Religião
Novo cardeal de Milão é favorito a suceder o papa

Diogini Tettamanzi é promovido para a arquidiocese do norte da Itália e torna-se o principal candidato a próximo líder da Igreja Católica


Da Redação
Com agências

O papa João Paulo II nomeou ontem um novo cardeal para dirigir a poderosa Arquidiocese de Milão. No lugar de Carlo Maria Martini, que estava há 22 anos no posto, entra Diogini Tettamanzi, cardeal de Gênova. Em dois mil anos de história, esta foi a primeira vez que o Vaticano transfere o cardeal de uma sede para outra. A manobra aponta para uma nova tendência na corrida pelo comando da Igreja Católica.

Em comunicado à imprensa, o Vaticano informou que Tettamanzi, 68 anos, assumiria a Arquidiocese de Milão. Segundo os vaticanistas, a indicação representa uma promoção para o cardeal, que assim se transforma no mais novo e mais forte candidato à sucessão de João Paulo II, muito debilitado pelo mal de Parkinson. ‘‘É uma nomeação que abre as portas para o papado’’, disse ontem o jornal italiano La Stampa.

Até ontem, Martini era visto como o candidato mais cotado entre a ala católica liberal. Porém, a idade e o frágil estado de saúde também diminuíram suas chances. No início deste ano, ele completou 75 anos — pelas leis da Igreja, ele teria de apresentar seu pedido de aposentadoria.

João Paulo II nunca seguiu esta regra à risca e sempre preferiu manter em posições-chave os cardeais com idades acima do limite. Martini, no entanto, teria insistido em se aposentar. Apesar da renúncia, ele manterá o título de cardeal e tecnicamente pode concorrer ao cargo de papa até os 80 anos. Martini, porém, confidenciou a membros da Igreja que também sofre do mal de Parkinson, o que certamente o excluiu da próxima eleição papal.

Em carta aos fiéis milaneses, Martini afirma que havia pedido sua renúncia ao papa no início do ano. ‘‘Sou muito grato ao Santo Padre por ter aceito minha renúncia.’’

O preferido

No Vaticano, Martini ainda é considerado por alguns analistas como possível sucessor de João Paulo II. Quando do início dos ataques norte-americanos ao Afeganistão, em outubro do ano passado, Martini tentou reverter a passividade da cúpula do Vaticano. ‘‘A Igreja não dá permissão a este ou àquele governo’’ para que inicie uma guerra, disse. E acrescentou: ‘‘Nunca (a Igreja) pode dizer sim à violência, embora reconheça o direito à legítima defesa e à erradicação dos semeadores do terrorismo.’’

Muitos analistas e religiosos acreditam que o próximo pontífice possa ser latino-americano ou até africano, regiões que nunca elegeram um papa. São nomes fortes o do cardeal brasileiro Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, e do hondurenho Oscar Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa. Mas há muita aposta em mais um papa italiano, que poderia ser Martini, o conservador Angelo Sodano, ou Tettamanzi.

O polonês João Paulo II, eleito em 1978, foi o primeiro não italiano em 445 anos a ocupar o cargo. Nos últimos meses, os boatos sobre sua renúncia têm sido cada vez mais fortes. O Vaticano, porém, tenta a todo custo desfazer as especulações e sustenta que João Paulo fica no cargo até sua morte.

Para provar que pretende cumprir o que promete, o papa viajará ao México e à Guatemala no final do mês. Entre os dias 30 de julho e 1º de agosto, ele estará na capital mexicana, onde canonizará o índio mexicano Juan Diego que, segundo a história, foi testemunha das aparições da Virgem de Guadalupe. Na mesma cerimônia serão beatificados outros dois índios assassinados em 1700. Depois, o papa segue para a Guatemala, onde celebrará uma missa campal em Tegucigalpa.


personagem da notícia
Moderado e próximo ao pontífice

Especialista em bioética, Diogini Tettamanzi tem proximidade com João Paulo II e é estimado pelo pontífice, com quem colaborou em diversas encíclicas. No Vaticano, é visto como um moderado que poderia servir de mediador entre liberais e conservadores.

Tettamanzi, que só deve assumir o novo posto em setembro, nasceu em Milão em 1934. Tornou-se padre em 1957 e subiu com firmeza na hierarquia da Igreja. Em 1989, foi nomeado arcebispo de Ancona, consagrado bispo pelo cardeal Carlo Martini, a quem agora substitui. Foi apontado como cardeal de Gênova em 1998. Além de bioética, Tettamanzi é especialista em temas de família e trabalho. Alguns vaticanistas acreditam que sua nomeação para Milão se enquadra numa estratégia a longo prazo de redesenhar o modelo do episcopado italiano, funcional às determinações do pontífice.

No ano passado, foi bastante criticado por políticos por ter apoiado os protestos de ativistas antiglobalizaçãpo durante o encontro dos líderes do G-8 (sete países mais ricos do mundo e Rússia) em Gênova. Na época, pediu às nações ricas para não se esquecerem dos pobres e para elaborarem políticas nas quais ‘‘o homem não exista em função da globalização, mas esta em função do homem’’.

Ele abençoou os ativistas e foi duramente atacado por políticos conservadores quando os protestos antiglobalização se tornaram violentos, com um manifestante morto e centenas de feridos. (Da Redação)



OS PAPÁVEIS
Os principais candidatos à sucessão de João Paulo II são:

Dionigi Tettamanzi
(Itália)

  • Ao ser transferido para assumir a diocese de Milão, Tettamanzi, de 68 anos, passa a ser um dos mais cotados a assumir o Vaticano

    Carlo Maria Martini
    (Itália)
     
  • Apesar da aposentadoria, aos 75 anos, o agora ex-arcebispo de Milão é um dos mais cotados pela ala progressista

    Oscar maradiaga
    (Honduras)
     
  • Aos 59 anos, tem bom trânsito entre conservadores e liberais e é considerado o principal candidato latino-americano

    Cláudio Hummes
    (Brasil)
     
  • O arcebispo de São Paulo tem apenas 67 anos, é politicamente de centro e respeitado pelos colegas. Fala cinco idiomas

    Norberto Rivera Carrera
    (México)
     
  • Tem a mesma idade de Maradiaga, mas experiência mais longa. Tornou-se padre em 1966. Lidera importantes movimentos sociais e evangelizadores no México

    Darío Castrillón Hoyos
    (Colômbia)
     
  • Conhece de perto os problemas dos países em desenvolvimento.
    Tem 73 anos

    Angelo Sodano
    (Itália)
     
  • Aos 75 anos, o secretário de Estado do Vaticano é um dos homens de confiança de João Paulo II

    Christoph Schönborn
    (Áustria)
     
  • Tem 57 anos e é considerado forte candidato para tentar retomar o crescimento da Igreja católica no Velho Continente
  • Fonte: http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020712/pri_mun_120702_256.htm.

    Enviado por Klein Monteiro.

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