Segunda-feira, 10 de janeiro de 2000 09:33:00
Sugestão de Renúncia de Papa Provoca Debates na Itália
Reuters
Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO
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A sugestão de um importante bispo alemão de que o papa João Paulo Segundo
deveria considerar seu afastamento caso sua saúde o impedir de trabalhar
provocou na segunda-feira uma grande polêmica na Itália.
A sugestão feita pelo bispo Karl Lehmann foi muito debatida porque, enquanto
os críticos do papa dentro da igreja já fizeram tais comentários
anteriormente, essa foi a primeira vez que uma figura influente de uma
importante conferência de bispos da Europa assumiu tal opinião.
Lehmann, presidente da Conferência de Bispos da Alemanha, fez suas observações
em uma entrevista para a rádio Deutschlandfunk no domingo.
"Eu confio no Papa no sentido de que quando sentir que não é mais
capaz de liderar a Igreja com responsabilidade, ele terá a força e coragem
para dizer: 'Eu não posso cumprir (esta exigência) como é necessário"',
disse Lehmann.
Os papas normalmente mantêm o cargo até o fim da vida. O último papa a
renunciar foi Celestino V, que deixou o cargo em 1924.
Gregory XII relutantemente abdicou em 1415 para resolver uma disputa quando
havia mais de um papa no cargo ao mesmo tempo.
http://www.bol.com.br/noticias/destaques/2000/01/10/0008.html
Bispo Alemão Diz que Papa Deve Abdicar
Processo sucessório poderia estar
favorecendo cardeais latino-americanos
ARAUJO NETTO - Correspondente
ROMA - O bispo de Mogúncia e presidente da Conferência
Episcopal Alemã, Karl Lehmann, propôs ontem a renúncia de João Paulo
II ao trono de São Pedro. Sem receio de ferir suscetibilidades, dom
Karl Lehmann, com a autoridade de líder do mais rico episcopado da
Europa, sugeriu em entrevista à emissora Deustchlandfunk que o papa,
cada dia mais frágil e sofrido, não espere muito para afastar-se do
comando da Igreja Católica.
"Acho que o papa [que em maio cumprirá 80 anos] deve ter a
coragem de dizer: ‘Não posso mais desempenhar o encargo como seria
necessário‘" - sugeriu dom Karl Lehmann, de 64 anos.
Interpretando o pensamento da maioria dos 104 bispos católicos da
Alemanha, Lehmann acrescentou que "a Igreja precisa hoje de um
homem forte para guiá-la, caso contrário, não se poderá conservar
unida uma Igreja mundial de um bilhão de pessoas com tantas e fortíssimas
diferenças".
Tendências - Até ontem, nenhuma voz tão qualificada tinha
reclamado abertamente a renúncia de João Paulo II, que determinaria a
convocação de um conclave reunindo os 121 cardeais eleitores. Indagado
sobre as tendências que neste momento se encontrariam no Colégio dos
Cardeais, Lehmann preveniu que sua iniciativa partia de uma preocupação
pessoal; mas sua vontade de não permitir outras interpretações
obrigava-o a esclarecer: "Não estou certo de que as pessoas mais
próximas do papa estejam de acordo com a renúncia."
Sobre a impressão que trouxe de recentes viagens e contatos em Roma
e no Vaticano, disse o bispo alemão: "Roma, hoje, examina com
interesse a possibilidade de um papa vindo da América Latina. Mas ao
mesmo tempo reavalia a importância que a Igreja da Itália continua a
ter para a Igreja mundial."
Precedente - Na longa história da Igreja Católica, a única
renúncia de um papa foi a de Celestino V, fundador de uma congregação
de eremitas, canonizado em 1313; eleito num momento de divergências e
crises profundas, aos 79 anos, em 1294, ele renunciou menos de seis
meses depois. Por seu gesto, foi condenado ao Inferno por... Dante
Alighieri, em sua Divina Comédia.
Na noite de ontem, a única reação crítica à proposta de renúncia
partiu do bispo da cidade de Como, no Norte da Itália, dom Alessandro
Maggiolini. Segundo ele, as declarações do bispo alemão não passam
de uma agressão de mau gosto.
Pela manhã, depois da cerimônia de duas horas em que o papa batizou
18 recém-nascidos (14 italianos, um espanhol, um brasileiro, um
americano e um suíço), João Paulo II voltou a se mostrar muito
cansado, falando com grande dificuldade. Sorriu e divertiu-se apenas no
momento em que recebeu cumprimentos e presentes de um grupo de crianças,
irmãos e irmãs dos bebês que acabara de batizar. Dentre eles, a
menina brasileira Maria Theresa Cunha Penido van Erven chamou a atenção
pelo par brincos que trazia nas orelhas e por um laço de fita que lhe
envolvia a cabeça.
Fonte: Jornal
do Brasil - Internacionais - 10/01/2000
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Segunda-feira,
10 de janeiro de 2000 |
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Episcopado Alemão Sugere
Renúncia
do Papa
Presidente de conferência episcopal pede que João Paulo II
se retire por motivo de saúde
ASSIMINA VLAHOU - Especial para o Estado
Com um pronunciamento duro e sem precedentes, um dos episcopados
mais fortes do mundo pediu ontem que João Paulo II renuncie por
motivos de saúde. "O papa deveria ter a coragem de dizer que não
pode mais desempenhar sua função da forma como seria necessário",
disse numa entrevista à rádio Deutschlanfunk o monsenhor Karl
Lehmann, presidente da Conferência Episcopal Alemã. "A Igreja
precisa de um homem forte que a conduza", declarou.
O fato não foi comentado pelo Vaticano, onde ontem o papa,
prestes a completar 80 anos, batizou 18 crianças de varias
nacionalidades - entre as quais duas brasileiras. A cerimônia foi
na Capela Sistina, completamente restaurada, sede do futuro conclave
que vai escolher seu sucessor.
Fontes religiosas definem as declarações do representante do
episcopado alemão como uma verdadeira rebelião. Jamais alguém
teve a coragem de sugerir que o papa se demitisse. "É uma
agressão até de mau gosto", comentou o bispo de Como,
Alessandro Maggiolini. "A Igreja não é como a Fiat, seu critério
não pode ser a eficiência."
Em quase 2 mil anos de história houve apenas um caso de renúncia
papal. O de Celestino V, em 1294. Um eremita eleito contra sua
vontade, que resistiu poucos meses às pressões do pontificado e
abandonou o trono, acabando seus dias confinado num castelo em precária
condições.
Código - Apesar de ter ocorrido apenas uma vez na história,
a renúncia do pontífice é prevista pelo Novo Código de Direito
Canônico, no artigo 332, aprovado em janeiro de 1983 por João
Paulo II. "No caso em que o Romano Pontífice renuncie, pede-se
que seja considerado válido desde que seja feito livremente e
devidamente manifestado", diz o código.
Também há referência à renúncia na Constituição Apostólica
Universi Dominici Gregis de 1996, onde o papa trata de sua sucessão.
Até a publicação desses dois documentos, a questão era tratada
de forma genérica pelo Código de 1917 e referia-se a qualquer função
eclesiástica.
As declarações de monsenhor Karl Lehmann esquentam o debate
sobre a sucessão que já está em curso. E, talvez, criem mais
algumas dificuldades para seu episcopado, que no último consistório
não teve nenhuma nomeação cardinalícia. Os bispos alemães são
muito críticos em relação ao pontificado de João Paulo II, que
consideram centralizador e autoritário. E estão entre os poucos
que dizem abertamente o que pensam.
Recentemente, o Vaticano obrigou-os a fechar os 300 consultórios
- dos 1.500 autorizados pelo governo, que atendiam mulheres
decididas a interromper a gravidez. O governo da Alemanha autoriza o
aborto apenas diante do certificado de um desses centros. Era um
modo de tentar convencê-las a não abortar, argumentaram os bispos
sobre o trabalho. Mas o papa não concordou com a avaliação.
Outro ponto de atrito é dar os sacramentos aos divorciados católicos
que desejam se casar novamente. O episcopado alemão é favorável,
mas aqui também a Santa Sé impôs a linha dura. Diante dessas posições,
está crescendo na Alemanha, como na Áustria e em outros países, o
movimento Nós Somos Igreja, que critica o Vaticano e propõe posições
mais abertas. Questões que serão discutidas em vista do próximo
conclave.
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- Fonte: http://www.estado.com.br/edicao/pano/00/01/09/ger821.html
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