Conheço Muito Bem Esse Dr. Tales que Escreve pra Vocês! O ano era 1976. Auge da ditadura militar, com todo seu cerceamento de liberdades individuais e coletivas, e do nosso milagre econômico. Tropicalismo, Brasil Tri-campeão mundial de futebo, Guerra Fria - EUA X URSS, Apartheid. Este era o "caldo de cultura" em que tudo fervilhava então, e eu, garoto, um pouco "maroto", saí do interior das Minas Gerais com alguma roupa na bagagem e muitos sonhos no coração, para realizar o sonho de estudar no "nosso" colégio interno no interior do Espírito Santo. Que susto ao
chegar! Dormitório de madeira, que mais estava para galinheiro do que para
dormitório para abrigar estudantes. Refeitório que era mais um galpão do que
propriamente um local para refeições. Além de que, juntamente com o prédio de
aulas, distava, aproximadamente, um quilômetro do dormitório, morro acima, por
um caminhozinho pelo meio do mato, que nas noites chuvosas, muitas vezes, nos
faziam chegar à´"capela" - esta devia ser um antigo galpão de tratores e
implementos agrícolas - enlameados pelos tombos que tomávamos na descida, vindos
do refeitório após o jantar. Foram necessárias apenas algumas semanas para que
aquele duro impacto da chegada fosse esquecido e tudo passasse a ser flores. O
convívio, as amizades recém-criadas, o campinho de peladas nas tardes de
domingo, a festa da amizade, os cultos, as semanas de oração, as paqueras, e
também (por que não?) as aulas, inclusive, pasmem!, as que eram dadas no sábado
à noite. E eram nestas aulas de sábado à noite que tínhamos nossas
aulas semanais de Biologia. "Quem será o professor e por que as aulas só no
sábado à noite?", nos perguntávamos inquietos. Logo vieram as respostas: o
professor era loiro, alto e magrelo, sorriso largo e fácil, cabeleira farta (só
dos lados, desde aquela época), olhos "profundamente azuis" - seguramente
semelhantes aos do avô cujas três mortes ele já descreveu aqui -,
terceiranista de Medicina, apenas alguns anos mais velho do que nós e muito
gente boa! Como eram boas as aulas para nós "moleques" do segundo
grau! Eram o lazer do sábado à noite que nos era roubado! Aula descontraída,
solta, alegre, cheia de piadas. Parecia a "Escolinha do Prof. Raimundo"! E
naquele ritmo de aula de professor de pré-vestibular - com certeza o modelo
inspirador -, como aprendíamos Biologia! Citologia, Botânica, Teoria da Evolução
- Darwin x Lamarck -, até hoje me lembro dos conceitos! Pois bem, aquele professorzinho era também, viemos a
saber pouco depois, o filho do diretor da Escola, o baixinho-magrinho de pouco
mais de Seus gostos culturais e musicais não eram assim, digamos, tão “adventistas”. Seus conjuntos musicais preferidos eram ACDC, Black Sabath, Pink Floyd e outros do gênero. Seus autores prediletos, nunca me esqueço, eram Bertrand Russel, a imortal tríade de filósofos gregos, Descartes, Tomás de Aquino, Flávio Josefo, Nietche, e outros deste naipe. Nas horas de lazer, deliciava-se com a leitura do Pasquim e da coluna de Millor Fernandes na Veja. Muito provavelmente destas duas últimas fontes tenham vindo este gostoso lado sarcástico e irônico dele ao escrever. O português castiço,
praticamente perfeito, com certeza herdou do e aprendeu com o pai, um dos
melhores professores da língua portuguesa que já tive, a ponto de, quando
cheguei ao IAE, o outro “monstro sagrado” da língua de Camões – Pedro Apolinário
- , ao ver o meu nível de conhecimento da língua haver me perguntado: “Garoto,
quem foi seu professor de Português no 2º grau?” Quando respondi: “Zizion
Fonseca”, ele, de pronto, falou: “só podia!” – Bem, deixemos o pai de lado, e voltemos ao filho, que é o
nosso “ator principal’. No ano seguinte, 1977, ele , para quebrar a monotonia do
internato e incentivar o desenvolvimento “artístico” de seus alunos, criou uma
“Cia. de teatro” chamada “Scorpions Produções Artísticas” (nome pomposo, hem?),
que nas tardes de sábado, nos programas MV (para os mais jovens, o JA da época),
apresentava peças bíblicas, com direito a iluminação de palco, trilha sonora e,
pasmem, efeitos especiais, como a “decepação” da cabeça de João Batista,
personagem vivido na peça pelo signatário desta. Ele era o Diretor Geral da
trupe (alô Detinha, Maninho, Regina, Waleska, Vicente, um grande abraço se
estiverem lendo!!!). E a Scorpions marcou época no EDESSA naqueles idos. Quem estudou lá, tenho
certeza de que se lembra de tudo isto, até aqueles que, hoje pastores,
dizem nunca ler o que é publicado neste site. Bem, não tenho a pretensão de fazer uma biografia do homem,
mesmo porque, nossas vidas tomaram rumos diferentes após esta época descrita aí
acima. Vimo-nos apenas duas vezes nos últimos vinte anos. Mas as marcas, como
vocês perceberam, ficaram indelevelmente gravadas. A mensagem que quero deixar, por último é a seguinte: com o
irreverente, polêmico, irônico e crítico Prof. e amigo.Tales aprendi a pensar (e
muito!), a questionar, a procurar o porquê, a buscar a razão, a
“filosofar”, enfim. Não era à toa que ele lia tantos filósofos, incentivado pelo
velho e sábio pai, que era um leitor voraz e grande incentivador da leitura.
Quem foi aluno dele se lembra, “não é, meu aluno”? Tales, um grande abraço pra você, meu velho, pra “tia” Selma, pra Selzi, pra sua esposa, suas filhas e, o “tio Ziza” veremos de novo lá na casa do DEUS ÚNICO e ETERNO e do Seu filho Yeshua. -- Antônio César Barbosa Silva |
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