Comentários sobre a Resenha Crítica do Livro “Eu e o Pai Somos Um”

Ricardo Nicotra – Julho/2006

Índice

Índice. 1

1.     Introdução. 2

2.     Sobre a Autoria da Crítica  2

3.     Desacreditando o Livro e o Autor 3

4.     Preconceito contra Teólogos. 3

5.     Uso de Fontes. 4

6.     A Legitimidade de Mateus 28:19. 5

7.     Há Semelhança entre Deus e o Homem?. 7

8.     A Definição “Bíblica” de Mistério. 8

9.     Falta de Atenção na Leitura. 9

10.    O Trono do Espírito Santo  10

11.    Filho Gerado pelo Pai 11

12.    A Teoria da Bindade. 13

13.    A Mente da Mente do Espírito  13

14.    Ações Pessoais / Impessoais. 15

15.    A Emanação do Espírito  16

16.    “Ele me Glorificará” 17

17.    O que a Crítica Ignorou. 18

18.    Outros Artigos da Parousia  19

19.    Problemas em “Eu e o Pai Somos Um” 20

20.    Conclusão. 21

 


1.    Introdução

Quando estava escrevendo o livro “Eu e o Pai Somos Um”, há quase três anos, minha intenção era modesta: queria um pequeno manual que trouxesse um resumo simples da posição adotada pela Igreja Cristã Bíblica Adventista com relação à doutrina de Deus. Eu sabia que seríamos questionados a respeito de nossa posição não trinitariana, então queria ter um material de leitura simples para fornecer a todos que nos questionassem – adventistas ou não-adventistas.

Escrevi o livro e pedi a uma pequena gráfica que fizesse 100 cópias e as encadernasse. O material não durou dois finais de semana. Pedimos mais 300 unidades que se esgotaram em menos de um mês. Foi então que decidimos produzir uma segunda edição com uma tiragem bem maior. O fato é que milhares de exemplares do livro foram distribuídos para várias partes do Brasil e a receptividade foi fantástica. Houve uma mobilização muito grande por parte de irmãos que se conscientizaram de que o único Deus verdadeiro apresentado na Palavra de Deus não é o Deus-Trino.

A clareza e a simplicidade da verdade bíblica sobre a doutrina de Deus fez com que muitos renunciassem a posição trinitariana. O impacto desta mensagem foi também sentido no seio da teologia adventista brasileira, a faculdade de teologia adventista – UNASP.

No segundo semestre de 2005, a revista Parousia, publicada por esta instituição trouxe seis artigos promovendo a doutrina da Trindade e combatendo as posições não trinitarianas. O último e mais extenso artigo da revista contém uma Resenha crítica sobre o livro “Eu e o Pai Somos Um”.

Assim que a Resenha crítica do livro “Eu e o Pai Somos Um” foi publicada, tentei obter um exemplar da revista. Fui ao SELS, CPB, liguei para o UNASP, mas não consegui o tão desejado exemplar de Parousia. Finalmente um irmão e amigo gentilmente me enviou uma fotocópia da revista. Entendi que a revista tinha uma circulação bem restrita. Por esta razão achei que não deveria gastar tempo comentando o assunto. Mas há um mês notei que o material circulava pela internet estando disponível em web sites da organização adventista do sétimo dia e sendo recomendado em listas de discussão e em comunidades do Orkut. Isto me fez reconsiderar a decisão de ignorar o material. Também fui motivado a escrever estes comentários por alguns leitores do livro “Eu e o Pai Somos Um” que leram a crítica em Parousia e demandaram um posicionamento a respeito.

2.    Sobre a Autoria da Crítica

Embora o professor Alberto R. Timm, Ph.D. apareça como autor, a seguinte nota no final do artigo declara que a crítica reflete a posição de dez professores de teologia do UNASP, sendo o professor Timm apenas o relator das idéias:

“O conteúdo da presente resenha crítica reflete idéias compartilhadas por uma comissão avaliadora composta pelos seguintes professores do Curso de Teologia do Unasp, Campus Engenheiro Coelho: Alberto R. Timm (relator), Amin A. Rodor, Emilson dos Reis, José Carlos Ramos, José Miranda Rocha, Natanael B. P. Moraes, Reinaldo W. Siqueira, Rodrigo P. Silva, Ruben Aguilar dos Santos e Wilson L. Paroschi.” - pág. 90.

Portanto, considero que os autores da crítica são os professores de teologia do UNASP e é assim que nos referiremos aos autores da resenha crítica ao longo deste comentário. As páginas indicadas referem-se à revista Parousia (Ano 4 – nº 2). A resenha crítica encontra-se entre as páginas 69 e 93 da Revista Parousia. As citações da resenha crítica feitas neste documento sempre aparecerão com uma moldura retangular como acima. Também acresci grifos quando achei conveniente destacar partes importantes do texto.

Antes da leitura deste comentário recomendo a leitura do livro “Eu e o Pai Somos Um” disponível no seguinte link:

https://www.adventistas.com/downloads/nicotra/Nicotra_2aEdicao.pdf

Recomendo também a leitura da resenha crítica disponível no seguinte link:

http://www.centrowhite.org.br/textos.pdf/03/parousia_vi.pdf

Sem a leitura prévia destas duas publicações a análise deste comentário cumprirá apenas parcialmente o seu objetivo.

3.    Desacreditando o Livro e o Autor

Logo no início da resenha crítica os professores de teologia do UNASP declaram que “Eu e o Pai Somos Um” tem um estilo simples e por isso seria tarefa fácil detectar suas inconsistências:

 “Com um estilo simples, retórico e homilético, o conteúdo de “Eu e o Pai Somos Um” é de fácil compreensão e auto-elucidativo, podendo-se detectar com facilidade suas inconsistências.” – pág. 70.

Percebe-se claramente que este tipo de declaração tem apenas o objetivo de menosprezar o livro afirmando que qualquer um, ao ler o livro, facilmente encontraria falhas. Mas algumas páginas depois o discurso toma outro rumo:

“Por mais lógica e persuasiva que possa pretender ser, esta forma de argumentação possui sérias implicações.” - pág. 75.

“Esse método de interpretação, por mais lógico que possa parecer...” – pág. 80.

“Se o leitor não tiver um embasamento doutrinário mais sólido, ele acabará convencido por esse recurso retórico destituído de fundamentação bíblica.” - pág. 86.

“As análises contextuais realizadas por Nicotra nem sempre são tão confiáveis como aparentam ser.” – pág. 79.

Se as análises aparentam ser confiáveis, se a argumentação pretende ser “lógica e persuasiva”, se o método de interpretação parece ser lógico, tudo isso a ponto de exigir do leitor “um embasamento doutrinário mais sólido”, então por que afirmar que é possível “detectar com facilidade suas inconsistências”?

Vamos demonstrar neste comentário como os professores de teologia do UNASP que têm este “embasamento doutrinário mais sólido” tentaram contestar o conteúdo do livro “Eu e o Pai Somos Um”.

4.    Preconceito contra Teólogos

Antes de comentarmos as questões teológicas é importante ressaltar que o presente documento não tem a intenção de responder a ataques pessoais tais como irônico (págs. 77 e 83), populista (pág. 77), ignorante ou tendencioso (pág. 73).

No entanto, algumas declarações não verdadeiras publicadas na resenha crítica devem ser esclarecidas. A primeira encontra-se na página 73 da Revista Parousia:

“É curioso observarmos que, ao mesmo tempo em que Nicotra tenta convencer seus leitores de que os teólogos adventistas não são confiáveis (p. 6, 68, 69), ele cita de forma elogiosa teólogos não-adventistas para justificar suas teorias (p. 54). Com isso, ele tenta distanciar seus leitores do pensamento teológico adventista.” – pág. 73.

Em nenhum momento o livro “Eu e o Pai Somos Um” critica ou desmerece os teólogos adventistas em favor dos teólogos não-adventistas. A palavra “adventista” aparece apenas uma vez em todo o livro (pág. 50) e num contexto que não desmerece nem a igreja nem os teólogos adventistas. Portanto é falsa a acusação de que tentei convencer os leitores de que os teólogos adventistas não são confiáveis.

Numa tentativa de aproximar os teólogos dos leigos a resenha crítica menciona pessoas ilustres que foram “teólogos por excelência”:

“A dicotomia entre teólogos e leigos tende a desaparecer da mente daqueles que reconhecem que Paulo e os grandes reformadores do século 16 eram teólogos por excelência, com sólidos princípios de interpretação bíblica.” – pág. 78.

Paulo e os grandes reformadores do século 16 foram perseguidos e martirizados porque usaram os “sólidos princípios de interpretação bíblica” para defender a verdade, mesmo sabendo que as grandes verdades que defendiam em suas respectivas épocas eram contrárias às das organizações religiosas às quais pertenciam. Se eles atuassem por conveniência como meros advogados das causas doutrinárias das organizações que lhes sustentavam, hoje estariam fora da história. Paulo teria sido um fariseu anônimo, Lutero teria sido um monge enclausurado e desconhecido e outros iriam pelo mesmo caminho.

A crítica contra os teólogos do livro “Eu e o Pai Somos Um” não é contra os teólogos adventistas, contra os teólogos brasileiros ou contra os teólogos da atualidade. É contra os teólogos de todas as épocas, lugares e denominações que conheciam e conhecem a verdade, mas por conveniência optam a princípio por ignorá-la, depois não apoiá-la e, finalmente, combatê-la.

5.    Uso de Fontes

Três páginas da resenha crítica (aproximadamente 15% do material) contestam o uso das fontes literárias utilizadas no livro “Eu e o Pai Somos Um”.

“Ao tratar de um tema tão significativo como a natureza de Deus, seria de se esperar que Nicotra citasse pelo menos algumas obras clássicas de Teologia Sistemática e outras mais específicas sobre a doutrina de Deus, mas todas acabaram sendo desconsideradas. Nem mesmo aparecem quaisquer alusões a obras fundamentais da literatura adventista sobre o assunto como, por exemplo, os capítulos 2-5 do livro Nisto Cremos (disponível em língua portuguesa desde 1989); o capítulo “Doctrine of God”, do livro Handbook of Seventh-day Adventist Theology (2000) ; o livro Understanding the Trinity (2001), de Max Hatton; e o próprio livro A Trindade, já mencionado. É digno de nota que Nicotra também não cita uma única vez os escritos de Ellen G. White sobre o assunto.” – pág. 73.

O fato do livro “Eu e o Pai Somos Um” não fazer referência às obras que os professores de teologia do UNASP consideram importantes leva-os a considerar o autor do livro como ignorante ou tendencioso:

“Diante disso, alguns leitores de “Eu e o Pai Somos Um” poderão indagar: Desconhece o autor a literatura básica sobre a doutrina de Deus, ou seria ele suficientemente tendencioso a ponto de ignorá-la?” – pág. 73.

“Desconhece o autor a literatura básica sobre a doutrina de Deus?”, perguntam os professores de teologia do UNASP. O problema é que para eles a “literatura básica sobre a doutrina de Deus” são as “obras clássicas de teologia sistemática” e as “obras fundamentais da literatura adventista”. Para o autor do livro “Eu e o Pai Somos Um” a “literatura básica sobre a doutrina de Deus” é a Bíblia Sagrada.

Não estou aqui para condenar quem quer que seja pela adoção de uma ou outra “literatura básica sobre a doutrina de Deus”. Na tentativa de compreender a Deus cada um tem o direito de se basear nos livros que bem entender. Alguns se baseiam nas obras clássicas de Teologia, outros se baseiam nos escritos de Ellen White, outros ainda se baseiam na literatura de sua denominação religiosa. Eu me baseei na Bíblia para sustentar a tese do livro. As obras de referência geral citadas em “Eu e o Pai Somos Um” (incluindo as referências a Eusébio e as citações de enciclopédias) não servem como base ou fundamento da tese defendida no livro.

Não quero deixar a impressão de que estou desmerecendo as obras citadas pelos professores de teologia do UNASP. Não, absolutamente! No entanto “as obras clássicas de teologia sistemática” e as “obras fundamentais da literatura adventista” são, para mim, literatura complementar (opcional) sobre a doutrina da Deus, não são literatura básica (fundamental) como afirmam os professores de teologia do UNASP.

A opção pela não utilização dos escritos de Ellen White deu-se devido a dois fatores: (1) O livro foi escrito para ser lido por qualquer pessoa, de qualquer religião, não apenas para os adventistas que crêem em Ellen White. (2) Como o tema do livro é uma questão doutrinária, entendo que a Bíblia é a única fonte literária legítima e infalível no estabelecimento de doutrinas (logicamente se os princípios de interpretação forem aplicados de forma correta).

6.    A Legitimidade de Mateus 28:19

Certamente o aspecto mais criticado do livro “Eu e o Pai Somos Um” está relacionado com a legitimidade de Mateus 28:19 e a possibilidade de “interpolações heréticas” nos textos bíblicos originais. Estes aspectos foram abordados com detalhes ou citados rapidamente e repetidamente do começo ao fim da resenha crítica nas seguintes páginas: 69, 73, 74, 75, 76, 79, 80, 81, 82 e 89.

A freqüência e ênfase com que estes aspectos são abordados na resenha crítica mostram o quão importante é Mateus 28:19 para a defesa do dogma da trindade. Mostram também que se o livro “Eu e o Pai Somos Um” não tivesse discorrido sobre a polêmica em torno da legitimidade de Mateus 28:19 sobraria pouco assunto para a resenha crítica.

Vejamos uma declaração que sumariza a crítica dos professores de teologia do UNASP a este respeito:

“Entre os textos do Novo Testamento que descrevem pessoas sendo batizadas em nome de Jesus (At 2:38; 8:16; 10:48; 19:5; Rm 6:3; Gl 3:27), por um lado, e o texto que ordena o batismo “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28:19), por outro, Nicotra fica com os primeiros e simplesmente nega a autenticidade do último (p. 45-55). Ele tenta justificar sua postura dicotômica com a imagem de uma “Balança das Evidências” (p. 48), sugerindo que a maior quantidade de textos é determinante para a interpretação. Como num dos pratos da balança aparece “apenas um verso ‘em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo’”, e no outro aparecem “36 versos ‘em nome de Jesus’’, a conclusão de Nicotra é que o batismo “em nome de Jesus” é a única fórmula batismal aceitável para os cristãos. A ênfase quantitativa desse autor transparece também na expressão “o mais importante é destacar a quantidade de referências...” (p. 100).” – pág. 79 e 80.

É importante esclarecer que em nenhum momento no livro “Eu e o Pai Somos Um” a autenticidade de Mateus 28:19 é negada. Embora o livro apresente evidências históricas e contextuais em favor de um batismo em nome de Jesus apenas, não é possível provar que Mateus 28:19 foi adulterado. Portanto, “Eu e o Pai Somos Um” não nega, mas apenas questiona a autenticidade de Mateus 28:19. O fato de Mateus 28:19 aparecer solitário num dos pratos da balança mostra que o verso não foi negado, pelo contrário, foi considerado na análise, mas como uma exceção à regra geral.

Embora a figura de uma balança possa sugerir uma ênfase no aspecto quantitativo, a intenção não foi a de estabelecer o conceito de “que a maior quantidade de textos é determinante para a interpretação”, como afirmam os professores de teologia do UNASP. A explicação que aparece imediatamente após a balança das evidências relembra um princípio de hermenêutica segundo o qual nenhuma doutrina pode ser estabelecida com base em apenas um verso. Relembrar este princípio de hermenêutica, de caráter quantitativo, foi minha intenção ao incluir a balança das evidências em “Eu e o Pai Somos Um”.

Fica evidente no próximo trecho da resenha crítica que os professores de teologia do UNASP se incomodaram com quantidade de textos em favor de ações “em nome de Jesus” e tentaram desmerecer os 36 textos da seguinte forma:

“Esse método de interpretação, por mais lógico que possa parecer para quem gosta de matemática e estatística, é inaceitável para aqueles que buscam uma harmonia geral nas Escrituras, em vez de simplesmente selecionar delas as porções que mais lhes convêm.” – pág. 80.

Para eles, basear-se nos 36 versos e batizar alguém “em nome de Jesus” é usar um método de interpretação inaceitável, pois não busca uma “harmonia geral nas Escrituras”. Mas batizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” baseado apenas em Mateus 28:19 e desconsiderar os 36 versos que falam em ações em nome de Jesus é buscar a “harmonia”. Perceba o que é possível fazer com um jogo de palavras: Adotar a exceção torna-se “harmonia geral” enquanto adotar a regra geral em detrimento da exceção é “inaceitável”.

Diante disso, a pergunta que deixo baseada na última frase da crítica citada acima é a seguinte: Quem está selecionando das Escrituras as porções que mais lhe convém?

Neste ponto, é importante relembrar uma citação que a resenha crítica faz de um comentário de R. V. G. Tasker sobre Mateus 28:19.

“Ademais, bem pode ser que a verdadeira explicação por que a igreja primitiva não ministrou logo o batismo no nome tríplice seja que as palavras de 28:19 não foram ditas originalmente por nosso Senhor com a intenção de serem uma fórmula batismal. Ele não estava dando instruções sobre as palavras a serem de fato usadas no ofício do batismo, mas, como já se sugeriu, estava indicando que, pelo batismo, a pessoa batizada passaria a ser possessão do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” – pág. 89.

R. V. G. Tasker consegue a tão desejada “harmonia geral nas Escrituras” dizendo que Mateus 28:19 não contem uma fórmula batismal, ou seja, “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” não são as palavras exatas que deveriam ser ditas no ofício do batismo. Se os professores de teologia do UNASP citaram este autor, é de se esperar que concordam com ele, ou que pelo menos concordam com a citação transcrita. Se é verdade que os professores de teologia do UNASP concordam com este comentário de R. V. G. Tasker, por que ainda usam Mateus 28:19 como fórmula batismal durante o ofício do batismo?

Sobre a existência de interpolações heréticas nas Escrituras, os professores de teologia do UNASP declararam o seguinte:

“Enquanto que os cristãos em geral admitem que Deus permitiu apenas algumas interpolações não heréticas ao texto bíblico, Nicotra fala enfaticamente a respeito de “adulterações” heréticas do próprio texto bíblico em suas línguas originais. Segundo ele, “textos bíblicos foram adulterados em favor da teoria trinitariana” e “alterações foram feitas para ‘beneficiar’ algumas doutrinas pagãs” (p. 38).” – pág. 82.

O contexto da pág. 38 do livro fala sobre a interpolação herética em I João 5:7 feita no século 16 e que infelizmente está presente em muitas Bíblias atuais. Para os que crêem na trindade esta adição obviamente não é qualificada como herética, mas apenas apócrifa. Sendo herética ou simplesmente apócrifa, o fato é que a interpolação a que nos referimos é uma adulteração do texto original e serve para apoiar a doutrina da trindade.

7.    Há Semelhança entre Deus e o Homem?

A resenha crítica preparada pelos professores de teologia do UNASP possui muitas contradições e inconsistências lógicas. No último parágrafo da página 75 os autores da crítica contestam que Deus pode ser comparado ao homem com relação ao fato de ambos possuírem um espírito como atributo intrínseco. Com este propósito fazem a seguinte observação:

“Não resta a menor dúvida de que o ser humano foi criado originalmente à imagem e semelhança de Deus (Gn 1:26, 27), mas jamais podemos dizer que Deus é semelhante ao ser humano, pois isso acabaria divinizando o ser humano ou humanizando a Deus.” – pág. 75.

Esta declaração, por si só, é ilógica. Se o homem foi criado a semelhança de Deus, então o homem é semelhante a Deus. Se o homem é semelhante a Deus, então Deus é semelhante ao homem. (A menos que para os professores de teologia do UNASP a “semelhança” seja “unidirecional”, ou seja, se um indivíduo A é semelhante a um indivíduo B, isto não significa que necessariamente este indivíduo B seja semelhante àquele indivíduo A – o que é uma agressão ao bom senso ou exige uma definição diferente para a palavra “semelhança”). No livro “Eu e o Pai Somos Um” usamos um conceito de “semelhança” tal que se A é semelhante a B, então B é semelhante a A. Na verdade, “semelhança” significa ter pontos em comum. Então se A tem pontos em comum com B, é evidente que B tem pontos em comum com A. Assim acontece com o homem e com Deus: são semelhantes.

É importante ressaltar que não afirmamos que o homem é igual a Deus. Ele é apenas semelhante a Deus. O pecado pode ter deteriorado a imagem e semelhança de Deus no homem, mas não a ponto de declarar que “jamais podemos dizer que Deus é semelhante ao ser humano” como fizeram os professores de teologia do UNASP.

Está claro que o homem é semelhante a Deus em alguns aspectos, mas diferente em outros. Em que aspectos podemos dizer que o homem é semelhante a Deus? Que atributos os homens possuem que Deus também possui? Em que aspectos o homem e Deus são comparáveis?

O livro “Eu e o Pai Somos Um” afirmou que um dos aspectos em que o homem é comparável e semelhante a Deus é o fato de ambos possuírem um espírito. Quem comparou o Espírito de Deus ao espírito do homem foi o próprio apóstolo Paulo quando escreveu ao Coríntios:

“Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? Assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus.” – I Cor. 2:11.

Portanto, como Paulo, podemos afirmar que o homem e Deus são semelhantes e comparáveis neste sentido: ambos têm um espírito – um espírito que compreende as coisas da pessoa que o possui. A alegação dos autores da crítica é por si ilógica e sem nexo quando afirma que apesar do homem ter sido criado à semelhança de Deus, jamais podemos dizer que Deus é semelhante ao homem. É evidente que há diferenças na essência. O espírito do homem tem uma natureza, o espírito de Deus tem outra natureza. Por exemplo, o espírito de Deus é onipresente, o do homem não! Mas não é possível negar que assim como o homem tem um espírito, Deus também tem o seu.

Portanto a afirmação dos professores de teologia do UNASP que “jamais podemos dizer que Deus é semelhante ao ser humano” é inconsistente com o próprio verso citado antes dessa declaração (Gên. 1:26 e 27).

8.    A Definição “Bíblica” de Mistério

No livro “Eu e o Pai Somos Um” disse que os defensores do dogma da Trindade admitem que esta doutrina é um mistério. Em contrapartida afirmei que Deus Se revela aos seus filhos e quando isso acontece o mistério deixa de existir, pois foi revelado. Desta forma o livro “Eu e o Pai Somos Um” adota a premissa de que os mistérios são coisas não reveladas. Se algo foi revelado, deixou de ser mistério.

Sob o subtítulo “O Conceito Bíblico de Mistério” (págs. 82 e 83), os professores de teologia do UNASP tentam encontrar outra definição para o que seria “mistério”. O objetivo deles é mostrar que é possível ter um mistério que mesmo após ser revelado continua sendo mistério. Desta forma conseguiriam enquadrar a doutrina da Trindade nesta bizarra categoria de assuntos misteriosos que, mesmo revelados, continuam sendo um mistério.

A definição de “mistério”, segundo o dicionário, é “algo que é secreto, escondido; segredo”. Mas esta definição de dicionário não atende as pretensões dos professores de teologia do UNASP. Segundo eles o conceito “bíblico” de mistério é outro. Vejamos:

“Sob o intertítulo “O Espírito: Mistério ou Revelação” (p. 7-9) ele sugere que algo já revelado não pode ser considerado mais mistério. Nesse ponto, Nicotra acaba desconhecendo a diferença bíblica entre “mistério”, que é uma verdade revelada, mas não conceituada (1Co 2:9-11), e as “coisas ocultas”, que se referem ao que Deus não revelou (Dt 29:29).” – pág. 83.

De acordo com eles, “mistério” “é uma verdade revelada, mas não conceituada”. Preste atenção: De acordo com os professores de teologia do UNASP “mistério” “é uma verdade revelada, mas não conceituada”. Eu não quero chamar a atenção para o que poderia ser algo revelado, mas não conceituado (isso os alunos de teologia do UNASP podem perguntar aos seus professores mais tarde ou então examinar com atenção I Coríntios 2:9-11 que é o texto citado para amparar esta nova definição). Quero apenas chamar a atenção para uma citação de Ellen White dois parágrafos depois desta nova definição:

“A natureza do Espírito Santo é um mistério. Os homens não a podem explicar, porque o Senhor não lho revelou.” – pág. 83.

Esta declaração de Ellen White lança por terra a definição de “mistério” feita pelos professores de teologia do UNASP. Para Ellen White mistério é algo não revelado e não “uma verdade revelada, mas não conceituada”, como os professores de teologia do UNASP definiram. Se ela adotasse a mesma definição dos professores, ela diria assim: “A natureza do Espírito Santo é um mistério. Podemos explicá-la, porque o Senhor a revelou – apenas não podemos dogmatizá-la porque Deus não a conceituou.”

Afinal de contas um “mistério” é algo revelado ou não? Segundo os professores de teologia do UNASP “sim”, segundo Ellen White, “não”. Quem está com a razão?

Interessante é que depois de conceituar “mistério” de forma totalmente contrária a Ellen White, os professores de teologia do UNASP encerram o tópico “O Conceito Bíblico de Mistério” com a seguinte declaração:

“Nicotra já se distanciou significativamente, não apenas do pensamento teológico adventista contemporâneo, mas também dos próprios escritos de Ellen G. White.” – pág. 83.

É possível que eu tenha me distanciado do pensamento adventista contemporâneo, mas especificamente neste assunto (o conceito de mistério) quem se desviou dos escritos de Ellen White foram os professores de teologia do UNASP.

9.    Falta de Atenção na Leitura

Lendo a resenha crítica do livro “Eu e o Pai Somos Um” por diversas vezes tive a impressão de que os professores de teologia do UNASP não leram com a devida atenção o livro que se propuseram a criticar.

Veja, por exemplo, a seguinte observação:

“As saudações das cartas de Paulo que mencionam apenas o Pai e o Filho são usadas para comprovar que o Espírito Santo não existe como Pessoa distinta (p. 30-32). Por que Nicotra não menciona também as bênçãos finais dessas mesmas cartas? Será que essas não lhe interessam porque entre elas se encontra 2 Coríntios 13:13 onde é dito: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”?” – pág. 84.

No livro “Eu e o Pai Somos Um” citei as saudações de todas as cartas de Paulo. Todas mencionam o Pai e o Filho apenas. Nenhuma menciona o Espírito Santo. Eu poderia citar também algumas bênçãos finais de Paulo, por quê não? Começando pela bênção final de Romanos: “ao único Deus sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém.” Poderia citar também a bênção final aos Efésios: “Paz seja com os irmãos, e amor com fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo...”.

Mas como toda regra tem sua exceção temos uma e apenas uma bênção final que cita o Espírito Santo (II Cor. 13:13). Da forma como o relator da resenha crítica expôs a situação, tentou induzir o leitor a crer que o Espírito Santo é citado em várias ou todas bênçãos finais de Paulo. Veja e analise se houve ou não uma tentativa de induzir o leitor neste sentido:

“Por que Nicotra não menciona também as bênçãos finais dessas mesmas cartas? Será que essas não lhe interessam porque entre elas se encontra 2 Coríntios 13:13 onde é dito...” – pág. 84.

Disse que tive a impressão de que os professores de teologia do UNASP não leram com atenção o livro porque não apenas citei II Coríntios 13:13, mas também dediquei uma página inteira para comentar este verso que, repito, é a única bênção final que cita o Espírito Santo, ou seja, é a exceção à regra. O livro “Eu e o Pai Somos Um” não seria honesto se analisasse apenas a regra geral e desconsiderasse a exceção.

Algum dos dez professores de teologia do UNASP (pelo menos um!) que compuseram a comissão avaliadora do livro e “assinaram” a resenha crítica poderia ter notificado o relator a respeito não apenas da menção de II Coríntios 13:13, mas também do fato do livro ter dedicado uma página inteira para comentá-lo (págs. 56 e 57 do livro). Isso pouparia o relator de perguntar indevidamente “Por que Nicotra não menciona... 2 Coríntios 13:13?” e, através desta pergunta, ter demonstrado desconhecimento do conteúdo do livro que foi o objeto da crítica.

Na página 83 da crítica há outra indicação de que os professores de teologia do UNASP não leram com atenção o livro “Eu e o Pai Somos Um”:

“Mas, se o Consolador fosse o próprio Cristo, como interpretar a seguinte declaração de Cristo: “convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (Jo 16:7)?”- pág. 87.

A resposta está nas páginas 79 a 81 do livro, sob o subtítulo “Convém que eu vá”. Uma resposta baseada no contexto de João 16 é ofertada aos leitores. A função da resenha crítica seria a de apontar os problemas na explicação dada pelo livro nas referidas páginas. Não deveria repetir uma pergunta que foi respondida em “Eu e o Pai Somos Um”.

10.           O Trono do Espírito Santo

Nas páginas 32 a 35 do livro “Eu e o Pai Somos Um” falei um pouco sobre o Pai e o Filho no Apocalipse. A “revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos” não apresenta uma Trindade como sendo o Deus a ser adorado. Tive a oportunidade de apresentar alguns elementos do Apocalipse que comprovam a coerência da tese defendida em “Eu e o Pai Somos Um”.

Dentre os elementos apresentados estão a adoração a Deus e ao Cordeiro, o nome do Cordeiro e do Seu Pai na fronte dos 144.000 e o Pai e o Filho assentados no Trono (Apoc 22:1-3).

A crítica apresentada pelos professores de teologia do UNASP simplesmente desconsiderou as referências do Apocalipse à adoração ao Pai e ao Filho, ao nome do Cordeiro e do Seu Pai na fronte dos 144.000 e a outros versos do Apocalipse citados em “Eu e o Pai Somos Um” que mencionam exclusivamente o Pai e Seu Filho Jesus Cristo.

O único elemento que os professores de teologia do UNASP decidiram incluir em sua crítica está relacionado à ausência do Espírito Santo no Trono que é compartilhado por Deus e por Seu Filho. O argumento que tenta justificar a ausência do Espírito Santo no trono de Deus inicia-se destacando o aspecto funcional e não essencial de quem está assentado no trono:

“Independente da ocasião e das circunstâncias envolvidas, a expressão “trono”, quando usada em relação a Deus, possui geralmente uma conotação mais funcional do que essencial.” – pág. 88.

O argumento dos professores de teologia do UNASP é simples de ser compreendido: Para eles o fato de não estar compartilhando o trono de Deus não significa que o Espírito Santo não seja a terceira pessoa da Trindade. Significa simplesmente que as funções exercidas pelo Espírito Santo não exigem que este se assente com o Pai e com o Filho no trono.

Vejamos como as funções do Filho são descritas:

“É interessante observarmos que Cristo exerce ao mesmo tempo os ofícios sacerdotal e real em Seu trono. (...) Como rei, Cristo exerce também a função de juiz.” – pág. 88.

Considerando a filosofia da “ocupação funcional” do trono, fica provado que Cristo, por exercer as funções de sacerdote, rei e juiz, merece estar no trono. Vejamos o que é dito em seguida a respeito do Pai:

“Em João 5:22 é dito: “E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento”. Portanto, é plenamente evidente que Cristo deva compartilhar com o Pai o trono do universo.” – pág. 88.

Posteriormente, para justificar a ausência do Espírito Santo no trono, os professores de teologia do UNASP alegam que o Espírito Santo está empenhado em outras funções – funções que não exigem (ou até mesmo impedem) sua presença no trono. Vejamos:

“O Espírito Santo, por Sua vez, exerce funções diferentes nos planos divinos. Entre elas estão as de representar a Deus no universo (Sl 139:7-12), convencer os seres humanos “do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16:8), glorificar a Cristo (Jo 16:14), derramar “o amor de Deus” no coração dos crentes (Rm 5:5), edificar internamente a igreja (1Co 12) e capacitá-la para o testemunho (At 1:8).” – pág. 88.

Há um problema sério aqui. As funções do Espírito Santo citadas acima fazem sentido apenas durante o tempo em que estivermos neste mundo de pecado, antes da erradicação do pecado. Mas o Apocalipse menciona Deus e o Cordeiro assentados no trono após a erradicação do pecado. Confira:

“Ali não haverá jamais maldição. Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão, e verão a sua face; e nas suas frontes estará o seu nome.” – Apoc. 22:3 e 4.

Se os servos de Deus estarão diante de Sua face, livres do pecado, as antigas funções do Espírito Santo não mais servem para justificar sua ausência do Trono de Deus. Os professores de teologia do UNASP percebem isso e adicionam, em tempo, uma nova função para justificar a ausência do Espírito Santo no trono após a erradicação do pecado:

“Mesmo depois da final erradicação do pecado, o Espírito Santo continuará exercendo a função de Mantenedor do universo (cf. Gn 1:2). Não é de surpreender, por conseguinte, que Ele não seja mencionado como soberano ou juiz sobre o trono do universo.” – pág. 88.

Chegamos finalmente ao coração da argumentação dos professores de teologia do UNASP. Segundo eles, o Espírito Santo não estará no trono de Deus após a erradicação do pecado porque estará exercendo a função de Mantenedor do Universo. Mas de onde o Espírito Santo estará exercendo esta função? Segundo os professores de teologia do UNASP a resposta está em Gênesis 1:2 (“A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.”).

Então quando chegarmos no céu e não encontrarmos o Espírito Santo saberemos onde ele estará: exercendo a função de Mantenedor do Universo pairando sobre a face das águas – por isso estará ausente no trono. Aqueles que tinham a intenção de abraçar o Espírito Santo no céu podem desistir – segundo os professores de teologia do UNASP após a erradicação do pecado o Espírito Santo estará ocupado em sua função de Mantenedor do Universo e a exercerá pairando sobre a face das águas. Isso pode parecer incrível, mas é a idéia compartilhada pelos professores de teologia do UNASP. (Pelo menos é isso que está escrito no final da resenha – que estas idéias são compartilhadas por todos os dez professores. Eu sinceramente creio que poucos deles acreditam numa idéia tão absurda como esta).

Se atentarmos para as declarações contidas nesta argumentação veremos uma série de outras inconsistências. Por exemplo, se o Espírito Santo será o Mantenedor do Universo, como é possível afirmar que “não é de se surpreender que Ele não seja mencionado como soberano ou juiz do Universo”? Ora, o Mantenedor do Universo é também o soberano do Universo e mereceria um lugar no trono. Sendo onipresente, poderia estar no trono e ao mesmo tempo ser o Mantenedor do Universo pairando sobre as águas como crêem os professores de teologia do UNASP.

(Fica aqui uma sugestão para os alunos de teologia do UNASP que ainda não escolheram o tema para a monografia de conclusão de curso: Que tal “A função do Espírito Santo após a erradicação do pecado – Uma exegese de Gênesis 1:2”? Um conselho meu: Antes de convidar qualquer um destes dez professores para ser o seu orientador, certifique-se de que realmente ele concorda com esta idéia).

11.           Filho Gerado pelo Pai

No livro “Eu e o Pai Somos Um” declarei que o Filho de Deus foi gerado pelo Pai (Heb. 1:5 e 5:5) e que o Filho é o Unigênito do Pai (Jo 3:16 e I Jo 4:9).

Os professores de teologia do UNASP tentam refutar o argumento de que o Filho foi gerado pelo Pai com dois argumentos:

(1) Com relação ao verbo “gerar” de Hebreus 1:5 e 5:5 afirmam o seguinte:

Em Hebreus 5:5 aparece a expressão do Salmo 2:7: “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”. O verbo “gerar” é usado nesses textos, não no sentido de uma pretensa origem do Filho antes da eternidade, como pretendem alguns, e sim, de entronização como Rei sobre as nações (Sl 2:6-9) e de inauguração como sacerdote “segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5:5, 6). (...) Nicotra poderia ter evitado distorcer o sentido do verbo “gerar” se tão somente houvesse dado mais atenção ao contexto bíblico no qual o verbo é usado nos textos acima mencionados.” – pág. 85.

(2) Com relação à citação de Cristo ser o Filho Unigênito afirmam o seguinte:

“Por sua vez, na versão Almeida Revista e Atualizada de 1 João 4:9 é dito que Deus enviou “o seu Filho unigênito ao mundo”. O adjetivo grego monogenés (aqui traduzido como “unigênito”) é usado em relação a Cristo também em João 1:14, 18; 3:16, 18. Nicotra parece desconhecer o fato de que monogenés é um termo composto de mónos (único) e gínomai (espécie), e não de gennáo (gerar). Isso é confirmado pelo fato do sufixo genés ser grafado apenas com um “n” em vez de dois. Por conseguinte, o termo mono-genés não significa necessariamente o único gerado, mas também o “único da espécie”, alguém que é “singular”.” – pág. 85.

Vamos comentar primeiramente este último argumento. Os professores de teologia do UNASP têm razão. O adjetivo monogenés “não significa necessariamente o único gerado, mas também o único da espécie”. (Note que eles não descartam a possibilidade de significar “único gerado”. As palavras “necessariamente” e  “também” grifadas acima abrem a possibilidade de um sentido alternativo, mas não exclusivo, para o termo monogenés).

De qualquer forma, para “garantir” o significado de “único gerado” seria necessário utilizar um adjetivo derivado do verbo gennáo, como eles afirmam. Nesta hora temos que ser honestos e admitir que as palavras significam o que elas significam e ponto final. Não é nosso papel inventar significados novos para as palavras. Mas como estamos diante de uma palavra (monogenés) que pode também significar “único da espécie” vamos concordar com os professores de teologia do UNASP e em nossas próximas considerações admitir que a intenção de João tenha sido a de expressar este conceito de “único da espécie” ao usar o termo monogenés.

Passei algum tempo refletindo o que poderia significar ser o “único da espécie”, um ser monogenés. Não demorou muito para que eu percebesse que o fato do Filho de Deus ser monogenés, único de sua espécie, é o maior argumento contra a teoria da Trindade. De fato, se não há outro ser no Universo da mesma espécie de Cristo, podemos afirmar que todos os outros seres são essencialmente diferentes de Cristo. Isto viola diretamente a teoria da Trindade que prega que o Filho é igual em essência e substância ao Pai e ao Espírito Santo.

Se Cristo fosse co-substancial e co-igual com o Pai e com o Espírito Santo, jamais poderíamos afirmar que ele é o único de sua espécie. Haveria mais dois seres da mesma espécie. Como você responderia às seguintes perguntas?

Cristo é da mesma espécie que o Pai e que o Espírito?

Tem Ele a mesma substância do Pai e do Espírito?

Como alguém que tem a mesma substância e é co-igual a outro pode ser de outra espécie?

Cristo é de fato monogenés, é o único de sua espécie. Ninguém é co-igual ou co-substancial a Ele. Este é para mim um dos grandes argumentos contra a teoria da Trindade.

Vamos agora analisar o primeiro argumento apresentado pelos professores de teologia do UNASP:

“O verbo “gerar” é usado nesses textos, não no sentido de uma pretensa origem do Filho antes da eternidade, como pretendem alguns, e sim, de entronização como Rei sobre as nações...”- pág. 85.

Este é um exemplo típico daquilo que disse há alguns parágrafos: inventar novos significados para as palavras. O verbo “gerar” em Hebreus 1:5 e 5:5 é gennao (agora a letra “n” aparece duas vezes). E o que significa gennáo com “nn”? O significado de “gennao” é gerar, trazer à existência, fazer nascer. Quem não acredita numa geração de Cristo pelo Pai ocorrida “desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Miq. 5:2) aplica o termo “gerar” para a encarnação de Cristo. No entanto, os professores de teologia do UNASP tentaram sair pela tangente de outra forma: mudando o significado do verbo em função do contexto. Já que o contexto original fala sobre a entronização de Cristo como Rei, que tal substituir o significado natural do verbo por outro? Se algum dia o UNASP ou a editora adventista do sétimo dia publicar uma tradução da Bíblia feita pelos professores de teologia do UNASP muito provavelmente leremos em Salmos 2 e em Hebreus 1:5 e 5:5 o seguinte: “Tu és meu Filho, eu hoje te entronizei”.

Fica para o leitor deste comentário a tarefa de pesquisar uma a uma as 1080 referências de gennao no Novo Testamento e encontrar alguma que tenha sido traduzida por “entronizar” ou algo semelhante.

12.           A Teoria da Bindade

No livro “Eu e o Pai Somos Um” afirmamos que o Espírito de Cristo é o Espírito Santo e que é equivalente ao Espírito de Deus. Isso porque Cristo e o Pai têm o mesmo Espírito. Os professores de teologia do UNASP discordam:

“Assumindo que o Espírito Santo não passa de um “atributo intrínseco” do Ser divino (p. 30), Nicotra não teme afirmar que “não há diferença entre Espírito de Deus, Espírito de Cristo e Espírito Santo” (p. 24). Ele chega mesmo a propor a fórmula: “Espírito de Cristo = Espírito de Deus = Espírito Santo” (p. 27).” – pág. 84.

Na tentativa de mostrar que “os Espíritos são distintos um do outro” (pág. 84), os professores de teologia do UNASP propõem quatro questões envolvendo situações que sugerem uma diferença entre Espírito de Cristo, Espírito de Deus e Espírito Santo. Não é nosso objetivo responder a cada uma das questões aqui, mas elas serão devidamente apreciadas na próxima edição do livro “Eu e o Pai Somos Um”.

Após estas quatro questões eles arrematam da seguinte forma:

“Se nesses casos o Espírito não era o Espírito de Cristo, e sim o Espírito de Deus, então teríamos que admitir que ambos os Espíritos são distintos um do outro, o que conspira contra a teoria de que “não há diferença entre Espírito de Deus, Espírito de Cristo e Espírito Santo” (p. 24).” – pág. 84.

Fica claro que os professores de teologia do UNASP entendem que quando falamos de “Espírito de Cristo”, “Espírito de Deus” e “Espírito Santo” estamos falando sobre entidades diferentes.

Mas se o Espírito de Deus é diferente do Espírito de Cristo que por sua vez é diferente do Espírito Santo, então a pergunta que não quer calar é a seguinte: Sendo estes três espíritos três entidades distintas, como pretendem os professores de teologia do UNASP, qual destes três espíritos é a terceira pessoa da Trindade?

13.           A Mente da Mente do Espírito

Muitos versos da lei e dos profetas do Velho Testamento são citados pelos apóstolos, autores do Novo Testamento. Na página 16 do livro “Eu e o Pai Somos Um” citei um verso de Isaías ao qual Paulo posteriormente se refere em duas ocasiões diferentes. Vejamos:

“Quem guiou o Espírito do Senhor? Ou como seu conselheiro o guiou?” – Isaías 40:13.

Vejamos como Paulo faz referência a este verso de Isaías:

“Quem pois conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?” – Romanos 11:34.

“Pois quem conheceu a mente do Senhor que o possa instruir?” – I Coríntios 2:16.

Transcrevo a seguir o comentário do livro “Eu e o Pai Somos Um” a este respeito:

“Perceba, nos versos acima, que Paulo chamou de “mente” o que Isaías havia chamado de “Espírito”. (...) Ao reescrever o texto usando a palavra “mente”, Paulo deixa claro qual era sua compreensão a respeito do Espírito do Senhor. Paulo entendia que o Espírito do Senhor era a própria mente do Senhor. Se não fosse esta a interpretação de Paulo, ele jamais teria reescrito o verso de Isaías da forma como fez em duas ocasiões.” – pág. 16 de “Eu e o Pai Somos Um”.

Uma crítica sobre este comentário foi feita pelos professores de teologia do UNASP. Vale a pena ler com atenção mais de uma vez:

“Um dos componentes básicos da teoria antitrinitariana de Nicotra é a noção de que o Espírito Santo não é um Ser pessoal, mas apenas “um abributo que não pode ser separado” de Deus (p. 24), e que deve ser entendido como a “mente” de Deus (p. 15-16). Só que essa teoria acaba conflitando com o ensino bíblico que fala a respeito da “mente do Espírito” (Rm 8:27). Se o Espírito Santo fosse apenas a “mente” de Deus, como poderia o próprio Espírito Santo ter “mente”? Teríamos então que acreditar na existência de uma mente da mente? Se confrontado com o texto de Romanos 8:26 e 27, talvez Nicotra preferisse desconversar o assunto alegando simplesmente, como em outras ocasiões, que não podemos construir uma doutrina baseada em um único texto bíblico (p. 48-49, 54, 75). – pág. 85.

Não. Não vou desconversar o assunto. A questão é pertinente e merece atenção.

Imagine-se entrando num restaurante e perguntando ao garçom qual o prato do dia. O garçom, por sua vez, responde desta forma: “Nosso restaurante tem os melhores pratos da região, são pratos de porcelana chinesa”. Qual seria sua reação?

Imagine que um vírus entre em seu computador e destrua seu HD (disco rígido). Você chama o técnico e diz que seu HD foi destruído por um vírus. Ele desmonta seu computador e diz: “Não.. O seu HD está intacto, está aqui dentro e a aparência dele é ótima”.

Na língua portuguesa há uma figura de linguagem chamada metonímia que nos permite citar o continente pelo conteúdo.

Quando você se refere ao prato do dia na verdade não está se referindo à vasilha rasa e circular (continente), mas ao seu conteúdo (o tipo de alimento servido no prato). Quando faz referência ao HD destruído pelo vírus, não está se referindo a uma possível destruição física do equipamento (hardware) mas à perda de informação que era o conteúdo do disco (os arquivos de dados e programas gravados no disco).

Em português, a palavra mente pode assumir dois significados: o de continente (mente como sendo o sistema cognitivo, faculdade de pensar, de memorizar) e o de conteúdo (mente como planos, propósitos, intenções – na verdade o conteúdo da mente, não a mente em si).

No grego há duas palavras para expressar estes dois sentidos da palavra mente: (1) “nous” cujo significado primário é o de continente, ou seja, o sistema cognitivo, a faculdade de pensar, perceber, julgar, entender e (2) “phronema” que é o conteúdo da mente, as intenções, os propósitos, os pensamentos que ficam “dentro” da mente.

Podemos dizer que o “nous” é o prato, é o HD. Já o “phronema” é o alimento que é servido no prato, são os arquivos de dados e programas gravados no HD.

Quando reescreve Isaías 40:13 em Romanos 11:34 e I Coríntios 2:16, Paulo usa o termo grego “nous” para se referir à mente do Senhor. Mente, neste caso, significa o continente: o sistema cognitivo, a faculdade de pensar, não o conteúdo da mente (propósitos e intenções). O Espírito do Senhor para Paulo é a mente (“nous”) do Senhor.

Já quando se refere à mente do Espírito em Romanos 8:27, Paulo usa o termo “phronema” cujo significado, como já dissemos, é o do conteúdo da mente (propósitos, intenções, planos). Por isso é perfeitamente coerente entender que a mente do Senhor, ou seja, o Espírito possua “phronema” (pensamentos, intenções, planos).

Portanto, é possível referir-se à “mente da mente do Senhor” quando a primeira mente significa propósitos, intenções e a segunda mente refere-se as faculdades cognitivas. Teríamos então em Romanos 8:27 uma menção aos propósitos e intenções do Espírito, que seria equivalente aos propósitos e intenções da mente de Deus.

A tradução João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada adota a palavra “intenção” para “phronema” em Romanos 8:27: “E aquele que esquadrinha os corações sabe qual é a intenção do Espírito”. Já a Bíblia de Jerusalém utiliza a expressão “desejo do Espírito”.

Usando as mesmas expressões que o professor Amim Rodor usou (Ver a mesma edição de Parousia, pág. 63 – item 7) eu diria o seguinte: Parece que para os professores de teologia do UNASP a Bíblia foi escrita em português.

A crítica termina da seguinte forma:

Seja como for, os leitores que procuram viver “de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:4; cf. Ap 22:18, 19) certamente apreciariam encontrar em “Eu e o Pai Somos Um” uma explicação convincente do que significa a “mente do Espírito”.” – pág. 85.

A terceira edição do livro “Eu e o Pai Somos Um” trará esta explicação.

14.           Ações Pessoais / Impessoais

Um dos argumentos mais utilizados pelos trinitarianos para provar que o Espírito de Deus é um ser pessoal é a menção das ações pessoais do Espírito. O Espírito intercede, geme, entristece-se, etc... Como estas ações são pessoais, então o Espírito é tido como um ser pessoal. O argumento é simples.

O livro “Eu e o Pai Somos Um” apresentou o seguinte contra-argumento: Na Bíblia há referências a ações e características pessoais atribuídas ao espírito de homens e estes espíritos não são seres pessoais. Há também ações impessoais atribuídas ao Espírito de Deus, por exemplo, ser soprado, ser derramado. A conclusão a que chegamos foi a seguinte (leia com atenção):

“Perceba que o argumento dos atributos e ações pessoais usado pelos trinitarianos também pode ser usado para demonstrar que o Espírito Santo não é uma pessoa. Daí concluímos que este argumento não é válido para comprovar a pessoalidade de quem quer que seja, pois fica evidente que os autores bíblicos se utilizam de uma figura de linguagem.” – pág. 61 do livro.

Note que a conclusão a que chegamos após usar o mesmo argumento dos trinitarianos não foi que o Espírito Santo não é uma pessoa, mas que o argumento não era válido (releia o texto sublinhado acima).

A análise do livro “Eu e o Pai Somos Um” foi clara. Mesmo assim os professores de teologia do UNASP fizeram a seguinte crítica a este contra-argumento:

“Mesmo reconhecendo que “a Bíblia emprega diversas figuras de linguagem” em relação ao Espírito Santo (p. 58), Nicotra não reluta em interpretar de forma literal algumas delas em sua tentativa de invalidar a personalidade do Espírito Santo. O autor indaga de forma irônica: “Uma pessoa pode ser derramada sobre outras [Is 44:3; Ez 39:29; Jl 2:28, 29]? Logicamente não!” e mais: “Uma pessoa pode ser soprada sobre outras [Jo 20:22]? É claro que não!” (p. 61). Mas, por que Nicotra prefere interpretar literalmente apenas os verbos “derramar” e “soprar”, e não também o verbo “revestir”? Em Romanos 13:14, o apóstolo Paulo ordena aos cristãos: “revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”. Se usássemos a mesma forma de argumentação de Nicotra, teríamos que admitir que também Cristo não pode ser uma pessoa, mas apenas uma roupa, pois nenhuma pessoa pode ser revestida em outra!” – pág. 86.

Os professores de teologia do UNASP escreveram: “Se usássemos a mesma forma de argumentação de Nicotra...”. Qualquer pessoa que leu com atenção o livro percebeu que eu estava reproduzindo a forma de argumentar dos trinitarianos. Esta não é a “forma de argumentação do Nicotra”.

(É interessante que quando uma forma de argumentação é claramente falida ninguém quer adotá-la como sendo sua forma de argumentação).

Já disse e repito: A intenção principal ao citar as ações impessoais atribuídas ao Espírito Santo como “ser derramado”, “ser soprado”, não era de provar a impessoalidade dele, assim como em nenhum momento, ao citar as ações e atributos pessoais de um espírito de homem, desejei provar que este espírito fosse um ser pessoal distinto do seu possuidor.

Ao citar as ações impessoais atribuídas ao Espírito de Deus e as ações pessoais atribuídas ao espírito dos homens minha única intenção foi provar que a pessoalidade ou impessoalidade de ações atribuídas a uma entidade não implica necessariamente na pessoalidade ou impessoalidade desta entidade. Provando isso cai por terra o tão utilizado argumento trinitariano de que o Espírito Santo é uma pessoa porque intercede, geme, entristece-se, etc...

Ao citar Romanos 13:14 os professores de teologia do UNASP (talvez não intencionalmente) contribuíram para reforçar a tese defendida em “Eu e o Pai Somos Um”. Ofertaram um exemplo bastante apropriado que reforça a idéia de que a pessoalidade ou impessoalidade de uma ação (no caso “revestir”) não implica na pessoalidade ou impessoalidade da entidade à qual esta ação é atribuída (no caso “Jesus Cristo”).

Portanto, mais do que nunca, fica demonstrada a impropriedade do argumento que lança mão das ações pessoais atribuídas ao Espírito Santo para provar que ele é um ser pessoal.

15.           A Emanação do Espírito

O livro “Eu e o Pai Somos Um” defende que assim como o homem tem um espírito Deus também tem um Espírito que é parte integrante dEle. A palavra grega para espírito é pneuma e a mesma palavra é usada para se referir ao espírito (pneuma) do homem e ao Espírito (pneuma) de Deus. Defendemos que o pneuma não é uma pessoa distinta, mas é o próprio espírito da pessoa. Citamos Tiago 2:26 – “o corpo sem espírito é morto”. Diante disso houve o seguinte questionamento por parte dos professores de teologia do UNASP:

“Como Nicotra explicaria o fato de que, quando o espírito sai das pessoas, elas morrem (Sl 146:4), e que, quando o Espírito Santo sai de Deus (Jo 15:26), Este não morre? E mais, por que o Espírito Santo é passível de ser enviado por Deus (Is 48:16; Jo 14:16, 26), e os seres humanos não conseguem enviar o seu próprio espírito? Não seria o caso de que, embora o Espírito de Deus e o espírito do homem sejam “escritos absolutamente da mesma forma em grego” (p. 24), eles são de natureza diferente e, portanto, devem ser interpretados de forma distinta?”- pág. 86.

Como explicar que as asas de um pardal fazem com que ele voe mas as asas de um avestruz não são suficientemente fortes ou grandes para fazê-lo voar? Não escrevemos “asas” da mesma forma para o pardal e para o avestruz? São as asas de um avestruz de natureza diferente das de um pardal? Não só as asas são de natureza diferente como também as aves têm estrutura e natureza diferentes. Poderíamos comparar as asas de um avestruz às asas de um avião e chegaríamos à mesma conclusão: são entidades e asas de natureza completamente diferente. Talvez a única semelhança é o fato de serem asas, uma projeção lateral, um apêndice ao corpo do objeto. Com relação às funções do par de asas, estas podem variar dependendo do objeto ou animal que as possui. Mas continuam sendo asas, e apenas asas.

Da mesma forma os atributos do Espírito de Deus são diferentes dos atributos do espírito de um homem. O Espírito de Deus é onipresente – o do homem não é. Deus tem a capacidade de enviar o seu Espírito, mas este fato não implica em que Deus fique sem seu próprio Espírito e morra. Há inúmeras diferenças entre o espírito do homem e o Espírito de Deus. Mas há uma semelhança: ambos são espíritos, ambos são pneuma. Há inúmeras diferenças entre a asa de um avestruz e a asa de um avião, mas há uma semelhança inegável: ambas são asas, não são bicos, nem patas, são asas. O Espírito de Deus é pneuma, não é uma outra pessoa, é o Espírito de Deus, pertence a Deus, é parte integrante de Deus.

Os professores de teologia do UNASP tentam ressaltar as diferenças de ordem funcional (o que um espírito consegue fazer que outro não consegue) na tentativa de induzir os leitores a acreditar que há diferenças de caráter ontológico (o que é, de fato, um espírito).

16.           “Ele me Glorificará”

“13 Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras. 14 Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará. 15 Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso eu vos disse que ele, recebendo do que é meu, vo-lo anunciará.” – João 16:13-15.

O livro “Eu e o Pai Somos Um” defende que o Consolador (parákletos) descrito em João 14-16 é o próprio Espírito de Deus e de Cristo atuando em favor dos cristãos após a ascensão de Cristo. Em determinado ponto do livro defendi que o verso 14 de João 16 referia-se ao Espírito do Pai. Para apoiar esta argumentação usei o verso 15 que descreve quem realmente “receberá do que é meu [de Jesus]” e “vo-lo anunciará”. A contra-argumentação dos professores de teologia do UNASP foi a seguinte:

“As análises contextuais realizadas por Nicotra nem sempre são tão confiáveis como aparentam ser. Por exemplo, nas páginas 83-85 de “Eu e o Pai Somos Um”, ele se propõe a elucidar contextualmente o significado de João 16:14, onde aparecem as seguintes palavras de Cristo: “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”. O pronome “Ele” (grego ekeînos) refere-se nesse verso ao “Espírito da verdade” mencionado no verso anterior (v. 13), que é o seu antecedente natural. Só que Nicotra, para confirmar sua teoria antitrinitariana, não se constrange em desconhecer esse antecedente natural, impondo ao referido pronome um antecedente artificial que vem depois do próprio pronome, ou seja, o “Pai” do verso seguinte (v. 15).” – pág. 79.

Os professores de teologia do UNASP têm razão. O Espírito da Verdade é o antecedente natural do pronome “ele” do verso 14. Além de glorificar a Cristo, o Espírito da Verdade aparece no verso 14 como autor de outras duas ações: “receberá do que é meu [de Cristo]” e “vo-lo anunciará”.

Estas duas ações são chaves para descobrir quem é o Espírito da Verdade. Basta ler o verso seguinte, verso 15:

“Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso eu vos disse que ele, recebendo do que é meu, vo-lo anunciará.” – João 16:13-15.

A questão aqui é a seguinte: Sobre quem o verso 15 está falando? Quem é o “ele” do verso 15? Quem é o antecedente natural do pronome “ele” do verso 15? Há alguma dúvida de que o antecedente natural do pronome “ele” do verso 15 é o Pai?

Perceba que as mesmas ações atribuídas ao Espírito da Verdade no verso 14 são atribuídas ao Pai no verso 15.

O paralelismo entre o verso 14 e o verso 15 de João 16 é uma grande evidência de que o Espírito da Verdade é o próprio Espírito do Pai. Ao falar sobre a obra do parákletos, Cristo estava falando sobre a sua obra e sobre obra do Pai através do Seu Espírito.

Volto a repetir: Ao falar sobre o parákletos, Jesus estava usando um símbolo para se referir à ação espiritual de Deus (ação do Espírito de Deus) sobre os discípulos após sua ascensão ao céu. Que Jesus estava usando linguagem simbólica para se referir ao Pai fica evidente ao lermos o resto do capítulo 16, principalmente o verso 25, onde o próprio Cristo admite estar usando linguagem simbólica para falar a respeito do Pai:

“Disse-vos estas coisas por figuras; chega, porém, a hora em que vos não falarei mais por figuras, mas abertamente vos falarei acerca do Pai.” – João 16:25.

17.           O que a Crítica Ignorou

A resenha crítica preparada pelos professores de teologia do UNASP tocou em alguns pontos abordados em “Eu e o Pai Somos Um” (exemplo: o conceito de mistério, o trono do Espírito Santo, a Geração do Filho de Deus, a Emanação do Espírito de Deus, as fontes de referência usadas no livro). Além disso, superenfatizou a questão da autenticidade de Mateus 28:19.

No entanto, a maioria dos assuntos tratados em “Eu e o Pai Somos Um” ficou sem resposta. Cientes de que muitas questões propostas por “Eu e o Pai Somos Um” foram simplesmente ignoradas na resenha, os professores decidiram incluir no final da crítica a seguinte observação:

“Mesmo em face de tudo o que foi dito, é bem provável que os antitrinitarianos simplesmente desconheçam todos os argumentos acima apresentados, e busquem questiúnculas não abordadas no presente estudo, para dizer que suas idéias não foram respondidas a contento. Não é de surpreender também que rotulações e ataques pessoais sejam usados como um mecanismo de autodefesa, na tentativa de neutralizar o conteúdo deste artigo. Sugerimos, porém, que o leitor jamais permita que recursos retóricos ofusquem a objetividade de uma clara análise conceitual do texto bíblico, comparando e contrastando o conteúdo do livro “Eu e o Pai Somos Um” com a presente análise crítica.”- pág. 90.

Os professores de teologia acertam quando dizem que “é bem provável que os antitrinitarianos simplesmente desconheçam todos os argumentos acima apresentados”. De fato, muitos argumentos publicados nesta resenha crítica eram totalmente desconhecidos dos não trinitarianos (exemplos: o conceito “bíblico” de mistério e a função do Espírito Santo após a erradicação do pecado).

Não buscarei “questiúnculas não abordadas no presente estudo”, mas farei uma lista de argumentações publicadas em “Eu e o Pai Somos Um” que por algum motivo os professores de teologia do UNASP decidiram não incluir em sua resenha crítica.

  1. Por que Paulo fez referência a Isaías 40:13 em duas ocasiões e em ambas usou o termo “mente” em lugar de “espírito”?
  2. Se o Espírito Santo não é o Espírito de Jesus, como interpretar Atos 16:6 e 7? Qual das duas entidades presentes neste verso (“Espírito Santo” e “Espírito de Jesus”) é a terceira pessoa da Trindade (já que são entidades diferentes)?

“Atravessaram a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia; e tendo chegado diante da Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu.” – Atos 16:6 e 7.

  1. Se o Espírito de Cristo não é o Espírito de Deus como interpretar Romanos 8:9? Qual das duas entidades presentes neste verso (“Espírito de Deus” e “Espírito de Cristo”) é a terceira pessoa da Trindade (já que são entidades diferentes)?

“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.”

  1. Como explicar a grande quantidade de versos que citam Jesus e o Pai e que contêm elementos de exclusividade como, por exemplo, Mateus 11:27?

“Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.”

  1. Por que apenas os nomes do Cordeiro e do seu Pai aparecerão na fronte dos 144 mil? (Apoc. 14:1)
  2. Por que o livro do Apocalipse revela que a adoração é feita exclusivamente ao Pai e ao Cordeiro? (Apoc. 5:13-14; 7:9-12; 11:15-17)
  3. A resenha crítica não tentou refutar a argumentação que defende a impossibilidade de provar a pessoalidade de uma entidade em função da pessoalidade das ações a ela atribuídas. Pelo contrário, os professores de teologia do UNASP citaram um exemplo que contribui para a defesa da tese publicada em “Eu e o Pai Somos Um”. (Romanos 13:14)
  4. A resenha crítica calou-se com relação ao posicionamento do livro sobre o pecado imperdoável. Também não tentou responder à questão proposta no livro: Por que as blasfêmias contra o “Deus-Filho” são perdoadas, mas contra o “Deus-Espírito” não têm perdão? O “Deus-Filho” é misericordioso e o “Deus-Espírito” é implacável?
  5. A contra-argumentação do livro a respeito da Trindade no Velho Testamento também não foi contestada na resenha crítica (exemplos: adjetivos tríplices e a análise do contexto de Deuteronômio 6: echad/yachid). Os professsores de teologia do UNASP simplesmente declararam que o livro “pelo menos não superenfatiza os textos monoteístas da Bíblia (Êx 20:3; Dt 6:4; etc.)” mas ignoraram em sua crítica a argumentação sobre Deuteronômio 6:4 apresentada nas páginas 68 e 69 do livro.

18.           Outros Artigos da Parousia

O objetivo deste documento é comentar a resenha crítica que contém as idéias de dez professores de teologia do UNASP. No entanto, como outros artigos da mesma edição de Parousia fizeram menção do livro “Eu e o Pai Somos Um”, decidi abrir um espaço neste documento para comentar algumas destas citações.

Vamos iniciar com algumas citações feitas pelo professor Amin A. Rodor, Th.D., diretor do SALT (Seminário Adventista Latino Americano de Teologia), em seu artigo “O Espírito-parákletos no quarto evangelho” (págs. 53-67 da Revista Parousia):

“3. O ensino bíblico quanto à Trindade, ao longo da história do cristianismo, tem se deparado com sérios desvios da ortodoxia... Mas, como sabemos, a mentira não morre fácil. Outras versões recicladas e pioradas têm surgido na periferia do adventismo do sétimo dia, maquiadas com retoques precários e pouco criativos. Este é o caso de alguns panfletos e folhetins que circulam em vários lugares e em sites da internet. Os livros A Divindade, que se apresenta como uma “compilação de diversos autores,” e “Eu e o Pai Somos Um”, de Ricardo Nicotra, caem nesta categoria: mal informados, sem solidez bíblica, teológica, histórica ou lógica simples.” – pág. 62.

Talvez esta tenha sido a crítica mais forte recebida até o momento e a mais difícil de ser respondida, pois o professor Amin Rodor não mostra onde está a “lógica simples” e onde falta a “solidez bíblica, teológica e histórica”. Limita-se a criticar sem apontar o problema. Este parece ser um caso típico que foi descrito da seguinte forma pelos professores de teologia do UNASP na página 78 de Parousia:

“Rotulações pejorativas... são normalmente usadas pelos críticos como um complemento retórico para suprir a carência de argumentos academicamente convincentes.”- pág. 78.

E no momento de apresentar um argumento academicamente convincente e apontar um problema específico em “Eu e o Pai Somos Um” vem uma falha lamentável. Na página seguinte o professor Amin Rodor prossegue em sua crítica:

“7. Na compreensão truncada de Nicotra, o Espírito Santo/Paracleto é ora confundido com Deus o Pai, ora com Deus o Filho. O que realmente surpreende, contudo, é a natureza precária dos argumentos. Ver, por exemplo, sua interpretação de Atos 20:28 (“Eu e o Pai Somos Um”, p. 19): “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.” Dando sua interpretação, Nicotra arremata: “No texto acima, Deus, através de Sua Palavra, está afirmando que o Espírito Santo comprou a igreja com o seu próprio sangue. Sabemos que quem comprou a igreja com o Seu próprio sangue foi Jesus. Assim, não é difícil perceber que Deus está chamando Jesus de Espírito Santo.” Fantástico, não fosse o caráter grosseiro do argumento. No primeiro nível, o erro da conclusão de Nicotra se explica por confusão gramatical, pura e simples, ou, pior ainda, por má interpretação básica de leitura de textos. O pronome pessoal ele (que “comprou com o seu próprio sangue”), não se refere ao Espírito Santo (na primeira parte da frase), mas a Deus (aquele a quem pertence a Igreja), na cláusula imediatamente anterior. Não fosse a apologia que Nicotra faz da ignorância para a leitura da Bíblia (ver “Eu e o Pai Somos Um”, p. 9-13), ele poderia ter facilmente evitado este absurdo.”- pág. 63.

“Ele poderia ter facilmente evitado este absurdo”. Tenho a impressão de que o diretor do SALT preocupou-se tanto com a seleção de adjetivos depreciativos que esqueceu-se de ler o livro que se propôs a criticar. Em nenhum momento o livro “Eu e o Pai Somos Um” refere-se a Atos 20:28. É interessante que os professores de teologia do UNASP criticaram as fontes de referência bibliográfica usadas em “Eu e o Pai Somos Um” (inclusive o fato de termos usado enciclopédias em nossa pesquisa). Agora o diretor do SALT, também professor de teologia do UNASP, simplesmente faz uma referência completamente equivocada atribuindo ao livro “Eu e o Pai Somos Um” uma citação que provavelmente é de outro livro.

Quantos pontos os professores de teologia do UNASP deduziriam da nota final das monografias de seus alunos que cometessem este tipo de erro? Não havia ninguém para revisar o artigo do professor Rodor antes de sua publicação? Será que as outras referências bibliográficas do professor Rodor estão corretas? Fica aqui uma sugestão: antes de publicar os artigos em Parousia ou em qualquer outro veículo, faça-se uma revisão em todas as referências. Caso isso não seja feito, corre-se o risco de cair ainda mais no descrédito dos leitores e alunos. Outra sugestão: Incluir uma errata na próxima edição de Parousia indicando a fonte correta dos textos mencionados acima.

19.           Problemas em “Eu e o Pai Somos Um”

Ninguém neste mundo é infalível, nem os professores de teologia do UNASP, nem seus alunos, muito menos o autor de “Eu e o Pai Somos Um”.

Quero encerrar este comentário citando um problema do livro “Eu e o Pai Somos Um” que foi corretamente apontado em Parousia, no artigo do professor Rodrigo Silva:

“Seguindo no mesmo viés de Meier e do “irmão X”, Ricardo Nicotra também advoga que este período de “paganização” [sic] do cristianismo foi o berço da trindade, e ainda acentua que é “importante lembrar que o Concílio de Nicéia não estabeleceu apenas os fundamentos para a doutrina da Trindade. Outras decisões foram tomadas pelos bispos da igreja católica em 325.” Estas decisões, conforme exemplifica o autor, envolviam a transferência do dia de descanso semanal do sábado para o domingo.

Embora este último autor, citando uma fonte da Internet (Wikipedia), cometa um erro de natureza histórica ao vincular o domingo a Nicéia – pois é sabido que o decreto dominical de Constantino data de quatro anos antes do Concílio (321 d.C.) – sua conclusão deve ser analisada para ser bem compreendida.” – pág. 32.

De fato a fonte usada em “Eu e o Pai Somos Um” continha uma informação imprecisa: O decreto dominical de Constantino é de 321 d.C como afirma o professor Rodrigo Silva, não de 325 d.C. como transcrito da Wikipedia em “Eu e o Pai Somos Um”.

No entanto esta diferença de 4 anos não prejudica em nada a afirmação de que o cristianismo passou por um processo de paganização. Aliás, o “[sic]” colocado pelo professor Rodrigo Silva sugere que algumas pessoas estranharam o uso do termo “paganização”. Paganização é um substantivo derivado do verbo “paganizar” que significa “tornar(-se) pagão” ou “agir como pagão”. Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa “paganização” é um substantivo feminino que significa “ato ou efeito de paganizar”.

Lembrando que o livro “Eu e o Pai Somos Um” mostrou a paganização não como um evento pontual no tempo, mas um processo que durou vários anos. Por esta razão a falha na indicação do ano exato do decreto dominical não afeta a idéia geral. De qualquer forma tenho que pedir desculpas pelo erro que será corrigido na terceira edição do livro.

20.           Conclusão

Diante de tudo que lemos em “Eu e o Pai Somos Um”, na resenha crítica dos professores de teologia do UNASP e nestes comentários é possível perceber a fragilidade da argumentação trinitariana e, principalmente, da tentativa de contra-argumentar a posição não trinitariana.

O meu apelo é para que todos os crentes sinceros analisem o livro “Eu e o Pai Somos Um” se possível mais de uma vez e com o espírito de bereanos. Não devem aceitar tudo, mas questionar. E que tenham a mesma atitude para com a resenha crítica dos professores de teologia do UNASP. Façam o mesmo com este documento. Lembrando sempre de que nenhum de nós está isento de falhas, principalmente num assunto tão complexo como este.

Eu espero um dia estar diante do trono, contemplando a glória do Senhor Jesus e do Seu Pai. Espero estar ali com as pessoas que tiveram uma crença semelhante à minha com relação a Deus. Espero também estar com os amigos e irmãos que não acreditavam exatamente como eu acredito. Somente ali poderemos ter uma idéia precisa do nosso grandioso Deus.

Eu rogo que Ele perdoe as imprecisões que cada um de nós carrega em nossa mente com relação ao modelo que temos de Deus. Que a misericórdia de Deus sobre nós seja maior do que Sua exigência de crentes academicamente precisos e teologicamente ilibados. Que o Seu amor e espírito de perdão inunde o coração de todos os envolvidos nestes estudos: trinitarianos, não trinitarianos, professores de teologia, leigos, líderes leigos e pastores da Igreja Adventista, adventistas excluídos da IASD por não acreditar na trindade. Que com a graça de Cristo todos cresçamos não apenas no conhecimento teórico de quem é Deus, mas também no conhecimento prático de Seus atributos cuja contemplação transforma nossa vida diária.