Boquim, Uma Terra Diferente

Que bom estar de volta! Durante o mês de janeiro, visitei minha família na Bahia, a família de minha esposa em Goiás e nossos amigos em Minas, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Como família damos muito valor às amizades que temos conquistado ao longo destes quinze anos de ministério, e voltar para rever estes muitos amigos é uma experiência mais que gratificante. Tive a oportunidade nestas férias, para não perder o costume, de realizar três programas de reavivamento. Preguei 15 sermões enquanto estava de férias, pois para mim pregar é uma alegria muito grande.

Viajamos por muitas terras. Foram 10.080 km rodados em 10 estados do Brasil, mas nesta oportunidade gostaria de pregar à minha Igreja acerca de uma terra diferente - a Terra de Boquim. Parece um título meio estranho para um sermão, mas, numa devoção pessoal há alguns dias, achei um texto que me clareou a idéia para esta mensagem.

Juízes 2:1-5

INTRODUÇÃO

Como entender esta situação? Que significa "Boquim"? Que lição haverá aqui para a nossa vida?

O período dos juízes de Israel é recheado de grandes acontecimentos. Foi um período marcado por sucessivas rebeliões e intervenções do Senhor em favor do Seu povo. Acontecia nesta época algo semelhante a um círculo vicioso – o povo se afastava de Deus, era oprimido pelos inimigos, clamava ao Senhor, e Ele enviava um libertador que os livrava, e de novo continuava o ciclo.

Nesta época o povo já estava em Canaã, terra da promessa feita a Abraão, mas a conquista da terra tornou-se apenas parcial. Os inimigos cananitas não foram destruídos como o Senhor havia ordenado. Este era o dilema.

A ALIANÇA DE DEUS

Deus havia feito uma aliança com o Seu povo. Esta aliança estava baseada na libertação do Egito. Era uma aliança de salvação. Todo o Velho Testamento trata desta aliança, onde Deus promete muitas coisas aos Seus filhos – saúde, paz, vitória, prosperidade. Mas todas estas promessas estavam condicionadas à obediência por parte do povo.

Neste texto que lemos Deus está repreendendo o Seu povo porque esta aliança fora quebrada. Não pelo Senhor, mas pelo povo. Tenho sempre comigo minha aliança de casamento que, no nosso país, é símbolo deste laço sagrado da família. Esta aliança representa amor, fidelidade, cuidado. Esta aliança, não a material, mas a aliança do casamento, não deve ser quebrada. Que tremenda ilustração temos aqui do nosso relacionamento para com Deus! Ele fez uma aliança conosco. Libertou-nos da escravidão do pecado, entrou em concerto conosco.

ALIANÇA QUEBRADA

Mas o povo, vindo de séculos de escravidão e de uma religião onde muitos deuses eram adorados, quebrou a aliança com Deus. Quando revisamos a história de Israel, vemos como era difícil para eles obedecerem. Que dificuldade eles tinham para entender o que o Senhor queria. Dizemos: como é possível? Estava ali, na cara, cada coisa que deviam fazer? Por que não conseguiam?

O povo de Israel vivia no meio daqueles povos selvagens, que já estavam condenadas por sua maldade, mas o problema é que o povo passou a gostar disso. Era mais cômodo conviver com o pecado do que destruí-lo. Mas decididamente não era o que Deus queria. Sabem, meus queridos, cada vez que criticamos o povo de Israel, condenamo-nos a nós mesmos.

Na verdade, temos hoje muito mais orientação para a vida como um todo, do que aquele povo tinha. A questão é: estamos dispostos a seguir as orientações de Deus? Sabemos o que precisa ser feito. Queremos fazer? Temos, ao longo de nossa vida, quebrado a nossa aliança com Deus. Nosso casamento com o Senhor muitas vezes parece ameaçado de dissolver-se por causa de nossa infidelidade.

Em quais aspectos podemos estar quebrando a aliança com o Senhor?

  • Na confiança no poder de Deus. Quem sabe estejamos confiando demais em tantas coisas e confiando de menos no Senhor. Existe hoje a mania da auto-ajuda. Nossa mente fica bombardeada com estas mentiras – "você pode, você consegue!" Não podemos! Não conseguimos! Não é uma questão de auto-ajuda, é uma questão de Deus-ajuda. "Nossa segurança está em desconfiarmos de nós mesmos e confiarmos totalmente no Senhor". Nossa vontade é fraca. Engordei alguns quilos nos últimos meses. Vontade fraca. Luta feroz. Por nós mesmos não conseguimos nada.
  • Talvez na guarda do Sábado do Senhor. Precisamos parar freqüentemente para avaliar como estamos neste aspecto. Que fazemos no Sábado? Ele está sendo um dia repousante para nós? Durante as horas sagradas, estou conversando sobre coisas dos meus negócios?
  • Que dizer do nosso amor ao próximo? A Bíblia nos relembra sempre do cuidado que devemos ter pelos pobres que existem entre nós. Ainda ontem recebi aqui uma pobre irmã, que mora sozinha, e estava com uma ordem de despejo. Estamos em aliança com Deus no cuidado com os pobres que temos entre nós? É tão fácil dizer: "não tenho, não posso". Será que não temos mesmo? Será que não podemos mesmo?
  • Na fidelidade do dia-a-dia. Nosso desafio é viver com o Senhor. Viver uma religião que transcenda os portões da Igreja. Uma religião presente 24 horas por dia na vida. Quando temos aliança com o Senhor, somos cristãos sob quaisquer circunstâncias. Aliança com o Senhor! A mais importante de nossa vida. Mais importante que o nosso negócio, que a nossa família, que as nossas vaidade... mais importante que tudo. E como é que está esta aliança?

ARMADILHAS

No verso 3 do nosso texto Deus diz uma coisa dura ao povo: os deuses dos cananeus seriam grandes armadilhas para eles. A referência aqui a "armadilha" fornece-nos uma interessante lição. Deus está usando algo que eles conheciam bem: armadilhas que eram usadas para apanhar aves.

Conhecemos também estas armadilhas. Quando criança, na fazenda, usávamos muito isto. Era algo simples: um alçapão feito com juncos. Colocávamos a isca, que era sempre algo apreciado pela ave, e, junto à isca, um pequeno pau que segurava o alçapão. Quando o pássaro ia pegar a isca, o alçapão caia sobre ele e ele ficava preso. Os deuses cananitas como baal, astarote, e muitos outros, foram de fato, constantes armadilhas para o povo de Deus. Eles entravam em casamentos mistos e isto facilitava o politeísmo.

Armadilhas! Que tipo de armadilhas estão hoje presentes na nossa vida?

  • Existe a armadilha do permissivismo. Tudo pode numa moral que se tornou imoral. De certa forma, isto tem influenciado negativamente a Igreja, algo de poderíamos chamar de um perigoso neo-liberalismo
  • A armadilha da TV e da Internet. A TV tem se constituído num perigoso deus do nosso tempo. Uma armadilha sutil, incrementada com muitas coisas realmente boas. E em meio a estas coisas boas, o destrutivo veneno de muitas coisas que nossos olhos jamais deveriam ver.
  • A armadilha da vantagem em troca da quebra de princípios. Já percebeu quantos negócios vantajosos aparecem quando estamos em crise financeira? Em troca é só quebrar princípios. É o bom emprego que vem, mas tem que trabalhar no Sábado; é a promoção em troca de algumas mentiras; é a lucrativa transação comercial em troca de uma sonegação.

"Armadilhas!" Satanás deseja muito pegar-nos com elas. Por isso, diz a Palavra: "sede sóbrios e vigilantes". Deus ainda está nos dizendo a mesma coisa. Ele ainda está nos repreendendo, como o fez ao Seu povo. Por que? Porque o Seu amor é imenso. Com todo amor Deus olha para nós e diz: "Meu filho, você quebrou a aliança comigo". Qual será a nossa resposta ao Senhor?

O CHORO DE UM POVO

Boquim foi o lugar onde Deus repreendeu o Seu povo e o Seu povo chorou. A terra de Boquim é uma terra de choro de arrependimento. Boquim quer dizer: "onde o povo chorou". O povo chorou amargamente porque via a sua condição miserável. Cada um se avaliou e viu um Deus machucado, que havia feito tanto por eles e eles o estavam decepcionando. Aquele foi um dia de clamor. O povo chorou. Deus chorou. A terra de Boquim tornou-se testemunha das lágrimas de uma nação inteira

Talvez estejamos precisando de uma terra de Boquim particular, um lugar de encontro especial com o Senhor; um lugar onde O ouvimos, choramos e refazemos o nosso concerto com Ele. Quantas vezes precisamos chorar diante do Senhor!

Tenho grandes amigos pelo Brasil afora. Nestas férias visitei uma grande amiga em Belo Horizonte. Telma é esposa de um Pastor. Somos amigos há uns vinte anos. É uma mulher sofredora, massacrada por doenças sucessivas ao longo de muitos anos. Mas tem uma grande esperança. Ela estava nos contando agora que, no ano passado, por causa do Lupus que tem, começou a sentir dores tão fortes e insuportáveis, que achava que não ia mais resistir. Ela estava tomando remédios fortíssimos a cada duas horas. Um dia ela se trancou no quarto e brigou com o Senhor. Chorou, chorou, chorou, e disse: "Senhor, não suporto mais. Tenho muitas coisas para fazer, Tu sabes. Vou parar de tomar os remédios para estas dores. E Deus ouvia o clamor de minha amiga Telma. Ela continua doente de muitas coisas, mas aquelas dores insuportáveis, ela não sente há mais de um ano.

A Terra de "Boquim" precisa ser real para nós todas as vezes que ouvirmos a repreensão do Senhor. Muitas vezes temos medo de chorar, mas precisamos.

CONCLUSÃO

A terra de Boquim foi um lugar de repreensão e de arrependimento para o povo de Deus. Boquim não existe mais como um lugar literal, mas existe a lição que Ele nos lega. Lição de um Deus que, mesmo traído, não desiste do Seu povo. Lição de um Deus maravilhoso, que não desiste de nós hoje.

Este foi o primeiro sermão que preguei para a minha igreja no ano 2000, e gostaria de colocar a todos nós nesta hora na terra de Boquim do ano 2000. Os tempos mudaram. As coisas mudaram, mas Deus permanece. A Sua aliança conosco não se alterou em face da globalização, da qualidade total, da reengenharia, da era industrial, ou da era pós-industrial. Também não se alterou o que o Senhor pede de nós. O que Ele desejava no passado, continua a desejar – um povo que Lhe ame e Lhe obedeça. Hoje é dia de Boquim. Hoje é dia de arrependimento. Hoje é dia de salvação!- Pr. Antônio Braga, Porto Alegre.

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