O Significado Profético da Guerra dos EUA Contra o Iraque - Parte 1

Queridos colegas, amigos e irmãos em Cristo:

No sábado passado à tarde, o irmão Marcos Caro, diretor da FM 106.9 Rádio Estudantil, a rádio de nossa Universidade aqui na Argentina, e conhecido de muitos de vocês, entrevistou-me a respeito de algum possível significado profético em relação ao que está acontecendo no Iraque. É que muitos ouvintes haviam telefonado para a rádio, solicitando alguma orientação a respeito desses eventos.

A entrevista se estendeu por uma hora, e as reações dos ouvintes foram tão favoráveis que até se preparou uma transcrição do diálogo.

Estou-lhes enviando essa transcrição, ligeiramente editada, isto é, reduzimos os comentários e introduções às perguntas, bem como os momentos em que dialogávamos ou dirigíamos um ao outro por nossos nomes.

Eu os "desafio" a ler este diálogo até o fim e a fazer conhecer suas reações. Não, não tenho a esperança de que muitos o leiam, porque somos assim mesmo. Mas algum o fará, mesmo que no disponha do tempo para me escrever a respeito.

Muitas bênçãos e um forte abraço de seu colega e amigo,

Humberto R. Treiyer, htreiyer@lsmartin.com.ar.


Entrevistador: Pastor Marcos Caro
Entrevistado: Dr. Humberto R. Treiyer
Rádio Estudantil FM 106.9
Sábado 26/04/2003, 16.00 a 17.00 hrs
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Pergunta: Eu gostaria que fôssemos diretamente ao ponto. Em meados de março, começou uma guerra nas terras do Oriente Médio. Que significação profética, se é que existe alguma, você discerne neste conflito?

Resposta: Se existe uma lição que surge de equívocos que cometemos ao longo da história de nossa igreja, é que devemos ser muito cautelosos ao fazer prognósticos acerca de acontecimentos dos quais somos testemunhas. A tendência é superdimensioná-los, isto é, atribuir-lhes uma importância profética desproporcional.

Permitam-me mencionar-lhes alguns exemplos, sem entrar em todos seus detalhes:

1. Em 1848, a Europa se viu enormemente sacudida por poderosos movimentos liberais e nacionalistas. Alguns de nossos pioneiros, entre eles John Loughborough, intepretaram esses fatos como um prelúdio do Armagedom. Eles pregaram e escreveram a respeito. Não estou negando o impacto desses movimentos, mas, claro está que nada tiveram a ver com o Armagedom.

2. A Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) desorientou a um de nossos pioneiros, Urias Smith, quem desde 1867 vinha insistindo em que tanto a Turquia como o Papado podiam cumprir as predições dos últimos versículos do Daniel 11. Como essa guerra terminou adversa à França, que era o principal apoio do Papado, não restou dúvida a Smith, que a única opção era a Turquia. Ele já havia escrito na Review de 5-11-1867, que se o poder temporário fosse tirado ao Papado, "provavelmente nunca lhe haveria de ser restaurado".) Agora foi mais longe com sua interpretação do Daniel 11: " . . . quando a Turquia, expulsa da Europa, apressar-se a fazer de Jerusalém a sede temporária de seu governo . . ., então, de acordo ao Daniel 12 :1 contemplaremos o levantamento do Miguel."

[A Guerra Russo-Turca, 1877-1878, com a derrota da Turquia, e a enorme redução dos territórios dessa nação na Europa, pareceram lhe dar a razão. Segundo Smith, era questão de um curto tempo somente até que a Turquia abandonasse totalmente a Europa e transladasse sua capital ao "monte glorioso e santo" [Dão 11 : 45] Quando o fizesse, então, terminado o juízo investigativo, levantar-se-ia Miguel [Daniel 12:1]; começaria então o Tempo de Angústia, etc., etc .)

Esta curiosa interpretação se impôs graças a dois fatos, a morte de Tiago White em 1881. Ele era o único que tinha conhecimento e ascendência suficientes para corrigir a Smith, e a publicação, no mesmo ano, do monumental comentário do Smith sobre Daniel e o Apocalipse. Ninguém pôde então refutar essa idéia, e os fatos pareceram corroborá-la. Foram anos nos quais ganhamos muitíssimos conversos, porque "em qualquer momento", supunha-se, a Turquia transladaria sua capital para Jerusalém. Mas quando, depois da primeira guerra mundial, a Turquia não desapareceu, nem perdeu todo seu território na Europa, nem se produziu o tal traslado de sua capital, produziu-se uma apostasia ou êxodo maciço de membros que abandonaram nossa igreja.

3. Procuramos então outro Rei do Norte, e encontramos o surgimento da Rússia comunista (1917), cujo crescente poderio chegou a seu clímax especialmente durante a Era Brezhnev (1964-1982) e seu assim chamado socialismo "correto". Mas tão somente sete anos depois da morte do Leonid Brezhnev, em 10 de novembro de novembro de 1982, a União Soviética se desabou. O grande símbolo do poderio soviético, o infame Muro do Berlim, foi derrubado no início de novembro de 1989.

4. Outro exemplo, já não de nossa igreja, mas ilustrativo de muitíssimos mais que se deram e se dão entre os Protestantes: mais de 200 livros foram escritos (não por autores Adventistas) durante a curta Guerra do Golfo (janeiro-fevereiro, 1991), todos eles apontando esse conflito como o começo do Armagedom. Onde estão esses livros agora?!

Sim, não é sábio nos apressar a ver significação profética em acontecimentos contemporâneos. Entretanto, podemos vê-la, quando percebemos uma tendência definida. E nisto que está ocorrendo no Iraque e no mundo, vemos uma tendência, e muito definida.

 

Pergunta: Você acaba de referir-se a uma tendência muito definida de significação profética. Poderia nos explicar a que se refere?

Resposta: À elevação dos Estados Unidos, ao estabelecimento progressivo (agora, vertiginoso!) de seu poder hegemônico sobre o mundo inteiro. É algo que os Adventistas têm sustentando desde aquele longo e notável artigo, "Thoughts on Revelation XIII and XIV", que John Nevin Andrews publicou na Review and Herald (págs. 81-86) de maio 19 de 1851. Isto foi a nada menos que 154 atrás! E o transcurso dos anos em nada contradisse nossa posição a respeito.

 

Pergunta: No que se apoiou o pastor Andrews para antecipar que algo assim ocorreria? Refiro-me a esse domínio mundial por parte dos Estados Unidos.

Resposta: O posicionamento do pastor Andrews não foi um prognóstico político, ou baseado em acontecimentos que ele pudesse estar presenciando, porque em seus dias, 1851, nada, absolutamente nada, fazia prever que algo assim pudesse ocorrer. O grande centro de poder desse tempo estava centrado na Europa, onde os assim chamados "Quatro Grandes" -– a Inglaterra, Prússia, Rússia e Áustria -- tudo decidiam no mundo. Os Estados Unidos nem sequer eram consultados. E quanto a tratar de interferir nos assuntos mundiais, nada poderia ter estado mais longe da mente dos americanos de um século e meio atrás.

Pergunta: O que foi então que motivou a Andrews a afirmar que algum dia os Estados Unidos teriam que exercer seu poder sobre cada rincão do planeta?

Resposta: O estudo e compreensão de Apocalipse capítulo 13, especialmente os versos 11 aos 18. Na tradução em espanhol e no original, o verso 11 deste capítulo começa com um advérbio de tempo, "depois", "então". Quando e como se localizar esse "depois" ou "então" na História? Mediante o verso 5. Isso ocorreria lá pelo fim do século XVIII, quando concluir-se-ia um período profético referido como 42 meses, período que se concluiu especificamente em 15 de fevereiro de 1798, o dia em que Pio VI foi aprisionado pelo general Haller (lugar-tenente do general Louis Alexander Berthier). Mais ou menos por essa época, começaria a história dos Estados Unidos. De fato, foi em 1776 que os Estados Unidos proclamaram sua independência da Inglaterra, e 11 anos mais tarde, em 1787, redigiram a Constituição do país.

 

Pergunta: Apocalipse 13 diz algo mais a respeito da história dos Estados Unidos?

Resposta: Muito, por que não dizer, muitíssimo! Permita-me resumi-lo em uns poucos pontos, vários deles destacados por Andrews em seu artigo. Apocalipse 13:11-14 identifica uma segunda besta, uma besta terrestre, apresentando várias de suas características distintivas.

Primeira: "Então [por volta de 1798] vi outro monstro, que subia da terra" (verso 11, Tradução na Linguagem de Hoje). "Subia," em grego anabaino, significa "crescer como crescem os vegetais" -- silenciosa e imperceptivelmente. "Da terra," de uma região pouco habitada.

Segunda: "Possuía dois chifres, parecendo cordeiro" (verso 11). "Cordeiro", símbolo de juventude e inocência. "Dois chifres": a fonte de seu poder. Não se trataria de poderes perseguidores. Muito pelo contrário, são símbolos de liberdade, de respeito: liberdade política ou republicanismo, e liberdade religiosa ou Protestantismo. Precisamente o oposto da intolerância e tirania da primeira besta descrita no mesmo capítulo.

Terceira: Teria que experimentar uma mudança dramática, ao ponto de falar "como dragão". O mesmo "dragão escarlate" do capítulo 12, logo depois de se disfarçar como uma besta leopardina, um tempo depois de 1798 assumiria um novo disfarce, o de um "cordeiro". Mas agora com uma natureza totalmente metamorfoseada, ficaria tão somente a aparência de um "cordeiro."

Quarta, chegaria a exercer "toda a autoridade da primeira besta na sua presença" (verso 12). O que significa "toda a autoridade da primeira besta"? A união de igreja e estado, com a igreja controlando o Estado. Essa é a definição do princípio da "besta" em seus dois elementos: (a) União de Igreja e Estado, e (b) com a Igreja controlando ao Estado e utilizando seu poder, o que sempre resulta em intolerância e perseguição, uma reedição do ocorrido durante o tempo quando a primeira "besta" de Apocalipse 13 teve autoridade, as perseguições dos 1.260 anos.

O que significa "na sua presença"? Com sua plena aprovação, isto é, imitando seus métodos, seus motivos, seus objetivos, demonstrando seu mesmo espírito. Parece muito evidente que os Estados Unidos não chegariam subitamente a essa triste situação, a não ser como resultado de um processo de aproximação paulatina, de imitação progressiva da "besta", a agência através da qual age o "dragão". Mas há algo mais na expressão "na sua presença", pois quer dizer também que estamos diante de um Papado já restaurado da ferida aparentemente mortal experimentada em 1798.

A aparência de "cordeiro" continuará, mas já sem sua inocência e juventude, já sem seus "dois chifres". A Constituição do país continuará, mas tão radicalmente modificada que será impossível reconhecê-la. Essa Constituição terá que refletir nesse então as características do "dragão".

Quinta, a "besta" terrestre terá que ser o cenário e o instrumento de "grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens. Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta," (versos 13-14).

Para que isto pudesse ocorrer, este poder teria que transformar-se previamente na única superpotência mundial, um poder planetário sem nenhum rival que pudesse lhe questionar ou lhe estorvar os movimentos.

O poder da primeira besta surgiu de seu controle do Estado ou poder político, mas, além disso, do espiritismo. Agora teríamos que ver exatamente o mesmo na segunda besta, embora ainda mantenha a aparência de um "cordeiro".

Sexta, toda a sua operação milagrosa, sobrenatural, encaminhar-se-á para um só propósito, um só objetivo: "Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada" (verso 12). Em outras palavras, todo o poder desta única superpotência será colocado à disposição do papado. E entretanto, essa identificação não terá que representar fusão ao ponto de fazê-la desaparecer. Ambos, seguirão mantendo sua identidade até o fim.

Sétima, esse objetivo terá que cristalizar-se, "dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu; e lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta." (Versos 14-15) Observe que a "imagem à besta", em um segundo momento, transformar-se em "imagem da besta". Isto é a adoção plena dos princípios da besta por parte dessa nação. (Neste ponto, introduz-se a terceira entidade simbólica de Apocalipse 13, a responsável pela promulgação das leis dominicais, cuja identificação poderia ser objeto de alguma outra entrevista.)

Em síntese, aqui está a história dos Estados Unidos antecipada em tão somente 4 versículos:

1. Teria que surgir de terras pouco povoadas.

2. Seus dois chifres pareceriam caracterizá-la como um cordeiro.

3. Entretanto, finalmente teria que dar a conhecer sua verdadeira natureza draconiana.

4. Teria que exercer toda a autoridade da primeira besta (Papado) em presença dela.

5. Teria que ser cenário e agência de "grandes sinais" com propósitos de engano.

7. Teria que forçar a população de todo o planeta a submeter-se à primeira besta.

8. Toda a sua operação obteria a cristalização de seu objetivo fundamental, a ereção de uma imagem da besta leopardina (a primeira besta).

Sintetizando-a ainda mais: Os Estados Unidos tiveram seu surgimento, de fato, em fins do século XVIII. O segredo de seu poder esteve e está representado por seu respeito às liberdades básicas conferidas Por Deus ao homem, e garantidas pela separação da Igreja e Estado. Mas, infelizmente, terá que experimentar uma transformação, lenta, é certo, mas irreversível, que levará a nação a apartar-se desses ideais de liberdade e justiça. Nesse penoso processo de transformação o Protestantismo que caracteriza os Estados Unidos terá que terminar em uma grande apostasia. Aliando-se com o Papado, chegará a ser instrumento de este. Desta maneira, o poder dos Estados Unidos terá que ser exercido para opressão e cerceamento das mesmas liberdades que antes protegiam os cidadãos, com penosas conseqüências para o verdadeiro povo de Deus revelado pelas profecias. -- Humberto R. Treiyer, htreiyer@lsmartin.com.ar.

Continuará!

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