Todos os Membros São MINISTROS

Todo membro é um ministro. A distinção entre leigos e ministros não é bíblica, diz o autor desta matéria.

Floyd Bresee, Secretário da Associação Ministerial da Associação Geral.

No último fim-de-semana, revirando meu velho baú de recordações, encontrei entre os muitos papéis, recortes e velhas revistas, um exemplar da edição de dezembro de 1986, da Revista Adventista. Nesse período, eu trabalhava como redator da Casa Publicadora Brasileira e, além da cobertura do congresso JA realizado em outubro na daquele ano na cidade de Feira de Santana, BA, um de meus trabalhos foi a indicação e tradução deste artigo fantástico, quase profético, que você lerá a seguir. Nele, um importante líder da Organização propunha que a IASD deveria passar por um "movimento de liberação dos leigos", uma vez que, segundo a Bíblia, perante Deus, todos somos ministros. Estávamos em 1986 e nem o experiente pastor Rubens Lessa, que recomendou a leitura do artigo em editorial, poderia imaginar que, 16 anos depois, a proposta estaria sendo implementada, segundo a vontade de Deus, mas a contragosto da Administração. -- Robson Ramos

Toda vez que se realiza uma Sessão da Associação Geral ou um Concílio Anual, alguém ora assim: "Senhor, que esta seja a última!" Mas nós estamos aqui ainda! A tarefa de terminar a obra de Deus ainda não se completou. O que está errado?

Fordyce Detamore mencionou, certa feita, um incidente pessoal ocorrido enquanto ele telefonava de uma agência do correio. No hall do edifício, havia uma máquina de selos. E na máquina, um aviso: "Quando tudo falhar, leia as orientações." As pessoas colocavam moedas na máquina esperando que os selos aparecessem, mas nada acontecia. Enraivecidos, chutavam e amaldiçoavam a máquina. Faziam tudo, menos ler as instruções.

Algumas pessoas criticam e acusam a Igreja e nela vêem defeitos em razão de achar que ela não está produzindo. Para descobrir como o Senhor deseja que a Igreja funcione, devemos consultar a Bíblia e ler as instruções.

O Novo Testamento sugere que a Igreja precisa de um "movimento de liberação dos leigos". O método de Cristo para a conclusão da obra deve ser entendido pela Igreja Adventista do Sétimo Dia da seguinte maneira: 1) Todo membro é um ministro. 2) Todo membro recebe um dom, e 3) a responsabilidade da liderança da igreja é prover meios para que os membros realizem a obra de ministros.

1. Todo membro é um ministro.

A distinção entre leigos e ministros não é bíblica. A palavra leigo deriva da palavra "laos", e clero vem de "kleros". No Novo Testamento, estas palavras se equivalem e têm o mesmo significado. Não é correto referirmo-nos aos profissionais e aos não-profissionais da igreja.

Durante os tempos apostólicos, todos os membros se consideravam ministros. Como resultado, a igreja se expandiu como fogo. Sentindo-se perturbado, o diabo estabeleceu um plano para impedir o crescimento da Igreja. E o plano foi a "separação". Somente o clero podia estudar a Bíblia, somente o clero podia ensinar, somente o clero podia fazer o trabalho da Igreja. Os leigos deviam ser passivos em tudo. Eles não eram mais ministros, mas objetos do ministério.

Até mesmo a arquitetura desse período da Igreja falava de "separação". Havia até uma espécie de cerca na plataforma para separar o clero dos leigos. O púlpito era fixado à parede frontal do templo, à semelhança de um ninho de andorinha. O clero se dirigia ao povo que se achava num nível inferior. O povo olhava para os oficiantes lá em cima. A maneira como o clero se vestia indicava também uma separação. Usavam longos mantos ou becas, bem diferentes das roupas usadas pelos leigos. O plano para destacar essa separação funcionava. E Satanás sorria em virtude dessa separação.

A história mostra que quando a Igreja é dirigida por profissionais, ela sempre se torna fria. Os Adventistas do Sétimo Dia não estão imunes a este problema.

Que tipo de pessoa você visualiza quando menciono a palavra "obreiro"? Falamos a respeito de uma reunião de "obreiros" e um retiro de "obreiros". Quem é convidado? Os profissionais da Igreja. Nossa linguagem denota que o trabalho da Igreja é realizado por profissionais. E a situação não está melhorando.

Três gerações atrás, meu avô -  um fazendeiro de Dakota do Sul - era ancião de uma igreja adventista. Cada duas ou três semanas era a sua vez de pregar. Tentemos conseguir anciãos para pregarem hoje. Se eles aceitarem o convite, tentemos fazer com que a congregação os ouça...

Durante a geração seguinte, meu pai atuou como pastor. Os distritos pastorais eram enormes naquele tempo. As vezes até cinco igrejas estavam sob a responsabilidade de um pastor [nos Estados Unidos]. Mas, nesta geração, o último distrito do qual fui pastor tinha cinco pastores para cada igreja. O pior inimigo para a finalização da obra pode não ser a letargia, mas o ministério.

Durante a Reforma Protestante, a intenção foi dar um paradeiro a esta demoníaca idéia de separação. O texto-chave de teologia para a Reforma Protestante era 1 Pedro 2:9: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz."

A verdade que o Protestantismo captou desse verso foi a de que toda pessoa pode ser seu próprio sacerdote. As pessoas não precisam ir a um sacerdote para obterem perdão para seus pecados. Podem ir diretamente às cortes celestiais. Contudo, as implicações mais profundas deste verso não têm sido aceitas completamente pelo Protestantismo. A maior obra de um sacerdote não é ministrar para si mesmo, mas para outros.

A idéia de que cada membro é um ministro é algo que não foi ainda entendida plenamente, com exceção talvez dos Mórmons e das Testemunhas de Jeová. Não é de admirar que esses grupos se acham entre as denominações que mais crescem no mundo, e não possuem ministros. Ambos os grupos têm uma mensagem difícil de ser aceita pelo povo; contudo, são bem-sucedidos porque seguem o método bíblico. O que aconteceria se a Igreja Adventista do Sétimo Dia, que tem a mensagem bíblica, usasse o método bíblico para pregar o evangelho? Tal idéia provocaria, na verdade, um movimento de liberação dos leigos.

Analise as áreas do mundo em que a Igreja Adventista está crescendo, e você verá que os leigos estão realizando a obra ministerial. Quando visitei Papua Nova Guiné, onde o trabalho está se desenvolvendo surpreendentemente, senti-me deslumbrado. Perguntei ao presidente da União, ao presidente da Missão e aos distritais: "Quantas igrejas vocês têm? Cada um me deu a mesma resposta: "Não sabemos. Os leigos estão estabelecendo novas igrejas mais rápido do que podemos contar." Então perguntei ao presidente da União: "Qual é o seu segredo?" Ele respondeu: "Sem dúvida alguma, é nosso programa de treinamento dos leigos."

A Missão Highland de Papua Nova Guiné possui 25.000 membros. O presidente da mesma disse: "Nosso alvo para 1986 é aumentar o número de membros em 23%." Então perguntei-lhe: "Como planeja alcançar isto?" Ele respondeu: "Eu poderia mostrar-lhe, mas não sei se você realmente deseja ver isto, pois isto requer uma viagem difícil''.Eu disse: "Quero ver." E assim nós fizemos uma dura jornada em sua pick-up durante duas horas até Homu, onde havia uma escola para treinamento de leigos.

Eles haviam reunido trinta leigos, durante seis semanas, para estudar. Perguntei: "O que vocês ensinam? Posso ver seu programa?" O curso é dividido em três partes: liderança, organização da igreja e doutrinas. Após o curso, os leigos se lançam ao trabalho e estabelecem igrejas. Eles têm pouca instrução escolar, mas possuem forte convicção de que cada membro é um ministro.

2. Cada membro não é apenas um ministro mas possui um dom.

Antes de Cristo voltar para o Céu, Ele confiou à Igreja uma solene missão. A tarefa seria impossível a menos que Cristo desse meios específicos, espetaculares e miraculosos para a sua concretização. De acordo com Efésios 4:8-11, o plano de Cristo era de que todo aquele que recebesse o Espírito Santo receberia um dom espiritual para ser usado no ministério. "Por isso diz: Quando Ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro, e concedeu dons aos homens."

O verso 11 apresenta uma lista parcial desses dons: "E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres."

Quando mulheres são convidadas para um 'chá de bebê", levam presentes consigo. Os presentes são os mais diversos. Algumas moças e senhoras se sentam por horas para criar algo com suas próprias mãos. Algumas vão de loja em loja até encontrar um presente adequado. As que não têm muito tempo, põem dinheiro num envelope e o dão como presente. Nenhuma admite a idéia de ir ao "chá de bebê'; sem um presente. O Espírito Santo não decidiu manifestar-Se entre os seres humanos sem trazer um dom que pudesse ser usado no ministério. Dizer que não temos dons equivale a dizer que não temos o Espírito Santo em nossa vida. Provavelmente este dom seja um talento que você já possui. Mas sob o influxo do Espírito de Deus, ele deve ser usado para partilhar e servir.

Ao dar diferentes dons à igreja, Deus faz algo que, à primeira vista, é arriscado. Poderíamos pensar que para Deus ter uma Igreja unida a melhor maneira seria outorgar apenas um dom. Mas Ele confia na Igreja mais do que se pode imaginar.

"Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo." (1 Cor. 12:4.) Dons diferentes fazem com que as pessoas vejam as coisas de modo diferente. Se você tem o dom do pastorado, é inevitável que admitirá que a maior quantidade de dinheiro deve permanecer na igreja local. Se seu dom é ensinar, você será inclinado a gastar dinheiro na educação cristã. Se, por outro lado, você possui o dom de "socorros", a maneira de finalizar a obra é estabelecer centros de assistência social em toda parte. Se seu dom é o ministério da cura, então a rota natural para o evangelismo é pregar o evangelho da saúde. Entende você o problema? Muitas críticas de que os líderes são alvo constituem o resultado da tendência natural de os indivíduos favorecerem seu próprio dom.

Não entendemos nem vemos a importância dos dons alheios. A compreensão da teologia dos dons espirituais promoverá maior unidade na igreja. Os dons não são todos iguais, mas procedem do mesmo Espírito. Se Deus lhe concedeu um dom e me confiou outro, deve-se entender que tanto o seu dom como o meu são importantes. Todo membro é um ministro e todo membro tem um dom.

3. A liderança deve providenciar meios para o desenvolvimento dos dons.

"Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem, e não segundo o que ele não tem." (II Cor. 8:12.)

Através dos anos, parece que a ênfase da Igreja quanto à conquista de almas tem levado pessoas a se sentirem culpadas por não serem bem-sucedidas no desenvolvimento de dons que não possuem. Parece-me que pessoas que não gostam de testemunhar estão tentando testemunhar "usando" um talento que não têm. A questão não  é que os membros não querem testemunhar mas sim que não desejam fracassar.

Há três listas básicas de dons espirituais mencionadas na Bíblia. Acham-se em Romanos 12, 1 Coríntios 12 e Efésios 4. Em princípio, há vinte dons do Espírito. Se há vinte dons do Espírito e a liderança provê meios para o uso de apenas cinco, os outros quinze atuarão contra, em vez de cooperar com o Espírito Santo quando as pessoas tentam testemunhar de uma maneira para a qual não foram equipadas.

Se há quinze dons que Deus deseja sejam usados pela Igreja, esses dons devem terminar a obra. A liderança deve prover meios e criar condições para o desenvolvimento de todos os 20 dons a fim de estar em completa cooperação com o Espírito Santo.

Quando a maioria dos que desenvolvem o programa da Igreja tem o dom de ensinar, eles tendem a produzir programas admitindo que toda pessoa possui esse dom. Quando o programa é confiado a leigos que não possuem o dom de ensinar, eles tentam fazê-lo, mas fracassam. Por isso se recusam a aceitar outros programas, pois não querem fracassar novamente. Há uma grande necessidade de a liderança estudar os dons do Espírito e então preparar material para a conquista de almas mediante o uso de todos os dons.

A Igreja é como uma orquestra. Cada membro da orquestra possui um dom. Você não pode fazer parte de uma orquestra a menos que possua dom. Os dons são diferentes. Assim como o violino é diferente do tímpano, o dom do evangelismo difere do dom da hospitalidade. Como Igreja, cometemos um grave erro quando desenvolvemos o dom do evangelismo mas nada fazemos para exercitar o dom da hospitalidade. Se o evangelismo traz pessoas para dentro da Igreja, mas a hospitalidade não as conserva lá, não há sentido em trazê-las para a Igreja.

Se comparamos a igreja a uma orquestra, o pastor é o maestro. A tarefa do maestro não é produzir música. O maestro deve ajudar cada membro da orquestra a tocar seu instrumento. Muitos pastores querem tocar todos os instrumentos. E então perguntam por que a música não atrai. Qual é o papel do dirigente? Ele faz duas coisas: 1) Inspira a congregação. 2) O dirigente coordena. Ele diz: "Tímpanos, agora é a sua vez. Violino, agora é a sua vez. O trombone está muito forte." Inspirar e coordenar é o trabalho do pastor.

O trabalho mais importante da liderança da igreja é treinar músicos bem dotados e prover-lhes todos os instrumentos para que possam produzir uma música de boa qualidade.

Anos atrás, uma mãe chamou sua filha de cinco anos para jantar. Não houve resposta. Ela andou em volta da casa e chamou novamente. Nenhuma resposta. Então foi à dispensa, mas a criança não estava lá. Havia-se perdido. Um grupo de pessoas foi organizado para procurar a menina. Procuraram-na durante três dias mas em vão. Na tarde do terceiro dia, o chefe da policia reuniu o grupo de busca e, dirigindo-se ao pai, disse: "Amigo, sinto muito. Procuramo-la em todos os lugares mas não a encontramos. O jeito é desistir."

Tal idéia foi inconcebível para o pai, que disse: "Ela deve estar em algum lugar! Não podemos tentar mais uma vez? Não fizemos ainda uma coisa, ou seja, unir as mãos formando uma longa linha para nos certificar de que não esquecemos um lugar sequer. Poderíamos tentar mais uma vez?" Eles não puderam dizer não. Unindo as mãos e formando uma longa linha, eles procuraram através das pradarias canadenses. Não muito tempo depois, uma pessoa, ao olhar para baixo, avistou uma perninha de criança sob uma moita de capim. A menina havia sido encontrada, mas era demasiado tarde. O frio intenso levou-a à morte.

Eles colocaram o corpo inerte nos braços do pai. O pobre homem, elevando os olhos para o céu, as lágrimas caindo-lhe pelas faces, não pôde senão clamar: "Oh! Deus, por que não unimos as mãos mais cedo?"

Como igreja, por que não unimos as mãos mais cedo? Os ministros com os leigos, departamento com departamento, e a liderança com o Espírito Santo. O lugar para começar a finalização da obra não é o planejamento de programas. Devemos começar com a posse do Espírito Santo. Quando os líderes estiverem cheios do Espírito, estabelecerão planos e programas que se ajustem a todo dom confiado pelo Espírito Santo à Igreja.

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