Teologia Furada: Doutor do Unasp Defende Doutrina Sobre o "Amontoado" de uma Única Passagem e um Texto Apócrifo

 

Na Revista Adventista de Maio, página 10, o doutor José Carlos Ramos contesta o livro de Ricardo Nicotra “Eu e o Pai Somos Um”. Não há nada melhor para se desacreditar na doutrina da Trindade que a defesa feita pelos teólogos. Parecem querer nos fazer de bobos.

O artigo do teólogo cumpre bem seu objetivo, que é mostrar que conhece mais manuscritos antigos que o Nicotra. Citou um datado entre 99 e 150, conhecido como “Didache”. Em sua resposta, Nicotra, para levar vantagem, teria que citar algum manuscrito anterior a 99, onde Mateus 28:19 não citasse a fórmula trinitariana. Não o fez. Na prova dos manuscritos, perdeu. (Nota do Editor Interino: Na verdade, as supostas "Instruções dos Doze Apóstolos" ou "Didaquê" só teriam sido localizadas no Século 19, em um mosteiro. E estudiosos sérios a consideram no máximo uma compilação de documentos de comunidades primitivas dos primeiros séculos da Era Cristã, com interpolações posteriores.) Portanto vamos prestar atenção ao que diz o vitorioso professor.

Para começar, a pergunta em letras vermelhas diz: Mateus 28:19 – falso ou autêntico? E a seguir, em negrito, a pergunta completa: “Nossas congregações tem sido bombardeadas com materiais afirmando que, com a aceitação da Trindade, a IASD apostatou. Os autores alegam não haver apoio bíblico à doutrina, e afirmam que I João 5:7 e Mateus 28:19 são posteriores interpolações no texto original. Afinal, estas passagens são ou não são autênticas?”

Temos duas passagens que citam a fórmula trinitariana. Não se deve fazer doutrina com uma só passagem, mas, e duas, talvez? Em seu artigo o teólogo afirma que os que não crêem na Trindade, mesmo que se baseiem “num amontoado de passagens bíblicas”, não entendem a doutrina e estão errados, “Deus tenha misericórdia deles”.

Quer dizer, os que não crêem como ele, mesmo que firmados “num amontoado” de passagens, estão perdidos. Ora, um amontoado é com certeza mais que uma ou duas. Imagino mais de vinte, para ficar um bom amontoado, empilhadas umas sobre as outras. Quantas dúzias de versos há dizendo que só há um Deus? Os trinitarianos possuem seu próprio amontoado de passagens, que são, bem contadas e recontadas, um total de duas. E citando que “os três são um” – que é a base, fundamento da doutrina - há apenas uma, I João 5:7.

Como nosso estimado mestre é honesto, logo de início admite que I João 5:7 é posterior interpolação. E, em seguida, passa a defender a autenticidade de Mateus 28:19.

Calma aí, senhor professor. Antes, vamos ver como ficou o placar. Vocês acabam de perder 50% do seu amontoado de versos, e vão adiante, assobiando, como se nada tivesse acontecido? Vamos falar mais de I João 5:7. É um verso da Bíblia. Não se pode menosprezar um verso da Bíblia assim, sem mais nem menos. O único verso da Bíblia que cita que os três são um, é falso. E aí, não se fala nada? Nenhum comentário? Só há um único e solitário verso dizendo que três é um, e ele acaba de ser descartado, sem nenhuma cerimônia ou lamentação. Simplesmente, abandonado. Isso não foi bonito da parte de vocês. Tragam o verso de volta!

Primeiro, vocês vão explicar com que propósito foi incluído um verso apócrifo na Bíblia. Quem faria isto, e por quê?

Porque alguém tentaria adicionar algo ao texto de João, justo o profeta João, que em seu último livro, afirma que não se deve tirar nem acrescentar nada ao que foi escrito ali? (Apoc. 22:18 e 19).

Qual a explicação que o teólogo deu ao perder 50% de seu amontoado de versos? Nenhuma. Faz de conta que não tem importância. Os que não crêem na Trindade parecem também não valorizar isso. Mas é muito importante.Qual o propósito de incluir um verso falso na Bíblia? Foi sob a inspiração do Espírito Santo? Ele inspirou a adulteração? Quem gosta de falsificar as coisas? Deus precisa falsificar sua própria obra para ensinar a verdade?

Para haver coerência, os defensores da Trindade deveriam fincar o pé na autenticidade de I João 5:7. Não importa se os manuscritos antigos não tinham o verso. “A verdade é progressiva”. Deus, à medida que os concílios foram se sucedendo, foi permitindo alterações na Bíblia para adaptá-la ao gosto dos teólogos. É isso.

 

Vendedor de quadros falsos

Um vendedor vem me oferecer dois quadros de um famoso pintor. Não entendo nada de arte, então procuro um especialista, o doutor Joseph Charles Rammows. E ele diz: olha, quanto ao primeiro, tudo indica ser falso, mas o segundo, embora não se pareça com os outros quadros do pintor, embora não se enquadre no contexto geral de sua obra, é autêntico. Feliz pela honestidade do especialista, pergunto porque um tal de Eusébio, contemporâneo do pintor, afirmara que o quadro era falso. O doutor Joseph sorri, ah, o Eusébio não tinha muita credibilidade, mas um amigo dele, o Didache, garantiu que é verdadeiro. Se for verdadeiro, porque há polêmica a respeito, pergunto. O doutor não responde, mas afirma que a dona Helena, pessoa que muito respeito, havia falado sobre o segundo quadro e nunca falou nada sobre o primeiro, portanto, isso prova que primeiro é falso e o segundo é verdadeiro.

Não entendi o raciocínio do doutor, mas continuo desconfiado. Alguém veio me vender dois quadros, mas um, já se admite ser falso. Qual a chance de o outro ser verdadeiro?

O teólogo, em seu artigo na Revista Adventista, usa um estranho argumento, que a Sra White citou um dos versos e não citou o outro. Isto provaria a autenticidade do texto, pois “Deus a impediu” de citar um texto duvidoso, e poderia também tê-la impedido de citar Mateus 28:19. Como não o fez, o texto é original. O argumento do professor é malicioso. “Se ela foi, de fato, dirigida por Deus, temos que aceitar as palavras de Mateus 28:19 como originais, porque ela assim as considerou”.

Que é isso, professor. Deviam tirar três meses do seu salário e dar aos pobres. Que coisa feia. Quer dizer, Deus interferiu nos escritos de Ellen White, mas não interferiu na própria Bíblia? Deus deixou que alterassem um verso da luz maior, mas, na luz menor, teria tomado mais cuidado. Será por causa disso que proibiram o Ennis Méier de entrar nos arquivos? (O que estão escondendo? Deus agora precisa esconder as coisas do Ennis?) Pastor José Carlos, eu creio que ela foi, de fato, dirigida por Deus. Nem todos crêem, mas faço parte, consciente, do grupo mais simplório. Creio que ela foi dirigida por Deus, mas não creio que o fato de ela citar um verso possa ser usado para autenticá-lo, e daí, uma doutrina. Ensinam isso na faculdade de teologia?

Outra coisa. O senhor não diz que o texto de I João 5:7 é falso. Diz que é “duvidoso”. Deus impediu Ellen White de citar um texto “duvidoso”. Pergunto. O texto seria “duvidoso” também para Deus? Não saberia, Ele, se é falso ou verdadeiro? Seu raciocínio, embora torto, serve então para mostrar que realmente o texto de I João é falso. Portanto, porque o segue chamando de “duvidoso”? Ou o senhor estaria duvidando da capacidade de Deus de saber a autenticidade de Sua Palavra? Então, se o senhor acredita que Ellen White foi, de fato, dirigida por Deus, e se o senhor acredita em seu próprio argumento, então, o texto de I João é falso. Repita comigo: o texto é falso. Pare de chamá-lo de duvidoso. Pois se o argumento serve para provar a autenticidade de Mateus, conseqüentemente, na mesma proporção, prova a falsidade de I João. Por que então, o texto segue apenas como “duvidoso”?

 

 

Meu compromisso era mostrar que o argumento “Quantas ‘revelações’ se abrem diante de nós pela lógica humana!” é o melhor argumento contra a doutrina da Trindade. Mas, perdi tempo, portanto adio mais uma vez o raciocínio. Porém conseguimos algum progresso. Se alguém for escrever e precisar, em seu argumento, de provar que I João 5:7 é falso, pode citar o doutor José Carlos Ramos como garantia. Ou ele não crê nele mesmo nem em Ellen White.

E afinal, ele vai ou não andar sobre a água da bacia? -- Tales Fonseca

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Se você lê em inglês, clique neste link -- Matthew 2819 -- para ter acesso a informações confiáveis acerca da possibilidade de que a fórmula batismal trinitariana tenha sido acrescentada já no quarto século ao Evangelho de Mateus.

O teólogo responsável apresenta fortes evidências históricas para a defesa dessa posição, fundamentadas no testemunho de um dos mais importantes historiadores do cristianismo primitivo, Eusébio de Cesaréia.

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