É Correto que Eu Morra Por Causa do Pecado de Adão? Por Que Diz a Bíblia que “em Adão, Todos Morrem”?

“Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir” (ROMANOS 5:14).

À luz desses texto, surgem pelo menos duas perguntas: Por que reinou a morte nesse período? E como o reino da morte entrou no mundo?

Desde Adão até Moisés corresponde a um período de mais ou menos 2500 anos, quando a lei de Deus ainda não havia sido promulgada no Sinai, mas já imperava o reino da morte. No verso anterior, até somos informados de que “o pecado não é levado em conta quando não há lei” (ROMANOS 5:13).

Note o Senhor descendo para inspecionar os antediluvianos (GÊNESIS 6:5 e 11), os da torre de Babel (GÊNESIS 11:6) e os habitantes de Sodoma e Gomorra (GÊNESIS 18:20 e 21). Existiam claros mandamentos divinos - Não colham maná no sábado (ÊXODO 16:4 e 22-28) – e a lei escrita no coração (ROMANOS 2:14) que no caso de Abraão foi contrariada pela clara ordenança divina – Mate o seu filho, o seu único filho (GÊNESIS 22:2 e 16-18).

Com este contexto em mente, ressaltarei duas verdades extraídas de ROMANOS 5:14.

A) O pecado de Adão foi diferente dos pecados das pessoas que viveram antes da promulgação da lei no Sinai. Imperou, então, o reino da morte. Como o reino da morte entrou no mundo? Foi devido ao pecado de Adão? Ou foi devido aos pecados dos que imitaram a Adão desobedecendo ou contrariando a vontade do Senhor?

B) O primeiro Adão prefigurava ou era símbolo do último Adão – Jesus Cristo. Pode um pecador (Adão depois da queda) ter semelhanças com um “santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus” (HEBREUS 7:26)?

Em resposta à última pergunta, relembramos que a criação de Adão e de Cristo foram especiais. Como primeiro cabeça da humanidade, Adão não teve pai terreno. Ele foi modelado pelo próprio Deus. Os demais homens que nasceram sobre a terra vieram da fecundação de um óvulo por um espermatozóide. Esta criação em série só foi interrompida com a vinda do Segundo Adão – Jesus Cristo – o novo cabeça da humanidade. Jesus assumiu a carne humana por vontade própria, mas ele também não teve um pai humano. Ele não nasceu “nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (JOÃO 1:13). Maria hospedou em seu ventre o Filho de Deus durante nove meses; e a criança já nasceu santa (LUCAS 1: 35), inculpável e separada dos pecadores (HEBREUS 7:26) e sem defeito (I PEDRO 1:19).

Que outras similaridades e diferenças nunca podemos nos esquecer quando correlacionamos o nascimento de Cristo e a criação de Adão?

“Eis o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (ECLESIASTES 7:29).

“Deus fez o homem reto; deu-lhe nobres traços de caráter, sem pendor para o mal” (Patriarcas e profetas, página 32).

Portador apenas da natureza espiritual, o Adão original não se esforçava para obedecer. Tão imperceptível quanto o respirar, quanto o pulsar do coração, assim a natureza espiritual de Adão obedecia voluntariamente. “Sua natureza estava em harmonia com a vontade de Deus” (Patriarcas e profetas, página 28). Já a desobediência exigiu um diálogo com o tentador. A mente de Adão precisou ser convencida antes de se converter em pecador.

Além de uma natureza espiritual – item de série – Adão foi agraciado com vários itens acessórios opcionais. O ambiente era perfeito, o relacionamento humano até então era perfeito, e o relacionamento com Deus se dava face a face. Não havia desemprego, sem terra, sem teto, inflação, sua esposa era bela e pertencia a mesma religião, sua mente tinha alguns “gigabytes” a mais do que temos hoje, não possuía parentes ou aderentes com problemas financeiros ou portadores de necessidades especiais e assim por diante.

Jesus Cristo também recebeu uma natureza espiritual como item de série – à semelhança do protótipo de homem ideal. Todavia, ele não teve os itens acessórios opcionais que Adão possuíra.

Apesar da perfeição original, Adão não estava imune à tentação. Quem sofre mais ou quem é menos insensível: o pecador contumaz que não é incomodado pela voz do Espírito Santo, ou o portador de natureza espiritual que se vê diante do conflito entre a sua vontade e a vontade de Deus? Por isso Cristo sofreu mais do que os homens. "A natureza humana de Cristo era semelhante à nossa. E o sofrimento, na verdade, era sentido mais agudamente por Ele, pois Sua natureza espiritual estava isenta de qualquer nódoa de pecado. A aversão ao sofrimento era proporcional a sua intensidade. Seu desejo de evitar o sofrimento era tão forte quanto o experimentam os seres humanos..." (CRISTO TRIUNFANTE, Meditações Matinais/2002, página 268). “E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (I TIMÓTEO 2:14).

Não consigo reler a história da queda sem meditar nos “argumentos racionais” da serpente. Quase podemos ouvi-la dizendo:

Palavras da serpente: Eva, você já viu uma serpente falar? Eu comi e não morri; além disso, ganhei a voz. “Ele próprio havia comido do fruto proibido, e como resultado adquirira o dom da fala” (Patriarcas e profetas, página 47).

Palavras da serpente: Tá vendo, Eva, você não morreu! “A serpente apanhou o fruto da árvore proibida e colocou-o nas mãos de Eva, que estava meio relutante. Fê-la então lembrar-se de suas próprias palavras de que Deus lhes proibira tocar nele, para que não morressem. Não receberiam maior mal comendo o fruto, declarou ele, do que nele tocando. Não percebendo maus resultados do que fizera, Eva ficou mais ousada” (Patriarcas e profetas, página 48). Ela foi enganada, comeu do fruto e tornou-se a tentadora de Adão. Este por sua vez, “resolveu partilhar sua sorte; se ela devia morrer, com ela morreria ele. Afinal, raciocinou, não poderiam ser verdadeiras as palavras da sábia serpente” (Patriarcas e profetas, página 49)?

Jesus Cristo também foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (HEBREUS 4:15). Jesus nunca foi casado, não teve filho usuário de drogas, nunca teve que assinar um aviso prévio, não teve seu carro roubado, não perdeu seu cargo de confiança por não ser um cortesão do patrão. Como, então, aplicar este princípio a nós? O texto bíblico não diz que Jesus passou pelas mesmas tentações que nós, até porque se Ele se encarnasse 1001 vezes, ainda assim não viveria as mesmas experiências que todos os seres humanos viveram, vivem ou viverão sobre a face da terra. Entretanto ninguém passou por provas tão difíceis quanto o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Quanto à segunda pergunta – Como o reino da morte entrou no mundo? – farei uso de ROMANOS 5:12-19 e I CORÍNTIOS 15:21 e 22 para elucidar a questão.

Assim como por um só homem	Entrou o pecado no mundo	E pelo pecado, a morte	Assim também a morte passou a todos os homens.
Por um só homem	O pecado entrou no mundo	A morte entrou no mundo	A morte universal
O primeiro adão	Um só pecado	Uma só morte	O reino da morte

Que releitura podemos fazer da morte universal ou reino da morte aqui mencionados? Temos duas alternativas:

a) Ou a morte universal sobreveio “porque todos pecaram” (ROMANOS 5:12_ú.p.), como Adão.

b) Ou a morte universal sobreveio “porque todos pecaram” (ROMANOS 5:12_ú.p.), em Adão.

O grande questionamento que se levanta diante de tais afirmações é: Como um único ato de uma só pessoa afetou toda a humanidade? Como o erro do PRIMEIRO ADÃO pode trazer tantos problemas para muitas pessoas?

Israel pecou e foi castigado (JOSUÉ 7:1, 4 e 11) quando Acã tomou para si uma boa capa babilônica, duzentos siclos de prata e uma barra de ouro (JOSUÉ 7:1 e 18-21).

Quando Abraão entregou o dízimo a Melquisedeque e este o abençoou (GÊNESIS 14:18-20), Levi ainda nem era nascido (GÊNESIS 29:34). É-nos dito que Levi pagou os dízimos na “pessoa de Abraão. Porque aquele que ainda não tinha sido gerado [levi] por seu pai [abraão – isaque - jacó], quando Melquisedeque saiu ao encontro deste” (HEBREUS 7:9 e 10). Em outras palavras: Onde estaria Levi caso Abraão tivesse morrido antes de gerar a Isaque? Ele nem teria nascido; todavia, Levi estava nos lombos de Abraão quando este pagou os dízimos a Melquisedeque. Daí, se conclui que a ordem sacerdotal levita é inferior a ordem sacerdotal de Melquisedeque.

Existe um argumento mais convincente. O próprio texto de ROMANOS 5 lança luz sobre o debate ao contrastar a ofensa do PRIMEIRO ADÃO e o ato de obediência do SEGUNDO OU ÚLTIMO ADÃO:

Se ainda restou dúvidas, convido-o a meditar em I CORÍNTIOS 15:21 e 22: “Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo”. Assim podemos dizer que o primeiro homem ideal, unido ao Pai e ao Filho – Adão – foi criado como cabeça da humanidade e cedeu à tentação quando tinha tudo a seu favor. Em conseqüência deste único pecado, toda humanidade foi afetada. Esta única ofensa de Adão foi imputada a todos os homens e daí adveio a condenação, o juízo, a morte e a morte universal.

De igual modo, o ato do segundo homem ideal, que era o Filho de Deus unido ao Pai – Jesus Cristo, o novo cabeça da humanidade – foi imputado a cada um de nós. Não fizemos absolutamente nada e ainda assim fomos justificados por esse ato meritório de Cristo.

Onde estaria o João Ferreira Marques caso Adão tivesse morrido no Éden? Eu nem teria nascido. Como isto não aconteceu, eu estava nos lombos de Adão quando ele pecou.

Qual seria o destino do João Ferreira Marques caso a história da humanidade não fosse complementada pela vinda de um homem celestial (I CORÍNTIOS 15:47)? Eu estaria eternamente perdido. Como isto não se deu, eu estava nos lombos de Cristo quando viveu, morreu e ressurgiu.

Creio que você já se deleitou ou pelo menos já ouviu cantar o hino 59 do HASD. Os versos iniciais desta poesia reiteram a mesma verdade: “Stavas lá ao pregarem meu Jesus”. Paulo faz repercutir essa idéia em ROMANOS 6:6 e 8: Nós fomos crucificados com Cristo, nós morremos com Cristo. Eu não estava vivo naquele dia, mas já estava nos lombos de Cristo. Eu também não estava vivo no Éden, mas fui afetado por estar nos lombos de Adão.

Por que eu creio que Cristo nasceu sem natureza pecaminosa? Porque se Cristo tivesse nascido como nascem os demais seres humanos, numa seqüência direta de Adão e Eva, então seria correto dele afirmar também que “em Adão, todos morrem” (I CORÍNTIOS 15:22). Jesus Cristo também teria necessidade de um Salvador. Ele teria que passar pela experiência do novo nascimento. -- João Ferreira Marques

O artigo acima, bem como todos os demais publicados neste site, refletem unicamente a opinião de seu autor. A publicação não equivale a uma total (ou mesmo parcial) concordância de opiniões do Editor com o articulista. Serve apenas como um exercício de liberdade de exposição do pensamento perante a comunidade de internautas que visitam diariamente a este site.

Cabe, portanto, ao leitor avaliar tudo que aqui é exposto, à luz do que dizem as Sagradas Escrituras, única regra de fé e prática para o cristão, mediante a qual seremos também avaliados por Deus no juízo.

Em relação especificamente ao tema acima, cuja argumentação foi brilhantemente apresentada pelo irmão João, reservo-me o direito de discordar por vários motivos, dentre eles a afirmação clara e objetiva do próprio apóstolo Paulo:

"Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado." Romanos 8:3.

Se fundamentamos a plena igualdade na expressão "Filho de Deus" referente a Jesus Cristo, também devemos aceitar sua plena igualdade com a raça humana pecadora implícita no título "Filho do Homem", com a qual Ele próprio Se identificava. -- Robson Ramos

Obs. Também o pequeno texto acima, assinado por mim, é apenas mais uma opinião meramente humana e que pode estar equivocada. Nosso problema é que sempre formulamos conclusões apressadas com base em amostras incompletas de dados.