A Carta à Sétima Igreja: Laodicéia

 

Apesar de minha insatisfação ser maior nos textos que tentam explicar não apenas as sete cartas, mas também as sete trombetas e as sete pragas ou flagelos, irei me ater neste estudo principalmente à carta destinada à Igreja de Laodicéia. A intenção maior é a busca de um estudo mais detalhado do que acontece com a nossa igreja nos dias atuais. Não apenas de um estudo feito por mim, mas feito por todos os que estejam dispostos a buscar respostas para as questões que aqui ainda ficarão por responder. Não desejo levar descrédito ao que os outros autores já escreveram sobre o assunto, apenas penso em acrescentar descobertas às que já descobriram, e em manter  esperança de que outros acrescentem mais às que aqui estarão sendo mostradas.

Apesar de me prender somente sobre Laodicéia, recorreremos eventualmente aos textos das outras seis igrejas, como também, em outras partes das Escrituras para tentarmos entender melhor algum texto de Laodicéia.

Não vejo necessidade de explicar que as sete igrejas de Apocalipse são um símbolo dos sete períodos que o povo de Deus iria atravessar no decorrer da história do mundo após a ressurreição de Cristo. As sete cartas descrevem o que a igreja iria atravessar ao longo do tempo até o segundo advento de Jesus. Ainda assim, algumas coisas que já nos são conhecidas serão aqui repetida, visto que este texto é uma junção do que muito já fora escrito. De início parecerá que apenas repetirei o que já foi escrito, mas na medida que formos aprofundando na leitura e estudo, algumas novidades serão acrescentadas.

O texto de Laodicéia que se encontra em Apocalipse 3:14-22 é o que segue:

Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve:

Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:

Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!

Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes:  Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.

Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas.

Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.

Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.

Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono.

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

 

Podemos dividir esta carta em algumas partes para melhor entendermos a mensagem nela contida. Estas partes ficariam dividas da forma abaixo: 

Destinatário

O anjo da igreja em Laodicéia.

Remetente

A testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus.

Jesus conhece as obras de cada um em cada período

Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!

Condição,

Doenças e

Remédios Laodiceanas

Como se sente o destinatário

Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma.

Uma dura advertência

Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca.

Uma reprovação

Tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.

Conselhos

Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas.

 

Sê, pois, zeloso e arrepende-te.

 

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

Demonstração de amor do Remetente

Eu repreendo e disciplino a quantos amo.

Condição do Remetente

Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo.

Promessa e recompensa

Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono.

Estudaremos então com o máximo de atenção cada parte acima do texto. Nem todas as partes serão mostradas com detalhes, porém algumas terão nova compreensão e precisarão de maiores explanações. Estudaremos então parte a parte.

 

Destinatário

Note que todas as cartas destinadas às igrejas fora recebida por um anjo (Apocalipse 2:1, 8, 12 e 18; 3:1, 7 e 14). A palavra anjo foi traduzida de uma palavra grega que quer dizer mensageiro (αγγελος - anguelos). Observe que não somente a carta foi recebida por um anjo em cada igreja, como também, suas reprovações, conselhos, advertências e promessas foram a ele dadas como se o próprio anjo fosse a igreja que representa. Obviamente não se trata de um anjo literal. A igreja de Laodicéia nos parece um tanto atrapalhada e no Céu não existe um anjo tão atrapalhado. E o que se atrapalhou por lá fora expulso devido a sua trapalhada. Em Mateus 28:18-20 o Senhor Jesus nos comissiona levar a mensagem do evangelho a todas as nações. Podemos nos considerar mensageiros de Deus neste mundo. Estamos aqui para levarmos a mensagem da salvação a todas as nações como verdadeiros mensageiros. O mensageiro que recebe a carta não é outro senão a Sua igreja aqui na Terra. A carta é destinada a você e a mim individualmente que fazemos parte desta igreja. Por isso devemos dar a devida importância à carta que o Senhor nos escreve.

 

Conteúdo da carta

Apesar de cada igreja ter recebido uma carta individualmente com um conteúdo específico da parte do Senhor (Apoc 2 e 3:1-22), os versos 4 e de 9 a 11 do primeiro capítulo de Apocalipse nos indicam que o conteúdo da carta enviada por João às sete igrejas fora sem dúvida o livro de Apocalipse. Como nós somos o anjo destinatário da igreja de Laodicéia, devemos receber não só o conteúdo individual da carta que nos foi destinada, mas também devemos dar atenção e estudar todo o livro de Apocalipse em ligação com a carta. Temos neste livro uma verdadeira carta de amor, que nos revelam verdades que iluminam nossas mentes nestes últimos dias. O livro de Apocalipse fora escrito para todos em todos os tempos e também par nós hoje. Portanto, é necessário que se estude a carta de Laodicéia em conexão com outras profecias de Apocalipse.

Deve haver estudo mais aprimorado e mais diligente do Apocalipse, e apresentação mais fervorosa das verdades que contém - verdades que concernem a todos quantos vivem nestes últimos dias.” (Idem, Manuscrito 105, 1902. (Evangelismo,197))

Laodicéia quer dizer “julgamento do povo”. Apesar de não precisarmos saber com exatidão em que momento do decurso da história o último período da igreja começou, o significado do seu nome nos da confiança em acreditar que esta igreja teve seu período iniciado a partir do momento em que o Senhor passa a julgar o Seu povo, passando do lugar Santo para o Santíssimo no Santuário Celestial. Isto de acordo com as profecias das 2300 tardes e manhãs de Daniel ocorreu em 1844. Se assim for, talvez Laodicéia seja o único período profético da igreja que tenha a data de seu início conhecido com exatidão.

Observe a seguir o que escreveu C. Mervyn Maxwell em seu livro intitulado Uma Nova Era Segundo as Profecias do Apocalipse sobre o período de Laodicéia:  “... num dado período profético, alguns cristãos, ou mesmo congregações inteiras PODEM ESTAR A REFLETIR QUALQUER UMA DAS SETE IGREJAS. Como símbolos preditivos, as sete igrejas representam apenas a experiência dominante da igreja de Cristo em cada uma das eras representadas.” Por estarmos nos últimos dias, o que mais se reflete nos cristãos de hoje é a experiência de Laodiceia. Isto não quer dizer que todos refletem esta experiência, mas sim a maioria. Confirmando esta declaração podemos citar o exemplo dos pioneiros fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia que já viviam no período Laodiceano e, no entanto, pareciam ser cidadãos (cristãos) de outra cidade (fase profética). Se você prestar atenção nas zonas fronteiriças das cidades (literais) que hoje existem, perceberá que as suas culturas se misturam de um lado e do outro de cada cidade. Esta mistura fica mais evidente quando as cidades são de países com idiomas diferentes em que, nas zonas de fronteiras, se percebe mistura até nos seus idiomas. Assim também pode acontecer com estas cidades profetizadas (fases), existindo alguns cidadãos (cristãos) que refletem a experiência de uma cidade (fase profética), porém vivem em outra cidade (fase). Por exemplo:  na fase escura da história da igreja, encontramos valdelses, albigenses entre outros que poderiam se encaixar numa era (cidade) menos escura. As atitudes desses cristãos nada tinham que os identificassem como habitantes daquele período profético da igreja. Podemos dizer que simbolicamente estes cristãos estavam em visita àquela cidade (era).

 

Remetente

O Remetente da carta à Laodicéia é o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus. De acordo com Apocalipse 1:1, 5 e 12-18, sabemos que o Remetente da carta é o próprio Jesus. Aqui Ele se identifica como a Testemunha fiel e verdadeira. Nestes dias de julgamento no Santuário Celestial, não existe nada melhor do que termos em Jesus uma testemunha fiel e verdadeira, pois Ele promete nos justificar gratuitamente pela fé (Rom. 3:23). Identifica-se, também, como o Amém e o Princípio da criação de Deus, mas por hora nos basta saber que o Autor desta carta de amor é o Senhor Jesus, nos mostrando no Apocalipse a preocupação que tem com o Seu povo e Sua vontade de ser nossa Testemunha fiel.

 

Jesus conhece as obras

Nesta fase o Senhor Jesus nos mostra que nos conhece e que mantém seus olhos sobre nós. O Senhor nos conhece profundamente como igreja e como indivíduos a ponto de nos dizer que não somos frios nem quente. Já experimentou água morna? Sabe qual a sensação de beber um copo de água morna? E sabe qual o resultado? Com certeza, como a maioria das pessoas, você sentirá ânsia de vômito. É interessante notar que esta é a sensação que o Senhor tem com a mornidão de Laodicéia (Apoc. 3:16). Mas Ele diz:  “...Quem dera fosses frio ou quente!” Apoc. 3:15. Observe que o Jesus deseja que sejamos frios ou quentes. Leia este texto:

Todos quantos se houvessem de tornar súditos do reino de Cristo, tinham que dar demonstrações de fé e arrependimento. Bondade, honestidade e fidelidade se manifestariam na vida dessas pessoas. Ajudariam os necessitados, e levariam a Deus suas ofertas. Defenderiam os desamparados, dando exemplo de virtude e compaixão. Assim os seguidores de Cristo darão provas do poder transformador do Espírito Santo. Revelar-se-ão na vida diária justiça, misericórdia e amor de Deus. Do contrário, são como palha, que se lança ao fogo.

“Eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento”, disse João, “mas Aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”. Mat. 3:11. O profeta Isaías declarara que o Senhor purificaria o Seu povo de suas iniqüidades “com o espírito de justiça, e com o espírito de ardor” Isa. 4:4. As palavras do Senhor a Israel, eram: “E porei contra ti a Minha mão, e purificarei inteiramente as tuas escórias; e tirar-te-ei toda a impureza.” Isa. 1:25. Para o pecado, onde quer que se encontre, “nosso Deus é um fogo consumidor”. Heb. 12:29. O Espírito de Deus consumirá pecado em todos quantos se submeterem a Seu poder. Se os homens, porém, se apegarem ao pecado, ficarão com ele identificados. Então a glória de Deus, que destrói o pecado, tem que destruí-los. Depois de sua noite de luta com o anjo, Jacó exclamou: “Tenho visto a Deus face a face e a minha alma foi salva”. Gên. 32:30 (Ellen White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 107)

Que não sejamos como palhas para não sermos consumidos com a proximidade do Senhor. O Fogo consumidor deseja aquecer nossas vidas (Apoc. 3:20) e nos tornar quentes. O fato de sermos mornos nos deixa numa delicada posição em que temos o Fogo consumidor dos nossos pecados por perto desejando aquecer nossos corações, e não estamos permitindo que Ele entre e governe nossas vidas nos tornando quente. Ainda assim, Ele continua por perto nos deixando num estado de mornidão pela nossa postura de não O convidarmos para entrar. Se fôssemos frios, sentiríamos necessidade de nos aquecer e buscaríamos o calor deste Fogo. Por isso Jesus diz “quem dera fôssemos frio ou quente”. Mas somos mornos e falamos “...estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma...” e com isso não buscamos a Deus através de Sua Palavra e da oração.

 

Doenças e Curas Laodiceanas

Observe o quadro a seguir:

Aparente condição de Laodicéia

Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma.

Conseqüências deste tipo de sentimento

Reprovação (Doenças)

Conselhos (Remédios)

tu és infeliz, sim, miserável, pobre,

Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres,

tu és cego

Aconselho-te que de mim compres colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas

tu és nu

Aconselho-te que de mim compres vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez

Já que vivemos em Laodicéia, estamos justamente nestas condições, como igreja e individualmente. Então, o que representam estes remédios para que possamos tê-los em nossas vidas? O que realmente são? Precisamos da cura para sairmos desta situação incômoda.

Apesar da condição Laodiceana ter sido profetizado, isto não quer dizer que esta profecia deva ser cumprida em nossas vidas. Podemos não refletir e aceitar os conselhos do Senhor, caso contrário Ele não nos daria. Assim foi com os cristãos na destruição de Jerusalém em 70 AD, em que a profecia se cumpriu, mas estes escaparam com vida porque atenderam aos conselhos do Senhor. Ou quando a profecia é condicional, como no caso do profeta Jonas em Nínive, levando o povo ao arrependimento e com isso impedindo o cumprimento da profecia e a conseqüente punição da cidade. Ao respondermos estas questões estaremos nos desviando da conseqüência final dessas doenças, e com certeza estaremos respondendo a questão mais intrigante a respeito de Laodicéia:  Arrepender-se de que? (Apoc. 3:19) Com certeza existe algum ponto em que estamos a errar como igreja.

Para sabermos qual é o remédio devemos primeiramente nos consultar com o Divino Médico Jesus. Não é assim que se dá em nossas vidas? Para sabermos que remédio tomar não devemos antes nos consultar com o médico? E qual a atitude do médico para conosco? Primeiramente ele faz um diagnóstico, identificando qual tipo de doença adquirimos, e posteriormente nos prescreve o remédio.

Esta carta na verdade é uma grande prescrição médica de Jesus Cristo. Aqui encontramos o diagnóstico e o remédio. O Divino Médico nos prescreveu com muito amor esta receita da qual devemos entender o que quer para nossas vidas. As doenças foram diagnosticadas pelo Divino Médico nos informando através das Suas reprovações (doenças laodiceanas).

 

Aparente condição e suas consequências

Imaginem por um momento irmãos a situação de uma pessoa que vai ao médico para tomar ciência do resultado de alguns exames de rotina e à frente do médico sentindo-se bem, achando que tudo está normal, vê seu corpo em estado perfeito, não sente nenhuma dor, e baseado nisto tudo diz ao médico que nunca se sentiu tão bem, que sabe não precisar de nada. Então o médico começa a falar-lhe da real situação, e num determinado momento informa que sua doença é grave, letal, e está em fase terminal. Informa que a pessoa precisa fazer quimioterapia imediatamente para tentar regredir o quadro da doença antes mesmo que esta lhe seja fatal.

Triste não? Assim é Laodicéia que diz “estou rico e abastado” (estou bem, meu corpo está bem), “não preciso de coisa alguma” (não preciso de remédios, estou bem).

O Divino Médico além de nos prescrever uma receita, nos dá uma carta de amor, não só nos mostrando o remédio, bem como nos fornecendo os meios para adquiri-lo imediatamente.

O fato de Laodicéia se sentir rica e abastada nada tem a ver com as posses que as igrejas possuem pelo mundo. Nada a ver com os seus hospitais, escolas, magníficos templos ou outras posses pertencentes às igrejas laodiceanas. A Igreja Católica Apostólica Romana é riquíssima. Mas todas as igrejas desta era querem cada vez mais se enriquecer, apesar de tudo o que já possuem. Se assim não fossem não “martelariam” as cabeças de seus membros com textos bíblicos e extra-bíblicos com fins de convencê-los a devolverem dízimos e ofertas. Neste ponto Laodicéia não se sente abastada a ponto de dizer de que nada precisa. Ela está sempre a nos dizer que precisa de mais e mais riqueza. Está sempre a dizer que não se sente rica e sim pobre.

Como Laodicéia se diz rica e de que não precisa de nada, precisamos entender em que ela é tão rica a ponto de não querer mais se enriquecer.

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