"Parábola das Flores" Mostra Como o Diabo se Utiliza da Música para Pregar na Igreja

 

A música pode transmitir mais que sentimentos e emoções. É um campo de ação sobre o qual se trava uma grande batalha.

 

Há mais de seis mil anos há uma guerra em desenvolvimento. De um lado do campo de batalha encontramos uma trincheira, a da Verdade Presente, onde se refugia o Remanescente. Do outro, uma grande quantidade de trincheiras, algumas diretamente opostas e em frente à primeira; outras mais próximas, quase mimetizadas com ela; mas em todas, destacados esquadrões que não ajuntam, mas sim espalham.

As que mais nos preocupam são as últimas, as que tratam de imitar a trincheira da Verdade Presente. Algumas são tão parecidas que é difícil distinguí-las. Além disso, como os ancestrais dos soldados que se colocam ali estiveram algum dia na trincheira da Verdade Presente, não despertam nos soldados do Remanescente os temores que geram os que estão em posição mais oposta. Inclusive, às vezes, são considerados como esquadrões amigos!

O que mais chama a atenção é que, em meio de uma guerra feroz, esses esquadrões fazem algo muito estranho: de vez em quando lançam flores aos soldados da Verdade Presente!

Qual é o objetivo de lançar flores em vez de balas? O propósito é confundir o povo de Deus, utilizando essa estratégia estranha à lógica humana, que leva os soldados do Remanescente a pensarem que os esquadrões das trincheiras próximas são aliados e, como conseqüência, seja fácil acreditar que dá no mesmo estar de um lado que do outro.

Embora essas flores possam ser parecidas com as que o Remanescente cultiva, há diferenças não visíveis à primeira vista. Elas foram cultivadas em uma terra que carece de dois elementos essenciais: Espírito e Verdade. Ao longo dos séculos, o inimigo obteve algumas imitações do Espírito e preparou alguns fragmentos de verdade.

Mas como a verdade pela metade não é verdade, e o Espírito é um, as flores que se cultivam naquele lado do campo de batalha poderão parecer, mas nunca serão, autênticas.

 

O que significam as flores falsas?

Consideremos a aplicação desta parábola. Sabiamente, o Manual da Igreja diz que as pessoas de outras denominações não estão autorizadas a pregar em nossos púlpitos. Entretanto, quase cada sábado permitimos que nos cultos de adoração ou nas sociedades de jovens essa gente ensine "sua verdade" através de colocações sutis que não são próprias da Bíblia e, portanto, da Igreja Adventista. O que não obtêm através da palavra falada, conseguem-no mediante a que é cantada... casualmente (ou não), uma das formas mais eficazes de transmitir e fixar os ensinos!.

Infelizmente, uma boa proporção das canções que se interpretam nos momentos da chamada "mensagem musical" dentro do culto de adoração e muitas das canções que são ensinadas em nossos cultos de jovens, acampamentos, etc., provêm de autores — ministros da palavra cantada — evangélicos, protestantes ou pentecostais; definitivamente, pessoas identificadas com o "protestantismo apóstata".

A estratégia é tão ardilosa que nem sequer lhe prestamos atenção. Ao não permitir que pessoas de outras denominações preguem, e como um músico estranho seria primeiro posto à prova, o inimigo usou o ardil de infiltrar-se utilizando a estratégia do canto. Por este meio, com uma sutileza digna de melhor causa, introduz "sua mensagem", que aparenta harmonizar com a verdade.

Essas são as flores envenenadas que nos jogam das trincheiras próximas. O triste é que as aceitamos alegremente. Que ingenuidade! Ellen White diz que "a força é o último recurso de toda religião falsa. A princípio ela emprega a atração, assim como o rei de Babilônia testou o poder da música e a ostentação externa. Se esses atrativos, inventados por homens inspirados por Satanás, não fizessem que os homens adorassem a imagem, as devoradoras chamas do forno estavam prontas para consumi-los. Assim será agora[logo]". 1

O Pastor Steger adiciona: "Nem todas as batalhas se travam de forma aberta ou espetacular... Por isso algumas batalhas, possivelmente cruciais, ocorrem de forma inadvertida, e se definem por um meio aparentemente tão neutro como a música". 2

 

A globalização do remanescente

O objetivo desta estratégia é produzir acomodação, encurtar distâncias e eliminar barreiras, para que quando a crise e a perseguição se desatarem, fique menos chocante passar para o grupo errado. Para Satanás, não faz nenhuma diferença que estejamos em qualquer trincheira, desde que não seja na do povo remanescente.

É assim que surge o que chamamos música genérica, que não define crenças teológicas, é superficial, repete temas como o amor e a graça de Deus, louvor a Deus, etc.3

A preocupação sobre a perda de identidade fica refletida na introdução da Lição da Escola Sabatina, quando diz que atualmente alguns adventistas "afirmam não só que não nos diferenciamos de outras Igrejas, mas também não devemos ser diferentes nem deveríamos destacar muito nossa mensagem e missão distintivos".

Logo adiciona: ... "o que Deus nos deu são verdades cruciais e distintivas que nos fazem adventistas do sétimo dia. Não luteranos, não episcopais, não batistas nem metodistas, a não ser adventistas, adventistas do sétimo dia. Não é que todas essas verdades sejam exclusivas dos adventistas... Mas tomadas em conjunto, no contexto do que chamamos 'a verdade presente', estes ensinos constituem uma mensagem distintiva que ninguém mais está proclamando". 4

Com isto não quero dizer que o uso, a meu modo de ver irresponsável, que muitas vezes se faz da música é a única causa do que está acontecendo. Pensar assim seria tão perigoso como a realidade que estamos expondo. Entretanto, como isto acontece no coração mesmo do culto de adoração e de algumas outras atividades de nossa igreja, parece-me que é especialmente significativo e digno de nossa atenção e esforço, com a finalidade de mudar as coisas.

 

O cântico do remanescente

Ao falar dos 144.000, o apóstolo João diz: "E cantavam um cântico novo diante do trono... e ninguém podia aprender o cântico" (Apocalipse 14:3). É impressionante, o remanescente do tempo do fim passará por uma experiência tão distintiva, que o resto dos redimidos não poderá unir-se a seu canto.

Nem sequer os grandes reformadores e mártires que ao longo da história arriscaram sua vida e sua liberdade para seguir a Cristo! Estando tão perto da segunda vinda, será que o Remanescente precisa abastecer-se em fontes estranhas porque não pode gerar um cântico distintivo? Pode fazê-lo!

O que diríamos se nossos pastores todos os sábados repetissem os sermões de grandes evangelistas protestantes? Alguns seriam teologicamente irrefutáveis, mas recordemos que foram feitos por quem espalha, sutilmente, mas espalha! Não, nossos pregadores têm a obrigação moral e espiritual de ter algo próprio a dizer. O sermão deve surgir de sua experiência e de seu estudo.

Por que não sugerir a nossos músicos, ministros da palavra cantada, que tenham a mesma exigência? Nossa igreja necessita de maneira urgente músicos-cristãos quem, à diferença dos músicos-artistas, obtenham um equilíbrio santificado entre a técnica, a mensagem e também o ritmo. Se só importar a técnica, convertemos a música em um show e a esvaziamos do papel que desempenha tanto na experiência cristã como no culto de adoração.

... devemos encarar com maior ênfase e dedicação a tarefa de procurar uma música que nos distinga.

Quando a mensagem é aparentemente correta

Quem não compartilha este ponto de vista diz que se as canções forem teologicamente corretas, não há inconveniente nas apresentar à igreja. Entretanto, recordemos... ninguém ajuda o inimigo a ganhar a guerra!

Quando Paulo e Silas, em Filipos, foram seguidos por uma moça que tinha espírito de adivinhação, a mensagem que ela gritava era teologicamente correta (Atos 16:16). Entretanto, suas "contribuições" não os ajudavam em nada. "Esta mulher era um instrumento especial de Satanás... Sua influência tinha ajudado a fortalecer a idolatria. Satanás sabia que seu reino estava sendo invadido e recorreu a este meio de opor-se à obra de Deus, especialmente misturando suas falácias com as verdades ensinadas pelos que proclamavam a mensagem evangélica. As palavras de recomendação pronunciadas por esta mulher eram um prejuízo para a causa da verdade, pois distraíam a mente das pessoas dos ensinos dos apóstolos. Desonravam o evangelho, e por elas muitos eram induzidos a acreditar que os homens que falavam com o Espírito e o poder de Deus estavam movidos pelo espírito que impulsionava a essa emissária de Satanás". 5

Não, nem tudo dá da mesma. As diferenças teológicas podem ser infinitesimalmente pequenas, mas as pequenas concessões abrem caminhos que têm uma eternidade de diferença. Não se deve mesclar o sagrado com o que não é. Nadabe e Abiú esqueceram que embora o fogo é sempre fogo, o que se oferecia no santuário devia ter uma origem especial.

Em uma sociedade marcada pelo relativismo, não é fácil aceitar que há situações na vida onde só há negro e branco, que o que parece cinza a nossos olhos é só uma variante do negro. Embora tenhamos direito a examinar tudo e reter o que é bom, não temos licença para introduzir fogo estranho no culto de adoração ou nas atividades do templo, onde o povo oferece a Deus o que ele aceita como oferenda, e não a oferenda das nações vizinhas.

 

O perigo das ênfases equivocadas

Uma das maiores crises teológicas que nossa igreja viveu foi a de 1888. É verdade que alguns de nossos líderes sustentaram certas idéias que não eram corretas; isso não teria sido um problema se os pioneiros tivessem mantido equilíbrio na apresentação das verdades que proclamaram. Não houve tensões teológicas no caso de outros ensinos distintivos, pois se foram polindo desde 1844, sem necessidade de gerar uma crise como a que se produziu no congresso desse ano como conseqüência de ter centrado o ensino nos temas do sábado, o santuário, os Mandamentos, etc., dando por subentendido o resto.

Como a Bíblia não ensina só essas doutrinas, quando a primeira geração de adventistas que tinha crescido escutando estas pregações começou a amadurecer, deram-se conta de que algo não andava muito bem; então explodiu a crise.

Não sei se hoje estamos como antigamente, mas uma situação parecida está sendo gerada, só que de forma invertida. Há uma geração de jovens que conhece apenas uma parte da mensagem. Um olhar nas nossas coletânas mostrará uma ausência quase total dos ensinos distintivos de nossa igreja. Pode ser que certas pregações superficiais e as mensagens agradáveis estejam contribuindo para isto mas, no meu ponto de vista, as flores com as que mais nos estão "sobrecarregando a trincheira" são as da música.

Isso quer dizer que estamos desperdiçando a chance de usar "um dos meios mais eficazes"6 para gravar nas pessoas as verdades distintivas de nossa igreja. Temos o talento, o conhecimento bíblico e o domínio técnico da música, mas por que não os conseguimos reunir?

... "Lutero nos fez mais dano com seus cantos que com seus sermões".

"Os inimigos diziam: Lutero nos fez mais dano com seus cantos que com seus sermões".7 Se poderia dizer o mesmo da música que emana da trincheira da Verdade Presente?.

Conclusão

Com o exposto, não pretendo garantir que tudo o que provenha de um autor adventista deverá ser automaticamente aceito. Devemos seguir o exemplo dos bereanos, que punham à prova tudo o que escutavam. Tampouco estou dizendo que deveríamos arquivar os hinos do Lutero, Wesley e outros reformadores, já que nos recordam que temos uma herança, que somos o último elo em uma cadeia de cristãos que se sacrificaram para manter no alto os princípios da Palavra de Deus e pregar a verdade presente.

O que realmente creio é que devemos batalhar para discernir, com a ajuda do Espírito Santo, o perigo que significa autorizar a que em nossos cultos se interpretem hinos que provêm da inspiração daqueles cuja fonte de inspiração não conhecemos.

Os líderes de nossas Igrejas deveriam ter suficiente firmeza no Senhor e suficiente convicção espiritual para não permitir que, como parte do culto, se ofereça fogo/música estranha.

Mas, além da urgência em proteger a igreja de mensagens que são ambíguas, devemos encarar com maior ênfase e dedicação a tarefa de procurar uma música que nos caracterize. Uma mensagem falada distintiva deve ser acompanhada por uma mensagem cantada que seja peculiar.

Felizmente, estou convencido de que há pessoas espiritual e tecnicamente capacitadas para encarar o desafio exposto. Há talentos adventistas que têm os dons necessários para levar adiante a tarefa da mudança.

Se nossos músicos compreenderem a necessidade que temos e aceitarem o desafio que lhes lançamos por meio destas linhas, possivelmente já possamos começar a dar forma a alguns dos compassos e melodias que entoaremos na eternidade.

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ARIEL Sergio GÓMEZ é formado em Teologia e atualmente estuda Medicina com a finalidade de ampliar seu ministério. É ancião da igreja de Flórida, em Buenos Aires, Rep. Argentina. Este artigo foi publicado pela Revista ADVENTISTA argentina, de Junho de 2002. Tradução: Levi Tavares, editor do site http://www.musicaeadoracao.com.br.

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Referências

1 Ellen G. White, citada por Carlos A. Steger, "La música en el gran conflicto entre Cristo y Satanás", em La música en la iglesia (Argentina, Depto., 1999), pags. 47, 48.

2 Carlos A. Steger, ""La música en el gran conflicto entre Cristo y Satanás", em La música en la iglesia (Argentina, Depto., 1999), pag.46.

3 "El papel de la música en el Nuevo Orden Mundial" em La música en la iglesia, pags. 34, 35.

4 Joel Musvosvi, Pilares de nuestra fe (Guia de estudo da Bíblia, edição professores, terceiro trimestre de 2001), P. 3.

5 Ellen G. White. Atos dos Apóstolos, P. 175.

6 Ellen G. White diz: "O canto é um dos meios mais eficazes para gravar a verdade espiritual no coração" (Review and Herald, 6 de junho de 1912).

7 Rodolfo Hein, "Apontamentos preparados para a matéria Culto e Adoração" (UAP, terceiro trimestre de 1991)

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