O Altíssimo, o Deus que Nunca Foi Visto - Parte 1

 

Não faz muito tempo, um ancião vivendo em outro país, começou a levantar poeira sobre um assunto deveras polêmico. O tema estava completamente fora de questão no mundo evangélico. A princípio, houve uma avalanche de contestações ao que ele escrevia em seu site. Alguns chamaram-no de revoltado, de “biruta”, outros de polêmico e ainda outros o acusaram de querer desestabilizar a liderança da Igreja Adventista com uma falsa acusação de apostasia.

Bem, o tempo foi passando e o assunto que o irmão Ennis Meier trouxe à baila, hoje é discutido até nos Seminários Adventistas de Teologia, com relativa profundidade pelos “doutores da lei”, fora as inúmeras campanhas de “esclarecimento” (seja através dos púlpitos, escritos, concílios pastorais, etc) por parte da liderança da IASD na tentativa de conter os inúmeros membros que até então não haviam se despertado para um assunto de tão grande magnitude e profunda relevância para o tempo presente.

Embora tenha escrito no passado vários artigos para o Adventistas.com, por três anos mantive-me em silêncio sobre este e outros assuntos tratados aqui neste site. É que não costumo opinar sobre determinados assuntos sobre os quais não tenho total domínio, ainda que tenha formação teológica do SALT e por 16 anos tenha sido pastor na IASD.

Na realidade, eu mesmo não pregava sobre a trindade, aliás, nunca preguei sobre este tema por achar que era complicado demais para ser abordado num culto ou estudo. Por isso, meu silêncio. Porém, acho que agora posso dar a minha colaboração ao povo de Deus que deseja continuar estudando sobre um assunto tão vasto e tão carente de informações.

Tal tema está longe de ser esgotado, com certeza. E mais, o cristianismo de maneira geral, em torno de 99% crê na “teoria” (e não doutrina) da Trindade. Teoria porque a mesma está fundamentada apenas sobre hipóteses do tipo: é bem provável; o apóstolo, talvez, queria dizer; nos parece que; através disso podemos inferir; etc.

A crença na Trindade está alicerçada em pilares arenosos e alguns dos poucos textos apresentados como evidência dessa teoria, não se sustentam sob uma análise de crítica textual séria.

Bem, entre um fato e um boato, a distância não é tão grande assim, aparentemente, o que prova o fato ser verdadeiro não são os elementos circunstanciais, mas as provas  fidedignas de sua veracidade. Portanto, queridos leitores, eu gostaria de alertá-los que a “briga” não é propriamente com IASD, e sim com a massa do cristianismo em geral, que vai dos católicos, batistas, presbiterianos, adventistas, quadrangulares, cristãos ortodoxos, assembleianos, luteranos, igreja da graça, renascer em Cristo, congregacionais, episcopais, anglicanos, metodistas, universais, pentecostais e muitos outros.

Isso porque o próprio cristianismo está dividido entre: o trinitarianismo, o anti-trinitarianismo, o triteísmo, o modalismo, o unitarianismo, o arianismo e outros que não sabem nem mais no que devem crer. Levaríamos algum tempo para explicar cada um deles, porém, prezados leitores, acompanhem os nossos artigos, que os temas acima mencionados serão abordados. Na verdade, esta série de artigos irá compor meu livro: O Deus que Nunca Foi Visto, que estarei disponibilizando aqui numa sequência de textos, correspondentes a seus capítulos. Se alguma editora se interessar em publicá-lo, entre em contato comigo pelo endereço no fim deste artigo.

Creio que Deus levantou, através do irmão Ennis, um assunto que precisa ser encarado com muito mais seriedade do que pensamos. E faço uso de um pensamento de Ellen White, quando diz:

“...Temos muitas lições para aprender e muitíssimas para desaprender. Tão-somente Deus e o Céu são infalíveis. Quem acha que nunca terá de abandonar uma opinião formada, e nunca terá ocasião de  mudar de critério será decepcionado.” Testemunhos para Ministros, pág. 30.

Diante disso, a “briga” maior não é propriamente com a IASD, se bem que ela tem muito que aprender, muito mais do que a liderança pensa. Mas o desafio maior é, sim, tentar mostrar para todo o cristianismo, aquele descrente ou não tão consistente assim, de que há uma grande e inegável, ainda que discutível, doutrina a ser resgatada pelos cristãos da atualidade.

É hora de colocarmos “O único Supremo e Soberano do universo, o Verdadeiro Deus, em Seu devido trono”. Parece até sacrilégio falar assim, mas O Senhor Deus Todo-Poderoso sabe o que quero dizer. Vamos começar nossas considerações sobre: Se Deus pode ou não pode ser visto.

Este tema exige que deixemos de lado qualquer tipo de provocação e ironia. Porém, faz-se preciso oração e dedicação ao estudo do texto bíblico. É preciso investigar, comparar, analisar afim de que se possa concluir, pela sabedoria divina, qual era a intenção de Deus no Velho e Novo Testamento a Seu respeito.

O texto bíblico do Pentateuco deixa evidente a luta de Deus contra os inúmeros deuses criados pelos homens, querendo “tomar ou ocupar” o Seu lugar no coração daqueles que foram criados segundo a Sua imagem e semelhança. Mas deixemos que a Palavra de Deus nos guie por essa investigação. Pessoalmente, aceito qualquer contribuição que venha a melhorar a clareza e compreensão do assunto proposto. Que Ele nos ajude para tal missão. Vamos lá!

 

Primeira Parte

Quando examinamos os escritos sagrados ficamos maravilhados com a perfeita linha de raciocínio de seus escritores. Durante muito tempo, influenciado pela igreja adventista do sétimo dia e por não pesquisar pessoalmente este assunto, acreditei que o Senhor que se manifestara de muitas maneiras no Velho Testamento era a pessoa do Senhor Jesus, o Cristo de Deus. Meu queixo caiu quando, para minha surpresa, pude constatar que eu estava equivocado; e não somente eu, mas muita gente igualmente se surpreenderá com a revelação.

O apóstolo João abre seu livro dizendo que: “No princípio era o verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” S.João 1:1-2 e 14.

Aparentemente e inicialmente, João fala de dois “Deuses”, sendo que um se fez carne e habitou entre nós. Ele afirma que o Verbo (A Palavra) era Deus, ora, se era, isso pode significar que não é mais? Bem, verbo implica em ação, logo, a Palavra foi o agente ou porta-voz de Deus; Aquele a quem Deus usou como representante direto de Sua pessoa na consecução de Seus planos aqui na terra e nos céus.

Isso quer dizer que as coisas foram criadas pela Palavra, mas não tiveram a origem nEla: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho. A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” Heb.1:1 e 2.

Em palavras muito rudimentares, e que me perdoem a comparação, mas é que no momento eu não tenho outra melhor para fazer, mas é como se Deus, o Pai, fosse o engenheiro projetista e Jesus, seu Filho, o Mestre de obras. Em outras, palavras, não foi propriamente o Engenheiro quem construiu, mas partiu dEle a idealização do projeto.

Este é o início, para alguns, de um grande dilema teológico: Verdadeiramente, houve algum tempo no qual o verbo foi Deus e não é mais, ou o verbo era Deus ou depois de Se feito carne e osso, como nós, continua sendo Deus?

Bem, esse mesmo Verbo que se fez carne, em alguns momentos da história dos patriarcas e do povo de Israel foi visto, e conversou face-a-face com humanos. Portanto, prezado leitor, se este Verbo tivesse a mesma dimensão e grandiosidade do que o nome Deus revela, ele não poderia ter sido visto.

Aliás, o próprio apóstolo João faz a seguinte declaração, antes de encerrar o primeiro capítulo: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o fez conhecer”.S.João 1:18. Há uma versão que traduziu assim:  “Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer”. Esta tradução está completamente equivocada. É uma forma de forçar a doutrina da trindade, mas segundo textos gregos mais antigos o que encontramos é o seguinte:

θεον ουδεις εωρακεν πωποτε ο
μονογενης υιος ο ων εις τον
κολπον του πατρος εκεινος
εξηγησατο

Como pudemos observar o que notamos é: μονογενης (monogenes) υιος (huios), que traduzido fica assim: o Filho unigênito; isto é, o único gerado de Deus; não criado. Diante da declaração joanina: Deus nunca foi visto e ponto. Se houvesse de fato uma “trindade” ou “três em um”, isso significaria: que nem o Pai, nem o Filho e nem a suposta terceira pessoa, o Espírito Santo poderia ser vista.

Portanto, Jesus é retratado apenas como o Filho de Deus, e não propriamente como Deus. Anda que semelhante ao Pai, o Verdadeiro Deus, não teve e nem tem por pretensão ou usurpação ser igual a Deus, explicaremos melhor um pouco mais adiante essa questão.

Jesus, como o Messias, tinha uma dupla missão: 1) a de salvar a humanidade (S.Mat.1:21; 18:11); e a de vindicar (ou resgatar) o caráter (imagem) de Deus (Is.48:9; Ezeq.20:9,14,22,44;Sal.106:8).

Ao longo do tempo o inimigo havia criado uma falsa imagem da pessoa de Deus. Ele havia nutrido o pensamento de que todas as coisas ruins que aconteciam aos humanos eram, de certa forma, algum tipo de punição que Deus estava realizando na vida daquela pessoa. Qualquer erro, qualquer deslize, qualquer vacilo, lá estava Deus para aplicar um devido corretivo ao transgressor e rebelde. Assim, a pessoa de Deus passou a ser vista como: vingativa, punitiva e implacável. Que este Deus não se importava muito com as criaturas humanas e que vivia muito longe do alcance humano. Em suma: este Deus era severo e distante.

Era intenção de Jeová resgatar, na pessoa do Filho, o Cristo, Sua verdadeira imagem. Por isso Jesus foi chamado de Emanuel, como profetizou Isaías: “Portanto, o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que uma virgem conceberá, e dará à luz a um filho, e será o seu nome Emanuel”. Isaías 7:9. E essa mesma profecia é repetida por ocasião do nascimento de Jesus: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, chama-lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco”.S.Mat.1:23.

O que Isaías quis dizer era que Deus se faria presente através da pessoa de Seu Filho. Deus estava visitando a humanidade por intermédio de Seu Filho. Que Ele realizaria suas obras ante aos homens por intermédio de Seu Filho. Que Deus está conosco, não nos abandonou, está ao nosso lado. Mas em nenhum momento esse mesmo filho seria ou ocuparia o lugar que pertencia unicamente a Deus, o Pai. Tanto é que em todo o ministério de Jesus, ele nunca foi chamado pelo nome de Emanuel. Foi conhecido sim por: Cristo, Messias, Jesus, Nazareno, Galileu, mas nunca como Emanuel.   

O próprio Cristo disse acerca do Pai: "Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim. Não que alguém tenha visto o Pai, senão aquele que é vindo de Deus; só ele tem visto o Pai.S.João 6:45-46. Nesse texto Jesus afirma que veio da parte de Deus e que este Deus é Seu Pai. Cristo faz uma declaração muito séria quando afirma: “...Não que alguém tenha visto o Pai...”, isso quer dizer que desde a queda de Adão no paraíso ninguém viu a Deus.

Bem, amigo leitor, se ninguém viu ao Pai, se olho mortal algum viu a Deus, logo, quando abrimos nossa Bíblia em Gên.18:1 a 33, especialmente os 1 a 6, e quando lemos:

“Depois apareceu o Senhor a Abraão junto aos carvalhos de Manre, estando ele sentado à porta da tenda, no maior calor do dia. Levantando Abraão os olhos, olhou e eis três homens de pé em frente dele. Quando os viu, correu da porta da tenda ao seu encontro, e prostrou-se em terra, e disse: Meu Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que não passes de teu servo. Eia, traga-se um pouco dágua, e lavai os pés e recostai-vos debaixo da árvore; e trarei um bocado de pão; refazei as vossas forças, e depois passareis adiante; porquanto por isso chegastes ate o vosso servo. Responderam-lhe: Faze assim como disseste”.

Seguramente este Senhor que apareceu a Abraão, neste capítulo, com certeza não era o Pai. Seguramente se tratava da pessoa do Filho, com a missão de destruir as cidades de Sodoma e Gomorra. Abraão oferece-lhe alimentos e água para lavar-Lhes os pés. O pai Abraão conversa face-a-face (visivelmente) com este Senhor, e até intercede em favor dos habitantes de Sodoma e Gomorra. Porém, este Senhor não é o mesmo Senhor que apareceu no capítulo anterior, quando disse:

“Quando Abrão tinha noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e lhe disse: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda em minha presença, e sê perfeito; e firmarei o meu pacto contigo, e sobremaneira te multiplicarei. Ao que Abrão se prostrou com o rosto em terra, e Deus falou-lhe, dizendo: Quanto a mim, eis que o meu pacto é contigo, e serás pai de muitas nações;” Gên.17:1-4.

O aparecer aqui, não significa presença física, mas a manifestação sobrenatural de Deus perante Abraão. Deus tem muitas formas de Se revelar aos seres humanos. Ele pode Se revelar através de sonhos, visões, voz, ventos, relâmpagos, trovões, etc. No caso aqui, é bem provável que o Senhor se manifestou apenas através de Sua voz, segundo o relato histórico do primeiro livro da Bíblia. -- Pr. Lindenberg Vasconcelos – Sorocaba-SP, pastorlindenberg@yahoo.com.br.

Continua.

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