Confissões de Tales Fonseca, o Invejoso Ignorado

 

Caro editor,

Há poucos meses um ex-pastor, que se apresentou como “pastor K”, usou este site para fazer um desabafo, aqui ele contou sua triste história. Ele dizia que escrevia esperando que ao menos você o escutasse e entendesse. Mas logo, recebeu várias mensagens de solidariedade.

Estou passando por um momento complicado, também. Sempre procurei ser e fazer as coisas certas. Mas venho sendo atormentado por um sentimento que os cristãos não devem permitir que lhes ocupe o coração. Assim, gostaria de usar sua hospitalidade virtual e, quem sabe, a solidariedade de seus leitores, e expor aqui, de forma pública, o meu defeito. Mas, ao contrário da mão amiga e das várias mensagens de conforto recebidas pelo Pastor “K”, vocês não ficarão com pena de mim, acho que vão é ficar rindo de meu infortúnio. Mas tudo bem, sigo em frente assim mesmo.

Meu pecado é a inveja. Sim, estou com inveja.

De quem? Bom, já que fiz a parte mais difícil, que é admitir uma fraqueza, vou logo abrir o jogo. Não estou com inveja do sucesso do Pastor Bullón, do poder do Pastor Rui Nagel, ou da inteligência do pastor Vilson, (tesoureiro da UEB), que conseguiu transformar seu cargo em vitalício.

Estou com inveja de três pessoas em especial. O primeiro, é o Ricardo Nicotra. Não o conheço pessoalmente, a não ser por fotos neste site. O segundo, é o Ennis Meier, editor do “adventistas.net”, e o terceiro, alvo de meu mesquinho sentimento, é o editor deste site, Robson Ramos. Também não conheço estes dois últimos, a não ser pelo que escrevem.

 

Sapatos da primeira-dama

Vou explicar. Há algum tempo atrás, descobri neste site algumas apostilas que falavam sobre o dízimo. Li, gostei, e fiz várias cópias para os amigos (lembrem, meu defeito é a inveja, não o egoísmo). Só mais tarde fui saber que o autor era o Ricardo Nicotra, cuja foto indica, é um rapaz novo, cara de menino, um simples membro leigo.

Mas o que aconteceu? Para responder à humilde apostila, a igreja arregimentou um batalhão de teólogos peso-pesados. Artigos em várias revistas, sermões por todo o Brasil, e até um número especial da revista “Parousia”, editada pelo conceituado SALT-IAE (2º semestre 2001). E, apresentando o trabalho, nada menos que o presidente da Divisão, Pastor Ruy Nagel. Falando sobre os ataques que o sistema de dízimos vinha sofrendo, ele diz: “Os ataques se originam geralmente com pessoas que já fizeram parte da igreja, assentaram-se conosco nos mesmos bancos e ouviram as mesmas mensagens. Essas pessoas têm conhecimento da Bíblia e do Espírito de Profecia, mas decidem propagar suas idéias, muitas delas de caráter pessoal, atacando a igreja com espírito de crítica e contestação”

Viu, seu Ricardo? Foi para você. Bem feito.

E não ficaram nisso. Em Poá, processaram pobres e passaram o trator em cima de uma igreja para mostrar ao menino abusado quem é que manda.

A bem da verdade, nem todos os artigos foram feitos contra o Nicotra, alguns até trazem conceitos concordantes. Mas a idéia da publicação era esta, de caráter pessoal, atacando a apostila do Ricardo com espírito de crítica e contestação.

Lendo as idéias tanto de um lado quanto de outro, há verdades em ambas. O sistema de dízimos é sagrado, devemos dar o dízimo. Mas em nenhum dos artigos que tive o privilégio de ler, encontro explicação para minhas dúvidas. É que as pessoas sérias e importantes só discutem coisas teóricas. Quando cito as coisas práticas, concretas, me olham com desdém. Por exemplo, no caso dos dízimos. Este sistema era usado em Israel para o sustento dos levitas e sacerdotes. Só que, os levitas eram pobres, não possuíam terras.

O dízimo era uma forma dos ricos ajudarem os pobres. Hoje, inverteu. A grande maioria dos dízimos – falo do Brasil, que conheço – é dado por pessoas bem mais pobres que os que dele vivem. É somando milhares de décimas partes de salários mínimos que se pagam os concílios em Foz do Iguaçu, o estudo dos filhos dos obreiros no exterior (e quando os geniozinhos voltam, ao descobrirem que o diploma não vale aqui, ainda processam a Igreja...) e o sagrado salário das esposas dos presidentes, inclusive desta de um presidente de União, que comprou vinte pares de sapatos nos Estados Unidos, mas o ladrão a assaltou no aeroporto, coitada, vai ter que usar sapatos nacionais mesmo.

É com a soma de milhares de décimas partes da venda de peixes no mercado, de aposentadoria de velhinhos, que vivem os nossos superiores e chefes, confortavelmente em seus escritórios com ar condicionado, navegando pela internet. É difícil saber para que servem muitos departamentos de associações e uniões. Se forem extintos, não muda absolutamente nada.

Estas coisas que estou dizendo, perdoem-me, são coisas que ouço dos próprios obreiros. Sim, pois há obreiros que trabalham e cujo trabalho é fundamental para a existência da igreja. Não é difícil descobrir quais são; são os que trabalham sexta-feira à tarde. Os outros, apenas gastam o que poderia estar sendo usado no evangelismo.

 

Inversão perversa

Outra mudança importante no sistema de dízimos é esta. Além de ser uma forma prática  para transferir dinheiro dos pobres para os ricos, é também uma forma de transferir o dinheiro dos que trabalham mais para os que trabalham menos. Faça o teste, amigo. Veja o quanto trabalha a maioria dos pobres e mesmo os ricos que ficaram ricos trabalhando, e compare com os funcionários da associação, que trabalham quatro dias e meio, pois sexta, ao meio dia, vão para casa, afinal, é “dia de preparação”. Falar sobre isso é comprar briga com o lobby dos “funcionários públicos”. Mas é a verdade.

Obreiros de instituições (hospitais, escolas, etc), colportores e pastores distritais estão fora desta lista. Nas instituições há outra inversão perversa, que é a de obreiros supercapacitados, sobrecarregados de trabalho, ganhando o mesmo ou menos que os que coçam o joelho nos escritórios das associações.

Volto a repetir, essas não são considerações minhas, nem são novas. É assim que a maioria dos obreiros de verdade vê a questão, embora eles não concordem que isto seja dito em público, pois crêem que faz parte da missão da igreja fazer de conta que tudo vai bem.

 

Guerra suja

Mas o assunto dos dízimos não é minha especialidade, e sim do Nicotra. O que invejo nele? Ora, com uma simples apostila, escrita e impressa às suas custas, conseguiu causar tamanha reação da empresa. As outras vítimas de minha inveja são os editores dos sites adventistas.algo.

O pastor Bullón avisa que pode espalhar lepra nessa turma. A revista adventista os chama de sinagoga de satanás. Os pastores, mais ou menos na mesma época e mais ou menos da mesma forma, fazem sermões em todo o Brasil condenando os críticos da internet. Seguem-se artigos e mais artigos visando fortalecer nos leitores o sentimento de repulsa a esses indivíduos nojentos que ficam aí criticando a igreja. 

Finalmente, os heréticos e abomináveis editores dos sites adventistaspontonet e pontocom dão aos seus críticos um presentão: começam a questionar a doutrina da trindade, doutrina esta já mantida por nossa igreja desde o concílio de Constantinopla, em 381 D.C., conforme  aprendi em artigos que li defendendo nossa fé. Não vou entrar no mérito da questão, pois não me sinto preparado e com certeza desagradarei a ambos os lados, e por enquanto, basta ser rejeitado por ser invejoso (ou por ser ignorante, “será que este sujeito não sabe que nossa igreja foi fundada só depois de 1844?”) Mas o assunto em pauta não é a pendenga teológica, e sim, a reação da igreja aos sites de oposição.

Hoje, há artigos e mais artigos sobre o assunto. Editoriais na revista adventista em desagravo ao Espírito Santo. E novamente, sermões nas igrejas com provas e mais provas que há três Deuses distintos no céu. Mesmo quem acredita na Trindade está achando a ênfase exagerada. Esta história de botar capa vermelha no Espírito Santo, é paranóia. Tudo por causa dos engraçadinhos que acham que podem dar sua opinião assim, sem primeiro pedir permissão à mesa administrativa.

É paradoxal. Em nenhum momento eles dizem o nome do inimigo. Ao mesmo tempo em que tratam o Robson como se ele não existisse, desfazem e menosprezam seu site o máximo que podem, por outro lado, direcionam todas as armas contra seus argumentos. Nessa guerra suja, mais paradoxal ainda é o fato de que a ética jornalística só é mantida por um dos lados – o lado que chama o inimigo pelo nome. Mas é o outro lado que diz estar certo!

 

Fiasco revolucionário

Bom, e aqui fico eu. Porque invejo estes rebeldes? Por sua rebeldia? Por defender pontos de vista controversos? Não. Eu os invejo, porque  conseguiram que a igreja desse atenção às suas reivindicações e argumentos. Eu os invejo porque também tentei, mas não consegui. Minha “revolução” foi um fiasco.

Tentei, por algum tempo, e com a bondosa hospitalidade do editor deste espaço virtual, convencer a igreja que mentir ainda é pecado, que roubar não é bonito. Tentei pedir às pessoas que evitassem que mentirosos e corruptos ficassem sem punição (corrupto vem do latim, corr uptos, e significa literalmente “permitir que comam no pasto sete mulas sem pagar aluguel” (Certo, nem todos os dicionários trazem a mesma tradução).

Aliás, há uns cinco anos venho tentando mostrar à igreja o supra-sumo do absurdo, a mais espetacular teia de mentiras, liderada por um presidente de União sem vergonha e sem preservativos, que foi a criminosa exclusão do Pastor Alcy por haver escrito uma carta defendendo sua honra e a de sua família. Mentiras gravadas, mentiras escritas, mentiras para explicar as outras mentiras e mentiras maiores ainda para encobrir as outras.

Todas estas mentiras estão à disposição dos historiadores e inspetores da ONU. Todas as pessoas sabem que o que se fez foi errado. Mas o silêncio impera. Assim como na Assembléia Legislativa do Estado que leva o nome da mais misteriosa manifestação da Divindade, o Espírito Santo. 

Pessoas de outros estados vêem no Jornal Nacional notícias sobre o Espírito Santo e pensam, mas que lugar cheio de corruptos. Pois é, não é só na Assembléia Legislativa. Aliás, antes da Assembléia Quadrienal, convidei, aqui neste site, que quem quisesse ver e ouvir mentiras ao vivo, viesse nos visitar. Pois a encomenda saiu melhor que o esperado. O presidente da Associação, empolgado com sua gloriosa reeleição, se superou. Mentiu com pompa e circunstância. Para massacrar o pobre do Enoch, a única voz de oposição, além de mentir quis fazer graça, tripudiou. E deixou gravado o quanto um homem formado em teologia pode ser cínico quando está no poder e não teme a Deus.

Dizer que gastaram 300.000,00 reais para comprar comida para os filhos dos professores, enquanto o diretor comprava um carro que mais parecia uma mansão sobre rodas (no mínimo, 60.000,00 reais) e passeavam em Foz do Iguaçu, é muita, muita cara de pau.

Há uma outra fita onde ele dá uma versão totalmente contrária ao assunto. Para ouvi-lo mentir descaradamente, é só trocar a fita. Ou conversar com ele, sei que não me decepcionará. Escrevi aqui que eles mentiriam sobre os 300.000,00 , e que mentiriam sobre o caso do pastor Alcy. E mentiram. Pois a aposta permanece. Se alguém quiser ver pastores e administradores mentindo de cara lambida, é só perguntar sobre qualquer um desses assuntos. Mas leve um gravador, pois eles não sustentam sua palavra.

Pois é. Não quis tirar o dinheiro do dízimo do bolso deles, não questionei nenhuma doutrina. Minha questão não era teológica, mas sim, caso de polícia. Não quero reformar a igreja, apenas, evitar que os bandidos continuem a festa. O que consegui?

 

Elogios a Lúcifer

Nenhum artigo da Revista Adventista defendendo a mentira. Nada. O pastor Lessa poderia fazer um editorial, “em desagravo ao Pai da Mentira”, e ali, defender Lúcifer e sua criação. Dizem que Deus criou todas as coisas, mas isso não é correto, a mentira é criação genuína de Satanás. Jesus o chama de Pai da Mentira.

O doutor José Carlos Ramos poderia fazer um belo artigo, já que escreve de forma tão clara, demonstrando que a origem da mentira não é humana, e, portanto, deve ser respeitada, pois seu criador era o mais importante ser criado, isto é, na hierarquia, a principal autoridade, e nós devemos respeitar a autoridade. E que Lúcifer usou a mentira porque queria subir mais alto ainda, coisas de hierarquia. Desde então, a mentira sempre vem intimamente ligada à busca pelo poder. O desejo de supremacia e a mentira nasceram juntas, e juntas permanecem, portanto nada mais natural que os presidentes mintam para ficar no poder, os de baixo que depositem seus denários no gazofilácio e depois sentem e fiquem quietos em seus lugares.

Mas sei que nenhum dos dois escreverá artigos assim, para me afrontar. Serei solenemente ignorado. Embora a mentira seja praticada com regularidade, e aqui na UEB, faça parte das reuniões e atas oficiais. É com a mentira que eles lutam e permanecem no poder. É com a mentira que eles perseguem, caluniam, maltratam. Depois, mentem, dizendo que nada fizeram e nada sabiam.

Os outros, vêem, mas ficam quietos, e assim, mentem com seu silêncio, mas se autojustificam que nada fazem para “não escandalizar os irmãozinhos”. E assim, os irmãozinhos permanecem inescandalizáveis, até que um dia chegam na igreja e encontram a polícia na porta e o trator derrubando as paredes, rapaz, embora eu seja um miserável pecador, gostaria de estar no Céu, só para ver esse pessoal que atuou no caso da igreja de Poá tendo que explicar de novo as coisas para o Juiz. Outro Juiz.

 

Proibido criticar, roubar pode

Embora saiba que não serei tratado com o mesmo carinho e atenção que o Robson, Ennis e Nicotra, por parte dos grandes teólogos e veículos de comunicação, tive alguma compensação. O Pastor Wandyr, nas quadrienais, me chamou de Diabo. Como o considero um bom administrador (não há ironia nesta frase), de certa forma vi que o que escrevia produzira algum efeito. Também o pastor Wilson, reelegendo sozinho o seu tesoureiro de confiança, “porque ele não pode sair por baixo”. Uma forma de reconhecimento, também.

Aliás, em todas as palavras oficiais, cultos e orações, a tecla era que não se pode criticar. Não se pode questionar. Sobre a mentira, desfalques, corrupção, nada. O mentiroso presidente da associação reeleito chegou, em um de seus discursos, a fazer referências pessoais a mim, de forma depreciativa. Sim, tive o meu momento de glória.

Mas não fico satisfeito. Vejo os membros entrando e saindo da igreja, indiferentes às mentiras, alheios ao dinheiro que some. Falar em corrupção não assusta mais ninguém. Como o presidente falou, sorrindo, eles não são passíveis de punição. Eles são superiores. Mentir pode. Roubar pode. Adulterar também, dependendo o lado que se está ou o dinheiro que se tenha.

As pessoas, de tanto conviver com a corrupção, se acostumam a ela. Mentir faz parte do jogo, faz parte da vida. Mas não da minha vida. Lembrem-se, meu pecado é a inveja, não a mentira, esta, é privilégio e instrumento de trabalho dos nossos chefes, a quem deveremos amar, respeitar e sustentar sempre com alegria.

Nossa obrigação é dar, o que eles vão fazer com o dinheiro é problema deles. Ou do ladrão que roubou os sapatos chiques da esposa do presidente. Será que é pecado roubar coisas supérfluas compradas com o dinheiro de dízimos? Se ele se converter e quiser devolver os sapatos, devolveria à igreja ou à esposa do presidente? Estão vendo? Este tipo de dúvidas ninguém dá valor. Só discutem coisas importantes e cheias de palavras difíceis... -- Tales Fonseca


Irmão Robson:

Li o artigo "Tales Fonseca, o invejoso ignorado"  e quero fazer o uso do seu site para discordar dele em relação ao dízimo. 

O sistema de dízimos da IASD é antibíblico por várias razões. Não vou entrar em detalhes sobre o assunto e sugiro ao irmão Tales que pesquise no próprio site Adventistas.com ou entre no site www.adventistas.biz/casadotesouro/index.htm e terá uma visão bem clara do assunto.

Há também um artigo muito interessante sobre o tema de autoria do pastor Azenilto, ex redator da CPB, que deixa bem claro que o dízimo não está em vigência para os cristãos que vivem sob a égide do novo concerto. Concordo com ele plenamente no sentido de que temos a obrigação e o privilégio de participar financeiramente da obra de Deus como o fizeram os cristãos da igreja primitiva que não dizimavam mas contribuíam "segundo propunha o coração". 

A IASD usa dois pesos e duas medidas em relação ao dízimo. Para os membros de um modo geral é 10% do salário. Para os seus obreiros a taxa é menor que 10%, pois o dízimo é pago sobre um piso e não sobre o total dos rendimentos. Acredito que se adotarmos na igreja o sistema de dízimos, o critério usado pela IASD com seus obreiros é mais coerente com a bíblia e mais justo.

Nos tempos bíblicos o dízimo era pago com os  produtos agropecuários e não com dinheiro. Era 10% de uma renda e não de um salário. Não existe evidência de que os assalariados dizimavam. Acredito que, para sermos coerentes com o sistema bíblico, o percentual deveria ser flexível e de acordo com as possibilidades de cada um.

O irmão em Cristo, Lineu R. Reis.

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