Los Angeles Times, Quinta-feira, 13 de Agosto de 1998.
Correntes de Mudanças Rondam os Adventistas do 7º Dia

 

Fé: Revoltosos e controvérsias financeiras crescem na igreja. Líderes atribuem estes fatos a uns poucos murmuradores.

Por Tom Gorman e Eric Lichtblau

No princípio era o desapontamento, o Grande Desapontamento, como os fiéis da IASD passaram a chamá-lo.

Ele aconteceu num ensolarado dia de outono no estado do Maine no ano de 1844. Uma adoentada profetisa adolescente chamada Ellen G. White, a arquiteta ideológica da igreja, esperava com seus seguidores pelo predito retorno de Jesus Cristo.

Quando a falha concretizou-se, White logo procurou convencer seus desorientados seguidores de que outro dia lhes seria dado.

Hoje, pergunte a alguns adventistas sobre o Grande Desapontamento e a resposta logo será: Qual deles?

Apesar da igreja ser melhor conhecida por seus hospitais e colégios, e também por ser o movimento religioso de expansão mais rápida ao redor do mundo, ela está sofrendo crescentes problemas que agridem suas tradições conservadoras.

Onde a princípio havia estrita obediência à hierarquia da igreja multibilionária, agora são levantados problemas, algumas vezes entendidos como rebeliões, onde a mesma não hesita em demitir pastores que desafiam o "status quo".

Numa denominação em que os fundadores resolviam reservadamente os conflitos, hoje alguns membros estão expondo sua dissensão em várias publicações e websites em que acusam os líderes da igreja de toda forma de autoritarismo e manobras escusas para fraudar e cometer abusos financeiros.

Alguns professores das faculdades adventistas têm-se insurgido, da maneira como podem, contra os líderes da igreja acusando-os de estarem os cooptando, juntamente com seus alunos ao plano "Comprometimento Total com Deus", com relatórios anuais e avaliações externas. Algumas mulheres, estão levantando suas vozes objetando contra a postura da igreja, co-fundada por uma mulher, em não permitir que sirvam como pastoras, limitando seus cargos e recusando a ordená-las.

No estrangeiro, onde o número de fiéis cresce, a controvérsia também está grassando.

Questões sobre como é usado o dinheiro arrecadado internacionalmente, e também um grande problema surgido em Ruanda, onde um pastor tem sido acusado de genocídio ao orquestrar a execução de centenas de pessoas que buscavam refúgio no templo da igreja, em 1994.

Divisões internas tem afligido outros movimentos religiosos nascidos em solo americano, e seus ramos tem crescido e se diversificado. Este fato é um rito de passagem no amadurecimento de muitas denominações.

Apesar da perspectiva história denotar certa continuidade, os adventistas estão aqui e agora envolvidos em correntes de mudanças.

Apenas uma baixa porcentagem de adventistas há alguns anos questionava abertamente seus líderes, mas hoje, historiadores da religião dizem que a igreja tem diante de si um dos seus mais sérios problemas.

"Alguns membros desesperadamente não querem ouvir nada de negativo. Isto os balança", diz o sociólogo Ron Lawson, do Queens College, um adventista que estudou o desenvolvimento da igreja. "Mas outros, estão extraordinariamente envolvidos nessas questões porque sentem que alguma coisa está acontecendo [na igreja]".

O presidente da IASD, Robert H. Folkemberg, 57, um piloto de aviões grandalhão de fala mansa, meneia sua cabeça quando ouve críticas. Ele rebate dizendo que isso se deve a poucos membros, dos mais de 10 milhões que compõe a igreja.

"Você pode encontrar algo de que não aprove", ele disse numa rápida entrevista, mas insiste que a instituição com sede em Maryland é uma "vibrante, positiva e engajada igreja, influenciando poderosamente as comunidades às quais serve".

Filho de pais missionários, Folkemberg disse que a igreja representa não a estrada ao paraíso, mas o veículo em si, que proporciona um profundo relacionamento com Deus.

O adventismo oferece "uma chance de mudança de vida" disse Folkemberg, que trabalhou anos na América Latina para a igreja antes de eleger-se Presidente em 1990. "Ela responde às questões: Por quê estou aqui? Quem eu sou? O que é certo? O que é errado? Se você vive sem orientação, está destruindo-se. A sociedade prova isso todos os dias".

Crescimento fantástico Além–mar

Para os de fora, os Adventistas do 7o Dia detém há anos um mistério teológico, e seus membros muitas vezes confundem-se com esses dogmas cristãos pouco conhecidos.

Muitos dos embaraços da igreja, como é de conhecimento geral, foram infelizmente causados por radicais defensores de David Koresh e seus seguidores davidianos, devido ao confronto armado em 1993 entre ele e as autoridades federais em Waco, Texas. A igreja enviou uma equipe de relações públicas e um porta-voz ao local para certificarem-se que a mídia sabia que os davidianos não eram afiliados à denominação Adventista do 7o Dia.

A igreja, - formalmente estabelecida há 135 anos por White, seu marido James, e um ex capitão do mar, Joseph Bates – tem um estrito entendimento da Bíblia. Isto trouxe consigo uma longa história de tensão com outros cristãos sobre qual foi o dia reservado para a adoração.

Na sua característica mais distinta, os adventistas celebram o descanso aos sábados, o sétimo dia, uma prática advinda do Velho Testamento.

Com um fervor quase paranóico, alguns linhas dura da igreja acreditam que as outras denominações intentam forçá-los a alinharem-se à observância do domingo. Os mais extremistas identificam o papa como o "anticristo".

Os adventistas também acreditam no Dom Profético, manifestado na matriarca da igreja, White, devido às suas inúmeras visões. Alguns historiadores da igreja dizem que ela plagiou escritos de outros pensadores religiosos de seu tempo, mas o seu trabalho permanece no centro da fé.

Alguns membros da igreja parecem haver apropriado-se profundamente das palavras de White que classifica os adventistas como "escolhidos por Deus como povo peculiar, separados do mundo". Eles tentam ser comunitários, viver uns perto dos outros e trabalharem juntos. A maior concentração de adventistas acontece na sua maior instituição, que é o Centro Médico e Universitário de Loma Linda, perto de San Bernardino.

Imbuídos de temperança, com vistas ao bem-estar, a igreja pratica a abstinência do álcool, fumo, narcóticos, carne de porco, peixe de couro e bebidas que contenham cafeína, não considerados salutares e além disso contaminantes ao bom crescimento espiritual. O vegetarianismo é encorajado, mas não obrigatório. Um dos membros da igreja mais famoso na virada do século, de fato, foi o inventor do corn flakes John Harvey Kellog, que desenvolveu o primeiro substituto da carne aos adeptos do vegetarianismo.

Apesar de muitos adventistas continuarem acreditando que o apocalipse sinalize que a Segunda Vinda, ou Advento de Jesus Cristo é iminente, a igreja hoje aparenta apenas programar o seu futuro terrenal.

O patrimônio da igreja é avaliado em US$ 15,6 bilhões, mais casas publicadoras, estações de rádio e TV e fábricas de alimentos. Oficialmente possuem 5.400 colégios, que atendem principalmente as crianças adventistas, tornando-se assim a maior rede educacional protestante do mundo.

As 87 faculdades e universidades da igreja, incluindo o La Sierra, perto de Riverside, possuem estudantes de vários estilos de vida. O mesmo vale para a rede de 161 hospitais, que não servem apenas os adventistas, mas centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo.

A expansão internacional, provindo assistência médica ou doutrinação religiosa, tem sido a tônica fundamental da igreja. Muitos adventistas servem anos em lugares longínquos, ajudando carentes, pregando o evangelho, exatamente como seus pais fizeram e os pais de seus pais haviam feito.

Os resultados tem sido assombrosos, especialmente na África, Ásia e América Latina. A igreja estima hoje seus membros ao redor do mundo em mais de 9 milhões, mais os americanos.

Nos EUA existem algo como 828.000 adventistas, incluindo os 110.000 que vivem no sul da Califórnia, a maior concentração do País.

Ao contrário do que acontece no exterior, o crescimento doméstico da igreja tem sido modesto, mormente atribuído às sempre crescentes chegadas de imigrantes do terceiro mundo, que criam atrações que estão tirando os jovens do rebanho.

Partilhando uma "forte atitude anti-institucional", muitos da geração jovem tem questionado a rígida hierarquia da igreja, diz o pastor e escritor Steve Daily, capelão no La Sierra.

Isto para desencanto dos membros mais velhos, que contestam o desenvolvimento adventista, que está focado na expansão no exterior, com os recursos necessários advindo das igrejas norte-americanas.

Larry Downing, pastor sênior de uma congregação em Los Angeles, viajou ao Peru ano passado juntamente com uma dúzia de obreiros adventistas. Ele disse que esse mesmo refrão é dito sempre e sempre nas discussões: "Quando falamos, não somos ouvidos. A única coisa que eles entendem (a liderança da igreja ) é dinheiro".

Protestos, Pedidos

No mar de escritos de Ellen White, alguns adventistas tem o seguinte parágrafo como um dos mais sacros: "Problemas ligados à igreja, tem que ser tratados dentro de suas próprias paredes".

Considerando o que aconteceu após uma publicação independente chamada Adventist Today publicar um suposto abuso sexual infantil cometido por um membro da igreja. Membros mais exaltados escreveram à revista, não comentando o fato do suposto abuso sexual, mas sobre o fato da revista, que é editada em San Bernardino, colocar a manchete da matéria na capa da edição, "para que todos funcionários dos correios vissem", como escreveu um leitor.

"Nós realmente não precisamos dessa publicidade", escreveu uma leitora da Virginia.

Estes são sinais, a menudo, de que os muros do silêncio estão caindo.

Protestos e pedidos tem partido de uma desconfiada congregação ao redor do mundo. Nas publicações próprias, dirigidas aos membros da igreja, tem-se avolumado indisposições.

Um site na internet, independente da organização da igreja, está dando espaço a fortes críticas e calorosos debates. Uma participante questionou a necessidade de uma auditoria contábil nos altos escalões, aconselhando os membros a cortar as contribuições ou abandonar a igreja em bloco, para forçá-los à auditoria - "decida-se com sua carteira ou com seus pés", ela alardeou.

Adventistas que se sentem enganados por sua igreja estão engrossando as filas para socorrerem-se nos tribunais de justiça, mais notadamente no caso do processo instaurado por David Dennis, que foi auditor chefe na sede da igreja em Silver Spring, Maryland.

Dennis está processando a igreja por sua controvertida demissão em 1994, fornecendo à corte, simultaneamente, um completo dossiê com alegações de desvios financeiros e atitudes antiéticas por parte dos líderes.

Segundo ele, os líderes adventistas malversaram milhões de dólares em donativos recebidos de ofertas e de governos estrangeiros, usando-os em "extravagâncias do orgulho", criando altos cargos internos ou dando títulos pastorais e consideráveis oportunidades na hierarquia a administradores que não eram ou por pouquíssimo tempo haviam sido obreiros.

Para uma igreja que tradicionalmente tem tratado seus problemas reservadamente, o processo instaurado por Dennis criou uma das mais profundas divisões na história da denominação.

Membros de locais longínquos como Austrália assinaram petições exigindo uma profunda investigação das "alarmantes" alegações feitas, a fim de prevenir uma futura "erosão da fé na liderança da igreja". Roscoe Bartlet, um adventista, lançou o apelo, pedindo por uma "rápida e profunda solução do problema, para que a igreja de Deus possa ocupar-se de alcançar a sua missão".

Oficiais da igreja rebateram com uma bateria de renomadíssimos advogados peso-pesados. Eles alegam que Dennis foi despedido por haver tido relações sexuais algumas vezes nos anos 70 com uma garota adolescente que ele e sua mulher adotaram quando trabalhavam numa escola adventista em Singapura. A mulher, agora mãe de família no Oregon, com 38 anos de idade, veio a público depois que Dennis começou a questionar os gastos financeiros da igreja.

Numa declaração sob juramento ela se negou a confirmar o alegado relacionamento, pois isso dizia respeito "ao profundo de mim, do meu próprio interior, secreto". Finalmente, os advogados da igreja disseram em entrevista que ela havia contado ao seu pastor, que por sua vez contou aos executivos da igreja.

Apesar do que a igreja diz, Dennis, um pastor ordenado, foi ameaçado em alta voz, antes de ser demitido. Alguns membros do tribunal aceitam esta questão com clareza.

"Eles lhe deram um pé na bunda. Como namoro entre cangurus" disse William Shea, membro do comitê executivo para o alto governo da igreja. Ele completa dizendo que Dennis foi forçado a sair por fazer muito bem o trabalho de fofoqueiro.

De sua parte, Dennis, 59 anos de idade, nega haver feito sexo com a mulher de Oregon e insiste que tornou-se um "homem marcado" depois de haver cruzado o caminho dos altos líderes devido aos problemas que ele não encobriu, e que tinha acesso unicamente por sua função na administração.

"Há um senso de lealdade de igreja, uma lealdade desencaminhadora, eu acredito, que exije que você não faça absolutamente nada que embarasse o próximo", diz Dennis. "Mas se havia algo de errado lá, eu me senti na obrigação de contá-lo".

Um juiz de Maryland julgou que aos líderes da igreja lhes é "permitido conduzir suas admissões/demissões conforme lhes aprouver" dando-lhes ganho de causa neste aspecto do processo, mas recebeu a parte em que Dennis alega difamação, devido ao suposto caso sexual. Uma data para este julgamento ainda será marcado.

Deste modo, os líderes da igreja não comentam a questão, exceto para alegar que o pretexto de Dennis busca caracterizar uma oportunidade de receber indenização civil por danos morais. Eles pediram aos membros da igreja que "sejam pacientes e aguardem o julgamento".

"Quando todos os fatos estiverem esclarecidos", diz o presidente da igreja, "então não teremos mais problemas".

Controvérsias Financeiras

Para algumas pessoas da igreja, as acusações de Dennis ecoam na memória trazendo à tona outras controvérsias financeiras.

Muitos soltam fumaça quando é mencionado o nome do físico e pesquisador em Beverly Hills, Donald J. Davenport, um adventista conhecido como "o rei das agências de correios", devido à sua habilidade em fazer dinheiro conseguindo tais facilidades.

No início dos anos 80, algumas centenas de igrejas adventistas e membros individuais puseram sua fé – e seu dinheiro - em Davenport. Quando seu império imobiliário entrou em colapso e faliu, perdeu-se US$ 40 milhões, imediata e furiosamente os membros acusaram os líderes de promover um esquema questionável para investir em agências de correios e outros imóveis.

Sobre o caso da Holding Davenport, os investidores queriam saber quem foi que prometeu metas inalcançáveis. Passado o baque, os adventistas descobriram que alguns oficiais da igreja recebiam lucrativas "comissões por indicações" feitas e que trouxessem clientes a Davenport.

Muitos na igreja esqueceram mas não perdoaram, fazendo desabafos tardios como o pastor de Garden Grove, Margo Pitrone, que disse que "nós não podemos confiar nos líderes da igreja manipulando nosso dinheiro".

Quando Folkemberg assumiu a presidência em 1990, exacerbou sua preocupação sobre este caso, mas agora, ele estrategicamente silencia.

Há aproximadamente um ano, um abonado membro da igreja pagava dezenas de milhares de dólares em "salários" para a esposa de Folkemberg e ao recém reeleito presidente por serviços fantasmas da igreja, dinheiro desviado para que sua mulher o acompanhasse nas viagens ao exterior.

Esses donativos para a igreja foram carreados do Fundo para o Amparo de Estudantes Carentes, oficialmente destinado ao pagamento de bolsas de estudos a alunos pobres.

Ainda mais, o presidente da divisão norte-americana da igreja, Al McClure, recebeu US$ 140.000 livre de impostos que também foram canalizados deste fundo de amparo de estudantes carentes. Jerry Lastine, administrador da igreja no médio atlântico, lembra-se haver entregue em mãos um cheque de mais de US$ 100.000 a um investidor que faliu nos negócios Davenport. Lastine disse que não refletiu sobre o fato até que o auditor Dennis começou a levantar questionamentos sobre os possíveis desvios financeiros. Lastine disse que logo deparou-se com uma "total injustiça" no uso desse dinheiro, que logo demitiu-se.

"Eu pensei na minha esposa, sentada em casa, e eu sem nenhum salário", ele disse, "eu me senti desapontado somente em pensar como uma igreja permite o cometimento de tanta politicagem com seu dinheiro. Eu esperava que ela tivesse uma liderança mais espiritualizada, não que apenas falasse em dinheiro".

Com os ganhos de seus péssimos investimentos, Davenport ainda hoje festeja aquele episódio que marcou a igreja pessimamente.

Folkemberg diz que as ofertas dos doadores foram uma "resposta à oração", e uma forma inócua de fazer-se acompanhar por sua esposa em suas viagens a trabalho. Para que a operação fosse permitida, ele disse que submeteu-a para a aprovação dos outros líderes da igreja.

Se ele aceitaria novamente tal arranjo? A resposta é "nem pensar. Absoluta e categoricamente não".

Apenas alguns meses depois, a confiança dos adventistas novamente foi abalada, não por salários à esposa do presidente nem por investimentos imobiliários, mas por algo muito mais próximo do coração: a Bíblia em vídeo para crianças.

Ano passado, em meio a uma rajada de acusações a discursos inflamados a igreja fechou uma publicadora oficial que supostamente estaria responsável em produzir as Bíblias. Ao final, nenhuma delas foi distribuída. Feitas as contas, foram perdidos US$ 3,4 milhões, com a igreja da costa leste sofrendo o prejuízo maior.

Os líderes da igreja disseram que não sabem aonde foi parar o dinheiro. O que se sabe, de acordo com as declarações feitas pela igreja, é que a aventura da Bíblia era "altamente especulativa", financiada em parte por investimentos vindos de fora, trazidos por empresas às quais se prometia dezenas de milhares de dólares de lucros.

Com esta quantia de dinheiro apostada, um líder na costa leste aparentemente estava ansioso em participar desta impropriedade, e admitiu ter desviado US$ 265.000 dos cofres de sua região para o projeto da Bíblia.

Folkemberg define que a idéia da Bíblia em vídeo para crianças era nobre, mas ocasionalmente "o caminho (dos problemas financeiros) é feito de boas intenções e más decisões".

Os críticos da igreja dizem que erros podem acontecer, mas acrescentam que as lições que tais erros trazem devem ser aprendidas.

"Me parece que não estamos aprendendo com os erros do passado", diz Shea, membro do comitê executivo da igreja. "Não se está fazendo esforço para que os membros saibam com clareza como os fundos da igreja são empregados".

Demissão de Pastores

Apesar da admoestação de Ellen White que Deus "não quer seu tesouro abastecido por ofertas dadas a contra gosto", o pastor Richard Fredericks, que foi demitido, diz que a liderança da igreja hoje está mandando outra mensagem: "Pague, ore e cale-se".

Um crescente número de fiéis não estão mais querendo fazer assim, e estão questionando a organização sobre suas finanças.

Arriscando seus empregos, alguns pastores tem recusado-se a remeter os 10% dos dízimos à organização, obrigatório a todos empregados.

As contribuições dos membros são passadas por uma multicansativa burocracia até serem redesignados para o uso local, em benefício aos doadores. Muitos pastores estão encorajando os membros a doarem menos ofertas à igreja mundial.

De fato os adventistas são os contribuintes mais generosos entre todas igrejas no país, mas recente pesquisa mostrou um incremento no número de membros que estão destinando seus dízimos para o uso local a fim de pagar suas próprias necessidades como uma organista ou um líder jovem.

Na igreja de Fredericks em Damascus, no ano passado os membros alcançaram um alvo em ofertas de US$ 300.000.

Ocupantes dos altos cargos na igreja vêem a questão como uma clara usurpação de sua autoridade e quebra das regras estabelecidas para o uso dos recursos da igreja.

Os líderes brigaram com Fredericks durante meses e finalmente o demitiram em outubro, efetivamente abolindo sua congregação adventista. Muitos membros o seguiram para uma nova igreja independente, baseada em princípios adventistas.

Fredericks, que trabalhou para a IASD por duas décadas, vê algo confuso na idéia de que o dízimo, um presente que parte do coração do doador, para Deus, tornou-se tão importante para a liderança da igreja.

"As pessoas aprendem a pôr sua fé mais na organização do que em Jesus Cristo", ele diz.

Há casos similares em Maryland, Dakota do Sul, Colorado e Oregon. Bob Bretsch, um pastor sênior muito popular em Portland foi demitido ano passado por seus superiores de Oregon.

Seus advogados falaram apaixonadamente sobre as idéias progressistas do pastor Bretsch, que tornou sua igreja uma congregação com 1.450 membros, com novas formas de música, pregação e adoração. Mas seus métodos escandalizaram os tradicionalistas e sua recusa em enviar determinadas quantias à hierarquia da igreja foi a razão chave citada pelos líderes para demiti-lo.

"Eles estão amedrontados... com a possibilidade de perder o controle da paróquia local, e cair no congregacionalismo", disse Bretsch.

Ele iniciou uma igreja independente, trazendo consigo muitos pastores e mais de 400 membros da antiga congregação.

O pastor Clay Peck, que também criou uma igreja independente baseada em princípios adventistas, ao norte de Denver, diz que os membros estão cansados dos velhos métodos.

"As pessoas querem investir em algo que possam ver", ele diz, "onde o pastor toca suas vidas, onde não tenham que arcar com uma hierarquia inútil com um excesso de níveis".

De acordo com outro "tabu" adventista, que a congregação do pastor Peck aboliu, – além do de beber café – seu baixo repasse de contribuições para suprir a hierarquia da igreja causou tensão nos altos níveis. Ele disse que foi avisado: "Você não está seguindo o livro, por isso você estará fora".

Logo estava.

"O xis da questão," disse Peck, "é como o dinheiro está sendo controlado".

O presidente adventista, Folkemberg, respondeu amainando o ceticismo pastoral garantindo que da Conferência Geral, em Maryland, a maioria das ofertas é redespachada para os campos locais.

O problema, ele diz, é que os líderes "tem feito um trabalho muito pobre", ou não deixando os membros saberem como o dinheiro é usado. E se por acaso souberem das finanças da igreja, mesmo assim, ele diz, sempre haverá aquele que dirá que "a organização sempre é a culpada".

Um documento de 1996, inocuamente intitulado "Comprometimento Total com Deus" ocasionou apaixonada oposição por parte de alguns membros que sentiram nesse programa a busca de uma espiritualidade forçada.

A concepção foi de Folkemberg, que admoestou todas pessoas em todos níveis das igreja – de pastores a membros, de professores a doutores – para, formalmente, rededicarem-se a si mesmos para cumprir a diretiva evangélica: "Ir, ensinar, batizar e fazer discípulos".

"Comprometimento Total com Deus" é efetivamente um controle de Qualidade Total no contexto de uma agenda espiritual", disse Folkemberg.

A proposta pede aos membros da igreja que busquem alcançar padrões de espiritualidade e, em muitos casos, requer o preenchimento de formulários e submissão a avaliações externas para garantir o sucesso do adventismo em ser o "sal e a luz" em suas comunidades.

Num sermão proferido em outubro passado na Universidade de Andrews, o seminário adventista em Michigan, Folkemberg concitou os graduandos a "dar evidências que indiquem que vocês conhecem a Cristo como vosso Senhor e Salvador pessoal". "Ademais", ele disse, "qualquer brecha de ceticismo, que se choque com as crenças fundamentais de sua herança espiritual está fora de questão".

Mas a idéia de "provar" algo pessoal e intangível em união de fé, causou resistência nalguns lugares, particularmente nas faculdades adventistas, onde todos deveriam submeter-se a um "Plano Mestre Espiritual", que deverá ser aprovado por um grupo do alto corpo governante da igreja.

As faculdades e universidades adventistas oferecem cursos em religião, medicina, artes e outras áreas a 59.000 estudantes.

O colégio Walla-Walla no estado de Washington tem visto nesse programa um empecilho ao recebimento de doações da organização, uma vez que mantém um currículo "liberal".

"Comprometimento Total com Deus" tem jogado lenha na fogueira causando discussões em toda comunidade acadêmica adventista.

"Haja Espiritualidade!" [como na Criação do mundo] é como o antropologista da Universidade de Riverside, Ervin Taylor, um adventista, caracteriza este programa.

Uma maneira bizarra de levantar o "sentimento moral", disse o professor Frank Knittel, do La Sierra.

"Esta não é o dia nem a época em que o povo responda a esses métodos", diz o reitor do La Sierra, Lawrence Geraty, "eles deixarão a igreja".

Porquanto muitos tenham deixado a igreja, outros de todas idades tem permanecido fiéis, a despeito das muitas controvérsias que atingem a estrutura da igreja. Como a questão do processo de Dennis, ou a questão da devolução e repasse do dízimo como sinal de devoção à igreja e à sua mensagem.

Mary Anne Carter, de Loma Linda é uma adventista de quinta geração. Antes do nascimento do seu filho, ela era recepcionista na igreja. Hoje, ela ensina as crianças na escola sabatina e auxilia no comitê de assistência social da igreja, auxiliando na cozinha e em outras funções.

"Eu tento não me envolver com a política", ela diz, ecoando o sentimento de muitos outros. "Eu não quero machucar meu relacionamento pessoal com Deus".

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