Tira-Dúvidas Sobre Justificação, Santificação e Trasladação pela Fé

 

Irmão Jairo:

Lendo seu artigo sobre Justificação, Santificação e Trasladação pela Fé, verifiquei alguns itens que gostaria de uma melhor explicação:

Primeiro Item:

1. João 11:25 e 26:
Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;
e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês isto?

Já a versão revista e atualizada diz:

25: Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá;
26: e todo o que vive e crê em mim
não morrerá eternamente. Crês isto?

Estes dois versículos, foram analisados em seu texto de duas formas diferentes, a primeira parte foi analisado de forma espiritual e a segunda de forma real. A pergunta é, porque não foram analisadas da mesma maneira as duas partes?

R.: O texto da tradução de João Ferreira de Almeida, versão revista e atualizada da Bíblia, apresentado acima, contém um vírgula que, embora não apresentada no texto acima, faz toda a diferença para a compreensão do texto. Este verso é apresentado nesta versão da seguinte forma:

"Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto?"

Assim, o sentido do verso 36, no texto acima, conforme lemos, é: "todo o que vive e crê em mim nunca morrerá". A Bíblia de Jerusalém é ainda mais explícita. Ao invés das palavras "nunca morrerá", esta apresenta, "jamais morrerá". Entendemos então claramente que o sentido do texto é que "quem vive e crê em Cristo nunca morrerá, em momento algum". Isto inclui não morrer tanto a primeira quanto a segunda morte.

Assim, o verso nos indica claramente a possibilidade da trasladação independentemente da época em que se vive. Isto para nós significa que, mesmo que Jesus demorasse ainda 100 anos para voltar, há a possibilidade de não morrer e ser trasladado no tempo presente, e esta mensagem é um alento para todos aqueles que porfiam por entrar na "porta estreita".

O irmão também pergunta porque uma parte do trecho bíblico foi analisada de forma espiritual e outra de forma real. Isto foi realizado apenas para enfatizar os pontos que gostaríamos de ressaltar no material. Ambas as partes do texto permitem a aplicação real e espiritual. Assim, para que o tema se esclareça, colocamos o entendimento real e espiritual de ambas abaixo:

1 - "Quem crê em mim, ainda que morra, viverá;"

O texto significa que, quem crer, ou seja exercer a fé, conforme é definida em Hebreus 11:1, em Cristo Jesus como seu Salvador pessoal, ainda que venha a sofrer a primeira morte, viverá, ressuscitando na primeira ressurreição, a ressurreição da vida. No sentido espiritual, significa que aquele que crê, ainda que morra para o eu, viverá para Cristo Jesus. O conceito de morte e ressurreição espiritual é bem explicado por Paulo, e cito apenas 2 textos como referência para leitura posterior - Col. 3:1 e Rom 6:1-4.

2 - "e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente."

O trecho acima, no sentido espiritual, atesta que, todo aquele que vive em Cristo Jesus (ver Gal. 2:19, 20), e permanece sempre vitorioso no caminho da fé, não morrerá, eternamente. Leia o texto de Gálatas 5:16, 18. Com base nestes textos, podemos perceber que, aquele que anda perfeitamente na fé (e por isso recebe o Espírito de Cristo - Gal. 4:4-6) vence os desejos da carne e não transgride os mandamentos, não estando assim sob a condenação da lei (Gal. 5:18). Uma vez justificados por Cristo Jesus pelos pecados anteriormente cometidos e não mais estando sob a condenação da lei por andar em perfeita conformidade com ela assim como Cristo, nosso exemplo, andou, não impende sobre nós a pena da transgressão, que é a morte: "a alma que pecar, esta morrerá" Ez. 18:20. O que nos resta então? Após, pelo suportar as provações através da fé, e por isto obter testemunho de haver agradado a Deus perante todas as suas criaturas, receberemos, assim como Enoque o galardão da trasladação:

"Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes de sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus." Hebreus 11:5

Porque recebe-se o galardão da trasladação após obter o testemunho de haver agradado a Deus, e não apenas após refletir o caráter de Cristo? Porque, ao vencer esta pessoa as provas pela fé, os seres criados puderam VER que esta pessoa refletia perfeitamente o caráter de Cristo Jesus. Tiago 2:24 fala que os seres criados podem ver que uma pessoa foi justificada por Cristo e mesmo que agradou a Deus através das obras provenientes da fé:

"Vede que uma pessoa é justificada [perante os seres criados] por obras [porque os seres humanos não podem ver se com o coração a pessoa creu para justiça - Rom. 10:10 ou mesmo logrou obter um caráter como o de Cristo] e não por fé somente." Tiago 2:24. Os trechos entre colchetes foram acrescentados ao texto.


Segundo item:

Em sua apostila você escreveu a seguinte frase: “No momento em que aceitamos o sacrifício de Cristo Jesus como pena substitutiva de nossos pecados, somos perdoados de todos os pecados que cometemos anteriormente, que cometemos atualmente e venhamos a cometer no futuro”.

a) Quando aceitamos a Cristo, somos perdoados de nossos pecado que foram praticados, porem o que serão praticados, ainda necessitam de arrependimento.

I João 1: 9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. E

I João 2:1 Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.

O sacrifício de Cristo foi completo, porém o perdão depende de arrependimento.

R.: A Bíblia atesta sobre como o homem é justificado diante de Deus:

"Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei." Rom. 3:28

A que espécie de justiça Paulo está se referindo no verso acima? Ele esclarece no capítulo seguinte:

"6 E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras;

7 Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos;

8 bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado." Rom. 4:6-8

Como percebemos pelo texto do capítulo 4, Paulo esclarece que, para o homem, ser "justificado", significa ser "perdoado" (verso 7). O apóstolo esclarece também que, quando Deus atribui justiça ao homem, jamais imputará pecado sobre ele. Isto significa que o homem jamais cometará pecado após ter sido considerado justo por Deus? Não é isto que o trecho bíblico diz. O verso declara que Deus não "imputará" pecado, não que o "homem não cometerá" mais pecados. Isto significa que, embora o homem continue pecando após haver aceito a Cristo como Seu Salvador, pela fé em nEle a justiça lhe é atribuída, e enquanto ele não deixar de crer com o coração (Rom. 10:10) em Cristo como seu Salvador pessoal, a justiça, ou seja, o perdão que lhe foi atribuído pela fé lhe é assegurado.

Como então responder, por exemplo ao texto abaixo, apresentado pelo irmão?

I João 1: 9: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça."

A Bíblia pode nos responder esta aparente contradição. O texto acima afirma trata, não da justificação do ser humano, e sim de sua santificação. Diz que, se nós confessarmos os nossos pecados, Cristo é fiel e justo, não somente para perdoar os nossos pecados, pois recebemos o benefício do perdão total e completo obtido na cruz para todos os pecados quando cremos, mas também para nos "purificar" de toda a injustiça. A palavra "purificar" é utilizada para designar a obra de Deus, não de justificar o homem, livrando-o da condenação do pecado, mas de fazê-lo deixar de pecar. O texto de Efésios retrata bem isto:

"...Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra" Efésios 5:25, 26

Assim, temos que em I João 1:9, o apóstolo afirma que, se confessarmos os nossos pecados, declarando a Cristo nossa tristeza por tê-los cometido e nosso desejo de não cometê-los novamente, Ele não só nos justifica, porque isto Ele já havia feito por meio da fé (Rom. 3:28), como também nos "purifica de toda a injustiça" habilitando-nos a não mais cometer estes pecados confessados.

Outro ponto importante que temos de comentar sobre o texto de I João 1:9, é que ele não afirma que a condição para que nossos pecados sejam perdoados é que os confessemos. Assumir isto como verdade seria admitir que o homem tem que fazer algo pela sua salvação - confessar. Confessar é algo que o homem faz. Se é algo que o homem faz, é uma obra. Paulo declara expressamente que nenhuma obra pode contribuir, com o mínimo que seja para a "justificação" do homem.

"sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado." Galatas 2:16

Uma vez que vimos a pouco pelo texto de Romanos 4:6-8 que ser "justificado" significa estar perdoado a tal ponto que Deus jamais nos imputará pecado, temos que, se nenhuma obra pode contribuir jamais para a justificação do homem, nenhuma obra pode contribuir para que o homem seja perdoado por Deus. Assim, percebemos que Deus não nos perdoa porque confessamos os pecados e sim nos livra de pecar novamente quando assim o fazemos. Ele nos perdoa quando exercemos a fé no sacrifício de Cristo, substituto da pena que merecíamos pagar pelos nossos pecados.

O ato de confessar os pecados, apesar de provir da fé, não é em si mesmo a fé. Fé é apenas e tão somente a certeza das coisas que não se vêem. Não me vejo como justificado de todos os meus pecados diante de uma Deus santo, mas creio nisto - isto é fé.

Sobre este tema, seria interessante ler o livro "O Poder do Perdão", de Waggoner, que aborda com bastante propriedade sobre o tema. A própria serva do Senhor, Ellen G. White, afirmou que esta mensagem foi dada por Deus a ele e ao pastor Jones (ver Eventos Finais, pág. 172).


b) Creio em Cristo porque fui justificado, e a justificação é a minha garantia para o céu, porém não quero fazer parte da santificação. Estou salvo ou perdido? Por quê?

R.: Não creio em Cristo porque fui justificado. Creio em Cristo, e então sou justificado. Quem crê é justificado (e por isto não é julgado para a morte), quem não crê já está julgado (João 3:18). Assim, não há como "não fazer parte da santificação", uma vez que é impossível que aquele que realmente aceitou a Cristo Jesus não apresente frutos que demonstrem isto, pois quem permanece em Cristo "dá muito fruto" João 15:5. Isto significa que aquele que crê em Cristo Jesus recebe o Espírito dEle (Gal. 4:4-6), e por isso este Espírito opera de modo que haja uma trasnformação do caráter e sejam vistos frutos na sua vida.

Enquanto alguém permanece na fé em Cristo Jesus, Deus, conforme expresso na Sua Palavra em Romanos 4:8, jamais lhe imputará pecado, e ele permanece justificado. O homem nunca "perde" sua justificação. Ele pode devolvê-la a Deus que lhe deu, mas não há como perdê-la. Como o homem pode devolver sua justificação? No momento que compreendo claramente que aceitar determinada verdade da Palavra de Deus para minha vida significa estar aceitando a Cristo, e rejeitá-la significa estar rejeitando-O, e decido abandonar a Cristo, ficando com o pecado porque gosto dele, não querendo mais sequer ser "importunado" pelo Seu Espírito de modo a ser convencido ou relembrado de meu pecado, estou devolvendo a Deus a justificação que Ele me deu. Estou dizendo para Deus: entre o meu pecado e o Céu, digo: adeus Céu. Neste momento, Deus, que não pode sobrepor-se ao meu direito de escolha, tristemente aceita a devolução deste dom gratuito. O texto de Hebreus 10:26 expressa bem isto:

"pois, se vivemos deliberadamente em pecado depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados" Hebreus 10:26

Agir de conformidade com o expresso no verso acima, significa "ultrajar o Espírito da graça, conforme está expresso no verso 29 do mesmo capítulo". Seu Espírito é o único meio pelo qual Cristo pode trabalhar no coração do homem. No momento que o homem rejeita este meio, rejeitou o único meio pelo qual poderia ser transformado. Então "já não resta sacrifício pelos pecados."

Que Deus te abençoe,

Jairo Carvalho

Leia também:

Retornar

Para entrar em contato conosco, utilize este e-mail: adventistas@adventistas.com