastor recém-formado, imaginava que o chamado para aquela instituição chegara às minhas mãos por providência de Deus e que um homem "denominacional" como o pastor Rubens Lessa estava ali por designação divina. Portanto, suas sugestões deveriam ser acatadas sem questionamentos. 

Não percebi que poderia estar sendo usado por ele para escrever sobre um tema polêmico, expressando a opinião dele, sem que o texto tivesse sua assinatura. Prova é que publicou a foto de sua própria esposa na capa da Revista Adventista, deixando bem claro que aquela era sua própria opinião!

Como se estivesse obedecendo ao próprio Deus, através de Seu servo, alinhavei citações bíblicas e dos livros da Sra. White, aparentemente contrárias à ordenação de mulheres, e exaltei o papel da mulher apenas como mãe e administradora do lar. Assim, imaginei ter cumprido a "missão" que me fora confiada.

Estava, porém, enganado, porque não reparei nos versículos em que a Bíblia afirma que, em Cristo, desaparecem os gêneros, raças e condição social. "Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus." Gálatas 3:26-28. Por trás de meu texto, o que havia era a reserva machista do mercado pastoral, mas não pensei nisto.

Também não parei para pensar que a ordenação de homens como "pastores" é que deveria estar sendo questionada. Afinal, a Bíblia fundamenta apenas a ordenação de diakonos, "servos", obreiros em posição de submissão, para o atendimento das necessidades de comida, roupas e moradia dos pobres da igreja. Hoje, em vez de repartir, diácono só faz recolher!

Outro aspecto que observo hoje é que as justas reivindicações por maior participação feminina na condução das ações da Igreja da década de 80, acabaram sendo desvirtuadas para a nomeação e remuneração das mulheres de presidentes e outros privilegiados como líderes do chamado Ministério da Mulher. A classe dominante transformou o clamor popular em autobenefício e mais uma vez se deu bem.

Até o pastor Lessa decidiu permitir que a mulher começasse a estudar, escrever livros e artigos, proferir palestras, presidir entidade... Quem diria! E pensar que aquela simpática senhora parecia atrapalhar-se ao ser convidada para me substituir no programa infantil que voluntariamente apresentava na Rádio de Tatuí. A filha do meio virou artista, a pequena cresceu... E Charlote agora tem todo o tempo do mundo, para exercer suas múltiplas atividades, inclusive a vocação de comentarista da vida alheia, que até o presente eu desconhecia.

Como a vida nos prega surpresas! Esperava ao menos algumas cartas de estímulo ou visita rápida que fosse do casal Lessa, após meu pedido de demissão da CPB e viagem de volta para Campo Grande, MS. Mas em mais de quinze anos isto nunca ocorreu. Somente o Pastor Assad Bechara e Pastor Braguinha, de Porto Alegre, RS, estiveram comigo, mesmo depois que destrambelhei de vez, abandonei a igreja e me enchafurdei pelo mundo, revoltado com a proibição de pregar e de voltar a escrever para a CPB, embora não houvesse sido demitido por nenhuma falta grave, mas a pedido pessoal.

Agora que estou de volta, tentando, pela graça de Deus, ser fiel, vejo que outros redatores e até professores de teologia cumprem o papel de escrever por encomenda. Pastores de verdade, com opinião própria e fundamentação bíblica para o que crêem, ainda são poucos. E o pior é que meu ex-chefe na CPB não está entre esses obreiros que não têm de que se envergonhar.

Por suas críticas generalizadas e difamatórias no último editorial da Revista Adventista e por receber informações de que não governa bem sua própria casa e permite que a esposa saia por aí, difamando e acusando a quem ela não vê há mais de quinze anos, pressionando pessoas a desistirem de seus cargos, simplesmente porque confessam acessar esta página (Adventistas.Com), estou declarando-me publicamente decepcionado com o senhor, Rubens Lessa.

Eu me envergonho de um dia tê-lo imaginado como um dedicado servo de Deus, que fazia o que podia para continuar o trabalho de homens sérios como o pastor Luís Waldvogel, apesar da Administração corrupta. Porque o senhor se aparentou com o poder, tornando-se mais um entre os que se imaginam donos da igreja. Permitiu desvios inaceitáveis em nossa literatura. Transformou a revista denominacional em mero catálogo de produtos de valor espiritual duvidoso. Promoveu esposa e filha como estrelas de uma grande máquina de fazer dinheiro que explora o povo adventista... Por tudo isso, lamento. Lamento, lamento, lamento profundamente. O saudoso Tio Luís não merecia essa comparação. -- Ermelino Robson Lima Ramos, 25/02/02.

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