Uso de Imagem do Cristo Redentor em Propaganda Depende de Aprovação da Igreja Católica

O cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, dom Eugenio Sales, estuda desde o início desta semana (10/07/00) a possibilidade de ingressar na Justiça para impedir a veiculação de comerciais que utilizem a imagem da estátua do Cristo Redentor. "Estamos fazendo um apelo às agências para que retirem do ar esses anúncios", afirmou, nesta segunda-feira, o advogado da arquidiocese, Antônio Passos. "Mas, se isso não acontecer, vamos entrar na Justiça", anunciou.

Um dos comerciais de TV que atualmente exibem a estátua é o da cerveja Schincariol. Um outdoor da Pepsi-Cola também utiliza a imagem como pano de fundo para sua campanha.

Embora o Cristo Redentor apareça nas peças publicitárias apenas para ilustrar a beleza da cidade, o teólogo da Igreja Católica dom Estevão Bettencourt explicou que a imagem de Cristo não pode ser associada a idéias profanas, nem servir para vender qualquer tipo de produto. "A propaganda associa muitas vezes a estátua a imagens indecorosas e até à pornografia", justificou. "Além disso, não se pode equiparar Cristo a garotos-propaganda, como Ronaldinho ou Pelé".

Dom Estevão condenou o envolvimento da imagem sagrada do Cristo com idéias ou coisas profanas. “O Cristo não é um agente comercial”, disse. O religioso lembrou ainda casos como o do anúncio da Pirelli (patrocinadora da Internazionale, de Milão), em que Ronaldinho de braços abertos, com a camisa 9, representa o Cristo no Corcovado. Na época, Dom Eugenio considerou, ao lado do cardeal italiano Ersilio Tonini, a propaganda um abuso.

Para o teólogo, a proibição do uso da imagem está longe de ser um cerceamento da liberdade de expressão. “O que deve prevalecer é o respeito aos símbolos religiosos, mesmo os de umbanda. Não se pode misturar as coisas. Não se dá liberdade para caluniar ou roubar”, comparou.

O advogado Antônio Passos explicou ainda que, de acordo com contrato firmado entre a Arquidiocese e o arquiteto responsável pela construção da estátua, Paul Lavinsky, é proibido o uso da estátua como peça publicitária. A negociação com as agências para evitar esse tipo de uso, segundo Passos, é comum e ocorre sempre que a imagem é usada indiscriminadamente. Passos afirmou que a determinação da Arquidiocese exclui as peças institucionais (do município, do Estado ou do governo federal) ou as de cunho turístico. "Evidentemente que o cardeal não discorda, e até incentiva, o uso da imagem para promover a cidade", disse. "O Cristo é um símbolo do Rio e ser usado na propaganda turística é estupendo", acrescentou dom Estevão.

O secretário estadual de Turismo e presidente da Riotur, Gerard Bourgeaiseau, afirmou estar de acordo com a Arquidiocese. "O Cristo Redentor é um símbolo religioso que deve ser resguardado: deve receber sempre um tratamento respeitoso", disse. "As agências de publicidade têm que ter um limite".

Segundo Bourgeaiseau, a proibição da veiculação de imagens não irá atrapalhar a divulgação turística da cidade. "Ninguém irá impedir a campanha turística". A Associação Brasileira de Agências de Propaganda (Abap) não quis se pronunciar sobre o assunto.

O uso da imagem do Cristo Redentor que gerou mais polêmica ocorreu há 11 anos, no Carnaval. A Beija-Flor foi impedida de expor o símbolo da cidade como mendigo. “Mesmo proibido, olhai por nós”, dizia a mensagem na réplica, empacotada com plástico, no desfile.

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