Deu na coluna de Artur Xexéo, em O Globo: "O Estranho Réveillon de Paz, Aomr e Advir"
(Edição de 4 de janeiro de 2004)

Há algo muito estranho na tal surpresa preparada pelo empresário André Lanza durante a queima de fogos no réveillon de Copacabana. Realmente, sob a reprodução da estátua do Cristo Redentor, dava-se para ler “AOMR”, como o GLOBO publicou no dia 1. Mas dava também para ler “ADVIR”, como o próprio Lanza explicou no dia 2. AOMR seria um anagrama de AMOR. Um erro de quem preparou a surpresa. ADVIR seria “virar, transformar, uma palavra muito usada pelos teólogos”, de acordo com o próprio Lanza, ele mesmo um estudioso de teologia.

Não sei de onde Lanza tirou esta definição. Segundo o Aurélio, advir quer dizer “suceder, ocorrer, acontecer, sobrevir”. Ou “vir em conseqüência, resultar, proceder, derivar, provir”. Ou ainda “suceder, acontecer”. Se os teólogos estão usando como “virar, transformar”, os teólogos estão inventando. E “advir”, nesta concepção teologista, é uma palavra tão enigmática quanto “aomr”. O que eu quero dizer é que, ali, na virada do ano, em meio à explosão dos fogos de Copacabana, para 2,5 milhões de pessoas que aguardavam a surpresa, “advir” e “aomr” queria dizer a mesma coisa. Ou seja: nada.

Foi esta a maior surpresa do réveillon. Como é que o prefeito Cesar Maia contrata uma empresa, deixa a tal empresa preparar uma surpresa e ele mesmo não se interessa em saber que surpresa é esta? Se “advir” é uma palavra cheia de significados para o empresário André Lanza, o que é que os 2,5 milhões de pessoas que vão acompanhar a passagem de ano na praia têm a ver com isso? Por que cargas d’água, com o patrocínio da prefeitura, o empresário André Lanza tem o direito de dividir sua admiração pela palavra “advir” com 2,5 milhões de pessoas? Um empresário que nem conseguiu escrever “PAN” na surpresa. Ficou Paz, Advir, An! O que significa isso? Nada. César Maia preparou para o réveillon na praia uma surpresa que não significa nada. O ano começou mal.

Fonte: http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/xexeo.asp (Em 04/01/2004).


Novo Texto de Artur Xexéo (07/01/2004)

Sobre os comentários escritos aqui a respeito da surpresa do réveillon na Praia de Copacabana, quando o empresário André Lanza saudou 2004 com os enigmáticos dizeres “Paz Advir An”, recebi um e-mail mais enigmático ainda de um leitor que se assina “tete79”: “Não conheço o empresário Lanza, mas sei que ele é um iluminado, pois já sabe que a Terra virou um inferno e que logo Jesus estará voltando. Só você está boiando. Acorda enquanto é tempo.”

Pois admito que estou boiando mesmo. Então aquela simbologia toda significava que a Terra virou um inferno e que Jesus está voltando. Para esclarecer tudo, o leitor Francisco Gonçalves manda um e-mail:

“André Lanza, membro da Igreja Adventista como eu, equivocou-se ao enunciar o significado do verbo ‘advir’. Na verdade, não se trata de uma palavra de sentido teológico, mas de um jogo de palavras, já que o verbo soa como ‘há de vir’, uma alusão à promessa de Cristo: ‘Virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também’ (João 14:1-3). Um comunicador adventista teve o insight de lançar a idéia, que pegou entre os adeptos da religião. O nome ‘adventista’ deriva de ‘advento = chegada’. ‘Advento’ vem do verbo ‘advir’, portanto.

No arroubo de sua fé no cumprimento da promessa feita por Jesus, acatada por todas as religiões cristãs, Lanza desejou partilhar sua esperança não apenas com os 2,5 milhões de espectadores presentes em Copacabana, mas com todo o Brasil e com o mundo. Creio nada haver de censurável em sua atitude, já que o réveillon se reveste de expectativas, esperanças, votos de paz, de amor, de fraternidade, há um congraçamento universal. E no Brasil todas as formas de religião se manifestam livremente, não é verdade?

Concordo que, talvez, não tenha sido apropriada a divulgação do termo naquele momento, naquele lugar, haja vista o absoluto e total desconhecimento geral do seu significado, levando até a Rede Globo a se equivocar ao noticiar que se tratava da palavra ‘amor’ com letras trocadas... Mas não vamos crucificar André Lanza por sua iniciativa. No mínimo, devemos louvar sua coragem de pôr em risco a renovação de seu contrato, para compartilhar a emoção que ele sente ao proporcionar-nos um espetáculo que, em seu coração, evoca o momento da volta de Cristo.”

***

Com a carta do leitor adventista, não estou mais boiando. Mas continuo achando — e, talvez, achando até mais — que a festa de réveillon na praia, promovida pela prefeitura, não é o lugar certo para se propagandear esta ou aquela religião.

Fonte: http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/xexeo.asp (Em 07/01/2004).


Estátua do "ADVIR" é Novo Ídolo Instalado no RJ

Rio de Janeiro ganha mais um Cristo Redentor

RIO - A tão esperada surpresa, organizada pela Prefeitura do Rio através da Riotur, que emocionou o público presente na praia de Copacabana durante o Réveillon 2003 já tem destino certo: Barra da Tijuca.

Nesta terça-feira (13/01/2004), a réplica do Cristo Redentor estará sendo transferida da Ilha do Fundão para a Cidade da Música, na Barra da Tijuca. O monumento será iluminado por 1.200 lâmpadas, totalizando 30 mil watts de potência, e será instalado no entroncamento das Avenidas Ayrton Senna e Américas. O transporte da estátua, que será feito através de um caminhão, ficará a cargo da Lanza Shows, empresa responsável pelo espetáculo pirotécnico do Réveillon em Copacabana.

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/useg/odia/artigo/0,,1479586,00.html


Deu na Coluna "Boca Calada", de o Globo, em 10/01/2004:

Está de volta a engenhoca que reproduziu o Cristo e foi responsável pela polêmica inscrição de palavras como “advir” e “aomr”.

Cesar Maia permitiu instalar a estrutura durante o verão nas obras da Cidade da Música Roberto Marinho, na Barra. Mas vetou a inscrição de gracinhas.

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