10 Razões, 7 Páginas e 1 Capa em Defesa da Trindade

A Revista Adventista de julho de 2007 tem como matéria de capa o tema “O Deus da Bíblia”  –  “Conheça dez razões bíblicas para crer na Trindade - ” .

Li a matéria pensando que finalmente  ia conhecer dez razões bíblicas para acreditar na doutrina da trindade  e fiquei decepcionado. Ao contrário, acabei acreditando menos ainda nessa doutrina ao ler o artigo de Marcos De Benedicto.

O texto foi redigido  com toda a erudição que os redatores doutores em divindade têm direito, inclusive com invenção de palavras. Já não bastava a invenção da palavra trindade, a mais famosa palavra “bíblica” que não existe na Bíblia, agora também inventaram a palavra “trinitologia”. No artigo, Marcos De Benedicto cita dois grandes teólogos dos quais nunca ouvi falar: Karl Barth e Karl Rahner, é Karl que não acaba mais, e dizem que o moderno interesse pela trindade é por causa desses dois Karls. Eu nunca ouvir falar deles, acho que são conhecidos apenas por doutores em divindade, mas já que a Revista Adventista está citando devem ser importantes.

Marcos De Benedicto declara que “no momento, a Igreja Adventista enfrenta a acusação  por parte de um grupo minoritário de que ela se distanciou do ensino dos pioneiros e adotou uma doutrina não bíblica”.

Esse “momento” pelo que eu saiba já dura mais de cinco anos, e acho que esse grupo minoritário já está bem grande, haja vista haver em português mais de 500 artigos na Internet sobre o tema.

O redator declara ainda que: “Sabe-se há bastante tempo que pioneiros como Thiago White, Uriah Smith e John Loughborough eram antitrinitarianos”.  Isso  é um grande progresso, quando eu poderia imaginar que a Revista Adventista iria admitir esse fato histórico. Isso é um sinal dos tempos!

Depois ele cita aquelas duas famosas palavras adventistas: “Verdade progressiva” para explicar que no início eles não acreditam na trindade, mas depois receberam a revelação que já tinha sido revelada há séculos para a igreja católica  e tornaram-se trinitarianos, explicação essa que por sua volta ao passado transforma a “verdade progressiva” em “mentira regressiva” e a “verdade presente” em “verdade ausente”.

O conceito bíblico de verdade progressiva é bem diferente. Começa pelas revelações divinas aos patriarcas, seguidas pelos profetas e se encerra com a verdade trazida pelo próprio Filho de Deus. O ministério de Cristo foi o auge da revelação da verdade! Nenhuma mensagem posterior o supera. "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho." Hebreus 1:1-2.

 

Piada católica

Há  nesse artigo uma afirmação fantástica : “Considerando que a Bíblia não faz nenhuma declaração direta, explicita e indisputável sobre o assunto, temos que trabalhar com os dados e evidencias disponíveis”. Portanto, como vemos, a Revista Adventista afirma que existem  apenas meras evidências para acreditar na trindade!

O redator é tão erudito que até conhece uma quase piada dita pelo teólogo católico Agostinho: “Que o tema é complexo, ninguém discute. Agostinho (354-430) , influente teólogo cristão, já gracejava que quem nega a Trindade corre o risco de perder a salvação, mas quem tenta entendê-la corre o risco de perder a mente!”

Eu não sabia que  o erudito e santo católico Agostinho tinha senso de humor. Para mim, esse teólogo católico, um dos maiores  eruditos  da doutrina  da trindade e que escreveu um livro defendendo-a, chamado “De Trinitate” (Da Trindade) era sério. Mas é bom completar a frase de Agostinho: Se quem nega a trindade corre o risco de perder a salvação e quem tenta entendê-la corre o risco de perder a mente, quem tenta explicá-la corre o risco de perder a credibilidade; o pastor adventista que tenta desmenti-la corre o risco de perder o cargo; o membro da igreja que tenta desmascará-la corre o risco de perder a qualidade de membro; e o professor da Escola Sabatina, corre o risco de perder a classe!

Eis como o redator explica a trindade na Bíblia: “Eu diria que a tri-unidade de Deus, com base em um monoteísmo dinâmico, é sugerida no Antigo Testamento, evidenciada no Novo Testamento e elaborada ao longo da história da igreja”.

Esse texto é uma obra prima, finalmente a Revista Adventista reconhece que a trindade  não existe no velho testamento, é apenas sugerida; não existe no Novo Testamento, é apenas evidenciada; e finalmente, que foi elaborada ao longo da história da igreja, ou seja, depois do Novo Testamento!

Dez razões que viram cinco

Segundo o redator são essas as dez razões para crer na doutrina da trindade:

1. pluralidade

2. pluralidade

3. pluralidade

4. pluralidade

5. pluralidade

6. complexidade

7. bi-unidade

8. monoteísmo

9. trindade

10. tri-unidade

Portanto das dez razões, cinco, na verdade, são apenas uma, porque as cinco primeiras referem-se à pluralidade, portanto, o redator apresentou apenas seis razões e não dez, pelo visto os doutores em divindade são bons na arte da retórica e meio ruins em matemática porque para eles dez é igual a seis e três é igual a um. Aliás, não foram seis razões. Acho que foram apenas cinco porque trindade e tri-unidade são sinônimos, portanto o redator tem menos razões do que aparenta ter.

Três quadrinhos verdes

Também no mesmo artigo o redator assim afirma: “Ao passo que certas interpretações trinitarianas são anti-bíblicas, o conceito é bíblico”. Se entendi bem o redator está dizendo que “certas interpretações trinitarianas são anti-bíblicas”. É verdade  o que está escrito, ou estou tendo visões ao ler a Revista Adventista?

Nesse artigo, também tem três quadrinhos interessantes de cor verde e no primeiro está escrito: “Em todo o caso, os Padres que desenvolveram tal teologia não viraram as costas às Escrituras”, ou seja o redator esclarece que foram os padres que formularam a doutrina da trindade.

No segundo quadrinho verde assim está escrito: “No livro The Jewish Trinity (Aventine, 2003), Yoel Natan aponta vestígios da Trindade em inúmeros lugares do Antigo Testamento. Embora sua interpretação pareça forçada em certos casos, o estudo merece atenção”.

Se é que entendi o redator está afirmando que  existem livros que defendem a trindade cuja interpretação parece forçada?

Ele está referindo-se ao livro “The Jewhish Trinity” ou ao livro “A Trindade”  editado pela CPB ?

Finalmente, depois do primeiro quadrinho trinitariano citar os padres como os que criaram a doutrina da trindade, depois do segundo quadrinho afirmar que existe interpretação forçada em alguns livros trinitarianos, o grande ápice é o terceiro quadrinho que finalmente dá nome a um dos padres, o teólogo católico Leonardo Boff. Quem diria que a Revista Adventista para defender as razões de suas doutrinas iria citar Santo Agostinho e Leonardo Boff no mesmo artigo. Agostinho é o Gênesis da Trindade e Boff, o Apocalipse!

O texto deveria chamar-se ao invés de dez razões, “dez sugere, quatro sugerem, uma sugerida, um sugerir, duas evidências, uma evidência, uma evidenciada”, porque esse texto ao invés de conter dez razões bíblicas para crer na trindade contém dez vezes a palavra sugere, quatro vezes a palavra sugerem, uma vez a palavra sugerida, uma vez a palavra sugerir,  duas vezes a palavra evidências, uma vez a palavra evidência e uma vez a palavra evidenciada.

Depois de tanta evidências, fica evidenciado que é evidente que esse texto sugere apenas evidências e sugestões, o que é evidente, evidentemente.

 

Marcos de Erudictos

No meio do texto, há uma frase digna de uma obra clássica: “Deus está acima da gramática, fazendo plural combinar com singular, e da matemática, fazendo três serem um”.

Na verdade é a Revista Adventista que está acima da gramática e da Bíblia, expondo meras evidências como razões e solicitando aos seus doutores em divindade para fazerem verdadeiros milagres para defender a trindade. Não milagres teológicos, mas milagres verbais. Quem diz que os adventistas não fazem milagres não lê a Revista Adventista. Afinal não é um milagre verbal transformar evidências e sugestões em razões?

Marcos De Benedicto escreve muito bem, afinal ele tenta  explicar o inexplicável, defender o indefensável, provar o improvável, tornar racional o irracional, sugerir o insugerível, mostrar o imostrável, exprimir o inexprímivel, mexer no imexível.  Estou lendo muito a Revista Adventista e é por isso que estou apreendendo  a escrever palavras que não existem.

Esse artigo cita pouco a Bíblia, mas em compensação apresenta para os leitores os pensamentos de Karl Barth, Karl Rahner, Santo Agostinho, Roger Olson, Christopher Hall, Gerald O´Collins, Jonh  Metzger, Mart-Jan Paul, Daniel Block, H. C. Brichto, Maimónides, Richard  Bauckham, Larry Hurtado, Bernard Meunier, Yoel  Natan, Leonardo Boof e Gerhard Pfandi.

Se o leitor acha que esse texto não reflete o texto da Revista Adventista  e apenas sugere ou contem apenas evidências, basta  ler as cinco páginas da Revista Adventista sobre o tema e comparar texto com texto, palavra com palavra, nome com nome. Como se não bastasse o artigo de cinco páginas de Marcos De Benedicto ainda a revista apresenta mais duas páginas sobre a fórmula batismal trinitariana. Portanto, são dez razões, sete páginas e uma capa para crer na Trindade.

Alguém pode dizer-me quantas páginas da Revista Adventista têm como assunto as Três Mensagens Angélicas ou a Volta de Cristo?

Que  saudade que eu tenho das Revistas Adventistas de outrora, que saudades que eu tenho dos tempos em que a revista, ao invés de citar Agostinho, Leonardo Boff e Karl um e Karl dois, citava Josué, Rute, Samuel, Esdras , Neemias, Ester, Jó, Isaías, Jeremias, Ezequiel , Daniel , Oséias, Joel, Amós, Abadias, Jonas, Miquéias, Mateus, Marcos, Lucas, Paulo, Timóteo, Pedro e João.

O redator Marcos De Benedicto de tanto citar eruditos devia assinar seu nome como Marcos De Erudictos!

Finalmente, esse artigo  me parece tão antitrinariano que acho que o Ricardo Nicotra um dia vai  ser chamado para escrever na Revista Adventista com direito à matéria de capa! -- Hélio Rodrigues de Souza, ex-membro da Igreja Adventista Central de Santo André, SP.


Igreja Indiferentista de Todos os Dias!

Sou assinante da Revista Adventista, e já faz um bom tempo. Confesso que fico ansioso por recebê-la todos os meses, na expectativa de que a mesma traga algo de bom e interessante. Porém fico frustrado, porque isto não tem acontecido.

As mensagens poderosas e com conteúdo como as de antigamente já não aparecem mais. O que vejo é muita propaganda, muito marketing e infelizmente artigos como os do último número.

Sou um dos "degolados" por causa da "Trindade". No próximo mês (agosto) completar-se-ão dois anos que eu e mais dezesseis membros (incluvise alguns menores) fomos literalmente escurraçados (enxotados) da IASD. Nesse período alimentei a esperança de que alguém (membros da IASD) nos procurasse para uma conversa, quem sabe ao menos por curiosidade para saber qual nossa opinião; mas isso jamais aconteceu. Bom, parece um desabafo, mas a minha intenção não é esta e sim alertar aos irmãos que nada tem mudado nos arraiais adventistas, pelo contrário tenho observado que a indiferença tem se tornado e cada vez mais acentuada uma "marca registrada" da IASD.

Quanto ao tema da matéria de capa da RA deste mês, quero dizer que fiquei surpreso, especialmente pela "audácia" e "coragem" do nobre redador (aliás meu xará) em tentar explicar (na verdade enganar) aos leitores o tema Trindade. Como alguns já disseram e muito bem, cada vez mais fica evidenciado que não há, biblicamente falando como acreditar na existência da  Trindade. No artigo em questão o redator citou várias fontes que são no mínimo uma "afronta" às mentes mais esclarecidas. Percebe-se claramente que a IASD tem tentado de todas as formas possíveis e imagináveis enfiar "goela abaixo" essa doutrina.

Outra coisa que percebi, é que deram uma folga para os "doutores" José Carlos Ramos, Alberto Tim, Rodrigo e colocoram o Marcos o Oséais para "apanharem" um pouco. A minoria que eles gostam tanto de citar, ao meu ver tem se revelado mais corente, ou seja são mais "entendíveis" (mais claros em suas argumentações) do que os ditos cujos doutores. Não adianta citar "pais da igreja" fulano ou beltrano, o que é preciso e isto sim é o que convence é citar a Bíblia e ela tão somente.

Um Abraço.

Marcos Batista


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