Em minha ingenuidade de pastor
recém-formado, imaginava que o chamado para aquela instituição chegara às
minhas mãos por providência de Deus e que um homem "denominacional" como o
pastor Rubens Lessa estava ali por designação divina. Portanto, suas sugestões
deveriam ser acatadas sem questionamentos.
Não percebi que poderia estar sendo usado por ele para escrever sobre um
tema polêmico, expressando a opinião dele, sem que o texto tivesse sua
assinatura. Prova é que publicou a foto de sua própria esposa na capa da
Revista Adventista, deixando bem claro que aquela era sua própria
opinião!
Como se estivesse obedecendo ao próprio Deus, através de
Seu servo, alinhavei citações bíblicas e dos livros da Sra. White,
aparentemente contrárias à ordenação de mulheres, e exaltei o papel da
mulher apenas como mãe e administradora do lar. Assim, imaginei ter
cumprido a "missão" que me fora confiada.
Estava, porém, enganado, porque não reparei nos
versículos em que a Bíblia afirma que, em Cristo, desaparecem os gêneros,
raças e condição social. "Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé
em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo
vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem
liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus."
Gálatas 3:26-28. Por trás de meu texto, o que havia era a reserva
machista do mercado pastoral, mas não pensei nisto.
Também não parei para pensar que a ordenação de homens
como "pastores" é que deveria estar sendo questionada. Afinal, a Bíblia
fundamenta apenas a ordenação de diakonos, "servos", obreiros em
posição de submissão, para o atendimento das necessidades de comida,
roupas e moradia dos pobres da igreja. Hoje, em vez de repartir, diácono
só faz recolher!
Outro aspecto que observo hoje é que as justas
reivindicações por maior participação feminina na condução das ações da
Igreja da década de 80, acabaram sendo desvirtuadas para a nomeação e
remuneração das mulheres de presidentes e outros privilegiados como
líderes do chamado Ministério da Mulher. A classe dominante transformou o
clamor popular em autobenefício e mais uma vez se deu bem.
Até o pastor Lessa decidiu permitir que a mulher
começasse a estudar, escrever livros e artigos, proferir palestras,
presidir entidade... Quem diria! E pensar que aquela simpática senhora
parecia atrapalhar-se ao ser convidada para me substituir no programa
infantil que voluntariamente apresentava na Rádio de Tatuí. A filha do
meio virou artista, a pequena cresceu... E Charlote agora tem todo o tempo
do mundo, para exercer suas múltiplas atividades, inclusive a vocação de
comentarista da vida alheia, que até o presente eu desconhecia.
Como a vida nos prega surpresas! Esperava ao menos
algumas cartas de estímulo ou visita rápida que fosse do casal Lessa, após
meu pedido de demissão da CPB e viagem de volta para Campo Grande, MS. Mas
em mais de quinze anos isto nunca ocorreu. Somente o Pastor Assad Bechara
e Pastor Braguinha, de Porto Alegre, RS, estiveram comigo, mesmo depois
que destrambelhei de vez, abandonei a igreja e me enchafurdei pelo mundo,
revoltado com a proibição de pregar e de voltar a escrever para a CPB,
embora não houvesse sido demitido por nenhuma falta grave, mas a pedido
pessoal.
Agora que estou de volta, tentando, pela graça de Deus,
ser fiel, vejo que outros redatores e até professores de teologia cumprem
o papel de escrever por encomenda. Pastores de verdade, com opinião
própria e fundamentação bíblica para o que crêem, ainda são poucos. E o
pior é que meu ex-chefe na CPB não está entre esses obreiros que não têm
de que se envergonhar.
Por suas críticas generalizadas e difamatórias no último
editorial da Revista Adventista e por receber informações de que
não governa bem sua própria casa e permite que a esposa saia por aí,
difamando e acusando a quem ela não vê há mais de quinze anos,
pressionando pessoas a desistirem de seus cargos, simplesmente porque
confessam acessar esta página (Adventistas.Com), estou declarando-me
publicamente decepcionado com o senhor, Rubens Lessa.
Eu me envergonho de um dia tê-lo imaginado como um
dedicado servo de Deus, que fazia o que podia para continuar o trabalho de
homens sérios como o pastor Luís Waldvogel, apesar da Administração
corrupta. Porque o senhor se aparentou com o poder, tornando-se mais um
entre os que se imaginam donos da igreja. Permitiu desvios inaceitáveis em
nossa literatura. Transformou a revista denominacional em mero catálogo de
produtos de valor espiritual duvidoso. Promoveu esposa e filha como
estrelas de uma grande máquina de fazer dinheiro que explora o povo
adventista... Por tudo isso, lamento. Lamento, lamento, lamento
profundamente. O saudoso Tio Luís não merecia essa comparação.
-- Ermelino Robson Lima Ramos, 25/02/02. |