Adventista Há 24 Anos, Foi Censurado Sem Direito a Defesa em Curitiba

Por Léo Marcos 

Motivo da Censura: "Causar opróbrio à igreja por ter distribuído o jornal Falando Sério em algumas igrejas de Curitiba". O fato de ser disciplinado não está em questão, mas sim os passos e caminhos que se seguiram para sua efetivação.

1º - Após a distribuição do Jornal o pastor e um ancião me convocaram e por aproximadamente três horas conversamos sobre o assunto na Igreja. Neste encontro o pastor pediu que não mais distribuísse o jornal, alegando que o mesmo poderia afastar pessoas da Igreja. Insinuou ainda que este era um trabalho do diabo. Como não me deram nenhuma explicação técnica ou esclarecimento de que o texto do jornal era inverossímil (principalmente na abordagem do livro de praxes e administração financeira dos dízimos), fiz mais uma distribuição.

2º - Fui novamente chamado e, depois de aproximadamente 3 horas de triálogo com o pastor e outro ancião, fui comunicado de minha disciplina por três meses. Mais uma vez nenhuma explicação específica sobre o material foi dada, apenas a mesma ladainha: "É… tem muita coisa errada, mas não podemos divulgar pois as pessoas podem sair da igreja, isto vai causar divisão, este foi o método usado por Lúcifer no céu, etc… etc…"

3º - Eu esperava receber uma visita do pastor em minha casa com o jornal na mão. Esperava argumentos fundamentados. Deveria provar que as coisas não são como o jornal fala. Mas até agora, os contatos que tive com meu pastor para tratar do assunto só ratificaram o conteúdo do material que distribuí com respeito às praxes e aplicação do santo dízimo. Quando inclusive disse que esperava a sua visita para tais considerações, a resposta foi simplesmente: Não fui porque não queria me contaminar. Eu até concordo que errei, isto é uma consideração minha, em não ter submetido o material antes da distribuição para uma avaliação dele, porém isto não justifica a postura pastoral que cito.

4º - Qual foi a acusação, qual foi a alegação para minha disciplina?

A questão toda se concentrou nos artigos dispostos na página 9 à 20 do jornal, que entra no campo pessoal de muita gente com alegações pesadíssimas e também pelos adjetivos picantes com os quais a liderança foi enquadrada.

5º - Após ser notificado pelo pastor de que a comissão haveria de propor a minha disciplina à igreja, eu pedi que gostaria de conversar com a comissão. Como a comissão propõe um voto de disciplina para a igreja sem me ouvir primeiro? O pastor sabe que, de acordo com o Manual da Igreja, tenho o direito de me expor à comissão, no entanto não me assegurou. Tive que pedir. Com a comissão reunida eu acordei não mais distribuir o jornal pois o mesmo trazia artigos que eu próprio acabei considerando não conveniente trazer à tona. Deixei claro que não iria mais distribuir o jornal. E que se levassem o processo de disciplina adiante eu queria exercer o meu direito de me defender perante a Igreja. Citei e li o Manual da Igreja, pág. 199 - O direito de o membro ser ouvido em defesa própria - diante da comissão inclusive. 

Tanto o pastor como a comissão queriam que eu dissesse perante eles tudo exatamente o que pretendia expor para a igreja, a fim de que avaliassem e concluíssem se eu poderia ou não a ela me reportar. Como eu não quis me submeter a isto, o pastor me informou dias depois que eu não tinha autorização para me dirigir à Igreja. O Manual da Igreja foi desconsiderado e ignorado. Como trata a Revista Adventista de Abril/99, pag. 14, onde o Pastor Ruy Nagel, falando do caso Folkenberg, deixa claro que o mesmo foi tratado de acordo com o Manual da Igreja. Ora, se o Mr. Folkenberg que trouxe um opróbrio 500 vezes maior que o que dizem que eu causei, foi tratado de acordo com o Manual da Igreja, não recebendo nenhuma disciplina e simplesmente sendo deslocado para uma outra função, por que eu não tive o mesmo tratamento? Não vou analisar a fundo esta questão pois senão a coisa vai longe, só quero fazer a menção do fato.

6º - Como foi processada a disciplina:

Num sábado pela manhã, no "bolo" de anúncios que se faz na frente, antes do culto, o anunciante avisa que a igreja deveria estar presente na quarta-feira para tratar de assunto de seu interesse. Quer dizer, uma convocação "só para inglês ver".

Entrei em contato com a Divisão para saber da legalidade de se fazer uma votação de disciplina em plena quarta-feira. Fui informado que uma votação de disciplina na quarta-feira pode até ser feita, porém é inconveniente e injusta.

Na quarta-feira havia somente 20 pessoas numa igreja de aproximadamente 200 membros. Depois de lida a ata e, na hora das observações, uma irmã disse que gostaria de fazer uma observação. Porém foi proibida de fazer as observações em público. Ela foi convocada para a sala pastoral e lá ficou aproximadamente 15 a 20 minutos só podendo se expor ao pastor e ao secretário. Depois disso, um outro irmão disse que também tinha observações. Este também foi conduzido para a salinha para se expor unicamente ao pastor e ao secretário. 

Incrível! Depois que estes dois irmãos foram ouvidos e já estavam na nave da igreja, um deles falou diante da igreja que queria saber porque não poderia expressar suas colocações diante de todos os presentes. O pastor, que permanecia em cima do púlpito com o secretário, alegou que era para não constranger os presentes pois podia ser uma colocação inconveniente. Uma irmã então nesse momento colocou: Mas pastor, se o senhor não deixa ninguém falar como é que a gente vai ficar sabendo exatamente das coisas? Resposta: É só a irmã ler o jornal. Está tudo lá.

Já eram 21:50min.(15/12/99). Eu permaneci sentado aguardando a minha permissão para falar. E estou aguardando até hoje. A votação foi 17 votos a favor e 3 contra. Até uma menininha de 11 anos recém batizada votou contra mim, que peninha!

7º - Outro fato espantoso é que após a leitura da ata, não foi dada uma semana para observações para quem tivesse dúvidas, ou quisesse conversar comigo para saber exatamente do que se tratava antes de levantar o braço promulgando seu voto. Argumentei com o pastor, alegando inclusive, que nos próprios tribunais humanos, onde a justiça é considerada como trapo de imundícia, as pessoas são tratadas com mais cuidado, são ouvidas, tem direito a um advogado, testemunhas são consultadas antes de um juiz ou júri emitir um parecer sobre um caso, mas não fui atendido. 

Aleguei que quando é feita a leitura da ata para os novos oficiais do próximo ano, ela é colocada em observação para que durante a semana, se ninguém tiver nada contra esta ou aquela indicação de um oficial, aí sim a referida ata é homologada. Comentei que muito mais num caso destes, onde um membro há 24 anos Adventista estava sendo disciplinado, seria mais do que justo, deixar a ata também uma semana para possíveis questionamentos e observações. Isto seria respeitar a opinião da Igreja inclusive, porém não aconteceu..

Os irmãos continuam sendo super carinhosos comigo, são sensacionais e não os culpo de nada. O Deus que perscruta mesmo o que vai no mais íntimo do coração sabe que não carrego mágoa nenhuma e, até o momento, posso garantir que é possível Cristo amá-los através de mim.

Não quero atribuir nenhum adjetivo pejorativo concernente às atitudes e comportamentos que permearam a minha disciplina, porém, o direito de liberdade é o segundo mais importante direito do ser humano (o primeiro é o da vida), a Constituição brasileira o assegura (art. 5º) e ele me foi negado. Negado inclusive em desconsideração do próprio Manual da Igreja que é um código ético dos adventistas. - Transcrito do Movanews, número 3, distribuído via e-mail.


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